quarta-feira, novembro 20, 2019

TOLSTOI, HANYA HOLM, DANIEL PENNAC, DÂMOCLES & ALAGOINHANDUBA


ATRAPALHO DUPLO – Passeava eu todo serelepe com a domingueira pela praça central da gloriosa Alagoinhanduba, todo no vinco para uma visita a uma distinta dama que morava nas imediações, quando o primeiro susto atrapalhou a minha ida: ouvi um barítono brutamontes cantarolar aos berros o Hino Nacional. E o mais curioso: era uma cantoria insólita entre ais e uis paroxísmicos de uma ninfomaníaca em estado de ebulição. Ih! Que droga é nove? Vociferava desafinado o Hino pátrio em meio aos gritos histéricos duma doida no cio. Só sendo. Alguém reclamou: Isso é um vitupério! Como é? É isso mesmo! Vôte! Aí começam os desfechos nos dizeres alheios: Esse chumbeta nacionalista, em tudo que é data cívica, tem que dá seu espetáculo com a sua sirigaita para depois marchar rua acima! Hem? É. Eita! Que é que é isso? Sua grande frustração foi não ter conseguido servir às forças armadas. É que na hora do alistamento, logo viram que ele não batia bem da bola. Afora ter sido barrado nas fileiras da polícia militar, levando pau no psicotécnico. A cachola dele não era lá das boas, meu! Nunca foi! São os chifres, porra! Vive hoje de lambecu na porta da delegacia, sabe de tudo, um fuxiqueiro desinfeliz das costas ocas! Se mete em tudo, parece rancolho, mas não é: carrega os dois colhões ajeitados pra direita, odeia comunista! É corneado pela beldade dele, nem aí, ceva a biscate pros superiores mesmo, cabra mais safado! Vizinhos que reclamam dos maus procedimentos dele, logo se veem enfrentando coerções nas barras da justiça! É mesmo? Hoje o juiz vem aí, bote a roupa mais arrumada e faça o pedido! Olha lá a cara mais lisa do sujeito! Na hora que a visita chega, arruma logo um jeito de fazer alguma coisa fora de casa e deixa lá até altas horas, quando retorna para surpreendê-los e fazer que não foi nada, só conferir o atendimento de suas requisições. Isso é um gigolô da peste! Quando precisa de alguma coisa, emperiquita a mulher todinha feito quenga e manda ela toda reboladeira resolver as coisas. Ah, salafrário! Pode escrever: no outro dia todos os seus pedidos são resolvidos na hora, isso com juiz, delegado, promotor, prefeito, vereadores, deputados, senador, até o governador, todos já lavaram a jega naquela malévola! Pudera, ele só fode em data cívica! O quê? Pode ver: 7 de setembro, 15 de novembro e por aí vai. Isso é um coisonario duma figa! Por isso ela enfeita o quengo dele com todo mundo. Que coisa! Isso é um traste! Danou-se! Eu mesmo já estava envolvido nas falações dos munícipes, nem me dando conta de que a dama anfitriã já chegara. Tomei outro susto! O segundo: quando botei os olhos nela, bateu-me uma descarga elétrica arrepiante de subir aquele frio da pança pelo dorso ao cocuruto de espatifar qualquer ideia, descer pelo cangote para a caixa dos peitos e explodir no baixo ventre da braguilha estufante e abruptamente volumosa, dela, a distinta, providencialmente sugerir que me acomodasse melhor no banco da praça para concatenar as ideias e ajeitar a balbuciante situação em que me encontrava. Evidente que ela sacou o meu embaraço disparatado, fazendo-se discreta e me falando da intriga de seus vizinhos. Foi pior. Assim que sentou ao meu lado, ela deu uma cruzada de pernas com as coxas apetitosas à mostra e, por um relance, deixou perceber a azulada guarida de suas intimidades. Um sufoco! E para meu suplício, ainda por cima, cruzou os braços sob o decote de apetitosos seios volumosos, com um sorriso ensolarado de quinze para as três, pro maior desmantelo do meu juízo já nem lá muito saudável naquela hora. Azoretado, não sabia se olhava pros olhos dela – vixe!, dois faróis acesos e vivos que só faltavam me engolir todo -, se pros lábios sedutores que me falavam coisas doces que sequer ouvia, se pro decote magnético ou para as coxas na minissaia ou, pelo amor de Deus, para onde botasse as vistas, era que aumentava o meu aperreio. Ela gesticulava de remexer os quadris, toda elegante e faceira, só lá pras tantas fui me acostumando, aos poucos, da minha vexatória condução no meio do falatório da multidão, quando fui tomando pé da situação ao debulhado que ela, tintim por tintim, foi me deixando a par do que realmente se sucedera, perdendo, assim, a razão de convite para a devida comprovação do perfume do seu exuberante roseiral, do osculante hálito do seu dulcíssimo paladar e das frevadas monumentais de suas pernas torneadas. Passei batido, avalie. Pandemônio daquele, fazer mais ainda coisa alguma? Levei na conta do atrapalho: O cabra é um safado de um baba-ovo que vive de cheirar ali e aqui, para lá e para cá, sempre se dando bem, seja com quem for o ganhador da vez. Confirmavam todos duma das rodinhas de gente arreando a lenha nas costas do maldito. Contou-me, então, que quando ele encontra algum desafeto que lhe solta uma pulha, ele responde: Quem não puxa saco, puxa carroça! Sai pra lá, desgraçado! Isso é um fidapeste! Já anoitecia e ela precisou se recolher aos seus afazeres, se despedindo de mim e dos conhecidos ao redor, marcando para outra tarde vindoura nova visita. Depois desses imprevistos, guardei o malogro: vi com os olhos, lambi com a testa e só na outra, inheto vou contar os dias nos dedos. Como é que pode uma coisa dessas, hem? Ô diazinho! Nem lá, nem loa. Só na outra, inté. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo & aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Nossos "maus alunos" (que se diz não terem futuro) nunca vão à escola sozinhos. O que entra em sala de aula é uma cebola: camadas de tristeza, medo, inquietação, ressentimento, raiva, desejos insatisfeitos, resignações furiosas acumuladas em um fundo de passado vergonhoso, ameaça presente e futuro condenado. Olhe para eles, aqui eles chegam, com o corpo pela metade e sua família a reboque em sua mochila. Na verdade, a aula só pode começar quando eles deixam o fardo no chão e a cebola é descascada. É difícil de explicar, mas muitas vezes apenas um olhar, uma palavra gentil, uma frase adulta confiante, clara e estável é suficiente para dissolver esses arrependimentos, aliviar aqueles espíritos, instalá-los em um presente rigorosamente indicativo. [...]. Trecho extraído da obra Diário de uma escola (Rocco, 2008), do premiado escritor francês Daniel Pennac que, em outra de suas obras, Mágoas da escola (Porto, 2009), expressa que: [...] Eu era, portanto, um mau aluno. Na minha infância, chegava todos os dias a casa perseguido pela escola. As minhas cadernetas refletiam a censura dos professores. Quando não era o pior da turma, era o penúltimo. (Bravo!) Impenetrável à aritmética primeiro, à matemática em seguida, profundamente disortográfico, refratário à memorização das datas e à localização dos pontos geográficos, inapto para a aprendizagem de línguas estrangeiras, considerado preguiçoso (lições não estudadas, deveres por fazer), levava para casa notas lamentáveis que nem a música, uma qualquer atividade desportiva ou extracurricular, de resto, conseguia remediar.– Compreendes? És ao menos capaz de compreender o que te explico? Eu não compreendia. [...].

