A DAMA GENEROSA - O relógio das quinze marcou a sua chegada na
tarde estival. Ela despontou extraordinária com sua pantomina: um oásis por vinte
e três horas amantes como se eu tivesse deposto ou decapitado, a se expor como
quem nunca foi amada e com seus mil e um encantos. Prostrado entre os fieis ao
mormaço dos seus feitiços benéficos, trilhei sobressaltado insone por mais de
quatrocentos e oitenta e cinco noites: quem vê, nunca esquece; encanta os
olhos, toca o coração e invade evocando constelações de festa no íntimo porque
é ela como o vento que enche os pulmões e se espalha com tamanho afeto por todo
ser. Era a dona da luz na distribuição indiscriminada e doava, o seu era para
todos. E aplacou sofrimento alheio, curou dores. Essa a sua alegria. Quantos
não foram contemplados e viraram as costas. Apesar de contemplados, nunca foi
amada. Enquanto os necessitados às caravanas tomavam-lhe tudo: posses, poderes,
fortuna. Deles, muitas dores para ela. Relevava, distribuía generosidade,
verdadeira e real. Por todos era tratada por louca disso ou daquilo; e riam, só
escárnio. Também os que enlouqueceram jamais deixaram de ser tocados. Os
algozes, não eram poucos, e pisavam, detratavam, condenavam. Ninguém em sua
defesa. Nada a deteve: quanto mais tomavam, mais renascia das cinzas. Mais
reprimiam, mais sorria. Cada vez atacada, mais salvava a si e todos. Ninguém
entendia o seu sorriso, a sua dádiva. Sua infelicidade: quanto mais infeliz,
mais poderosa, mais solidaria, altruísta. Sozinha, segura de si, distribuía
amor, vida e luz. Viu-se só, atravessou infernos e desertos, chegou ao outro
lado e cumpriu sua pena, com seu riso imune, fronte erguida, enfrentando
desafios – os dela e de todos. Ela aproximou-se de mim qual bailarina nua
encantadora. Fitou-me firme com seu véu de luz, um incentivo e me salvou. Sabia,
ela não: era a deusa tríplice reencarnada. E sumiu no primeiro instante entre os
que chegavam por terra ou por mar. Um dia, novamente a encontrei e estava se
debatendo, quase exaurida. Não me reconheceu, sempre fui um estrangeiro,
irreconhecível. Estava ela atolada num redemoinho, areias movediças, esvaindo-se.
Os outros do outro lado, todos ocupados com seus problemas e interesses,
ignoravam-na. Ninguém na sua solidão, sucumbindo a si própria. Estendi minha
mão e ela me disse: Não. Tive que exorcizar com duas canções e um punhado de
poemas ocultos dela jamais vê-los. Aos sobressaltos, não havia como alcançá-la.
Indiferente dos meus afetos, ela afastou-se com esforço pelo charco, até
preferir mãos de Judas. Sumiu como uma fumaça para eu me perder. Voltei-me, segui
meu caminho. Sabia dela, de tudo salvou-se sozinha. Eu trilhava seus rastros na
areia quente, entre outros anônimos que lhe serviam de plateia: eu gritava no
meio da multidão e não me ouvia. Restou-me, enfim, incerta, os meus passos
saíram do passado e refiz meu itinerário. Eu só tinha um dia, nada mais, e era
aquele triz em que ela diante de mim, era inteira um espelho de encruzilhadas,
as quais davam no que nunca tive nem terei, só pesares de agora e a graça
perdida numa pedra cinzenta e supostas esferas para brincar de faz de conta
entre passarelas e cataventos, palafitas e corredores, e poder dormir e sonhar.
Hoje, não sei por onde anda nem o que faz, guardo comigo a sua lembrança de
nunca mais. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] qual o futuro de uma sociedade excludente? Talvez
já estejamos vivenciando uma amostra desse futuro. O ódio, o rancor a inveja
fomentados à parte do tecido social, já estão saindo “debaixo dos panos”, e
invadindo a rotina das famílias mais abastadas. Antes os fatos, a resposta do
caos e da desordem total chega, assim, quase à obviedade. Mas, vamos parar com
essa preguiça, essa comodidade, esse “jeitinho brasileiro”, que deixa tudo como
está até que o pior seja inevitável. Com força de vontade, conjunta, é possível
surpreender o óbvio. O futuro, independente do presente, não deve ser encarado
como um “menor”, mas sempre como uma criança.
Trecho
extraído de Que futuro é esse?, da
advogada e analista judiciária Ilana
Branco, extraída da obra Criança
cidadã: por um futuro colorido (FASA, 2004), organizado por Nildo Nery dos
Santos. Veja mais aqui e aqui.
A MÚSICA
DE RAUL PASSOS
Curtindo
a Música da Morte (20021), 4 Prelúdios (2002), Novellete (2002), Estudo de
concerto em Db+ (2002), Aos teus pés (2004), A música das almas (2005), Cadenzas
para o Concerto 21, K467 em C+ de Mozart (2006), Papíllon (2007), Noturno
(2008), Perpetuum Mobile (2008) e Cartas romenas (2009), do pianista, regente,
compositor e poeta Raul Passos.
&
QUERUBIM, DE HEITOR VASCONCELOS
Laia,
laia / Laia, laia / Laia, laia / Yara hum Nara / Todo sonho não foi capaz / De
tornar real / O que satisfaz / É oficial / Teu corpo é meu porto / Sem esperar /
O tempo agora é de ser feliz / Nem por um triz / Nosso forte não é fraco / Nosso
beijo é blindado / Feito marfim / Minha musa / Me seduza / Sou seu anjo / Querubim
/ E quero bem, te quero bem / Meu amor, eu e você / E mais ninguém / Chega de
passar o resto da vida / Sem abraçar-te / Quero te mostrar o quanto és linda / Mais
pura arte / Então vem comigo lady / Mas sem fazer alarde / O love nos deixa
crazy / Vamos matar a saudade / Minha musa / Me seduza / Sou seu anjo / Querubim
/ E quero bem, te quero bem / Meu amor, eu e você / E mais ninguém / Laia, laia
/ Laia, laia / Laia, laia / Yara hum Nara.
Músicas Querubim & Máquina do Tempo,
do compositor e odontólogo Heitor
Vasconcelos. Veja mais aqui.
A ARTE
DE ODILE CRICK
A arte da artista britânica Odile
Crick (1920-2007).
&
A ARTE DE YARA BARBOSA –
PÃO
A arte da artista e designer Yara Barbosa – Pão. Veja mais aqui.
A OBRA DE LYOTARD
Todo consenso não é indicativo de verdade;
mas supõe-se que a verdade de um enunciado não pode deixar de suscitar o
consenso.