PASSA DO PASSO - Passou a vida e o quintal ficou na infância
com alegrias extremas, brincadeiras, algazarras, frutas, flores, peraltices,
tudo antes inesquecíveis, passaram. Coisa de tão pouca monta, chega até
deslembrar. Da mesma forma os arroubos da juventude, amores urgentes e
insubstituíveis, paixões avassaladoras – ah, a atual é melhor que a de antes, é
o que vale -, umas atrás das outras, pelo escurinho do cinema, aterros e terrenos
baldios, logradouros mal iluminados, aproveitados às pressas para os vexames do
vuque-vuque. Chega até olvidar das circunstâncias, impossível trazer ideia dos
fungados nas feiosas e sarro pesado nos tempos do escasso papel bordado. Era o
que se podia fazer. Afora cabular aulas, professores hoje esquecidos, apertos
de penúria, idas pelas vias de losango amarelo. Passa o tempo. Coisas que a
gente se arrepende de ter feito – droga de juízo curto, cabeça de fósforo de
tão impetuoso, a se meter em cada enrascada de não saber sair do ninho de
apuros, atolado até o pescoço -, como tantas outras que poderia ter aproveitado,
tapa na testa, oportunidade perdida. Coisas mais: roupas da moda, démodé – taí
o bocomoco; lindeza capa de revista, desbotada; presente desejado novinho em
folha, encanecido; emocionante vitalidade, palidejada. Passa a mocidade, a
adulteza. Quantas coisas levadas a sério na veracidade não passaram de
estultices, tantas convicções que viraram insignificâncias, coisas de presente
inadiável, de responsabilidade extrema, quantas. Tudo escorrido entre os dedos,
hiatos indefinidos. O agora logo será depois e mais nada. A nossa finitude
diante de uma perspectiva eternizante, a desconhecer do efêmero. O que é de
hoje, amanhã será ontem. E passará como as paisagens que encantaram, as
comemorações ávidas, o afã das conquistas. Ah, o passado já nem engasga – quem dele
não se livra jamais se liberta -, dá até sorrir, ficou para trás de nem servir
mais, coisa que já nem lembro. Lições aprendidas, passa do passo. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS:
[...] Porejando
sangue, ao tratar de espaços não valorizados socialmente, como a periferia dos
grandes centros urbanos, ou os enclaves murados em seu interior, como as
prisões, alguns textos literários e suas traduções cinematográficas vêm
conseguindo visibilidade na mídia, êxito perante parte importante da crítica e
reconhecimento dentro do campo literário e cultural, provocando debates sobre
sua legitimidade, enquanto expressão de um sujeito social até então sem voz, ou
mesmo sobre a possibilidade de criação de uma inovadora vertente temática e
estilística, correspondente à matéria que traduzem. [...] É inegável que a violência, por qualquer
ângulo que se olhe, surge como constitutiva da cultura brasileira, como um
elemento fundador a partir do qual se organiza a própria ordem social e, como
consequência, a experiência criativa e a expressão simbólica, aliás, como
acontece com a maior parte das culturas de extração colonial. Nesse sentido, a
história brasileira, transposta em temas literários, comporta uma violência de
múltiplos matizes, tons e semitons, que pode ser encontrada assim desde as
origens, tanto em prosa quanto em poesia: a conquista, a ocupação, a
colonização, o aniquilamento dos índios, a escravidão, as lutas pela
independência, a formação das cidades e dos latifúndios, os processos de
industrialização, o imperialismo, as ditaduras... Todos esses temas estão
divididos, grosso modo, na já clássica nomenclatura literatura urbana e
literatura regional (que, hoje, generalizando, também pode ser aplicada às
narrativas audiovisuais). [...] testemunha-se
o surgimento de uma literatura sempre em busca de uma expressão adequada à
complexidade de uma experiência que cresce tendo como pano de fundo a violência
[...].
Trechos
extraídos do estudo As vozes da
violência na cultura brasileira contemporânea (Crítica Marxista, 2005), da
professora e pesquisadora da UFScar, Tania Pellegrini, que no seu estudo No fio da navalha: literatura e violência no Brasil de hoje (Estudos de Literatura Brasileira
Contemporânea, 2004), expressa que: [...] centrada na vida dos grandes centros, que incham e se deterioram; daí a
ênfase em todos os problemas sociais e existenciais decorrentes, entre eles a
ascensão da violência a níveis insuportáveis [e então] tudo o que é proibido ou
excluído, tudo o que recebe estigmas culturais, como a violência paroxística,
passa a objeto de representação. [...]. Veja mais aqui e aqui.
RETRATOS DE CHUMBO
Foi hoje... Foi
hoje, que encontrei jovens de talento na espera de uma oportunidade. Foi hoje,
que ensinei minha arte... E encontrei o respeito e a amizade. Foi hoje que
estimulei os sonhos de outros... E sonhei junto com eles. Foi hoje... Que
aprendi com eles. E o hoje
foi também o ontem e será o amanhã. Porque o sonho na Arte tá cada dia mais
vivo. As dificuldades e oposições? Ainda existem... Mudadas é bem verdade... mas
nos motivam a lutar. E assim nasceu um sonho... Um projeto... Uma luta. João
Teimoso não é por acaso. Afinal já nasceu enfrentando obstáculos... Derrubando
barreiras... E levantando das rasteiras. O amor ao teatro e as artes motivou. A
determinação se consolidou. E o grupo prosperou. O ontem, foi o hoje e poderá
ser o amanhã. Na garra e na seriedade o trajeto foi traçado... E nesta
história... Muito ainda vai ser escrito... E com muito trabalho vamos todos
festejar.
Afinal João Teimoso foi ontem, é hoje e sempre!
O espetáculo
Retratos de chumbo: as rosas que enfrentaram
os canhões, texto e direção de Oséas Borba Neto e montagem Grupo de Teatro João Teimoso, trata sobre
os anos de chumbo da ditadura militar no Brasil, nos anos 1964-1985, com histórias
de mulheres que lutaram, foram perseguidas, torturadas e mortas durante este período,
com as emoções das personagens, suas angustias, medos, cicatrizes e revoltas,
em momentos de torturas e com seus "fantasmas" depois de passado o
terror de suas vidas. Em cartaz até 16 e 17 de agosto, no Teatro Hermilo Borba
Filho, em Recife, nas comemorações das 18 anos de fundação do grupo teatral.
Veja mais aqui.
A FOTOGRAFIA
DE MARTIN MUNKÁCSI
A arte do fotógrafo, jornalista e escritor húngaro Martin Munkácsi
(1896-1963). Veja mais aqui.
A OBRA DE WALTER SCOTT
O desejo para fazer, a alma para ousar.
&
O MUSEU DO CAXIADO, SÃO JOAQUIM DO MONTE
O Museu Caxiado fica situado
na cidade de São Joaquim do Monte – PE, criado pelo artista visual, escultor, fototalhador,
poeta e compositor Caxiado. As obras
começaram em 2008, com o objetivo de oferecer uma exposição de obra de arte dividida em sete
estações, ao longo de uma trilha estrategicamente planejada a céu aberto e
criação de espaços, dentro de cada
estação, para homenagear personalidades, além de uma escola de artes com diversas
modalidades, como música, pintura, escultura e danças, direcionada para jovens
e idosos; e calendário de eventos culturais, com encontro de sanfoneiros,
recital de poesias e festivais de danças folclóricas. (Dica
do Professor João Paulo Araújo). Veja mais aqui e aqui.