CARTA PARA MARIA - Maria não me viu, nem poderia. Do contrário,
eu seria seu nome: felicidade de nascença. E a lenda corria: Pampanoso, seu pai
aos pileques, a vendeu por moedas algumas ao Garzia do circo. A menina brincava
e cantava Agnese de Paër, ameaçada
com uma faca em riste, a severidade paterna. As qualidades canoras fizeram-na
perfeita amazona e muitas outras dela: a Rosina d’O Barbeiro de Sevilha, a Zerlina
do Don Giovanni, a Norma de Bellini, a Maria Stuarda de Donizetti, a Infelice
de Mendelssohn e todas as de Rossini. Fascinante poliglota, pintava e desenhava
com esmero no meu coração e não me via sonhá-la seminua sob os véus oníricos de
seus encantos. Assim não fosse talvez diferente, a busca pela liberdade sem o golpe
de François para sucumbir e herdar apenas o sobrenome. Não me viu amanhecer a
prima-dona porque seus olhos nadavam como versos de Virgílio: a divina Sonâmbula
entre os louros filhos de Álbion. Não me viu entardecer suas quimeras porque
consumia a vida entre triunfos e amores: a insólita paixão pelo violinista e os
salves no Scala de Milão. Não viu porque morreu Bellini e ninguém tardaria em
segui-lo com o baque na equitação, o pé preso ao estribo, arrastada pelo cavalo
para que sofresse a magreza insone, dores e enxaquecas, quantos padecimentos
nos seus dramas líricos e nas paixões. Não me viu quando verteu uma lágrima dos
olhos, o delírio e a queda no palco e o ápice da cena do Andronico de
Mercadante. Era só uma armadilha patética, fulminada entre miragens e pesadelos
em seus olhos azuis: os pântanos da dor Malibran na infeliz maldição desvelada.
Para mim a mulher ao piano de Delacroix, a legendária diva nua e sedutora
suicida, Desdêmona de Caisne entre a loucura e a crueldade, e o seu charme mítico
e insidioso no meu coração de quem morre quando ama. © Luiz Alberto Machado.
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DITOS & DESDITOS: [...] Estão contando que um moço militar, de Nhu
Verá ou de Horqueta, começou a achar enfado na luta do Ipanê, e preferiu
indulgir em peripécias próprias: desertou barulhentamente, chocou-se com as
rondas, atravessou depois o território inimigo, sempre riscando de onça,
requisitou comeres e bebederes, promoveu-se e condecorou-se a si próprio, e,
chegando até a beirada do Brasil, cumprimentou e deu as costas, sem gosto para
embrasilar-se, e pois retornando à confusão. Trazia também um violão a tiracolo
– acrescentam. E explicam que o violão, para o paraguaio, é arma de combate e
ferramenta de lavoura. Se verdadeira, bela é a história, se imaginada, ainda
mais. E em Bela Vista só estão internados três ou quatro legalistas, que, por
se afoitarem mais em terreno “blanco”. Alguém discorda, reticente: - “Paraguaio,
amigo, é bicho letrado. Não tem nenhum paraguaio sonso, não...” [....]. Trecho
de Sanga Puytã, extraído da obra Ave, palavra (José Olympio, 1978), do
escritor, médico e diplomata João Guimarães Rosa (1908-1967). Veja mais
aqui, aqui & aqui.
O CINEMA DE GILLO PONTECORVO – Da obra do cineasta italiano Gillo Pontecorvo (1919-2006),
destaco o drama histórico A Batalha de Argel (La battaglia di Algeri, 1966), baseado
em fatos ocorridos no período de 1954-1962, quando o povo da Argélia lutou
contra a ocupação colonialista francesa no país, enfocando os eventos ocorridos
durante a "Guerra da Independência Argelina", uma organização de
nativos insurretos escondidos na populosa região da cidade de Argel conhecida
por Casbah, mantendo um conflito contra as tropas de ocupação colonialista
francesas (pied-noirs), as tropas colonialistas praticam tortura, intimidação e
assassinatos. A aventura Queimada! (1962), baseado, parcialmente, na história do Haiti, um retrato
bastante claro de como é possível produzir um "líder popular nato" e
conduzir seus íntimos impulsos para o bem comum do povo na direção dos
interesses de um poder estrangeiro qualquer. O drama Giovanna (1956), conta a história de um
grupo de trabalhadores que luta para defender o local de trabalho contra os
despedimentos desejados pela propriedade e as mulheres ocupam a fábrica.
E, por fim, o documentário coletivo Un altro mondo è possibile (2001), descrevendo os dias de preparação e protesto no
G8 em gênova. Veja mais aqui.
A ARTE DE FRITZ KLIMSCH
A arte
do escultor alemão Fritz Klimsch (1870- 1960).
Veja mais aqui.
&
MARIA MALIBRAN
A arte da cantora lírica mezzosoprano Maria
Malibran (María Felicia García Sitches – 1808-1836),
que se tornou a diva mais famosa do século XIX. Sobre a sua vida e arte, as
publicações Maria Malibran (SPME,
1976), de Carmen Reparaz; Maria Malibran:
a biography of the singer (Pennsylvania State University Press, 1990), de
Howard Bushnell; Memoirs and Letters (2
livros) de Maria Malibran e Maria de las Mercedes Santa Cruz y Montalvo; o
filme fantasia comédia A morte de Maria
Malibran (1972), de Werner Schroeter; Maria
Malibran (1943), de Guido Brignone; La
Malibran (1944), de Sacha Guitry; Malibran’s
Song (1951) de Luis Escobar Kirkpatrick; e As Malibrans (2000), da compositora Jocy de Oliveira, que é a terceira
parte de uma trilogia musical cujo tema é a questão das mulheres, tendo como
inspiração a vida e a carreira da cantora soprano Maria Malibran e sua irmã Pauline
Viardot-García.
A OBRA DE LEANDRO GOMES DE BARROS NO DIA DO CORDELISTA