LUIGIA DE HAYDN - Ah, Luigia,
minha Loisa, a bela Moreschi de Nápoles. Sou o maravilhado pedinte da sua
assimetria e do seu ser melódico e rítmico. Você não precisa ter medo de mim,
sou apenas feio e destituído de qualquer atributo louvável. Sei que sou apenas
um sujeitinho minimamente engraçado, travesso com cara de gnomo, todavia,
dou-lhe a alma da minha Áustria inteira, é só o que tenho na minha vida
modesta, minha liberdade aprisionada. Sou e serei sempre seu Sepperl do coração
alegre e estômago vazio. Se quase fui castrado pelos horrores, ao ser jogado às
ruas, sem vintém nem amigo, perambulei pela noite das ruas e roubei todas as
estrelas de um céu escasso para lhe presentear. Dou-lhe mais a minha polifonia
instrumental – a forma-sonata, minhas sinfonias e quartetos, marchas e
divertimentos, cantatas e árias, tudo o que sou de sagrado e profano; a minha
compaixão e encorajamento; a minha vontade de querer fazer mais, sei, tudo isso
como sou pouco, quase inútil neste mundo. Eu prometo, em qualquer papel em
branco, abaixo assinado, não ter outro amor, pois só você reside no melhor da
minha existência. Você é a Sílvia da minha L’isola
desabitada, mesmo que tenha se desfeito do meu cravo e me deixou jogado sem
ter teto a vagar pelo resto da vida. Você é a Lisetta da minha La vera constanza, é como concilio sua
ausência dolorosa. Um dia ainda quero ouvi-la, mesmo que nunca mais nos
encontremos. Vivo da sua lembrança como se vivesse amparada dentro do meu
coração. Pouco importa eu tenha me abatido com um humor inglês por não tê-la em
meus braços, minha vida jogada; eu tenho mil
coisas afetuosas para dizer a você ... Ouço sua voz distante como uma carta que me consola, e escrevo na minha
solidão cartas e versos ao seu endereço, mesmo que jamais seja um escritor
que valha e nem me ouça ou leia, saiba: fui cortado do mundo, e como não há
ninguém por perto para que me confunda ou me desvie da sua expressão, todo meu cuidado
e esforço é quase nada, nenhuma vida. Mesmo assim, dou-me graças, canto em sua
honra, à sua glória! O que realmente gostaria é de tê-la ao meu lado para compor
e deixar todas as pessoas do mundo felizes. Tanto que sonhei desposá-la por meio de tantas árias de inserções. Não
fui eu o homem feliz por querer possuí-la pelo resto da vida, não, o destino
não quis, sou aquela sensação de voltar para onde nunca deveria ter saído:
perdi o amor para encontrar a paz. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS:
Um dos
principais instrumentos do machismo contemporâneo consiste em transmitir a
concepção de um passado exclusivamente masculino, como se a história
intelectual pudesse ter sido desenvolvida durante dois ou três milênios sem a
participação das mulheres. Gournay, Poulain, Laclos e Gouves provam o
contrário, todas e cada uma a sua maneira.
Pensamento
do professor francês Maxime Rovere que atua no curso de Filosofia da
PUC-RJ e é autor e organizador do livro Arqueofeminismo: mulheres filósofas
e filósofos feministas na França, século XVII-XVIII (N1, 2019), tratando sobre a história
das mulheres na filosofia que é marcada por numerosos desequilíbrios, dos quais
o mais evidente – sua longa, muito longa ausência – tende a esconder os outros.
Para tanto, entende que desde a Antiguidade e até o século XX, a sociedade
patriarcal europeia reservou o estudo das letras aos homens, de modo que
principalmente a literatura e a filosofia acabaram sendo atividades reservadas apenas
a eles, no monopólio da educação, da escrita, do debate, da publicação, mantendo
a maioria das mulheres longe dos conceitos filosóficos e daquilo que eles
trazem de alegrias especulativas, de esforços literários e de lampejos
libertadores. Ao longo da história, encontram-se numerosas mulheres cujos
pensamentos, e às vezes os escritos, marcaram sua época. Neste sentido, a obra
trata de superar o silêncio com o qual uma história exclusivamente masculina
quer recobrir as importantes contribuições trazidas ao pensamento pelas
mulheres e pelas questões levantadas por elas. Na obra estão reunidos textos
escritos por duas mulheres, Marie de Gournay e Olympe de Gouges, que estão
entre as maiores intelectuais dos séculos XVII e XVIII, assim como três textos
escritos por homens, como François Poullain de la Barre, Choderlos de Laclos e
Nicolas de Condorcet, que defenderam, na teoria e na prática, a legitimidade
das mulheres participarem da vida pública, da política e do meio intelectual. Veja
mais aqui.
CINEMA, ASPIRINAS & URUBUS
O
longa-metragem Cinema, Aspirinas e Urubus (2005),
é o filme de estreia de Marcelo Gomes,
conta a história que se passa no sertão nordestino, em 1942, em que um alemão
fugitivo da Segunda Guerra Mundial, trabalha como vendedor de aspirinas pelas
cidades, dirigindo seu caminhão, quando conhece um nordestino que está tentando
chegar ao Rio de Janeiro á procura de trabalho. Esse encontro muda a vida dos
dois, ao ocorrer o recrutamento de nordestinos para Amazônia para formar os
Soldados da Borracha. O filme participou da seleção oficial da Mostra Un
Certain Regard (Um Certo Olhar) do Festival de Cannes, naquele ano, e
recebeu o Prêmio da Educação Nacional, criado pelo Ministério da Educação
Nacional (MEC), que prevê a distribuição do filme, através de um DVD pedagógico,
para aproximadamente um milhão de estudantes franceses, entre outros prêmios. Veja
mais aqui.
A ESCULTURA
DE SVITOSLAV PERUZZI
A arte do escultor e
professor esloveno Svitolav Peruzzi
(1881-1936). Veja mais aqui.
A OBRA DE ADORNO
O amor é a capacidade de perceber o
semelhante no dessemelhante.
&
A MÚSICA DE JOSEPH HAYDN
É triste, em realidade, ser sempre um
escravo, mas assim o quer a Providência e eu, portanto, devo aceitá-lo. Eis-me
aqui de novo na solidão – abandonado – como pobre órfão – quase sem associação
humana – triste – cheio de lembranças dos dias felizes que passaram.
A obra
do compositor clássico vienense Franz
Joseph Haydn (1732-1809) aqui.