Luto pela vida entre os mais de 20 mil mortos & a
indiferença do meu país. E daí?
DIÁRIO DE QUARENTENA – NENHUM PRÓLOGO PRO
PRIMEIRO ATO - Os dias e o jogo de tabuleiro: calendário,
ímpar ou par. Tem quem jogue tudo, não sei; qual pião em ziguezague, sou
péssimo: dia de sorte ou aziago; a horagá se passei batido, a bola da vez se
errei no taco, nada, nada, alvo móvel para nunca acertar. De saber: só pedras,
pulhas e conversa fora. Aliás, às vezes um xadrez interminável; se arte ou
ciência, ausência completa de concatenar, qual estratégia. Quando não varrido
de rainha, torres, bispos e cavalos, a vida pelos tontos peões, xeque-mate.
Doutros, nem jeito. Impaciência para lógica, horríveis golpes de vista, piores
projeções. Sou pelo injogável, nenhuma regra. Sou o que ouvi da Mary Cassatt: Se você sacode uma árvore, fique por perto para colher as frutas. Ficava,
era melhor que ter expectativas ilusórias, milagres não caem do céu. Colhi dela
outra lição: Nós estamos travando uma luta desesperada e precisamos de
todas as nossas forças. Para mim os inimigos sempre foram invisíveis, não será
mais um a nocautear de novo, e eu demore em ficar de pé, como sempre. Dou meu
jeito, capenga e destroçado, amanhã esqueço. SEGUNDO ATO – Quanto pelejei: a vida é uma ladeira íngreme. Para
quem sobe haja persistência; para quem desce, o desenfreável. Nunca vi a pedra,
tinha só a sina de Sísifo. Dois passos e escorregava: o que fazia de melhor não
prestava. Refazia, acho nunca aprendi direito. Era menos que um parágrafo de Philip Roth: As pessoas estão cada vez mais idiotas, mas
cheias de opinião. Errâncias e sobradas. Dele só ouvia: A vida é apenas um curto período de tempo em
que estamos vivos. Sem fôlego, mas persistente, prosseguia. Filas,
burocracia, procrastinações. Um dia, dará. Ensinavam um desvio, me perdia. Fiz
por mim e por todos, nada certo. Vai ser burro assim na casa de nada, ora! TERCEIRO ATO – Refeito, quase
desmemoriado de antes, para onde fosse, queixumes gerais: revolta pairando no
ar. Desigualdades, injustiças. E eu lá: pra onde? Só a sisudez de Victor Hugo: Os infelizes são ingratos; isso faz parte da infelicidade deles.
Quem sorria como eu, não sabia de nada, nunca soube mesmo. Nem o que ele dizia:
O futuro tem muitos nomes. Para os fracos
é o inalcançável. Para os temerosos, o desconhecido. Para os valentes é a
oportunidade. Olhos no vazio, a noite longa, o dia incerto, a clausura,
ranhuras e a lâmina, granitos e grafites, uma manhã outra no mundo e eu só
quero viver, mais nada. Enquanto isso: vamos aprumar a
conversa, gente! Até segunda! © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: Eu me
preocupo muito com as interações sociais na internet. Porque é deplorável: as
pessoas estão dispostas a dizerem coisas terríveis umas às outras sem que seja
preciso estarem no mesmo local. Está se tornando uma metástase, graças ao nosso
glorioso presidente eleito que não consegue manter a dignidade de um garoto da
sétima série. É fácil para as pessoas abandonarem a civilidade e abusar uma das
outras. Porque quando você está revoltado, você está revoltado com o que você
vê na sua frente e não importa se é com alguém na fila da igreja. ‘Como você equilibra tudo?’, as pessoas me
perguntam constantemente, com um olhar acusatório. ‘Você está metendo os pés
pelas mãos, né?’, seus olhos dizem. Minha resposta-padrão é que tenho as mesmas
dificuldades que qualquer mãe que trabalha, mas com a sorte de estar
trabalhando no emprego dos meus sonhos. Ou às vezes apenas dou a eles uma
suculenta maçã vermelha que envenenei no meu caldeirão de mulher-bruxa que
trabalha e voo para longe. Pensamento da premiada atriz, roteirista e
comediante estadunidense Tina Fey, que
começou a trabalhar com humor num grupo de improvisação, juntando-se ao grupo
do Saturday Night Lives (SNL) como argumentista e, posteriormente como
coapresentadora. Ela tem apoiado iniciativas da organização Autism Speaks e
defensora da Mercy Corps, atuando em prol das crianças autistas e pelo fim da
fome no mundo, afora o Love Our Children, no combate à violência contra as
crianças, além de ser porta-voz do Light the Night Walk, da Sociedade de
Leucemia & Linfoma.
