QUE VAI, VAI; SÓ NÃO SE SABE PARA ONDE – UMA: OUTRA DAS FILHAS DA DOR – Danina, 19 anos,
linda de morrer, primeiro emprego: caixa no Frigorífico de Sitonho. Assédio,
licenciosidades, investidas maliciosas do patrão, ela na dela, contornava. Mais
de três anos nessa pisada, até ela noivar com Zedinildo e pedir demissão. Pronto.
Acertaram as contas, homologadas as verbas rescisórias com entidade sindical e
laboral, na saída, o patrão sugeriu: Ao invés de pegar fila para sacar seu
cheque, passe amanhã de manhã na firma que dou em dinheiro. Está certo. Horário
acertado, entregou o cheque indenizatório, conforme combinado. Sitonho simplesmente
rasgou o cheque e disse em tom mordaz: Pronto, tudo pago. E saiu. Ela ficou
paralisada no meio da sala. Uma funcionária antes amiga encaminhou sua saída,
estava na porta da rua, completamente passada. Foi socorrida pela solidariedade
das outras filhas da dor, Gilvanícila, Gersoca, Samira, Sulina, Derluza, Elvira e Gracinaura.
(Veja mais aqui). DUAS: NO PAÍS DO
FECAMEPA SEGURA O TOMBO! – O Fecamepa já dava em desgoverno desde as arrepiadas
da República de Curitiba ao golpe parlamentar, para entrar na fase dos
arrumadinhos cabeludos e grotescos do pandemônio instaurado com a posse depois
das eleições. Bate o centro do ano o bumba-bumbado: logo as manguinhas de fora
e a coisa começou a feder, a ponto da Amazônia pegar fogo por ela mesma, óleo
nas praias nordestinas assim do nada, Jesus aparecer na goiabeira da ministra
doida para salvar meninos de azul e meninas de rosa; cardumes suicidas, Ministério
da Deseducação, da Injustiça e da Ignorância institucionalizada; racionamento
de cocô, do Queiroz que se envulta, do Guedes que se embatuca batendo cabeça para
pisar nos pobres, da patetatada ministerial geral, dos vexames diplomáticos, do
desmonte constitucional e do aparelhamento coisonário – afora outras tantas tresloucadas
presepadas vergonhosas e diárias que parecem não ter fim, taoquei, porra! -, a coisa
escorrega ribanceira abaixo, melecada toda coisada e a gente no maior deus nos
acuda, valha-me! Qual é, hem? O que fica mesmo pras comemorações de final de
ano é que no país do Fecamepa é cada um por si e foda-se quem quiser (ou tome
no cu, que dá no mesmo). Já se ligou? Ah, não! TRÊS: LAVA A ALMA DE NOVO DE QUALQUER JEITO – É festa desde sexta. Dá
pro gasto, ora. Não era bem assim que se queria a libertação do Lula. Era para
ser com a anulação completa do eivado processo fabricado nas garras do
ministreco do Coiso depois da Vaza-Jato, com aquela máxima do Ministério
Público: Não tenho prova, mas tenho convicção.
Zás! Era uma vez Direito no Brasil, agora na lata do lixo. Como tudo do
Judiciário brasileiro é casuístico, a coisa embola da gente sequer imaginar o
tamanho da anomalia – coisa que vem desde mil e quinhentos, ora! Zorra por
bagaça, dá tudo no mesmo. Será que tem jeito? Quem sabe! Vamos ver se a coisa
que se queria endireitada, finda mesmo se aprumando para alguma outra direção
mais apontada para a gente de todos os nossos Brasis. E vamos aprumar a
conversa pelamordeus!!!!! © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Mentir
com graça, de uma maneira pessoal, é quase melhor que dizer a verdade à maneira
de todos. [...] Não há no
mundo coisa mais difícil do que a sinceridade e mais fácil do que a lisonja.
[...]. Trechos extraídos da obra Crime e
castigo (Estudios Cor, 1968), do escritor russo Fiódor
Mikhailovich Dostoiévski (1821 - 1881), que
narra a história de um jovem estudante que comete um assassinato e se vê
perseguido por sua incapacidade de continuar sua vida após o delito. Atormentado
por uma vida de insucessos, o protagonista resolve colocar em prática a sua
tese, segundo a qual, existem sujeitos ordinários e extraordinárias, uns pela
incapacidade, outros pela capacidade de transgredir as normas sociais e levar a
sociedade a um novo estágio. Veja mais aqui e aqui.
TRÊS POEMAS DE FRANCESCA CRICELLI
I - Existe uma perda que só é suportável \ Se você esquecer que os
mortos tinham corpos \ Eu coloquei fotos e as derrubei \ Não pode decidir o que
é mais excruciante \ Eu recebi alguma coisa, minha filha pede, de seus irmãos
que estão mortos \ Eu tiro um pequeno saco de ketchup e uma coruja feita de
papel machê \ Quando eles morreram, eu digo, eu comecei a chamá-los de irmãos \
Aqui, eles acham que primo significa estranho \ Eles eram a minha família mais
próxima se a família é o que liga a história ao futuro. \ Eu os segui até o
submundo e quase permaneci \ E então, eu tive você.
II – Há um momento em que a lua está alta \ e os talos torcem em direção
ao céu \ Se você sussurrar os nomes dos mortos, eles não respondem \ mas se os
potros dormem na caixa \ Você pode ouvir-se bray.
EPITÁFIO – Perder \ era uma morte anunciada \ uma data no calendário do
peito. \ Era um oráculo a morte \ – e pensar nela – \ cobria tudo com manto
negro. \ Há algo na morte \ como o amor. \ Ainda assim, \ ocorrem-me abismos, \
diria Horácio. \ O júbilo carregava em si \ um prenúncio, \ no desenho do
sorriso, \ a sombra da morte. \ Fixamos nas estrelas.
Poemas da poeta, pesquisadora e tradutora Francesca Cricelli.
DOCE CANÇÃO DE LEÏLA
SLIMANI
[…] Só seremos felizes,
disse ela a si mesma, quando não precisarmos mais um do outro. Quando pudermos
viver nossas próprias vidas, uma vida que nos pertence, que não diz respeito
aos outros. Quando formos livres. [...].
Trecho extraído da obra Chanson douce (Gallimard, 2019), da premiada escritora, diplomata e
jornalista franco-marroquina Leïla Slimani, autora das obras The
Perfect Nanny (2019), Adele (Faber & Faber, 2019) e Dans le
jardin de l'ogre (2014). Sobre a leitura ela expressa que: Tenho plena consciência de que, se eu não tivesse sido a leitora que sou,
não seria a pessoa que sou. Ela foi fundamental na construção da minha
moralidade, de quem eu sou como cidadã, como mulher. Sei o quão carnal é a
relação que se pode ter com a literatura, a ponto de ela se tornar parte de
você, um órgão por si só. Veja mais aqui.



