terça-feira, agosto 06, 2019

ADORNO, ARQUEOFEMINISMO, SVITOLAV PERUZZI, LUIGIA DE HAYDN, CINEMA, ASPIRINAS & URUBUS


LUIGIA DE HAYDN - Ah, Luigia, minha Loisa, a bela Moreschi de Nápoles. Sou o maravilhado pedinte da sua assimetria e do seu ser melódico e rítmico. Você não precisa ter medo de mim, sou apenas feio e destituído de qualquer atributo louvável. Sei que sou apenas um sujeitinho minimamente engraçado, travesso com cara de gnomo, todavia, dou-lhe a alma da minha Áustria inteira, é só o que tenho na minha vida modesta, minha liberdade aprisionada. Sou e serei sempre seu Sepperl do coração alegre e estômago vazio. Se quase fui castrado pelos horrores, ao ser jogado às ruas, sem vintém nem amigo, perambulei pela noite das ruas e roubei todas as estrelas de um céu escasso para lhe presentear. Dou-lhe mais a minha polifonia instrumental – a forma-sonata, minhas sinfonias e quartetos, marchas e divertimentos, cantatas e árias, tudo o que sou de sagrado e profano; a minha compaixão e encorajamento; a minha vontade de querer fazer mais, sei, tudo isso como sou pouco, quase inútil neste mundo. Eu prometo, em qualquer papel em branco, abaixo assinado, não ter outro amor, pois só você reside no melhor da minha existência. Você é a Sílvia da minha L’isola desabitada, mesmo que tenha se desfeito do meu cravo e me deixou jogado sem ter teto a vagar pelo resto da vida. Você é a Lisetta da minha La vera constanza, é como concilio sua ausência dolorosa. Um dia ainda quero ouvi-la, mesmo que nunca mais nos encontremos. Vivo da sua lembrança como se vivesse amparada dentro do meu coração. Pouco importa eu tenha me abatido com um humor inglês por não tê-la em meus braços, minha vida jogada; eu tenho mil coisas afetuosas para dizer a você ... Ouço sua voz distante como uma carta que me consola, e escrevo na minha solidão cartas e versos ao seu endereço, mesmo que jamais seja um escritor que valha e nem me ouça ou leia, saiba: fui cortado do mundo, e como não há ninguém por perto para que me confunda ou me desvie da sua expressão, todo meu cuidado e esforço é quase nada, nenhuma vida. Mesmo assim, dou-me graças, canto em sua honra, à sua glória! O que realmente gostaria é de tê-la ao meu lado para compor e deixar todas as pessoas do mundo felizes. Tanto que sonhei desposá-la por meio de tantas árias de inserções. Não fui eu o homem feliz por querer possuí-la pelo resto da vida, não, o destino não quis, sou aquela sensação de voltar para onde nunca deveria ter saído: perdi o amor para encontrar a paz. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS:
Um dos principais instrumentos do machismo contemporâneo consiste em transmitir a concepção de um passado exclusivamente masculino, como se a história intelectual pudesse ter sido desenvolvida durante dois ou três milênios sem a participação das mulheres. Gournay, Poulain, Laclos e Gouves provam o contrário, todas e cada uma a sua maneira.
Pensamento do professor francês Maxime Rovere que atua no curso de Filosofia da PUC-RJ e é autor e organizador do livro Arqueofeminismo: mulheres filósofas e filósofos feministas na França, século XVII-XVIII (N1, 2019), tratando sobre a história das mulheres na filosofia que é marcada por numerosos desequilíbrios, dos quais o mais evidente – sua longa, muito longa ausência – tende a esconder os outros. Para tanto, entende que desde a Antiguidade e até o século XX, a sociedade patriarcal europeia reservou o estudo das letras aos homens, de modo que principalmente a literatura e a filosofia acabaram sendo atividades reservadas apenas a eles, no monopólio da educação, da escrita, do debate, da publicação, mantendo a maioria das mulheres longe dos conceitos filosóficos e daquilo que eles trazem de alegrias especulativas, de esforços literários e de lampejos libertadores. Ao longo da história, encontram-se numerosas mulheres cujos pensamentos, e às vezes os escritos, marcaram sua época. Neste sentido, a obra trata de superar o silêncio com o qual uma história exclusivamente masculina quer recobrir as importantes contribuições trazidas ao pensamento pelas mulheres e pelas questões levantadas por elas. Na obra estão reunidos textos escritos por duas mulheres, Marie de Gournay e Olympe de Gouges, que estão entre as maiores intelectuais dos séculos XVII e XVIII, assim como três textos escritos por homens, como François Poullain de la Barre, Choderlos de Laclos e Nicolas de Condorcet, que defenderam, na teoria e na prática, a legitimidade das mulheres participarem da vida pública, da política e do meio intelectual. Veja mais aqui.

CINEMA, ASPIRINAS & URUBUS
O longa-metragem Cinema, Aspirinas e Urubus (2005), é o filme de estreia de Marcelo Gomes, conta a história que se passa no sertão nordestino, em 1942, em que um alemão fugitivo da Segunda Guerra Mundial, trabalha como vendedor de aspirinas pelas cidades, dirigindo seu caminhão, quando conhece um nordestino que está tentando chegar ao Rio de Janeiro á procura de trabalho. Esse encontro muda a vida dos dois, ao ocorrer o recrutamento de nordestinos para Amazônia para formar os Soldados da Borracha. O filme participou da seleção oficial da Mostra Un Certain Regard (Um Certo Olhar) do Festival de Cannes, naquele ano, e recebeu o Prêmio da Educação Nacional, criado pelo Ministério da Educação Nacional (MEC), que prevê a distribuição do filme, através de um DVD pedagógico, para aproximadamente um milhão de estudantes franceses, entre outros prêmios. Veja mais aqui.

A ESCULTURA DE SVITOSLAV PERUZZI
A arte do escultor e professor esloveno Svitolav Peruzzi (1881-1936). Veja mais aqui.

A OBRA DE ADORNO
O amor é a capacidade de perceber o semelhante no dessemelhante.
A obra do filósofo e musicólo alemão,Theodor W. Adorno (1903- 1969) aqui e aqui.
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A MÚSICA DE JOSEPH HAYDN
É triste, em realidade, ser sempre um escravo, mas assim o quer a Providência e eu, portanto, devo aceitá-lo. Eis-me aqui de novo na solidão – abandonado – como pobre órfão – quase sem associação humana – triste – cheio de lembranças dos dias felizes que passaram.
A obra do compositor clássico vienense Franz Joseph Haydn (1732-1809) aqui.