A POESIA DE OLGA SAVARY
I – Quando eu estiver mais triste / mas triste de não ter jeito, / quando
atormentados morcegos / — um no cérebro outro no peito — / me apunhalarem de
asas / e me cobrirem de cinza, / vem ensaiando de leve / leve linguagem de
flores. / Traze-me a cor arroxeada / daquela montanha — lembra? / que cantaste
num poema. / Traze-me um pouco de mar / ensaiando-se em acalanto / na líquida
ternura / que tanto já me embalou. / Meu velho poeta, canta / um canto que me
adormeça / nem que seja de mentira.
PITÚNA-ÁRA - Exilada das manhãs, / de noite é que me visto. / Caminho só pela casa / e
o viajar na casa escura / faz soar meus passos mudos / como em floresta
dormida. / Me vêem, eu que não me vejo, / as coisas — de corpo inteiro. / O
real está me sonhando, / o real por todo lado. / Não sou eu que vivo o medo; / em
seu tapete de sombras, / por ele é que sou vivida. / Aonde me levam estes
passos / que não soam e que não vão: / às armadilhas do voo / como a paisagem
no espelho / espatifado no chão? / O escuro é tanque de limo / para minha
sombra escolhida / pela memória do dia. / Deixo o mel e ordenho o cacto: / cresço
a favor da manhã.
ACOMODAÇÃO DO DESEJO - Deito-me com quem é livre à beira dos abismos / e
estou perto do meu desejo. / Depois do silêncio úmido dos lugares de pedra, / dos
lugares de água, dos regatos perdidos, / lá onde morremos de um vago êxtase, / de
uma requintada barbárie estávamos morrendo, / lá onde meus pés estavam na água
/ e meu coração sob meus pés, / se seguisses minhas pegadas e ao êxtase me
seguisses / até morrermos, uma tal morte seria digna de ser morrida. / Então
morramos dessa breve morte lenta, / cadenciada, rude, dessa morte lúdica.
OLGA SAVARY - A poesia da escritora, jornalista, crítica,
ensaísta e tradutora Olga Savary
(1933-2020), que tive a honra de conhecê-la pessoalmente por ocasião do
lançamento do seu livro de Hai Kais (Roswita Kempf, 1986), quando
me presenteou e autografou o volume. Pude com ela dividir momentos
inesquecíveis, entre eles, quando lançou Repertório Selvagem – Obra Poética Reunida: 12
livros de Poesia (BN/Multimais/Universidade de Mogi,1998) e pudemos
bater longos papos posteriormente. Dela guardo as obras Espelho provisório
(1970), Sumidouro (1977), Altaonda (1979), Magma (1982), Natureza Viva (1982),
Linha d’água (1987), Berço esplendido (1987), Retratos (1989), Rudá (1994),
Éden Hades (1994), Morte de Moema (1996), Anima Animalis (1996) e O olhar
dourado do abismo (1997). Ela faleceu no último dia 15, vítima da
covid-19, aqui minha homenagem e saudades. Veja mais aqui, aqui e aqui.
&
TRÊS POEMAS DE MIKA ANDRADE
I - vez em quando / preciso me recolher em uma trincheira / para impedir
que alguns acontecimentos / não me sangrem por inteira / faço-me de fuzileira /
esboço uma estratégia / e hábito nesse abrigo / que só serve aos combatentes.
