OUTRA CARTA DE NOVEMBRO – O mistério do secreto: é no esotérico que a
vida se desvela - longe da ilusão dos sentidos algo acontece de verdade. Tenho
a lição de Trismegistus, a vida e o mundo no que penso: o Universo sou eu e tudo
o mais. Do Oriente, o Sol nasce todos os dias. Aqui, quereres entre o que faz
falta. E um botão liga ou desliga – átomos, mônadas, oxímoros, metáforas e
simulacros -, há muito mais. Desde o advento do Homo sapiens, parece, pouco ou quase
nada evoluiu. De lá para cá, que o digam os filhos de Caim: guerras, fome,
bombas e miséria. De fato: o Ocidente é só mal-estar, já foi dito: histerias,
neuroses, convenções e infelicidade. Civilizados com senhas, vestes, códigos,
excludências e outros senões. Afora o calendário e as horas passam depressa
entre o passado e o esquecimento com tantos desacertos, recaídas, expectativas,
idealizações, paredes, tetos, muros e cercas. Onde a felicidade, tudo tão
efêmero e diferente do que realmente sou. O que temer se o tempo passa, sempre
um pé atrás: desconfia-se até da sombra, teme-se dos mortos, quem sabe, o que podem
pensar os outros e dizem, entrou na roda, satisfações disso e daquilo, o
interdito, a lógica da honra e a moral do que deve ser feito, ou não, a
necessidade de ser feliz. O que se poderia dizer da sorte, benditos que não
sei, outras são maledicências. O que se dizer das intrigas, o calor da amizade,
outras seriam blasfêmias ou infâmias. Defende-se um deus entre escolhidos no
reino da prótese: a ciência pra razão, a arte pra emoção - cada coisa no seu
lugar, um milagre às vezes cai do céu. Quando um é ganhador, alguém perdeu. Se
um sorri, outro chora. O que vale, tudo sob controle: convicções, lições
aprendidas com o que passou e a retaguarda. Até que um recado expresso com
versos em revoada de pássaros, oriundo da volúpia emergente das vísceras da
Terra, com seus pelotões de candura, batalhões de beijos e desejos, frotas
navais e aéreas no estado de graça das taças tilintando ao brinde do que se
aspira, como um vinho depois do prazer. O que fazer diante do amor: seguir o
desconhecido, quantas perguntas. E o sentimento impera: será que dá certo –
entrar em campo pra ver o resultado. Enquanto a prudência dita a passada,
seguir adiante ou voltar para casa onde o deserto fez morada na solidão. O que
fazer, a cautela e a dúvida, respostas requeridas, ou se danem todos os juízos
e fruir, para quê sentido, ah, nenhum e haurir antes de se arrepender. E o que
fazer diante dos empecilhos aos tantos, ninguém sabe, o acaso não existe e a
semente brota em campo propício, seja charco, asfalto ou inferno. Quem mandou
ou por que será, ah, outras escolhas, amar com posse e servidão, afinal, das
avenças alguém sempre sai arranhado ou aos prantos, coisas de prever o
paradoxal, qual contraditório. Ah, o amor de ontem não é mais, o de amanhã
nunca se sabe. O que se aprendeu é pura farsa, aprende-se mesmo a cada dia. Quando
se tem um, há sempre mais um e outro e lá se vão dois que são três ou quatro,
tantos e muitos tão infinitos e eu aqui na minha finitude diante do
inexplicável. Eu mesmo não sei se ontem sou hoje ou serei o mesmo amanhã. Da minha
parte, o paladar só distingue quatro de zis sabores, a audição só algumas de
tantas frequências acima ou abaixo, só tocamos o que está ao nosso alcance, só
vemos a dimensão dos olhos, ignoramos as costas e tudo o mais. Desaprendemos do
invisível, do inefável, do inodoro, insípido ou incolor. Ver o visinvisível, são
outros quinhentos: sentir o inexprimível, a noção da ubiquidade inacessível, beijar
o que não se sabe, gozar do insensato e indescritível, jogar-se ao abismo. Sou
o destino nas mãos: recrio meu mundo, reinvento viver. O que dizer depois do
amor, assim o caos e todos nós. Então, fecho os olhos e vivo. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Quando o viu sentado na mesa de sempre, o
coração bateu forte, estava muito feliz. Conversaram rapidamente algumas vezes
durante a noite. Ele a esperaria, queria levá-la em casa e percebeu a face da
jovem iluminada mesmo na penumbra da boate. No final da noite ele estava lá,
esperando-a. Foram em silêncio, não sabiam o que falar. Queriam se tocar, o
desejo ardia. [...] Ao chegar, ela foi se despedir com um beijo
na face, porém os lábios se tocaram e o beijo foi inevitável. O calor subiu
pelos corpos intensamente. As mãos dele começaram a deslizar vagarosamente,
precisava ver até onde poderia ir. Não pode conter o desejo. [...] Ele continuou percorrendo todos os caminhos
com voracidade. Ela estava paralisada, trêmula, arrepiada e incandescente.
Queria-o. Todos os sentidos trabalhando de uma só vez, dirigindo-se para um
mesmo local. Era a primeira vez que era tocada daquela maneira. Que se permitiu
o prazer do toque. Que sentiu a necessidade desesperada de alguém dentro de si.
Queria aproveitar cada instante. [...] O
cheiro do sexo exalava como perfume de rosa. Ele conheceu o desejo dela como
nunca havia visto em outra mulher. [...]. Trechos da obra O livro de Valentina: contos íntimos (Autor,
2019), de Anée Lins, com contos eróticos escritos por uma mulher e
endereçados para mulheres adultas. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
TEATRO ATIVIDÁRIO
A culpa é dos gregos. Não da crise do euro, não do suposto culto de um
apurado sentido de irresponsabilidade, nem sequer por apresentarem a conta com
caracteres alemães e um atraso de algumas décadas. A verdadeira culpa dos
gregos é o terem criado “muitas das palavras e conceitos que ainda hoje usamos
para chamar os bodes pelos nomes, a começar por Theatron, “lugar de onde se
vê”, e drama, que significa “fazer acontecer”.” Ou seja, são culpados dos sete
costados pela invenção do Teatro, considerada a quinta das artes maiores.
TEATRO ATIVIDÁRIO – Teatro Atividário (Pato Lógico, 2015) é uma
obra temática abecedário com atividades, que reúne textos do escritor e editor
português, Ricardo Henriques e
ilustrações de André Letria, com
referências artísticas, históricas, científicas ou filosóficas, acrescidas com
comédias, dramas e tragédias e que propõe atividades práticas para fazer na
escola ou em casa. Veja mais aqui.
A ARTE PIERRE MOLINIER
A arte
do fotógrafo, pintor e criador surrealista francês Pierre Molinier (1900-1976). A maior de suas fotografias e
fotomontagens são autorretratos sendo, por isso, incluído por André Breton
entre os surrealistas, por sua obra influenciar artistas do mundo inteiro. Veja
mais aqui.
A OBRA DE WILLIAM BLAKE
Antes não se imaginava o que agora é provado.
A obra do
poeta, tipógrafo e pintor inglês William Blake (1757-1827) aqui.