sexta-feira, maio 22, 2020

OLGA SAVARY, TINA FEY, JAC LEIRNER, MIKA ANDRADE, IANAH MAIA & FILITE

 Luto pela vida entre os mais de 20 mil mortos & a indiferença do meu país. E daí?

DIÁRIO DE QUARENTENA – NENHUM PRÓLOGO PRO PRIMEIRO ATO - Os dias e o jogo de tabuleiro: calendário, ímpar ou par. Tem quem jogue tudo, não sei; qual pião em ziguezague, sou péssimo: dia de sorte ou aziago; a horagá se passei batido, a bola da vez se errei no taco, nada, nada, alvo móvel para nunca acertar. De saber: só pedras, pulhas e conversa fora. Aliás, às vezes um xadrez interminável; se arte ou ciência, ausência completa de concatenar, qual estratégia. Quando não varrido de rainha, torres, bispos e cavalos, a vida pelos tontos peões, xeque-mate. Doutros, nem jeito. Impaciência para lógica, horríveis golpes de vista, piores projeções. Sou pelo injogável, nenhuma regra. Sou o que ouvi da Mary Cassatt: Se você sacode uma árvore, fique por perto para colher as frutas. Ficava, era melhor que ter expectativas ilusórias, milagres não caem do céu. Colhi dela outra lição: Nós estamos travando uma luta desesperada e precisamos de todas as nossas forças. Para mim os inimigos sempre foram invisíveis, não será mais um a nocautear de novo, e eu demore em ficar de pé, como sempre. Dou meu jeito, capenga e destroçado, amanhã esqueço. SEGUNDO ATO – Quanto pelejei: a vida é uma ladeira íngreme. Para quem sobe haja persistência; para quem desce, o desenfreável. Nunca vi a pedra, tinha só a sina de Sísifo. Dois passos e escorregava: o que fazia de melhor não prestava. Refazia, acho nunca aprendi direito. Era menos que um parágrafo de Philip Roth: As pessoas estão cada vez mais idiotas, mas cheias de opinião. Errâncias e sobradas. Dele só ouvia: A vida é apenas um curto período de tempo em que estamos vivos. Sem fôlego, mas persistente, prosseguia. Filas, burocracia, procrastinações. Um dia, dará. Ensinavam um desvio, me perdia. Fiz por mim e por todos, nada certo. Vai ser burro assim na casa de nada, ora! TERCEIRO ATO – Refeito, quase desmemoriado de antes, para onde fosse, queixumes gerais: revolta pairando no ar. Desigualdades, injustiças. E eu lá: pra onde? Só a sisudez de Victor Hugo: Os infelizes são ingratos; isso faz parte da infelicidade deles. Quem sorria como eu, não sabia de nada, nunca soube mesmo. Nem o que ele dizia: O futuro tem muitos nomes. Para os fracos é o inalcançável. Para os temerosos, o desconhecido. Para os valentes é a oportunidade. Olhos no vazio, a noite longa, o dia incerto, a clausura, ranhuras e a lâmina, granitos e grafites, uma manhã outra no mundo e eu só quero viver, mais nada. Enquanto isso: vamos aprumar a conversa, gente! Até segunda! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: Eu me preocupo muito com as interações sociais na internet. Porque é deplorável: as pessoas estão dispostas a dizerem coisas terríveis umas às outras sem que seja preciso estarem no mesmo local. Está se tornando uma metástase, graças ao nosso glorioso presidente eleito que não consegue manter a dignidade de um garoto da sétima série. É fácil para as pessoas abandonarem a civilidade e abusar uma das outras. Porque quando você está revoltado, você está revoltado com o que você vê na sua frente e não importa se é com alguém na fila da igreja. ‘Como você equilibra tudo?’, as pessoas me perguntam constantemente, com um olhar acusatório. ‘Você está metendo os pés pelas mãos, né?’, seus olhos dizem. Minha resposta-padrão é que tenho as mesmas dificuldades que qualquer mãe que trabalha, mas com a sorte de estar trabalhando no emprego dos meus sonhos. Ou às vezes apenas dou a eles uma suculenta maçã vermelha que envenenei no meu caldeirão de mulher-bruxa que trabalha e voo para longe. Pensamento da premiada atriz, roteirista e comediante estadunidense Tina Fey, que começou a trabalhar com humor num grupo de improvisação, juntando-se ao grupo do Saturday Night Lives (SNL) como argumentista e, posteriormente como coapresentadora. Ela tem apoiado iniciativas da organização Autism Speaks e defensora da Mercy Corps, atuando em prol das crianças autistas e pelo fim da fome no mundo, afora o Love Our Children, no combate à violência contra as crianças, além de ser porta-voz do Light the Night Walk, da Sociedade de Leucemia & Linfoma.

