OS SEIOS DE ISADORA - A vida não é um sonho. Como se fosse, assim
se fez para a caçula do banqueiro que faliu e se foi, da professora de música
numa casa onde só o amor à arte e sonhos, mais nada, frio e fome a cada dia. O
incêndio a desapropriou: a vida na rua, à beira da indigência. A escola
sufocava o fogo ardente de sua meninice maltrapilha, nem um centavo no bolso. Os
sonhos continuavam sonhos, selvagem de nascença, geminiana jamais domesticada,
o lema sem limites. Até que seu corpo as ondas do mar, a água, o vento, as
plantas: a nudez grega, a vitalidade desinibida e avassaladora, nenhuma ninfa
ou fada, música e poesia na rebeldia descalça de seios à mostra na túnica
transparente, cabelos soltos, corpo livre aos improvisos irreverentes, decididamente
escandalosa, desnudada, aplaudida, exaltada. Fez-se raposa comunista e os horrores
dos fuzilados do czar pelo pão da miséria, engasgada pelas lágrimas indignadas:
cortejo interminável dos infelizes, aos ombros seus mártires mortos e era só
uma menina dançando num jardim, a dança futura pela causa da humanidade,
impulsiva, imprevidente. Até na morte dos filhos no rio Sena, a tristeza com os
nervos em frangalhos. Os sonhos continuavam sonhos e descia do Olimpo, os seios
à mostra com seu inesquecível fascínio, sua dissimulação a girar cabeças
coroadas e casacudas, sempre ardente, às breves e arrasadoras aventuras
amorosas, generosa e maternal com seus recursos secretos e imprevisíveis A alma
se desprendia do corpo e os seios à mostra: o amor fraternal: o sonho do adeus
ao brutal velho mundo. Incorrigível perdulária a ruminar, era assim que era:
revolucionária e espontânea. O rosto devastado pelo ocaso: álcool e dívidas, a
autobiografia. Os sonhos continuavam sonhos, seios à mostra e a echarpe no
Bugatti conversível vermelho, a despedida para o amor insólito e o estrangulamento.
O estopim decadente. Não mais sonhos para dormir o pesadelo de nunca mais nos
seios floridos e finalmente escondidos. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais abaixo & aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Estamos
passando por um momento muito difícil, de descrédito. As pessoas acham que
ciência é religião, que se acredita ou não se acredita. Não é assim. Ciência é
baseada em fatos, não precisa de crença. O fato existe, a gente interpreta o
fato com método científico. É com muita tristeza que vejo esse passo que a
humanidade está dando. Tenho impressão que isso é passageiro, que é só uma
regressão que estamos vivendo porque houve um certo descuido, principalmente,
dos cientistas que precisam comunicar a ciência todos os dias ao público, e
precisa educar o jovem para a ciência. Os cientistas no mundo todo acharam que
a escola estava educando o suficiente e demonstrando a importância da ciência.
Espero que todos os cientistas acordem, porque passou da hora de comunicar a
ciência. É uma coisa muito difícil, não é todo mundo que tem talento de passar
conhecimentos difíceis para uma linguagem simples. [...]. Trecho da entrevista
Estamos no caminho errado (Agência
Brasil-EBC, 2019), da astrônoma e professora de Física
e Astronomia da University Washington, pesquisadora do Goddard Space Flight
Center – NASA, e autora do livro Vivendo
com as Estrelas (PandaBooks, 2009), Duília de Mello, falando sobre pesquisa espacial e divulgação científica,
concedida ao jornalista Gilberto Costa. Veja mais aqui.
MINEHAHA,
A MULHER DO BÚFALO
[...] É uma lenda básica da tribo Blackfoot que
originou seu ritual da dança dos búfalos onde eles invocam a cooperação dos
animais no jogo da vida. Se você levar em conta o tamanho de algumas dessas
tribos percebe que para alimentá-los era preciso muita carne. E uma forma de
ter carne para o inverno era fazer estourar uma manada de búfalos e fazê-los
cair do alto de um rochedo. Essa história se passa com a tribo Blackfoot muito
tempo atrás. Eles não conseguiam fazer os búfalos cair do penhasco; os animais
se aproximavam e se desviavam. Eles não iam conseguir carne para o inverno.
Certa manhã uma mocinha de uma das cabanas vai buscar água no poço para a
família. E ela diz: "Ah, se vocês caíssem eu me casaria com um de
vocês". E para sua surpresa eles todos vêm e começam a despencar. Essa foi
a primeira surpresa. A segunda surpresa foi quando um dos búfalos velhos, o
feiticeiro do rebanho, diz: "Tudo bem, você vem comigo". Ela diz:
"Ah, não!" Ele diz: "Sim, você prometeu. Nós cumprimos a nossa
parte, minha família está morta lá embaixo. Agora você virá comigo". De
manhã, a família dela acorda e cadê a Minehaha? O pai procura e diz: "Ela
fugiu com um búfalo". Ele percebe pelas pegadas. Então diz: "Vou busca-la".
