DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: PERDI A NOÇÃO DE TUDO - Não sei
direito que dia é hoje, ou se ainda é ontem, muito menos se amanheci amanhã e
agora sem tempo, sou apenas o espaço do isolamento. Para quem nunca teve, manter
a sanidade até que não é lá tão difícil, o pior é ter que sobreviver entre ilações
e vitupérios. Embora Clara Schumann
sussurre ao meu ouvido: Todos têm os seus
defeitos, eu tenho e você também - permita-me dizê-lo! Eu sei, sabemos. Nada
é fácil. E ela ainda é generosa comigo: Se
eu tivesse encontrado mais dificuldades na minha juventude, eu teria conhecido
mais alegrias. No reino dos paradoxos, um a mais não deprime tanto, talvez
desendoideça de vez. DUAS: DOS
NEGACIONISTAS & OUTRAS RETAS & TERRAPLANAS - Enquanto eu me desligo
enlouqueço os algoritmos. Rompendo bolhas, sarava! E os médicos da verdade
coisonária distribuem cloroquina de graça pro meu povão desavisado. Escroques! Sou
lá de ficar na gaiola de Skinner com
a moçada da mamadeira de piroca que elegeu a coisa no Brasil, pegadinhas na
festa da Lei de Moore e no meio dos insultos para validação das curtidas que
nem são para mim ouro da dopamina, nada disso, estou mais com os 10 motivos de Jaron Lanier, porque sou Gutenberg de hoje na fala de Paul Ricoeur: Nós somos hoje responsáveis pelo futuro mais longínquo da humanidade. Em
uma escala cósmica, nossa vida é insignificante, mas esse breve período em que
aparecemos no mundo é o momento em que todas as questões significativas surgem.
Pois é. Enquanto os reclinados desconvêm de tudo em defesa do seu eugênico
holocausto, suas estultices odientas a desconcordarem coisados com suas
injúrias enfurecidas e thanatizadas o que é de fato e de direito, eu vou
lamentando os meus que sucumbem em covas emergenciais, Deus nos tenha. TRÊS: O AMOR, NUNCA O ÓDIO – Chega de
falar de ódio, deve-se combatê-lo, não propagá-lo. É preciso cobrar do
Congresso Nacional e do STF por tanta inação diante de tantos descalabros coisonários
e escusas intervenções e Centrãos e o diabo a quatro – ou será colusão para
deixar correr para ver como é que fica, ou desbrio mesmo jogando um pro outro,
sei lá. Sem esmorecer nem perder a ternura jamais, vou de Balzac: O amor não é apenas
um sentimento: é também uma arte. O amor é a poesia dos sentidos. Ou é sublime,
ou não existe. Quando existe, existe para todo o sempre e aumenta cada vez mais.
Não só sinto, eu vivo. E se eu tiver algo a dizer, melhor calado, menor será a
minha estupidez. Vamos aprumar a conversa, gente! Até
amanhã! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e
aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Sonho do livro sem título. Seu
espectro, sempre invisível. Acumular notas. Olhar. Ouvir. Andar por essa
cidade sem nome de rua como uma completa imbecil. Cabeça coberta. Tornozelos
cobertos. Mangas compridas. Ruas destruídas onde andar exige uma atenção
permanente (pavor de quebrar uma perna, acabar num hospital). Sem esgotos
funcionando. Cortes de eletricidade todas as noites. Por vezes durante o dia.
Esta poeira em tudo. Em suspensão no ar. Depositada em tudo que se mexe e
também nos objetos. Coisas mortas ou vivas. Escrever com as mesmas ferramentas
que as compradas para desenhar [...] Os americanos não dão atenção (uma vez que a
heroína não se exporta prioritariamente aos EUA, que consomem principalmente
cocaína). Nenhum desses superpoliciais parece acreditar na possibilidade de uma
solução democrática. Uma economia globalizada (droga, ONG, dinheiro dos
aliados, ajudas internacionais sob a égide americana) faz desse país um barril
de pólvora. Pobreza, analfabetismo, injustiças, incoerências e violências do
sistema alimentam os grupos islamistas radicais, fazendo com que alguns até
lamentem o desaparecimento do reino dos talibãs. Isto é: 1. Interdição às
mulheres de tirar o véu (e de circular sem estarem acompanhadas por um parente
do sexo masculino). 2. Interdição de música (fitas e músicas proibidas nos
comércios, nos hotéis e nos veículos de transporte). 3. Interdição aos homens
de se barbear. 4. Obrigação de rezar. (É obrigatório ir à mesquita durante a
reza). 5. Interdição de jogos de pombos e de lutas de pássaros. 6. Eliminação
da droga e de seus consumidores. 7. Interdição de empinar papagaios de papel.
