segunda-feira, agosto 19, 2019

DEBUSSY, JOÃO CABRAL, KATIA KIMIECK, LYSIA CONDÉ, IREMAR MARINHO, GABRIEL PETRIBÚ & LEANDRO VAZ


AS MULHERES DE DEBUSSY - Elas, sempre elas. Elas, todas elas, a razão da minha vida. Desde a mãe, menino que fui e me fiz procedendo de modo reservado, quieto, meditativo, não passava mesmo de um cínico, enojado do mundo dos homens e apaixonado por elas. Elas e a música. Não fosse a tia Clémentine, seria ninguém. Tudo começa em Cannes e ela me mostrando o mundo e todas as coisas. De lá o desfile com Antoinette, mãe de Charles, a segunda professora: Devo a ela o pouco que sei de música. A Nadyezhda, o encanto e o motor das artes: as harmonias orientais, a escala grega, as modulações chinesas, a música russa, ah, as ideias heterodoxas por estranhas combinações. Eu precisava de alguém para amar: a bela Marie, jovem soprano, esposa do riquíssimo arquiteto, a quem dei poemas de Banville e Leconte de Lisle. Também para ela as aulas de canto e ela me ensinou a arte do amor: o carinho, a sedução, escolhia minhas roupas e instruía na literatura e nos caminhos da vida. Para ela, melodias para cantar com sua boca de fada melodiosa. Insuportável a sua ausência, compunha tudo para ela. Eu amava com meus cabelos ao vento, anarquista rixoso, sonhador irrequieto, o cigarro e uma música rebelde no coração. Queria cadência nova, estranha sequência de cores, combinação sutil de sons, ecos de vozes encantadas vindas de mundos desconhecidos. A voz da sereia do amor: a Vascnier, para ela dediquei canções: Fêtes galantes e Quatre chansons de jeunesse. Tanta sedução teria de ser homenageada. Porém, tinha que escolher entre a bolsa do Prix de Rome ou ela. Sofrimento e solidão. No regresso à França, duas peças ao Conservatório foram consideradas pelos jurados como indignas de um homem de talento. Ao ser reprovado, exultei: Graças a Deus consegui, finalmente, escrever alguma coisa original. Foram os braços da dançarina Gaby e seus olhos verdes que me valeram: o queixo vigoroso, exalando sensualidade e exotismo, e o amor. Para ela o primeiro ato da ópera inacabada, Rodrigue et Chimène. A vanguarda boêmia e a cantora Thérèse me encantaram com todos os ornamentos românticos em Bruxelas. Para ela: um Quarteto de Cordas e o Prélude à L'après midi d'un faune. Ah, minha impaciência, ninguém publicava as composições, queriam-me que escrevesse música simples, popular. A estupidez dos alunos. Ainda bem que existia o Café Weber para distrair com copos de vinho e meus amigos Verlaine, Chausson, Mallarmé. Escrevia, o domínio das palavras e dos sons, epigramas. Desprezava o passo de ganso e elmo de ferro do Wagner: se tivesse sido mais humano, teria sido realmente divino. Massenet, um fabricante de perfume: cheiro agradável, mas artificial. Só por meus pais que aceitei a cruz da Legião de Honra, nada disso me interessava: menosprezo a humildade e a inveja mesquinha. Queria mesmo quebrar as regras, desafiar as convenções. Foi Lilly, a Lily-Lilo, a modelo e Pelléas et Mélisande, de Maeterlink: a princesa em busca da felicidade e a sua frágil saúde, incrivelmente bela como um personagem de uma antiga lenda. Eu me mataria se ela não casasse comigo. Para ela as Sirenes do Nocturnes. Contudo, era possessiva e, ao mesmo tempo, carinhosa. Não me poupou de uma tragédia. Adeus ao passado com um recitativo simples, calmaria de um rio profundo. Ondas que brincavam ao luar. O mar. Noturnos. O poema em prosa, Natal das crianças sem lar, era a 1ª Guerra Mundial, as criancinhas francesas que perderam o seu lar por causa da invasão alemã. Crianças refugiadas, perdidas no inferno do campo de batalha. Às vésperas do Natal não celebrado: o frio, a fome, o medo e a incerteza do futuro: Trazei a vitória, por fim, às crianças de França! Desdenhava o materialismo do mundo e os homens de negócio. Não conseguia evitar a companhia das mulheres. Para minha salvação, Chouchou, a Emma, mãe de um aluno, cantora sofisticada e brilhante. Fiquei obcecado. Para ela: Children's Corner. Na vida tropeço na menor pedra. A fuga, o escândalo, a tentativa de suicídio dela e o divórcio. As mulheres, uma hera na parede. Mas, sempre o medo de ficar sozinho. Ainda inquieto, lançava olhares cobiçosos em outras direções: o mundo, o universo, mulheres e mulheres, só mulheres. Só elas. A tortura do fim, um cadáver ambulante. O estralejar dos canhões alemães. Tornei-me um asteroide e uma cratera de Mercúrio. Não valeria nada se não fossem elas. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] o poeta contemporâneo ficou limitado a um tipo de poema incompatível às condições da existência do leitor moderno, condições a que este não pode fugir. [...] o que os poetas contemporâneos obtiveram, foi o chamado “poema” moderno, esse híbrido de monólogo interior e de discurso de praça, de diário íntimo e de declaração de princípios, de balbucio e de hermenêutica filosófica, monotonamente linear e sem estrutura discursiva ou desenvolvimento melódico, escrito quase sempre na primeira pessoa e usado indiferentemente para qualquer espécie de mensagem que o seu autor pretenda enviar. [...] Esse tipo de poema é a própria ausência de construção e organização, é o simples acúmulo de material poético, rico, é verdade, em seu tratamento do verso, da imagem e da palavra, mas atirado desordenadamente numa caixa de depósito.
Trechos de A função moderna da poesia, extraídos de Prosa (Nova Fronteira, 1998),
do poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

