O CANTO DE WHITMAN – Sou o que canto e são todos meus e eu, de
mãos dadas com tudo. Herdei da minha mãe a amabilidade quacker e do meu pai a honestidade a toda prova, a sede rebelde por
justiça porque sou pedras, árvores, profissões, passagens. A minha escola na
tipografia, a docência iconoclasta no aprendizado da vida na arte e me tornei a
fera mais imunda e bestial do meu tempo, a violação da censura e expulsão da decência,
o delírio do meu deplorável desvario. Saúdo Deus e a fraternidade com motejos
de mim e cantos para mim mesmo, o semelhante, a humanidade, porque sou nu e o
amor de todas as liberdades: ser livre é o que me faz ser humano e amar a
robustez do homem, a grandeza da mulher e a imensidão do mar, a lua, os campos,
o ar e a vitalidade de todas as espécies vivas ou cinzas e poeiras. Sou todas
as portas abertas e janelas nuas, chuva que cai água que escorre vento que voa
fogo que queima chão que se pisa com a mão da amizade, o poema evangelho e a
paterno-maternidade de ser e apenas ser na fundura das superfícies e no
horizonte de todas as direções. Sou o maior idiota do mundo sim, um doido
varrido que só serve à frenologia, um indolente falido, pirateado e
defenestrado em nome do caráter moral e alvo de ataques só por ser voluntário
enfermeiro entre feridos - prefiro mesmo a companhia dos mutilados, dos que não
têm mais nada além de si próprios. E se adoeço com eles prematuramente
envelhecido é porque a corrupção social e política me debilitam como quem chora
a perda da mãe. Sou obstinado e compassivo, sempre pareci um lunático que
escapara do asilo, nada demais para quem nasceu na ilha com os seios sobre o
mar: Paumanok. E por isso dou o que penso à antropometria, sirva ou não, está
dada como a tudo me dou. Sou livre e todos e tudo são em mim e eu todos os
continentes e planetas em corpo e alma, porque universal. Sou a pobreza porque
maior e abundante desde que este mundo é mundo e nada foi feito. Sigo obscuro,
solitário e faminto a vender meus livros de porta em porta, coxeando de mãos
espalmadas para que as suas ou de quem quer que seja estejam ali expostas e
dispostas para mim e todos, porque as minhas mãos estão prontas para amparar os
que são desprezados, feridos, pisados, destituídos, numerosos e miseráveis,
todos somos folhas da relva rasteira, enredados e obscenos anímicos numa teia celular
e na urdidura de rizomas, sangue e ubiquidade, ponte, elo, liame, convergência.
Celebro o que não tem nexo, o alarido bárbaro do sexo, descarado entre as
virtudes e pecados da minha terra. Glorifico a vida: o panteísmo da democracia
porque sou cheirar e ouvir e tocar e ver e falar e amar sem vestes como o Sol e
tudo no Universo: a nudez é a liberdade, amo de verdade e vivo verdadeiramente
em mim e todos e tudo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Na imagem dessa parede, algumas pichações
que não sei se não entendi pela letra ou pelo alemão cheio de gírias. O dano consequente
de mofo, grafite corroendo a tinta, prateleiras e janelas quebradas, isso tudo
dificulta o entendimento. Fica claro que qualquer pessoa que seja responsável
pelo lugar desistiu. A maior parte parece mais fácil de arrumar demolindo e
reconstruindo do que reformando. Esta
outra foto não é minha e sim do blog parceiro “Os urbanos explorados”, mas já
mostra uma diferença entre o aeroporto que vi e o que ele fotografou. A
abrangência do abandono aumentou muito. Infelizmente, já não consegui achar
três dos edifícios que ele fotografou. Ele mencionou que viu carros no
estacionamento, e eu tinha me preparado para me esconder deles, caso fossem da
polícia. Vi zero. Acho que esses serão, se não os últimos, um dos últimos
registros dessa vila militar. [...]. Trecho extraído da obra De espaços abandonados (Alfaguara, 2018),
da premiada escritora e tradutora Luisa
Geisler, mestre em processo criativo pela National University of Ireland e autora
de obras como Contos da mentira
(Prêmio Sesc de Literatura, 2010), Quiçá
(2012), Luzes de emergência se acenderão
automaticamente (2014) e Enfim,
capivaras (2019).
A POESIA
DE NÍVEA SABINO
UNIVERSALIZAR O AMOR: Universalizar / o amor / feito a luta / de maior
valor / repararia / milhões de negras / que há (Marias) / e nunca / amou.
FAZ JUNTO: pra sempre / e mesmo / se houver tristeza / não virá / todo
mundo / o viver / lhe ap(r)onta / com quem vai junto.
DO EXERCÍCIO DE AMAR: Se apegou / tanto / que / de repente / se viu / só
/ numa.
TÁ NA VIDA: A delícia de ganhar, / E a constância de perder. / (alguém
desconhecido - não meu).
A VIDA DE REPENTE: De repente é feto / De fato / cresce / o feto / de
repente / É gente / De repente / pai / Ai! / Feto homem / feto feito / feito
louco / de repente.
NÍVEA SABINO - A premiada poeta, ativista, educadora-social
e slammer, Nívea Sabino, é editora
do blog Branca como a neve... ou simplesmente, Nívea! e publicou o livro Interiorana
– A poesia falada não vive presa na livraria (Padê, 2016). Ela é graduada
em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
(PUC-MG), representou o Coletivo Sarau da Periferia BH, e participa do SLAM
desde 2014. Ela é coordenadora política do Fórum das Juventudes (BH-MG) e
correalizadora do movimento cultural Saraus dos Vagal (RMBH) e do movimento
itinerante Roda BH de Poesia, afora participar, produzir e editar diversas
antologias da poesia marginal. Dela a expressão livre de sua arte no
enfrentamento ao racismo, lesbofobia, sexismo e outras formas de expressão,
numa trajetória de ativismo poético efervescente: Saudade é fruto da felicidade desbotada. E: Nada pode apagar o sorriso do meu rosto, afinal a primeira pessoa que
recebe meu sorriso sou eu mesma no reflexo diário de meu espelho. Aplausos!
Veja mais aqui.
A ARTE DE MARIANA DE MATOS
Na realidade, em minha produção, as linguagens namoram os conceitos.
Quando elaboro um trabalho, penso a princípio na intenção deste trabalho.
Depois, as linguagens se apresentam, e você conduz a ideia para o suporte mais
adequado.
Vejo um país tensionado por ter elegido um projeto político, e estar
sendo governo por outro. (Ambicioso que desconsidera obviamente as demandas e a
escolha desta parcela da população). Sustentado a toda custa, por cidadãos
indispostos a abrir mão de privilégios históricos.
MARIANA DE MATOS
– Trechos extraídos da entrevista concedida ao Cidadão Cultura, pela poeta e artista visual
Mariana de Matos, que também se assina Maré,
à jornalista e escritora Marianna Marimon. Autora da exposição, Hoje minha vida é minha noção de luta e
de obras como Poesia pra pixo (2017);
Meta (2016); Meu corpo é um esconderijo (2014), entre outras, desenvolve sua
arte por meio de diversas linguagens e pesquisa sobre a relação entre a poesia
e a arte no cotidiano e sociedade. Veja mais aqui.
A OBRA DE WALT WHITMAN
Se há alguma coisa sagrada é o corpo humano.
WALT WHITMAN - A obra do poeta, ensaísta e jornalista
estadunidense Walt Whitman (1819-1892),
autor da imortal obra Leaves
of Grass (Folhas da Relva - Harbra, 2011 – tradução de Geir Campos) aqui.