(As lojas que vendem papagaios são eliminadas). 8. Interdição da idolatria
(imagens e retratos devem ser eliminados dos veículos, lojas, casas, hotéis,
museus, livrarias, etc.) 9. Interdição de jogos a dinheiro (jogadores presos
durante um mês). 10. Interdição dos cortes de cabelo ingleses ou americanos (os
homens de cabelo comprido são presos e rapados). 11. Interdição de lucros sobre
empréstimos, comissões de câmbio e taxas sobre transações. 12. Interdição às
mulheres de lavar roupa nas margens dos rios urbanos. 13. Interdição de música
e de dança durante os casamentos. 14. Interdição de tocar instrumentos de
percussão. 15. Interdição aos alfaiates de tomar medidas de mulheres e de lhes
confeccionar roupas (revistas de moda proibidas). 16. Interdição de feitiçaria
(livros queimados). A esses 16 pontos acrescentava-se uma
mensagem às mulheres pedindo-lhes que não saíssem mais de casa. [...] Pergunta feita a mim mesma: Como a água pode
lavar uma cor visível mas sem existência real? Agora o efeito de um leve
flutuar tão agradável (tira-se o caranguejo, o corpo, o medo da morte) parece ter-se
diluído. O arranhar da caneta no papel não é uma ilusão. O ar está carregado de
cinza. Sobre a grama escassa, um pássaro de bico amarelo olha para mim. Trechos da obra Os talibãs não
gostam de ficção (ALEA,
2008), da escritora francesa Liliane
Giraudon, um caderno de
viagem ao Afeganistão, em que, em meio a uma multidão povoada de burkas e de
homens armados, as palavras captam sensações, odores, paisagens e corpos
urbanos, humanos.
IEMANJÁ DE LYDIA CABRERA
[...] Iemanjá é a Rainha Universal,
porque é a água, a salgada e a doce, o Mar, a Mãe de tudo que foi criado [...]. Sem água não existe vida.
De Iemanjá nasceu a vida. E do Mar nasceu o santo [...]. As filhas de Iemanjá são voluntariosas,
fortes, rigorosas, protetoras, altivas e, algumas vezes, impetuosas e
arrogantes; têm o sentido da hierarquia, fazem-se respeitar e são justas mas
formais; põem à prova as amizades que lhes são devotadas, custam muito a
perdoar uma ofensa e, se a perdoam, não a esquecem jamais. Preocupam-se com os
outros, são maternais e sérias. Sem possuírem a vaidade de Oxum, gostam do luxo,
das fazendas azuis e vistosas, das joias caras. Elas têm tendência à vida
suntuosa mesmo se as possibilidades do cotidiano não lhes permitem um tal fausto. [...].
LYDIA CABRERA - Trechos extraídos da obra Iemanjá
e Oxum (Edusp, 2002), da antropóloga e poeta cubana Lydia Cabrera (1899-1991). Também para
Iemanjá, um poema de Manuel Bandeira:
D. Janaína/ Sereia do mar/ D. Janaína/ De
maiô encarnado/ D. Janaína/ Vai se banhar./ D. Janaína/ Princesa do mar/ D.
Janaína/ Tem muitos amores/ É o rei do Congo/ É o rei de Aloanda/ É o sultão-dos
matos/ É S. Saravá!/ Saravá saravá/ D. Janaína/ Rainha do mar!/ D. Janaína/
Princesa do mar/ Daime licença/ Pra eu também brincar/ No vosso reinado. Veja mais aqui,
aqui & aqui.
A ARTE DE TOSHIE KOBAYASHI
Um espírito de disciplina e de rigor muito
sérios imbuíam a transmissão do conhecimento do balé. Como toda arte, a dança
exige anos de prática e de dedicação. Como o brasileiro não tem essa paciência
toda, eles acabam voltando para o Brasil. No retorno, dão de cara com uma
concorrência acirrada e se vêm obrigados a se aperfeiçoar cada vez mais,
inclusive em técnicas contemporâneas. Nesse sentido, a mentalidade do
brasileiro melhorou muito. Bato nesta tecla: bailarino tem que ter estudo. Com
muito cuidado, procuro falar, ensinar e encaminhar. É preciso amar muito o que
se faz. Tiro leite de pedra!
TOSHIE KOBAYASHI – A arte da bailarina, professora e coreógrafa Toshie
Kobayashi (1946-2016), que iniciou sua carreira aos 10 anos de
idade, ao se matricular na Escola Municipal de Bailados (EMB) de São Paulo -
atual Escola de Dança de São Paulo, atuando na escola por 35 anos, ao inaugurar
o estúdio Ballet Toshie Kobayashi e se tornar membro da Royal Academy of Dance,
de Londres. Veja mais aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
antes fosse a poesia / disfarçada por recursos e lírica / antes fosse,
antes fosse. / antes fosse a minha sorte / que no lugar de você / fosse
qualquer sorte ou azar. / mas foi minha, minha poesia / e te fez sorte, / e te
trouxe disfarçada. / antes fosse azar escancarado / antes admitisse o veneno, /
que, por um beijo, me contaminasse. / antes fosses anunciado / azar meu, sorte
minha / antes levasse a poesia, / e me deixasse intacta / antes meu azar do que
isto / isto que não restou e / e.
toda sorte, poema da jornalista e poeta Débora Britto, que é integrante do Fórum
Pernambucano de Comunicação (FOPECOM) e repórter da Marco Zero Conteúdo. Ela edita
o blog ideias soltas e devaneios atemporais.
&
A arte
da poeta e artista plástica Jussara Salazar aqui.
A música
da cantora e compositora Maria Dapaz aqui.
A
corrupção de um juiz (Patativa, 1998), do controvertido advogado
criminalista Gil Teobaldo de Azevedo (1932-2017) aqui.
A arte do fotógrafo Osmário
Marques aqui.
A arte do Mestre José Duda do Zumbi (José
Galdino da Silva Duda – 1866-1931) aqui.
História
do Soldado 100 anos da Orquestra de Câmara de Pernambuco aqui.
O faz-tudo, a bronca & a borreia aqui.