terça-feira, novembro 19, 2019

GUIMARÃES ROSA, MARIA MALIBRAN, LEANDRO DE BARROS, GILLO PONTECORVO & FRITZ KLIMSCH


CARTA PARA MARIA - Maria não me viu, nem poderia. Do contrário, eu seria seu nome: felicidade de nascença. E a lenda corria: Pampanoso, seu pai aos pileques, a vendeu por moedas algumas ao Garzia do circo. A menina brincava e cantava Agnese de Paër, ameaçada com uma faca em riste, a severidade paterna. As qualidades canoras fizeram-na perfeita amazona e muitas outras dela: a Rosina d’O Barbeiro de Sevilha, a Zerlina do Don Giovanni, a Norma de Bellini, a Maria Stuarda de Donizetti, a Infelice de Mendelssohn e todas as de Rossini. Fascinante poliglota, pintava e desenhava com esmero no meu coração e não me via sonhá-la seminua sob os véus oníricos de seus encantos. Assim não fosse talvez diferente, a busca pela liberdade sem o golpe de François para sucumbir e herdar apenas o sobrenome. Não me viu amanhecer a prima-dona porque seus olhos nadavam como versos de Virgílio: a divina Sonâmbula entre os louros filhos de Álbion. Não me viu entardecer suas quimeras porque consumia a vida entre triunfos e amores: a insólita paixão pelo violinista e os salves no Scala de Milão. Não viu porque morreu Bellini e ninguém tardaria em segui-lo com o baque na equitação, o pé preso ao estribo, arrastada pelo cavalo para que sofresse a magreza insone, dores e enxaquecas, quantos padecimentos nos seus dramas líricos e nas paixões. Não me viu quando verteu uma lágrima dos olhos, o delírio e a queda no palco e o ápice da cena do Andronico de Mercadante. Era só uma armadilha patética, fulminada entre miragens e pesadelos em seus olhos azuis: os pântanos da dor Malibran na infeliz maldição desvelada. Para mim a mulher ao piano de Delacroix, a legendária diva nua e sedutora suicida, Desdêmona de Caisne entre a loucura e a crueldade, e o seu charme mítico e insidioso no meu coração de quem morre quando ama. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Estão contando que um moço militar, de Nhu Verá ou de Horqueta, começou a achar enfado na luta do Ipanê, e preferiu indulgir em peripécias próprias: desertou barulhentamente, chocou-se com as rondas, atravessou depois o território inimigo, sempre riscando de onça, requisitou comeres e bebederes, promoveu-se e condecorou-se a si próprio, e, chegando até a beirada do Brasil, cumprimentou e deu as costas, sem gosto para embrasilar-se, e pois retornando à confusão. Trazia também um violão a tiracolo – acrescentam. E explicam que o violão, para o paraguaio, é arma de combate e ferramenta de lavoura. Se verdadeira, bela é a história, se imaginada, ainda mais. E em Bela Vista só estão internados três ou quatro legalistas, que, por se afoitarem mais em terreno “blanco”. Alguém discorda, reticente: - “Paraguaio, amigo, é bicho letrado. Não tem nenhum paraguaio sonso, não...” [....]. Trecho de Sanga Puytã, extraído da obra Ave, palavra (José Olympio, 1978), do escritor, médico e diplomata João Guimarães Rosa (1908-1967). Veja mais aqui, aqui & aqui.

O CINEMA DE GILLO PONTECORVO – Da obra do cineasta italiano Gillo Pontecorvo (1919-2006), destaco o drama histórico A Batalha de Argel (La battaglia di Algeri, 1966), baseado em fatos ocorridos no período de 1954-1962, quando o povo da Argélia lutou contra a ocupação colonialista francesa no país, enfocando os eventos ocorridos durante a "Guerra da Independência Argelina", uma organização de nativos insurretos escondidos na populosa região da cidade de Argel conhecida por Casbah, mantendo um conflito contra as tropas de ocupação colonialista francesas (pied-noirs), as tropas colonialistas praticam tortura, intimidação e assassinatos. A aventura Queimada! (1962), baseado, parcialmente, na história do Haiti, um retrato bastante claro de como é possível produzir um "líder popular nato" e conduzir seus íntimos impulsos para o bem comum do povo na direção dos interesses de um poder estrangeiro qualquer. O drama Giovanna (1956), conta a história de um grupo de trabalhadores que luta para defender o local de trabalho contra os despedimentos desejados pela propriedade e as mulheres ocupam a fábrica. E, por fim, o documentário coletivo Un altro mondo è possibile (2001), descrevendo os dias de preparação e protesto no G8 em gênova. Veja mais aqui.

A ARTE DE FRITZ KLIMSCH
A arte do escultor alemão Fritz Klimsch (1870- 1960). Veja mais aqui.
&
MARIA MALIBRAN
A arte da cantora lírica mezzosoprano Maria Malibran (María Felicia García Sitches – 1808-1836), que se tornou a diva mais famosa do século XIX. Sobre a sua vida e arte, as publicações Maria Malibran (SPME, 1976), de Carmen Reparaz; Maria Malibran: a biography of the singer (Pennsylvania State University Press, 1990), de Howard Bushnell; Memoirs and Letters (2 livros) de Maria Malibran e Maria de las Mercedes Santa Cruz y Montalvo; o filme fantasia comédia A morte de Maria Malibran (1972), de Werner Schroeter; Maria Malibran (1943), de Guido Brignone; La Malibran (1944), de Sacha Guitry; Malibran’s Song (1951) de Luis Escobar Kirkpatrick; e As Malibrans (2000), da compositora Jocy de Oliveira, que é a terceira parte de uma trilogia musical cujo tema é a questão das mulheres, tendo como inspiração a vida e a carreira da cantora soprano Maria Malibran e sua irmã Pauline Viardot-García.

A OBRA DE LEANDRO GOMES DE BARROS NO DIA DO CORDELISTA
A obra do poeta Leandro Gomes de Barros (1865-1918) aqui, aqui, aqui & aqui.