A ESPADA DE DÂMACLES
Dâmocles era um cortesão bastante bajulador na corte do tirano Dionísio, de Siracusa. Ele dizia que, como um grande homem de poder e autoridade, Dionísio era verdadeiramente afortunado. O rei ofereceu-se para trocar de lugar com ele por um dia, para que ele também pudesse sentir o gosto de toda esta sorte, sendo servido em ouro e prata, atendido por garotas de extraordinária beleza, e servido com as melhores comidas. No meio de todo o luxo, Dionísio ordenou que uma espada fosse pendurada sobre o pescoço de Dâmocles, presa apenas por um fio de rabo de cavalo. Ao ver a espada afiada suspensa diretamente sobre sua cabeça, Dâmocles perdeu o interesse pela excelente comida e pelas belas garotas e abdicou de seu posto, dizendo que não queria mais ser tão afortunado.
ESPADA DE DÂMOCLES - Dâmocles é protagonista de uma anedota moral que figurou originalmente na história perdida da Sicília, por Timeu de Tauromênio (c. 356-260aC), lida por Cícero em Diodoro Sículo e fez uso dela em suas Tusculan Disputationes. A espada Dâmocles é uma alusão frequentemente usada para remeter a este conto, representando a insegurança daqueles com grande poder (devido à possibilidade deste poder lhes ser tomado de repente) ou, mais genericamente, a qualquer sentimento de danação iminente. Há referências a respeito na publicação A espada de Damocles: o exército, a guerra do Paraguai e a crise do Português (Hucitec, 1996), de Wilma Peres Costa. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE HANYA HOLM
A arte da bailarina, coreógrafa e educadora alemã Hanya Holm (1893-1992). Veja mais aqui.

A OBRA DE TOLSTOI
A mulher é uma substância tal, que, por mais que a estudes, sempre encontrarás nela alguma coisa totalmente nova. Difícil é amar uma mulher e simultaneamente fazer alguma coisa com juízo.
A obra do escritor russo Liev Tolstoi (1828-1910) aqui, aqui & aqui.
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OUTRAS DE ALAGOINHANDUBA
Veja mais de Alagoinhanduba antes do fim do mundo aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.