segunda-feira, junho 01, 2020

EDGARD VARÈSE, LYUDMILA TOMOVA, TOM ZÉ, LUCIA HELENA GONDRA & DEMOCRACIAS MORREM


DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: É CADA UMA QUE NEM CONTO – Pois é, chega! Quebrei a caixa, mudei de casca, troquei de pele, juntei os trapos e as mirradas lembranças para saber o que envergonha e o desesperador: apenas o silêncio e a solidão. Tudo que fiz até agora foi em vão, tão inútil quanto saber-me nem cético, nem cínico, apenas que já estava no sangue o louco de nascença atravessando anos de desencontros pelo insólito, para me perder por tão poucos reencontros. É tarde demais, nem sei quantos remorsos, tantas travessias, a vida eclipsada pisando em falso, engolindo mosquitos, tentando me desvencilhar de socos no estômago por escapulidas nem sempre escorregadias. A despeito dos embaraços envelheci desgracioso e desajustado, nada mais, apenas menino pés alados e desajeitado, levado pela corrente ao vento entre pedras e margens da minha desordem e indignação. Queria apenas contar uma historinha simplesmente humana, e em voz alta como uma oração estranha e própria aos que se foram e saudando os vivos, fazer a minha parte, apenas, como se salvasse o planeta do lixo um tantinho assim, feito o beija-flor de Crema: é pouco, mas sou eu, não sou nada. DUAS: APRENDIZ DE FEITICIEIRO, AEQUO AMENOS – Mesmo assim, extenuado dos inúteis esforços diante das inconveniências e misérias, tanto nado contra a corrente e do estresse da normalidade para não ser apenas um código de barras, ou um animal pensante ou sei lá o quê. O normótico é tão desumano e não me basta por ser tão aborrecido e enlouquecedor. Nem ligo pras galhofas se sou um fracassado de Jung, sei que não sou mais estúpido por absoluta falta de espaço, enquanto o grotesco está na esquina e eu encaro em cima da fivela sem sair da raia. Por incrível que pareça, já fiz de tudo tanto por vocação da necessidade em alta voltagem que nem sei mais, só não quero confundir as coisas: sou a favor de tudo que não seja contra o sujeito, apenas. Com os dias contados botei todas as portas abaixo para enfrentar o flagelo das interdições, tudo desapareceu, graças. Mesmo que tenha que aturar a chatura, dou umas risadas esclarecedoras com o GregNews, ou refletindo com o Meteoro e o Normose, ou seguindo o coletivo ciberativistas Sleeping Giants, enquanto vou xexéu assobiando Quintana passarinho. TRÊS: PANTA RHEI – Tudo passa, tudo flui. O assobio segue morros e abismos, quer ser indene e distingue vis-à-vis o que vem do bem e bom, quase premonitório visionário suplantando as nuvens de cocô de alcestes coisonários com seu negacionismo da distopia transnacional e estereótipos ad bestias! Sem nem saber vai arrebentando a anomia catingosa feita de coprólitos e flatulências dos que insistem suplícios nas arenas, ah, ignoro o desprezível com suas tolices letais do cúmulo da parvoíce humana. Ainda ouço a sátira de Bernard Shaw: A democracia é um sistema que faz com que nunca tenhamos um governo melhor do que merecemos. Sorrio e persigo solfejando a Carta à República de Milton e Brant: Quero um país melhor! Se der jeito, ou se quiser, vamos aprumar a conversa, gente! Até mais ver! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Uma das grandes ironias de como as democracias morrem é que a própria defesa da democracia é muitas vezes usada como pretexto para a sua subversão. Aspirantes a autocratas costumam usar crises econômicas, desastres naturais e, sobretudo, ameaças à segurança – guerras, insurreições armadas ou ataques terroristas – para justificar medidas antidemocráticas. [...] Como não há um momento único – nenhum golpe, declaração de lei marcial ou suspensão da Constituição – em que o regime obviamente “ultrapassa o limite” para a ditadura, nada é capaz de disparar os dispositivos de alarme da sociedade. Aqueles que denunciam os abusos do governo podem ser descartados como exagerados ou falsos alarmistas. A erosão da democracia é, para muitos, quase imperceptível. [...] As democracias funcionam melhor – e sobrevivem mais tempo – onde as constituições são reforçadas por normas democráticas não escritas [...] a tolerância mútua, ou o entendimento de que partes concorrentes se aceitem umas às outras como rivais legítimas, e a contenção, ou a ideia de que os políticos devem ser comedidos ao fazerem uso de suas prerrogativas institucionais. Trechos extraídos da obra Como as democracias morrem (Zahar, 2018), dos professores e cientistas políticos estadunidenses, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, realizando uma análise crua e perturbadora do fim das democracias em todo o mundo, comparando o caso de Trump com exemplos históricos de rompimento da democracia nos últimos cem anos, tais como da ascensão de Hitler e Mussolini nos anos 1930 à atual onda populista de extrema-direita na Europa, passando pelas ditaduras militares da América Latina dos anos 1970, fazendo uma alerta: a democracia atualmente não termina com uma ruptura violenta nos moldes de uma revolução ou de um golpe militar; agora, a escalada do autoritarismo se dá com o enfraquecimento lento e constante de instituições críticas – como o judiciário e a imprensa – e a erosão gradual de normas políticas de longa data. Veja mais aqui, aqui & aqui.