NÃO CABE - não cabem nesse poema / as mortes / os estupros / a violência
/ a fome / nesse poema não cabe / o desejo insaciável do presidente por um
pãozinho com leite condeNsado / nesse poema não cabe os animais que foram
engolidos pela lama da Vale / nesse poema não cabe a polícia que mata jovens
negros e periféricos
SOBRE POEMAS – 1. poeta, coloca o poema pra descansar mas não deixa ele
morrer 2. acordar com o poema saltando das pálpebras me faz perder o sono e
escrevê-lo é devorar o tempo por causa dos sonhos / todo dia usar o poema como
remédio para sobreviver ao cotidiano 3. como soltar um poema que está preso no
peito? / como revelar um poema que é a imagem de uma lembrança amarrada na
memória? / como escrever um poema depois do agora? 4. eu queria escrever um
poema que te atingisse em cheio e te fizesse sentir uma fisgada no peito / eu
queria escrever um poema que falasse através do silêncio e ainda assim fizesse
um estardalhaço / eu queria escrever um poema que pulasse do abismo 5. peguei
uma pedra e esfreguei contra a minha bochecha. esfoliei a pele e fiz um poema
na face 6. algum poema poderia salvar o mundo algum poema te faria feliz algum
poema descreveria a grandiosidade da vida algum poema seria importante algum
poema passaria despercebido algum poema poderia tirar seu fôlego 7. eu escrevo
poemas extraindo palavras das minhas entranhas rasgo algumas folhas corto minha
pele / meu sangue é a tinta fresca com a qual foi escritos estes versos 8. meu
corpo tropeçou em um poema tinha um poema no meio do caminho tinha um poema no
meio do caminho tinha um poema tinha um poema tinha um poema no meio do meu
corpo no meio do meu corpo tinha um poema Drummond trocou o poema pela pedra e
eu caí de cara no chão talvez ele dissesse: - levanta e vai ser pedra ou poeta!
9. quem sabe um dia eu entenda a utopia cantada pelos pássaros da rua e assim
também meu canto se transforma em poesia 10. eu escrevo poemas como quem
cavalga a galopes sacolejando os ossos os sentidos e as palavras em pleno
descompasso.
MIKA ANDRADE - Poemas da poeta Mika Andrade, que é autora do livro Poemas obsessivos e zineira de
poemas eróticos "alguns versos pervertidos e outros indecorosos",
organizou a Antologia poemas eróticos – escritoras cearenses (EC, 2018) e
participou das antologias de Contos Literatura BR (Moinhos, 2016) e Contos do
Sesc (Sesc, 2017). Veja seus poemas no Medium e Poemas obsessivos. Veja mais
aqui.
A ARTE DE JAC LEIRNER
Eu lido com corpos, com coisas. E o virtual se distancia absolutamente
da ideia de presença. Ele é ausência, é a ideia da imagem. Então nunca me pegou.
Estou mais para o platônico do que para o virtual. Costumo dizer que o material
me escolhe. Já falei isso tantas vezes, mas é verdade.
JAC LEIRNER - Jac
Leirner, cuja obra possui procedimentos desestetizante e dialoga
com as principais tendências da arte conceitual. Foi professora na Universidade
de Oxford e artista residente no Museu de Arte Moderna.
A arte do artista e grafiteiro Filite.
Veja mais aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
A ARTE
DE IANAH MAIA
A arte
da muralista, ilustradora e artista visual, Ianah Maia, que estuda
agroecologia e cria murais que celebram a natureza usando apenas geotintas, com
suas obras pelas cidades do Recife, Olinda, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador,
Buenos Aires, Barcelona, Madrid, Paris e Marselha. O trabalho dela pode ser
vista no Ianah e Ianah.
&
A obra da
escritora, professora, feminista e pesquisadora Luzilá Gonçalves Ferreira aqui.
A música
da cantora, compositora, percussionista, poeta e atriz Karina Buhr aqui.
A poesia
da escritora Graça Graúna aqui.
A arte
da escritora, pintora e ilustradora Tatiana Móes aqui.
A arte
de Buca aqui.
Partes
do meu todo de Zezinha Lins
aqui.
&
Festa, goles e cachimbadas aqui.