A POESIA DE OLGA SAVARY
I – Quando eu estiver mais triste / mas triste de não ter jeito, / quando atormentados morcegos / — um no cérebro outro no peito — / me apunhalarem de asas / e me cobrirem de cinza, / vem ensaiando de leve / leve linguagem de flores. / Traze-me a cor arroxeada / daquela montanha — lembra? / que cantaste num poema. / Traze-me um pouco de mar / ensaiando-se em acalanto / na líquida ternura / que tanto já me embalou. / Meu velho poeta, canta / um canto que me adormeça / nem que seja de mentira.
PITÚNA-ÁRA - Exilada das manhãs, / de noite é que me visto. / Caminho só pela casa / e o viajar na casa escura / faz soar meus passos mudos / como em floresta dormida. / Me vêem, eu que não me vejo, / as coisas — de corpo inteiro. / O real está me sonhando, / o real por todo lado. / Não sou eu que vivo o medo; / em seu tapete de sombras, / por ele é que sou vivida. / Aonde me levam estes passos / que não soam e que não vão: / às armadilhas do voo / como a paisagem no espelho / espatifado no chão? / O escuro é tanque de limo / para minha sombra escolhida / pela memória do dia. / Deixo o mel e ordenho o cacto: / cresço a favor da manhã.
ACOMODAÇÃO DO DESEJO - Deito-me com quem é livre à beira dos abismos / e estou perto do meu desejo. / Depois do silêncio úmido dos lugares de pedra, / dos lugares de água, dos regatos perdidos, / lá onde morremos de um vago êxtase, / de uma requintada barbárie estávamos morrendo, / lá onde meus pés estavam na água / e meu coração sob meus pés, / se seguisses minhas pegadas e ao êxtase me seguisses / até morrermos, uma tal morte seria digna de ser morrida. / Então morramos dessa breve morte lenta, / cadenciada, rude, dessa morte lúdica.
OLGA SAVARY - A poesia da escritora, jornalista, crítica, ensaísta e tradutora Olga Savary (1933-2020), que tive a honra de conhecê-la pessoalmente por ocasião do lançamento do seu livro de Hai Kais (Roswita Kempf, 1986), quando me presenteou e autografou o volume. Pude com ela dividir momentos inesquecíveis, entre eles, quando lançou Repertório Selvagem – Obra Poética Reunida: 12 livros de Poesia (BN/Multimais/Universidade de Mogi,1998) e pudemos bater longos papos posteriormente. Dela guardo as obras Espelho provisório (1970), Sumidouro (1977), Altaonda (1979), Magma (1982), Natureza Viva (1982), Linha d’água (1987), Berço esplendido (1987), Retratos (1989), Rudá (1994), Éden Hades (1994), Morte de Moema (1996), Anima Animalis (1996) e O olhar dourado do abismo (1997). Ela faleceu no último dia 15, vítima da covid-19, aqui minha homenagem e saudades. Veja mais aquiaqui e aqui.
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TRÊS POEMAS DE MIKA ANDRADE
I - vez em quando / preciso me recolher em uma trincheira / para impedir que alguns acontecimentos / não me sangrem por inteira / faço-me de fuzileira / esboço uma estratégia / e hábito nesse abrigo / que só serve aos combatentes.
NÃO CABE - não cabem nesse poema / as mortes / os estupros / a violência / a fome / nesse poema não cabe / o desejo insaciável do presidente por um pãozinho com leite condeNsado / nesse poema não cabe os animais que foram engolidos pela lama da Vale / nesse poema não cabe a polícia que mata jovens negros e periféricos
SOBRE POEMAS – 1. poeta, coloca o poema pra descansar mas não deixa ele morrer 2. acordar com o poema saltando das pálpebras me faz perder o sono e escrevê-lo é devorar o tempo por causa dos sonhos / todo dia usar o poema como remédio para sobreviver ao cotidiano 3. como soltar um poema que está preso no peito? / como revelar um poema que é a imagem de uma lembrança amarrada na memória? / como escrever um poema depois do agora? 4. eu queria escrever um poema que te atingisse em cheio e te fizesse sentir uma fisgada no peito / eu queria escrever um poema que falasse através do silêncio e ainda assim fizesse um estardalhaço / eu queria escrever um poema que pulasse do abismo 5. peguei uma pedra e esfreguei contra a minha bochecha. esfoliei a pele e fiz um poema na face 6. algum poema poderia salvar o mundo algum poema te faria feliz algum poema descreveria a grandiosidade da vida algum poema seria importante algum poema passaria despercebido algum poema poderia tirar seu fôlego 7. eu escrevo poemas extraindo palavras das minhas entranhas rasgo algumas folhas corto minha pele / meu sangue é a tinta fresca com a qual foi escritos estes versos 8. meu corpo tropeçou em um poema tinha um poema no meio do caminho tinha um poema no meio do caminho tinha um poema tinha um poema tinha um poema no meio do meu corpo no meio do meu corpo tinha um poema Drummond trocou o poema pela pedra e eu caí de cara no chão talvez ele dissesse: - levanta e vai ser pedra ou poeta! 9. quem sabe um dia eu entenda a utopia cantada pelos pássaros da rua e assim também meu canto se transforma em poesia 10. eu escrevo poemas como quem cavalga a galopes sacolejando os ossos os sentidos e as palavras em pleno descompasso.
MIKA ANDRADE - Poemas da poeta Mika Andrade, que é autora do livro Poemas obsessivos e zineira de poemas eróticos "alguns versos pervertidos e outros indecorosos", organizou a Antologia poemas eróticos – escritoras cearenses (EC, 2018) e participou das antologias de Contos Literatura BR (Moinhos, 2016) e Contos do Sesc (Sesc, 2017). Veja seus poemas no Medium e Poemas obsessivos. Veja mais aqui.

