DIÁRIO DE QUARENTENA – ERA UMA VEZ... BANQUETE NA ESQUINA - Sim, esse
meu ofício inútil de contar história, não faço outra coisa: era uma vez... não
sei quando, se ontem, anteontem ou nunca, sei lá, sei que foi um banquete na
esquina desses bem aloprado. O Coiso Rei poderoso com uma oposição esfacelada e o povo sequelado, desgovernava quando soube
duma peste devastando o mundo lá fora. Reuniu os comparsas e ouviu de Ali Babão
um relatório acurado: morria gente pelo ladrão, lá longe. Então, o rei teve um
desmaio com a notícia e, ao voltar a si, gritou: Creolina! Foi o bastante,
todos os cheleleus caíram na fabricação do dito que passou a ser usado como
antidepressivo e complexo alimentar de grande apelo popular e saíram pelo mundo
afora levando a boa nova da cura milagrosa. Não levados a sério, voltaram com o
rabinho entre as pernas para o reinado e amargaram o insucesso: o negócio
gorou! Um a um deles foram picados pela moléstia estrangeira, baixaram hospital
e, na maior rebordosa, espalharam entre todos os súditos de forma devastadora.
Chegou para valer e logo, com mais de milhares mortos, o rei ficou encurralado
e respondeu: E daí? Houve colapso no sistema de saúde, mas o soberano ciente de
seu autoendeusamento brincava de largar piadas: Tomem creolina e se salvarão,
garanto! Só que a morte e vida Severina não foi avisada e só era avessa à água
sanitária e sabão; ninguém sabia e, sem nada na terrina, até um curumim morreu
aumentando as estatísticas astronômicas. Era uma situação mofina, deveras. O
rei para provar de sua autoridade virava a terebintina de manhã, de tarde e de
noite. Findou entupido e cagando raio ninguém sabe por onde, pois se
empirulitou meio aluado ou está escondido no reinado, dizem. O povo? Entre
néscios e ajuizados, um ou outro prefere a teibei
cantando a Cajuína de Caetano: Existirmos, a que será que se destina...
E há entre outros aquele que distribui conselhos
pela vida, ou morte, não sei. DOIS:
FANFARRA DA MILITARIZAÇÃO & O PERDÃO DA MAJESTADE – E num é que o rei piscou
o olho e reapareceu com a cara meia troncha e falando das mãos prum bocado de
fardados que ele convocou: As mãos... as minhas mãos... as nossas mãos... tornaram-se
perigosas, capazes de nos matar com a peste. Por isso, as minhas mãos se
tornaram misericordiosas com decreto que isenta a responsabilização de agentes
públicos por ação e omissão em atos relacionados com a praga; compassivas para
exculpar as dívidas milionárias das evangélicas que me ensinaram a rezar e me
salvaram; bondosas para anistiar as sonegações dos ruralistas que são os amigos
e o futuro do reinado; generosas para eximir as multas dos partidos políticos
que aparecerem acaso por bem; caridosas para criar um núcleo filantropo para dispensar
dívidas geradas por crimes ambientais, enfim, para que o povo viva e seja
feliz! Foi uma saraivada de quepes e aplausos, claque da boa! Com esse discurso
em cadeia nacional todo mundo ficou atordoado do juízo, porque no boca a boca
todos sabiam de uma tuia de planos para derrubá-lo por um molho de coisas meio
cabeludas, enquanto ele se virava nos trinta para salvar o trono em conluios
com inimigos figadais agora amigos de cama e mesa, abafando investigações, CPIs
e o escambau. Generais que davam cordas e voltas! Afora almirantes no
bilu-teteia e brigadeiros no bolo. Estava armada a defesa nacional! Sabiam: O
cara não é lá tão incompetente, é foda mesmo! Juntando as pedras: é que a
creolina gerou milhares de conflitos agrários e fuga de mais de outros tantos
de milhares de famílias ameaçadas que botaram a boca no trombone e a imprensa
oficial nem deu bola. Todo mundo só virando o copo. Mas pegou, sim. Como dizia Bukowski: É este o problema com a bebida, pensei, enquanto me servia dum copo. Se
acontece algo de mau, bebe-se para esquecer; se acontece algo de bom, bebe-se
para celebrar, e se nada acontece, bebe-se para que aconteça qualquer coisa.
