AS MULHERES DE DEBUSSY - Elas, sempre elas. Elas, todas elas, a razão
da minha vida. Desde a mãe, menino que fui e me fiz procedendo de modo reservado,
quieto, meditativo, não passava mesmo de um cínico, enojado do mundo dos homens
e apaixonado por elas. Elas e a música. Não fosse a tia Clémentine, seria ninguém.
Tudo começa em Cannes e ela me mostrando o mundo e todas as coisas. De lá o
desfile com Antoinette, mãe de Charles, a segunda professora: Devo a ela o pouco que sei de música. A Nadyezhda,
o encanto e o motor das artes: as harmonias orientais, a escala grega, as
modulações chinesas, a música russa, ah, as ideias heterodoxas por estranhas
combinações. Eu precisava de alguém para amar: a bela Marie, jovem soprano, esposa
do riquíssimo arquiteto, a quem dei poemas de Banville e Leconte de Lisle. Também
para ela as aulas de canto e ela me ensinou a arte do amor: o carinho, a
sedução, escolhia minhas roupas e instruía na literatura e nos caminhos da
vida. Para ela, melodias para cantar com sua boca de fada melodiosa. Insuportável
a sua ausência, compunha tudo para ela. Eu amava com
meus cabelos ao vento, anarquista rixoso, sonhador irrequieto, o cigarro e uma
música rebelde no coração. Queria cadência nova, estranha sequência de cores,
combinação sutil de sons, ecos de vozes encantadas vindas de mundos
desconhecidos. A voz da sereia do amor: a Vascnier, para ela dediquei canções: Fêtes galantes e Quatre chansons de jeunesse. Tanta sedução
teria de ser homenageada. Porém, tinha que escolher entre a bolsa do
Prix de Rome ou ela. Sofrimento e solidão. No regresso à
França, duas peças ao Conservatório foram consideradas pelos jurados como indignas
de um homem de talento. Ao ser reprovado, exultei: Graças a Deus consegui, finalmente, escrever alguma coisa original.
Foram os braços da dançarina Gaby e seus olhos verdes que me valeram: o
queixo vigoroso, exalando sensualidade e exotismo, e o amor. Para ela o primeiro ato da ópera inacabada, Rodrigue
et Chimène. A vanguarda boêmia e a cantora Thérèse me encantaram com todos os ornamentos
românticos em Bruxelas. Para ela: um Quarteto de Cordas e o Prélude à
L'après midi d'un faune. Ah, minha impaciência,
ninguém publicava as composições, queriam-me que escrevesse música simples,
popular. A estupidez dos alunos. Ainda bem que existia o Café Weber para
distrair com copos de vinho e meus amigos Verlaine, Chausson, Mallarmé. Escrevia,
o domínio das palavras e dos sons, epigramas. Desprezava o passo de ganso e
elmo de ferro do Wagner: se tivesse sido mais humano, teria sido realmente
divino. Massenet, um fabricante de perfume: cheiro agradável, mas artificial.
Só por meus pais que aceitei a cruz da Legião de Honra, nada disso me
interessava: menosprezo a humildade e a inveja mesquinha. Queria mesmo quebrar
as regras, desafiar as convenções. Foi Lilly, a
Lily-Lilo, a modelo e Pelléas et
Mélisande, de Maeterlink: a princesa em busca da felicidade e a sua frágil
saúde, incrivelmente bela como um personagem de uma antiga lenda. Eu me mataria
se ela não casasse comigo. Para ela as Sirenes do Nocturnes. Contudo, era possessiva e, ao mesmo tempo, carinhosa. Não
me poupou de uma tragédia. Adeus ao passado com um recitativo simples, calmaria
de um rio profundo. Ondas que brincavam ao luar. O mar. Noturnos. O poema em
prosa, Natal das crianças sem lar, era
a 1ª Guerra Mundial, as criancinhas francesas que perderam o seu lar por causa da
invasão alemã. Crianças refugiadas, perdidas no inferno do campo de batalha. Às
vésperas do Natal não celebrado: o frio, a fome, o medo e a incerteza do
futuro: Trazei a vitória, por fim, às
crianças de França! Desdenhava o materialismo do mundo e os homens de
negócio. Não conseguia evitar a companhia das mulheres. Para minha salvação, Chouchou,
a Emma, mãe de um aluno, cantora sofisticada e
brilhante. Fiquei obcecado. Para ela: Children's Corner. Na vida
tropeço na menor pedra. A fuga, o escândalo, a
tentativa de suicídio dela e o divórcio. As mulheres, uma hera na parede. Mas, sempre o medo de ficar sozinho. Ainda
inquieto, lançava olhares cobiçosos em outras direções: o mundo, o universo, mulheres
e mulheres, só mulheres. Só elas. A tortura do fim, um cadáver ambulante. O
estralejar dos canhões alemães. Tornei-me um asteroide e uma cratera de
Mercúrio. Não valeria nada se não fossem elas. © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] o poeta
contemporâneo ficou limitado a um tipo de poema incompatível às condições da
existência do leitor moderno, condições a que este não pode fugir. [...] o que os poetas contemporâneos obtiveram,
foi o chamado “poema” moderno, esse híbrido de monólogo interior e de discurso
de praça, de diário íntimo e de declaração de princípios, de balbucio e de
hermenêutica filosófica, monotonamente linear e sem estrutura discursiva ou
desenvolvimento melódico, escrito quase sempre na primeira pessoa e usado
indiferentemente para qualquer espécie de mensagem que o seu autor pretenda
enviar. [...] Esse tipo de poema é a
própria ausência de construção e organização, é o simples acúmulo de material
poético, rico, é verdade, em seu tratamento do verso, da imagem e da palavra,
mas atirado desordenadamente numa caixa de depósito.