Calça seus mocassins, seu arco e flecha e vai para a planície. Depois de
caminhar bastante fica com vontade de descansar e chega a um lugar chamado
Charco dos Búfalos, onde os animais gostam de vir rolar na lama para se
refrescar e se livrar dos piolhos. Ali começa a pensar no que fazer quando
chega uma pega; é um pássaro de plumagem vistosa que tem dons especiais qualidades
mágicas. Sim, mágicas. E o homem lhe diz: "Oh, belo pássaro, minha filha
fugiu com um búfalo. Você a viu? Poderia encontrá-la nessa planície?" Ele
responde: "Vi uma linda garota junto com os búfalos perto daqui". E o
homem diz: "Você poderia ir até lá e dizer a ela que seu pai está
aqui?" O pássaro voa até a garota no meio dos búfalos que estão dormindo.
Não sei o que ela estava fazendo, tricô ou algo assim. O pássaro chega e diz:
"Seu pai está lá no charco esperando por você". Diz ela: "Isso é
terrível; é muito perigoso! Esses búfalos podem nos matar. Diga a ele que me
espere, vou dar um jeito". Então seu marido búfalo acorda, tira um dos
chifres e lhe diz: "Vá até o charco buscar água para mim". Ela pega o
chifre, vai até o charco e lá está seu pai. Ele lhe diz: "Venha". Ela
diz: "Não, é muito perigoso. O rebanho inteiro vai nos perseguir. Acharei
um jeito; agora me deixe voltar". Ela apanha água e volta. Seu marido
búfalo diz: "Fi, fá, fo sinto um cheiro de índio!". Ela diz:
"Nada disso!". E ele diz: "Sim, com certeza". Ele dá um
mugido de búfalo, todos se levantam e fazem uma dança lenta, com os rabos
levantados. Vão até o charco e pisoteiam o pobre homem até ele desaparecer;
ficar em pedacinhos. A garota chora e seu marido búfalo diz "Você está
chorando?". "Esse é o meu pai", diz ela. "Ah é? E nós? Ali
estão nossos filhos, mulheres, pais; todos mortos. E você aqui chorando pelo seu
pai!", diz ele. Mas parece que ele era bonzinho; fica com pena e diz:
"Se você conseguir trazer seu pai de volta à vida, eu a deixo ir
embora". Então ela diz ao pássaro: "Procure pelo chão e veja se
encontra um pedacinho do meu pai". O pássaro vai ciscando e acaba trazendo
um ossinho. E a garota diz: "Isso já basta. Vamos colocar isso aqui no
chão"; ela coloca o cobertor sobre o ossinho e canta uma canção mágica, de
grande poder. E veja só, um homem debaixo do cobertor. Ela olha, é seu pai, mas
ainda não está respirando. Ela continua cantando; ele fica de pé e os búfalos
ficam espantadíssimos. Dizem: "Por que você não faz isso por nós? Nós
ensinaremos vossa dança e depois que vocês matarem nossas famílias, você dança,
canta essa canção e nós voltaremos à vida". Esta é a ideia básica: que
através do ritual se alcança a dimensão que transcende a temporalidade, a
dimensão de onde vem a vida e para onde volta. [...]
MINEHAHA, A MULHER DO BÚFALO – Extraída da obra O poder do mito (Palas
Athena, 1990), do mitologista, escritor e professor estadunidense Joseph Campbell (1904-1987), com edição
de Bill Moyers e organizado por Betty Sue Flowers, fruto de uma série de
conversas mantidas entre o autor e o jornalista editor, numa combinação de
sabedoria e humor, tratando sobre o casamento, os nascimentos virginais, a
trajetória do herói, o sacrifício ritual, entre outras. Veja mais aqui.
A ARTE DE ISADORA DUNCAN
A arte não é, de modo nenhum, necessária. Tudo o que é preciso para
tornarmos o mundo mais habitável é o amor. O corpo do bailarino é simplesmente
a manifestação luminosa da alma.
Não me lembro de nenhum sofrimento que tivera por causa da pobreza de
minha casa. Essa pobreza nos parecia muito natural. Eu sofria somente na
escola. Para uma criança sensível e orgulhosa, o sistema da escola pública era
tão humilhante como o cárcere. Eu estava sempre em rebeldia.
ISADORA DUNCAN – A arte da coreógrafa e bailarina
estadunidense Isadora Duncan
(1877-1927), considerada a precursora da dança moderna, aclamada por suas
apresentações em todo o planeta. Veja mais aqui, aqui e aqui.
A OBRA DE JACK LONDON
Eu não vivo para o que o mundo pensa de mim, mas para o que eu penso de
mim mesmo.