A ARTE DE KATIA KIMIECK

A arte da pintora, escultora, ilustradora e arte-educadora Katia Kimieck. Veja mais aqui & aqui.
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A ARTE DE GABRIEL PETRIBÚ
Desde muito novo meu pai desenhava e pintava, logo me interessei pela pintura por causa dele.
A arte do artista visual Gabriel Petribú. Veja mais aqui.

A MÚSICA DE LYSIA CONDÉ
A música sempre fez parte da minha vida. Eu sempre cantei. Na minha adolescência participei de grupo de teatro. Era selecionada em todas as peças que tinha alguma possibilidade de cantar. Alguns amigos me chamavam para cantar, esporadicamente, em casamentos. Já morando em Natal, eu fui fazer o curso básico de canto na Escola de Música. Participei dos recitais da escola e fiquei entrosada com os músicos da cidade. Então, surgiram convites para dar canja nos lugares e quando vi já tava envolvida profissionalmente. Antes de me reconhecer como cantora, as pessoas já me apresentavam dessa forma.
Curtindo a música de requintada delicadeza da talentosa cantora, socióloga e professora Lysia Condé, formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) e estudou na Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal – RN, onde reside atualmente. Ela foi a ganhadora do Festival Música Potiguar Brasileira, da FM Universitária. Veja mais aqui.
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A MÚSICA DE LEANDRO VAZ
Amar é arriscar – se / Amar é entender / Amar é deixar ir / Amar também é perder.
A música do poeta, cantor e compositor Leandro Vaz, autor do livro Eugenia (2017) e do álbum autoral musical Madrigal (Cocar, 2018), viabilizado pelo Funcultura-PE, este último com arte do designer Guilherme Luigi e gravuras de Regina Carvalho. (Dica da cantora Maíra Moura). Veja mais aqui.

A OBRA DE DEBUSSY
Nunca encerrarei as minhas ideias musicais nos edifícios dos velhos modelos. Dar-lhes-ei espaço, liberdade, vida!
Umas poucas pessoas apreciarão as minhas obras. E quanto ao resto, ça m’est égal, não me importa o que possam pensar.
Faço o meu piano trabalhar tanto que ele transpira como um ser humano.
Não tenho feito outra coisa senão realizar experimentos a fim de satisfazer o meu gosto pelo inexpressível.
Eles queriam que eu lhes fizesse cortesias desengonçadas e os cumprimentasse como um dançarino.
O artista na civilização moderna será sempre uma criatura cuja utilidade só há de ser reconhecida após a sua morte.
A arte devia se divorciar do comercialismo... a ideia de negociar uma composição musical como uma lata de toucinho ou um barril de cerveja é, para mim, tão triste quanto ridícula.
O que temo é o resultado da paz que virá depois da guerra.
A obra do compositor francês Claude Debussy (1862-1918) aqui, aqui & aqui
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A POESIA DE IREMAR MARINHO
Lanço este manifesto / Do partido dentro / Manifesto meu partido / Comunista neste pranto / Não há mais o que falar de mim / Nem da carne / Nem dos ossos / Nem do sangue / Não há mais o que esperar aqui / Nem mais rumo / Nem mais rota / Nenhum horizonte / Já nasci diante / Sou menos valia / Já morri bem antes / Rosas amanhecem vermelhas.
A poesia do jornalista, publicitário, advogado e escritor Iremar Marinho de Barros aqui, aqui & aqui.