Trechos de A função
moderna da poesia, extraídos de Prosa
(Nova Fronteira, 1998),
do poeta
e diplomata João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Veja mais aqui, aqui,
aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
&
A ARTE DE GABRIEL PETRIBÚ
Desde muito novo meu pai desenhava e pintava, logo me interessei pela pintura por causa dele.
Desde muito novo meu pai desenhava e pintava, logo me interessei pela pintura por causa dele.
A arte
do artista visual Gabriel Petribú. Veja mais aqui.
A MÚSICA
DE LYSIA CONDÉ
A música sempre fez parte da minha vida. Eu sempre cantei. Na minha adolescência participei de grupo de teatro. Era selecionada em todas as peças que tinha alguma possibilidade de cantar. Alguns amigos me chamavam para cantar, esporadicamente, em casamentos. Já morando em Natal, eu fui fazer o curso básico de canto na Escola de Música. Participei dos recitais da escola e fiquei entrosada com os músicos da cidade. Então, surgiram convites para dar canja nos lugares e quando vi já tava envolvida profissionalmente. Antes de me reconhecer como cantora, as pessoas já me apresentavam dessa forma.
A música sempre fez parte da minha vida. Eu sempre cantei. Na minha adolescência participei de grupo de teatro. Era selecionada em todas as peças que tinha alguma possibilidade de cantar. Alguns amigos me chamavam para cantar, esporadicamente, em casamentos. Já morando em Natal, eu fui fazer o curso básico de canto na Escola de Música. Participei dos recitais da escola e fiquei entrosada com os músicos da cidade. Então, surgiram convites para dar canja nos lugares e quando vi já tava envolvida profissionalmente. Antes de me reconhecer como cantora, as pessoas já me apresentavam dessa forma.
Curtindo a música de requintada delicadeza da talentosa
cantora, socióloga e professora Lysia Condé, formada em Ciências Sociais
pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e estudou na Escola de Música da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal – RN, onde reside
atualmente. Ela foi a ganhadora do Festival Música Potiguar Brasileira, da FM
Universitária. Veja mais aqui.
&
A MÚSICA
DE LEANDRO VAZ
Amar é arriscar – se / Amar é entender / Amar é deixar ir / Amar também é perder.
Amar é arriscar – se / Amar é entender / Amar é deixar ir / Amar também é perder.
A música do poeta, cantor e compositor Leandro Vaz, autor do livro Eugenia (2017) e do álbum autoral musical Madrigal
(Cocar, 2018), viabilizado pelo Funcultura-PE, este último com arte do designer Guilherme Luigi
e gravuras de Regina Carvalho. (Dica da cantora Maíra Moura). Veja mais aqui.
A OBRA DE DEBUSSY
Nunca encerrarei as minhas ideias musicais nos edifícios dos velhos modelos. Dar-lhes-ei espaço, liberdade, vida!
Nunca encerrarei as minhas ideias musicais nos edifícios dos velhos modelos. Dar-lhes-ei espaço, liberdade, vida!
Umas poucas pessoas
apreciarão as minhas obras. E quanto ao resto, ça m’est égal, não me importa o
que possam pensar.
Faço o meu piano trabalhar
tanto que ele transpira como um ser humano.
Não tenho feito outra coisa
senão realizar experimentos a fim de satisfazer o meu gosto pelo inexpressível.
Eles queriam que eu lhes
fizesse cortesias desengonçadas e os cumprimentasse como um dançarino.
O artista na civilização
moderna será sempre uma criatura cuja utilidade só há de ser reconhecida após a
sua morte.
A arte devia se divorciar
do comercialismo... a ideia de negociar uma composição musical como uma lata de
toucinho ou um barril de cerveja é, para mim, tão triste quanto ridícula.
O que temo é o resultado da
paz que virá depois da guerra.
&
A POESIA DE IREMAR MARINHO
Lanço este manifesto / Do partido dentro / Manifesto meu partido / Comunista neste pranto / Não há mais o que falar de mim / Nem da carne / Nem dos ossos / Nem do sangue / Não há mais o que esperar aqui / Nem mais rumo / Nem mais rota / Nenhum horizonte / Já nasci diante / Sou menos valia / Já morri bem antes / Rosas amanhecem vermelhas.
Lanço este manifesto / Do partido dentro / Manifesto meu partido / Comunista neste pranto / Não há mais o que falar de mim / Nem da carne / Nem dos ossos / Nem do sangue / Não há mais o que esperar aqui / Nem mais rumo / Nem mais rota / Nenhum horizonte / Já nasci diante / Sou menos valia / Já morri bem antes / Rosas amanhecem vermelhas.
A poesia
do jornalista, publicitário, advogado e escritor Iremar Marinho de Barros aqui, aqui & aqui.