Eita Creolina danada essa, hem? E o que está acontecendo, na vera, nem sinal de
se saber de mesmo, ao certo. TRÊS: LUTO!
- Os pesares eram tantos, mas o rei já tomava um porre de estricnina de nunca mais
entrar no ar. Abilolou, foi? Vixe! Ué, ele num morre não? Nada, ele é
indestrutível, invulnerável! Será o SuperCoiso? Oxe, mas teco! E o povo num
verdadeiro anojamento, morria. E diziam e arrostavam, nada; e contenderam e
litigaram e renhiram e pugnaram e porfiaram mais pelejaram e nada. Fizeram
mesmo o quê? Concordavam: Quando deus não quer, não adianta! Será deus o rei? E
Maiakovski entre os mortos
insepultos: Ressuscita-me! Hem? Quem
é esse doido? E Niki de Saint Phalle:
A vida... nunca é o caminho que se
imagina. Ela te surpreende, te assombra, e faz você rir ou chorar quando menos
espera. Vôte! Essa é biruta mesmo! Xá pra lá, doida! A vida passa. Ah,
impermanência. Vou ali tomar uma para bolar outras histórias assim sem pé nem
cabeça, visse? Enquanto isso: vamos aprumar a
conversa, gente! Até amanhã! © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: Eu não sou um perdedor /
nem o louro do triunfo cinge os meus templos. / Broches de aço mantêm meu
espírito: / A calúnia nunca pode me machucar... / Eu não sou um perdedor,
porque eu consegui fugir com uma testa limpa / do caminho fácil que os vilãos
seguem / e voltei ao sábio em acelerar as costas virís / que não foram feitas
para dobrar; / quando com bajulação os sábios queriam me levar ao cume / virei
as costas para eles e entrei em um caminho vestido de cardos, / caminho da dor
e do desespero / para os rebeldes, / para humanos, / para os humildes que nunca
escondem a alma e a ideia, / para aqueles que dizem a verdade e esperam com o
pescoço na vertical / alguém para responder, - magnata ou poeta, malabarista ou
advogado, - / de ricos escritórios de advocacia cobertos / de fólios e
folhetos; / dos terraços dos miradouros; / do estrado das academias / ou das
torres de marfim fechadas / a todas as reclamações da multidão, / à voz
sofredora de peregrinos e mendigos, / à sátira ardente dos Juvenales / e ao
discurso sóbrio dos sonhadores imunes ao vício. / Há no meu cachecol / janelas
abertas a todos os ventos / e para todas as luzes, / em cujas coisas ociosas /
eu nunca coloquei mãos febris. / As flores me mandam seu perfume, / o sol
brilha, sua frescura brisa / perfumado, e o eco me traz / de marginalizado transita
e deserdou a justa queixa. / Entre no meu cachecol / todo sotaque humano, / e
nele eles se harmonizam com a voz de cristal dos meus filhos / arpejos puros do
meu parceiro. / Eu sonho na noite / enquanto o sussurro do vento nas folhas
responde altamente / com seus latidos persistentes o cachorro que cuida da
minha estadia / e fica ao meu lado como um amigo fiel, / sempre olhando para
mim, como se quisesse ler nos meus olhos; / como se ele quisesse entender minha
angústia / e olhar profundamente em minha alma. / Minhas roseiras geralmente se
espalham por toda parte / seu perfume intenso / que ao mesmo tempo invade os
quartos reais e as camas tristes. / Quando aquele perfume flutua ao meu redor /
Eu penso nos míseros que escondem seu ouro, / nos sábios mesquinhos que eles
carregam / para o túmulo sua sabedoria / e nos pedagogos e nas barreiras venais
/ que eles têm como culto a traição e o medro / e eles mostram amor pelo país,
/ com seus brinquedos fofinhos para a terra azul / pelo qual eles não fizeram
sacrifício. / Todos eu, todos os escravos, me fazem chorar; mas eu tenho um
escravo: / o ritmo, o glorioso / gladiador nu masterização arte / e ao esforço
viril do meu músculo numen se rende e dobra. / Eu toco com o ritmo / que com
uma chapa de aço flexível / ou a melhor vara de cana; / e é por isso que o
ritmo está de acordo com minhas músicas / de amor, para a seiva dos meus
anátemas / e ao hálito mórbido das minhas elegias / e à evanescência voluptuosa
e calorosa dos meus madrigais. / A rima é uma transcrição desses arabescos / que
brilham por um momento em nossa retina / e eles desaparecem, como uma bola de
fogo, sem deixar sua marca. / Símbolo de bolhas e vangloriando-se, / feliz
sombreamento de trastes e randas, / rima é charme para os sentidos... / Contudo,
/ sem ele, as cotovias e os rouxinóis nos fazem vibrar / que não se decoram
quando melodizam, / e com isso eles costumam encobrir sua mídia / estros
estéreis, bebidas espirituosas diminuídas / e consciências sombrias e sombrias.