A ARTE DE JAC LEIRNER
Eu lido com corpos, com coisas. E o virtual se distancia absolutamente da ideia de presença. Ele é ausência, é a ideia da imagem. Então nunca me pegou. Estou mais para o platônico do que para o virtual. Costumo dizer que o material me escolhe. Já falei isso tantas vezes, mas é verdade.
JAC LEIRNER - A arte da professora e artista visual Jac Leirner, cuja obra possui procedimentos desestetizante e dialoga com as principais tendências da arte conceitual. Foi professora na Universidade de Oxford e artista residente no Museu de Arte Moderna.
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O GRAFITE DE FILITE
A arte do artista e grafiteiro Filite. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
A ARTE DE IANAH MAIA
A arte da muralista, ilustradora e artista visual, Ianah Maia, que estuda agroecologia e cria murais que celebram a natureza usando apenas geotintas, com suas obras pelas cidades do Recife, Olinda, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Buenos Aires, Barcelona, Madrid, Paris e Marselha. O trabalho dela pode ser vista no Ianah e Ianah.
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A obra da escritora, professora, feminista e pesquisadora Luzilá Gonçalves Ferreira aqui.
A música da cantora, compositora, percussionista, poeta e atriz Karina Buhr aqui.
A poesia da escritora Graça Graúna aqui.
A arte da escritora, pintora e ilustradora Tatiana Móes aqui.
A arte de Buca aqui.
Partes do meu todo de Zezinha Lins aqui.
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Festa, goles e cachimbadas aqui.