quinta-feira, maio 21, 2020

MANUEL PÉREZ Y CURIS, KATARINA MATIASEK, MARTINS PENA & JESSICA VANESSA



DIÁRIO DE QUARENTENA – ERA UMA VEZ... BANQUETE NA ESQUINA - Sim, esse meu ofício inútil de contar história, não faço outra coisa: era uma vez... não sei quando, se ontem, anteontem ou nunca, sei lá, sei que foi um banquete na esquina desses bem aloprado. O Coiso Rei poderoso com uma oposição esfacelada e o povo sequelado, desgovernava quando soube duma peste devastando o mundo lá fora. Reuniu os comparsas e ouviu de Ali Babão um relatório acurado: morria gente pelo ladrão, lá longe. Então, o rei teve um desmaio com a notícia e, ao voltar a si, gritou: Creolina! Foi o bastante, todos os cheleleus caíram na fabricação do dito que passou a ser usado como antidepressivo e complexo alimentar de grande apelo popular e saíram pelo mundo afora levando a boa nova da cura milagrosa. Não levados a sério, voltaram com o rabinho entre as pernas para o reinado e amargaram o insucesso: o negócio gorou! Um a um deles foram picados pela moléstia estrangeira, baixaram hospital e, na maior rebordosa, espalharam entre todos os súditos de forma devastadora. Chegou para valer e logo, com mais de milhares mortos, o rei ficou encurralado e respondeu: E daí? Houve colapso no sistema de saúde, mas o soberano ciente de seu autoendeusamento brincava de largar piadas: Tomem creolina e se salvarão, garanto! Só que a morte e vida Severina não foi avisada e só era avessa à água sanitária e sabão; ninguém sabia e, sem nada na terrina, até um curumim morreu aumentando as estatísticas astronômicas. Era uma situação mofina, deveras. O rei para provar de sua autoridade virava a terebintina de manhã, de tarde e de noite. Findou entupido e cagando raio ninguém sabe por onde, pois se empirulitou meio aluado ou está escondido no reinado, dizem. O povo? Entre néscios e ajuizados, um ou outro prefere a teibei cantando a Cajuína de Caetano: Existirmos, a que será que se destina... E há entre outros aquele que distribui conselhos pela vida, ou morte, não sei. DOIS: FANFARRA DA MILITARIZAÇÃO & O PERDÃO DA MAJESTADE – E num é que o rei piscou o olho e reapareceu com a cara meia troncha e falando das mãos prum bocado de fardados que ele convocou: As mãos... as minhas mãos... as nossas mãos... tornaram-se perigosas, capazes de nos matar com a peste. Por isso, as minhas mãos se tornaram misericordiosas com decreto que isenta a responsabilização de agentes públicos por ação e omissão em atos relacionados com a praga; compassivas para exculpar as dívidas milionárias das evangélicas que me ensinaram a rezar e me salvaram; bondosas para anistiar as sonegações dos ruralistas que são os amigos e o futuro do reinado; generosas para eximir as multas dos partidos políticos que aparecerem acaso por bem; caridosas para criar um núcleo filantropo para dispensar dívidas geradas por crimes ambientais, enfim, para que o povo viva e seja feliz! Foi uma saraivada de quepes e aplausos, claque da boa! Com esse discurso em cadeia nacional todo mundo ficou atordoado do juízo, porque no boca a boca todos sabiam de uma tuia de planos para derrubá-lo por um molho de coisas meio cabeludas, enquanto ele se virava nos trinta para salvar o trono em conluios com inimigos figadais agora amigos de cama e mesa, abafando investigações, CPIs e o escambau. Generais que davam cordas e voltas! Afora almirantes no bilu-teteia e brigadeiros no bolo. Estava armada a defesa nacional! Sabiam: O cara não é lá tão incompetente, é foda mesmo! Juntando as pedras: é que a creolina gerou milhares de conflitos agrários e fuga de mais de outros tantos de milhares de famílias ameaçadas que botaram a boca no trombone e a imprensa oficial nem deu bola. Todo mundo só virando o copo. Mas pegou, sim. Como dizia Bukowski: É este o problema com a bebida, pensei, enquanto me servia dum copo. Se acontece algo de mau, bebe-se para esquecer; se acontece algo de bom, bebe-se para celebrar, e se nada acontece, bebe-se para que aconteça qualquer coisa. Eita Creolina danada essa, hem? E o que está acontecendo, na