A ÚLTIMA CARTA DE EGON – (Ao som de Pavane for dead princess, de Maurice
Ravel) - Agora tudo passa e as horas fluem lentas. Somente eu, coração
geminiano, alma torturada de espantalho no tempo, ocorre o escandaloso olhar
para o dentro de tudo diante do espelho, dias a mais ou de menos. Sou todo
pensamento e meus olhos veem o que se esconde. Evaporo e expiro, reconheço a
mim e ao mundo: os delírios da doença mental do meu pai e os convidados fictícios
à mesa posta, os conflitos com a minha mãe, o abandono da infância sombria e
Gerti saltitante, a minha vida mais se parece as Leônidas do Tempel-Tuttle. De cada
um o seu eu sem nenhuma inibição facial do pudor cristão e a moralidade
civilizada, a luz corporal e o seu extremo por linhas e planos distorcidos, o
sexo, a púbis, o gestual e os corpos a queimarem consumindo a vida e a sua
própria luz na pose tímida moralmente reprimida entre o repreensível e o
aceitável por ocres cenários. Todos são eremitas e o amor me conduziu a nada ocultar:
a guerra e a pandemia da gripe espanhola, mães mortas, crianças deformadas, famílias
miseráveis desnudadas, só eu sei a mulher. Memorações me assaltam: Moa que foi
a primeira musa, Wally que foi o meu grande amor e fugiu para nunca mais, os
olhos malditos de Tatjana, a agonia de Edith, o pesadelo perpétuo da minha
vida, e eu extático diante do estático e do turbulento. Rememoro que fui acusado de sujidades, a obra toda indecente
e não corrompi nenhuma criança: a condenação foi a gravura queimada por mais de
vinte dias, maltratado pela ignorância assombrosa da pobreza de espirito, a
impertinente interrupção gananciosa dos que se intrometem nada perdoável a
torcerem o meu explícito e palpável pescoço, só pelo prazer invejoso dos
palermas que destroçam a vida e infundem, cabeças-tontas, respeito hipócrita do
que não possuem nem compreendem de talento e arte, asnos estúpidos e descerebrados
a censurarem e deterioram fixando para trás tão degradante, quando não inúteis,
prejudiciais de um mundo decrépito a tremer mesmo que aparentemente tudo pareça
em paz e ordem, quanta ignomínia! Todos corrompidos pela paixão que tortura a
alma terrivelmente desses sensíveis suicidas condenados ao colapso, prisioneiros
e oficiais que pousam na minha lua-de-mel, escoltas para a linha de frente, a
inveja da liberdade e eu reduzido a limpar o chão da prisão, juntando cacos de
sonhos e nenhum tostão. Tudo passa: estou adoecendo, nem sei se sobrevivo refém
da maldição e do poder omnipresente da morte. A desilusão
e o desalento, a solidão e o pânico, o mestre morreu, Edith se esvaindo grávida
e eu sucumbindo, meu corpo cansado e coroado de flores. Nada mais que a prancheta, o lápis, a folha e o tamborete, a natureza e
os contornos, a luz e a escuridão. A nudez é sagrada e eu quase nem vivo mais. ©
Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Em algum lugar na parte continental de
Lagos, a União Progressista de Umuofia estava promovendo uma reunião de emergência.
Umuofia é um vilarejo de língua ibo na Nigéria Oriental e a cidade natal de Obi
Okonkwo. Não se trata de um vilarejo especialmente grande, mas seus habitantes
o chamam de cidade. Têm muito orgulho de seu passado, quando a cidade era o
terror dos vizinhos, antes que o homem branco chegasse e nivelasse todos por
baixo. Os umuofianos (é assim que eles se denominam) que deixaram sua cidade
natal a fim de arranjar trabalho e se espalharam por cidades da Nigéria inteira
encaram a si mesmos como residentes temporários. Voltam para Umuofia de dois em
dois anos, mais ou menos, para passar as férias. Quando economizaram dinheiro
suficiente, pedem a seus parentes na cidade que encontrem uma esposa para eles,
ou então constroem uma casa “de zinco” nas terras da família. Não importa em
que local da Nigéria estejam, sempre fundam ali uma filial local da União
Progressista de Umuofia. Nas semanas anteriores, a União se reuniu diversas
vezes para tratar do caso de Obi Okonkwo. Na primeira reunião, algumas pessoas
manifestaram a opinião de que não havia nenhum motivo para a União se preocupar
com problemas de um filho pródigo que demonstrara grande desrespeito por ela
muito pouco tempo antes. [...]. Trecho da obra A paz dura pouco (Companhia das Letras, 2013), do escritor e
crítico literário nigeriano Chinua Achebe (1930-2013), que conta o julgamento
de Obi Okonkwo, acusado de aceitar uma propina de valor irrisório, e a escalada
de eventos dramáticos e inescapáveis que o levaram ao tribunal. Veja mais aqui.
