sexta-feira, agosto 09, 2019

MAHMOUD DARWICH, VINICIUS, TRACY EMIN, USINA DE JULIO BELO & PARTE DO VOO


PARTE DO VOO – Sou nau, sou sim, até o que nem sei se era dos encontrões e desencontros: penitente peregrino a bater pernas nas pisadas trôpegas e fama de doido de pedra pelos caminhos. As ruas são mares nunca dantes singrados com âncora perdida e leme em todas as direções. Sei que vou a confabular comigo mesmo e, cá com meus botões de rosa ao peito, feito um rojão rasgando os céus sem sair do chão e pés descalços, varando o tempo assustado com a imensidão do horizonte cada vez maior, a duvidar se crepusculares ou alvoreceres. Há muito perdi o medo disso e daquilo, plurais temores esvaídos, quantos fossem nem sei mais, jamais poderia ser contrário de tudo se sou tal e qual quem já foi e irá sempre ao inexistente. Ainda estava ontem em que tudo era e não mais, tampouco lembro o que passou indagora, anos a fio de perder o juízo tão logo a lucidez dera de cara com o desatino que sempre fui e já passei da hora antes de qualquer chegada. São partidas, só de seguir juntando pedaços, cacos e trapos. Ah, sequer sei, nem valerá. Nunca me dei conta de que já nem tinha mesmo para fazer entre miragens desbotadas e solidão desvalida. O que sobrou: uma mão espalmada atrás da outra, dores de talhos supurando das vísceras à pele dos pés à cabeça, como se endeusamento pela coragem do confronto, ou detratadas pela insinuação de fuga. Nada demais, não podia ser diferente. Dos rios os olhos lavaram a alma e para quem fica é tarde demais ter de ir, eu fui e voo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] A usina, a grande anônima - para todos a firma comercial do Recife. Eu, na meia fantasia com que muita vez encaro, graças a Deus, as coisas da vida, dou corpo e forma a essa tarasca como se ela fosse uma espécie de imperatriz Catarina, conquistadora insaciável de terras e deportadora terrível dos mujiques coronéis, senhores de engenho. Considero-a, na minha fantasia, como uma pessoa viva, com movimento próprio na trama social. A usina não é para mim como é para todos a firma A ou a firma B. a usina que conquistou as terras e disseminou e deportou os velhos donos, é uma só. Não é uma pessoa ou um grupo de pessoas, que uma conjuntiva comercial une. É um sentimento. É o monopólio, o açambarcamento das terras, quase sem tolerância de uma distribuições mesmo pouco equitativa dos lucros da agricultura pela antiga classe dos cultivadores seculares da gleba. É quase o espirito da avareza. É a justificação daquele conhecido dito popular do “saco de ter que nunca se enche”, daquele outro “das águas que têm de correr todas para o mar”, porque as águas ai são os dinheiros e o mar as grandes arcas de guarda-los dos comerciantes da praça. Como John Bull, como Tio Sam, como Jacques Bonhomme, tipos representativos de povos na caricatura, na minha fantasia – uma grande dama muito gorda e ventruda, uma imensa saia de cauda e brocardos, um formidável chapéu de cano, muito desembaraçada e impertinente, orgulhosa e autoritária – representaria bem essa importantíssima coletiva – a usina. [...]
Trecho da obra Memórias de um senhor de engenho (José Olympio, 1938), do jornalista Julio Belo (1873-1951). Veja mais aqui.

A POESIA DE MAHMOUD DARWICH
Como devo escrever nas nuvens o testamento dos meus? se eles
abandonam o tempo como abandonam os casacos nas casas, se eles
a toda vez que erguem um forte o destroem para erguer em seu lugar
uma tenda de saudades da primeira palmeira... Os meus traem os meus:
nas guerras em defesa do sal. Mas Granada é toda ouro,
seda de falas bordada com amêndoa, prata de lágrimas impressa nas
cordas do alaúde. Granada é a grande ascensão a si mesma...
Pode ser o que se deseja: saudade de
qualquer coisa que passou ou que vai passar: a asa de uma andorinha
roça o seio de uma mulher na cama, e ela grita: Granada é meu corpo.
Alguém perde a gazela nos prados, e grita: Granada é minha terra.
Eu sou de lá. E você, cante para que os rouxinóis façam destas costelas
uma escada que leva ao céu nada distante. Cante o heroísmo de quem sobe o cortejo,
lua após lua, pelo beco da amante. Cante as aves do jardim
em cada pedra. Como eu o amo! Você, que pouco a pouco
me quebrou a caminho da noite quente, cante!
Não haverá mais a manhã para se sentir o cheiro do café, depois da sua partida. Cante, cante a minha saída.
Deixei o arrulho das pombas nos seus joelhos, deixei o ninho da minha alma
nas letras do seu doce nome, Granada do meu canto, cante!
Poema Onze astros: Incidindo na última cena andaluzina – II, do poeta palestino Mahmoud Darwich (1942-2008). Veja mais aqui.

A ARTE DE TRACY EMIN
Para mim, ser artista não é só fazer coisas bonitas, ou as pessoas darem palmadinhas nas costas: é uma espécie de comunicação, uma mensagem.
A arte da artista inglesa Tracey Emin. Veja mais aqui e aqui.

A OBRA DE VINICIUS DE MORAES
A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.
Amai, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido.
A obra do poeta, dramaturgo, jornalista, compositor e diplomata brasileiro Vinicius de Moraes (1913-1980) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
&
Dia dos Povos Indígenas aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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