/ Cairel de caireles, / é a rima a decoração do verso / que com a fragrância do
ritmo é nutrido. / Meu numen reflete / todas as nuances das minhas emoções / e
pela minha aparência; / e, como um rio que nunca extingue suas forças latentes,
/ ele não impede que minha alma generosa flua / que rezam são apaziguados
docemente, docemente, como num remanso, / Agora eles estão em tumulto, como se
anunciando vórtices ou quedas. / Rabien os cantores que impõem reivindicam
norma ao sentimento! / Dê às auras o significado de suas blasfêmias / e
derramar bile Aristarco e Zoilo! / enquanto isso meu numen traduz / Da mesma
forma, o tremolo daquele sensível que carrego na minha alma / e o protesto acre
do meu personagem de bronze retilíneo! Poema Prelúdio ético-estético, extraído da
obra Ritmos sin rima y otros (Nabu,
2011), do poeta uruguaio Manuel Pérez y
Curis (1884-1920).
O TEATRO DE MARTINS PENA
[...] JUCA: Sei que temos só por
fortuna um coração amante e sincero, e quanto baste para viverem duas pessoas
honestamente, mas sem luxo, adeus, minhas encomendas. Leva tudo o diabo. Batem
com as janelas na cara, voltam as costas, não respondem [...]
MARTINS PENA - Trecho da peça teatral A família e a festa na roça: comédia em
1 ato, do dramaturgo, diplomata e introdutor da comédia de
costumes no país Martins Pena (1815-1848), que conta a história da família de
Domingos João, um fazendeiro com problemas econômicos que vê a oportunidade de
aumentar suas posses casando a filha Quitéria com Antônio do Pau D’Alho, já que
este moço tem “um sítio com seis escravos e é muito trabalhador”. Mas Quitéria
ama Juca, um estudante de Medicina, que também a ama e quer se casar com ela. Extraído
da obra Comédias de
Martins Pena (Ediouro, s.d.),
organizada por Darcy Damasceno. Veja mais aqui e aqui.
A ARTE DE
Reconheço os Guardiões Tradicionais das terras em que
nossas entrevistas foram filmadas e presto meus respeitos ao passado dos
Élderes, presente e emergente, pois eles são a chave para o futuro do nosso
planeta.
a vários projetos de
repatriação, como o retorno de restos ancestrais australianos a seus
proprietários tradicionais em 2011. Veja mais aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
Fotografar é acima da arte
de escrever imagens com luz. É eternizar momentos, sorrisos e lágrimas, maneira
de expressar o que se vê ou sente.
A arte da fotógrafa, produtora, cineasta,
educadora social e ativista de causas sociais, Jessica Vanessa, que atua
na presidência do Coletivo Centro de Comunicação e Juventude (CCJ/Recife),
integra Fórum de Juventudes de Pernambuco (FOJUPE), o Movimento
Negro Unificado (MNU), coordenadora estadual do Coletivo Nacional de Juventude
Negra Enegrecer e articuladora nacional de politicas publicas de juventude.
&
A música
do gaitista, violonista, compositor, arranjador,
maestro e produtor musical Rildo Hora aqui.
A poesia
do poeta, cantador, violeiro e repentista Otacílio Batista aqui.
A obra
da educadora, jornalista, poeta e ativista feminina Edwiges de Sá Pereira
(1884-1958) aqui.
Feminismo
popular e lutas antissistêmicas, de Carmen
S. M. Silva aqui.
O grupo teatral As Loucas da Mata Sul aqui.
A arte
da artista visual Dulce Araújo, a D-Araújo aqui.
Mapa
Cultural de Pernambuco aqui.
&
Lampioa
& Zé Bunito aqui.