A MÚSICA DE EDGARD VARÈSE
Deve-se pensar em termos de som e não em termos de notas sobre o papel. Minha linguagem é naturalmente atonal ainda que certos temas, certas notas repetidas, à maneira das tônicas, constituam eixos em torno dos quais as massas parecem se aglomerar. Deste modo o desenvolvimento musical cresce pouco à pouco graças à repetição de certos elementos que se apresentam sempre sob diferentes aspectos, e o interesse aumenta graças à oposição dos planos e graças ao movimento das perspectivas. Se os temas reaparecem, eles ocupam sempre uma função distinta num meio novo (os volumes). Quando os novos instrumentos me permitirem escrever música tal como a concebo, os movimentos das massas e o deslocamento dos planos sonoros serão claramente perceptíveis na minha obra e tomarão o lugar do contraponto linear. Eu pessoalmente gosto muito da definição de H. Wronsky: 'A música é a corporificação da inteligência nos sons'.
EDGARD VARÈSE - Trechos extraídos da obra Écrits (C. Bourgeois, 1983), do compositor francês Edgard Varèse (1883-1965), reunidos e apresentados pela professora e musicóloga canadense, Louise Hirbour. O compositor definiu os parâmetros para uma nova ética da pesquisa musical, com o rigor da firmeza artística desligada de teorias apriorísticas, com o propósito visionário de referência do estado de inquietude.
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A DEMOCRACIA DE TOM ZÉ
Democracia que me engana / na gana que tenho dela / cigana ela se revela, aiê; / democracia que anda nua / atua quando me ouso / amua quando repouso. / É o demo o demo a demo / é a democracia / é o demo o demo a demo / é a democracia. / Democracia, me abraça / com tua graça me atira / desfaz esta covardia, aiê; / democracia não me fere / mira aqui no meio / atira no meu receio. / Democracia que escorrega / na regra não se pendura / na trégua não se segura, aiô; / democracia pois me fere / e atira-me bem no meio / daquilo que mais eu mais receio. / Democracia, não me deixe / sou peixe que fora d'água / se queixa, morre de mágoa, aiê; / democracia não se dita / maldita seja se dura, / palpita pela doçura.
Democracia, do álbum No Jardim da Política (1984), parceira de Tom Zé e Vicente Barreto. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE LYUDMILA TOMOVA
No meu trabalho, mesclo elementos abstratos e realistas para criar clima, movimento e uma impressão do mundo ao nosso redor e dentro de nós. Minhas pinceladas estão se movendo, empurrando, emergindo e esmagando, mas nunca estão quietas e quietas. No meu trabalho recente, eu pintei o estilo alla prima, acrescentando espontaneidade, ousadia e elegância de uma só vez. Eu pinto contando histórias mágicas e evocando emoções complexas.
LYUDMILA TOMOVA – A arte da premiada pintora, ilustradora e designer editorial búlgara Lyudmila Tomova, que estudou realismo clássico na Academia de Belas Artes de Sofia e mais tarde na FIT em Nova York, onde estudou ilustração, além de sua experiência artística diversificada há mais de 20 anos. Veja mais aqui e aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
A arte da pianista e compositora Lucia Helena Gondra, autora de frevos como Riso largado no passo rasgado, Vou de reboque, Os bordões, entre outros sambas, choros e frevos de blocos.
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A música do pianista, maestro e compositor Marlos Nobre aqui.
Outro sol se levanta, do escrito Pelópidas Soares (1922 – 2007) aqui.
Rio Una: poemas, do poeta, jornalista, economista e folclorista Jayme Griz (1900-1981) aqui.
A realidade social da ficção, do sociólogo Sebastião Vila Nova aqui.
A arte da fotógrafa, artista visual e pesquisadora Ana Lira aqui.
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A Praieira em Água Preta aqui.