vera, nem sinal de se saber de mesmo, ao certo. TRÊS: LUTO! - Os pesares eram tantos, mas o rei já tomava um porre de estricnina de nunca mais entrar no ar. Abilolou, foi? Vixe! Ué, ele num morre não? Nada, ele é indestrutível, invulnerável! Será o SuperCoiso? Oxe, mas teco! E o povo num verdadeiro anojamento, morria. E diziam e arrostavam, nada; e contenderam e litigaram e renhiram e pugnaram e porfiaram mais pelejaram e nada. Fizeram mesmo o quê? Concordavam: Quando deus não quer, não adianta! Será deus o rei? E Maiakovski entre os mortos insepultos: Ressuscita-me! Hem? Quem é esse doido? E Niki de Saint Phalle: A vida... nunca é o caminho que se imagina. Ela te surpreende, te assombra, e faz você rir ou chorar quando menos espera. Vôte! Essa é biruta mesmo! Xá pra lá, doida! A vida passa. Ah, impermanência. Vou ali tomar uma para bolar outras histórias assim sem pé nem cabeça, visse? Enquanto isso: vamos aprumar a conversa, gente! Até amanhã! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: Eu não sou um perdedor / nem o louro do triunfo cinge os meus templos. / Broches de aço mantêm meu espírito: / A calúnia nunca pode me machucar... / Eu não sou um perdedor, porque eu consegui fugir com uma testa limpa / do caminho fácil que os vilãos seguem / e voltei ao sábio em acelerar as costas virís / que não foram feitas para dobrar; / quando com bajulação os sábios queriam me levar ao cume / virei as costas para eles e entrei em um caminho vestido de cardos, / caminho da dor e do desespero / para os rebeldes, / para humanos, / para os humildes que nunca escondem a alma e a ideia, / para aqueles que dizem a verdade e esperam com o pescoço na vertical / alguém para responder, - magnata ou poeta, malabarista ou advogado, - / de ricos escritórios de advocacia cobertos / de fólios e folhetos; / dos terraços dos miradouros; / do estrado das academias / ou das torres de marfim fechadas / a todas as reclamações da multidão, / à voz sofredora de peregrinos e mendigos, / à sátira ardente dos Juvenales / e ao discurso sóbrio dos sonhadores imunes ao vício. / Há no meu cachecol / janelas abertas a todos os ventos / e para todas as luzes, / em cujas coisas ociosas / eu nunca coloquei mãos febris. / As flores me mandam seu perfume, / o sol brilha, sua frescura brisa / perfumado, e o eco me traz / de marginalizado transita e deserdou a justa queixa. / Entre no meu cachecol / todo sotaque humano, / e nele eles se harmonizam com a voz de cristal dos meus filhos / arpejos puros do meu parceiro. / Eu sonho na noite / enquanto o sussurro do vento nas folhas responde altamente / com seus latidos persistentes o cachorro que cuida da minha estadia / e fica ao meu lado como um amigo fiel, / sempre olhando para mim, como se quisesse ler nos meus olhos; / como se ele quisesse entender minha angústia / e olhar profundamente em minha alma. / Minhas roseiras geralmente se espalham por toda parte / seu perfume intenso / que ao mesmo tempo invade os quartos reais e as camas tristes. / Quando aquele perfume flutua ao meu redor / Eu penso nos míseros que escondem seu ouro, / nos sábios mesquinhos que eles carregam / para o túmulo sua sabedoria / e nos pedagogos e nas barreiras venais / que eles têm como culto a traição e o medro / e eles mostram amor pelo país, / com seus brinquedos fofinhos para a terra azul / pelo qual eles não fizeram sacrifício. / Todos eu, todos os escravos, me fazem chorar; mas eu tenho um escravo: / o ritmo, o glorioso / gladiador nu masterização arte / e ao esforço viril do meu músculo numen se rende e dobra. / Eu toco com o ritmo / que com uma chapa de aço flexível / ou a melhor vara de cana; / e é por isso que o ritmo está de acordo com minhas músicas / de amor, para a seiva dos meus anátemas / e ao hálito mórbido das minhas elegias / e à evanescência voluptuosa e calorosa dos meus madrigais. / A rima é uma transcrição desses arabescos / que brilham por um momento em nossa retina / e eles desaparecem, como uma bola de fogo, sem deixar sua marca. / Símbolo de bolhas e vangloriando-se, / feliz sombreamento de trastes e randas, / rima é charme para os sentidos... / Contudo, / sem ele, as cotovias e os rouxinóis nos fazem vibrar / que não se decoram quando melodizam, / e com isso eles costumam encobrir sua mídia / estros estéreis, bebidas espirituosas diminuídas / e consciências sombrias e sombrias. / Cairel de caireles, / é a rima a decoração do verso / que com a fragrância do ritmo é nutrido. / Meu numen reflete / todas as nuances das minhas emoções / e pela minha aparência; / e, como um rio que nunca extingue suas forças latentes, / ele não impede que minha alma generosa flua / que rezam são apaziguados docemente, docemente, como num remanso, / Agora eles estão em tumulto, como se anunciando vórtices ou quedas. / Rabien os cantores que impõem reivindicam norma ao sentimento! / Dê às auras o significado de suas blasfêmias / e derramar bile Aristarco e Zoilo! / enquanto isso meu numen traduz / Da mesma forma, o tremolo daquele sensível que carrego na minha alma / e o protesto acre do meu personagem de bronze retilíneo! Poema Prelúdio ético-estético, extraído da obra Ritmos sin rima y otros (Nabu, 2011), do poeta uruguaio Manuel Pérez y Curis (1884-1920).

O TEATRO DE MARTINS PENA
[...] JUCA: Sei que temos só por fortuna um coração amante e sincero, e quanto baste para viverem duas pessoas honestamente, mas sem luxo, adeus, minhas encomendas. Leva tudo o diabo. Batem com as janelas na cara, voltam as costas, não respondem [...]
MARTINS PENA - Trecho da peça teatral A família e a festa na roça: comédia em 1 ato, do dramaturgo, diplomata e introdutor da comédia de costumes no país Martins Pena (1815-1848), que conta a história da família de Domingos João, um fazendeiro com problemas econômicos que vê a oportunidade de aumentar suas posses casando a filha Quitéria com Antônio do Pau D’Alho, já que este moço tem “um sítio com seis escravos e é muito trabalhador”. Mas Quitéria ama Juca, um estudante de Medicina, que também a ama e quer se casar com ela. Extraído da obra Comédias de Martins Pena (Ediouro, s.d.), organizada por Darcy Damasceno. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE KATARINA MATIASEK
Reconheço os Guardiões Tradicionais das terras em que nossas entrevistas foram filmadas e presto meus respeitos ao passado dos Élderes, presente e emergente, pois eles são a chave para o futuro do nosso planeta.
KATARINA MATIASEK - A arte da fotógrafa e artista visual austríaca Katarina Matiasek, que questiona com suas obras a relação entre a imagem e realidade, investigando conexões estruturais entre mídia e imagens baseadas na percepção e operações cognitivas que levam à construção do mundo. Realizou uma pesquisa para o doutoramento em antropologia e fotografia, realizando uma coleção que levou a vários projetos de repatriação, como o retorno de restos ancestrais australianos a seus proprietários tradicionais em 2011. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
Fotografar é acima da arte de escrever imagens com luz. É eternizar momentos, sorrisos e lágrimas, maneira de expressar o que se vê ou sente.
A arte da fotógrafa, produtora, cineasta, educadora social e ativista de causas sociais, Jessica Vanessa, que atua na presidência do Coletivo Centro de Comunicação e Juventude (CCJ/Recife), integra Fórum de Juventudes de Pernambuco (FOJUPE), o Movimento Negro Unificado (MNU), coordenadora estadual do Coletivo Nacional de Juventude Negra Enegrecer e articuladora nacional de politicas publicas de juventude.
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A música do gaitista, violonista, compositor, arranjador, maestro e produtor musical Rildo Hora aqui.
A poesia do poeta, cantador, violeiro e repentista Otacílio Batista aqui.
A obra da educadora, jornalista, poeta e ativista feminina Edwiges de Sá Pereira (1884-1958) aqui.
Feminismo popular e lutas antissistêmicas, de Carmen S. M. Silva aqui.
O grupo teatral As Loucas da Mata Sul aqui.
A arte da artista visual Dulce Araújo, a D-Araújo aqui.
Mapa Cultural de Pernambuco aqui.
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Lampioa & Zé Bunito aqui.