ALGUEM FALOU: BIBLIOTERAPIA – [...] além do
prazer do texto, a leitura oferece ao leitor, por identificação, apropriação e
projeção, a possibilidade de descobrir uma segurança material e econômica, uma
segurança emocional, uma alternativa à realidade, uma catarse dos conflitos e
da agressividade, uma segurança espiritual, um sentimento de pertença, a
abertura a outras culturas, sentimentos de amor, comprometimento, superação das
dificuldades, valores individuais e pessoais [...] toda a leitura implica um fenômeno de interpretação e a interpretação
é, em si, uma terapia. [...]
a tese central da biblioterapia é que o
ser humano, como criação contínua e em movimento constante, encontra suas
forças no processo narrativo-interpretativo da atividade da leitura. [...] para a biblioterapia, a identidade é um não
lugar, ser humano é um ser de
caminho, um homem em marcha. [...] a leitura é o encontro entre duas subjetividades,
a do leitor e a do autor, que se enriquecem mutuamente. [...] a biblioterapia é
primariamente uma filosofia existencial e uma filosofia do livro, que sublinha
que o homem é um ser dotado de uma relação com o livro. [...]. Trechos
extraídos da obra Biblioterapia (Loyola, 1996), do
filósofo francês Marc-Alain Ouaknin.
Veja mais aqui.
A MÚSICA
DE LERA AUERBACH
Tive a sorte de ter alguns professores especiais que
queriam compartilhar seus conhecimentos; portanto, grande parte da minha
educação foi o 'currículo não oficial'. Isso incluía a música de Schoenberg,
Webern e Stravinsky, que era considerado um bandido porque havia emigrado da
União Soviética. Trabalho nessas
diferentes formas de arte simultaneamente. Tentei várias vezes apenas o foco em
uma disciplina, mas toda vez que o fazia, em primeiro lugar, ficava deprimida
e, em segundo lugar, a qualidade do que eu estava concentrada não melhorava. De
fato, pioraria.
LERA AUERBACH – A arte da premiada compositora, pianista e escritora russa
Lera Auerbach, que continua a tradição de compositores
virtuosos do piano, com uma música caracterizada pela liberdade estilística e
pela justaposição de linguagens tonais e atonais. Veja mais aqui.
A ARTE DE EGON
SCHIELE
Sou o mais nobre dos nobres, e o mais humilde
dos humildes. Sou humano – amo a morte e amo a vida. O pintor também pode
olhar. Ver, porém, é algo mais. Inibir o artista é um crime, é assassinar a
vida antes de ela florescer! Tudo está morto vivo.
EGON SCHIELE – A arte do pintor austríaco ligado ao movimento expressionista. Egon Schiele (1890-1918), que teve convivência amorosa com a modelo de
sua obra, Wally Neuzil, ocasião em que foi preso por desenhar uma jovem, Tatjana, julgado no
tribunal distrital, em St. Pölten e acusado de rapto, de sedução de menor e de
possessão negligente de material erótico, passou vinte e quatro dias preso. Em seguida,
ao conhecer duas irmãs protestantes, Schiele casou-se com uma delas, Edith Harms (1860-1918), quatro dias antes de ser chamado para cumprir o serviço
militar, em Praga. Devido a pandemia de gripe espanhola que matou mais de 20
milhões de vidas na Europa, Edith, grávida de seis meses, sucumbiu à doença e Schiele
morreu apenas três dias depois. Ele tinha 28 anos. SOBRE A OBRA E A VIDA DE SCHIELE - Sobre sua obra, encontramos as publicações Egon Schiele's Portraits
(New Edition
Paperback, 2014), de Alessandra Comini; Egon Schiele: Narcisse
écorché
(Galimad, 2005), de Jean-Louis Gaillemin; Egon Schiele - the Radical Nude (Paul Holberton, 2014), de
Peter Vergo, Gemma Blackshaw e Barnaby Wright; Schiele (Basic Art Series – Taschen,
2018), de Reinhard Steiner; Schiele
(Taschen, 2007), de Wolfgang Georg Fischer; Egon
Schiele: Erotic Sketches/Erotische Skizzen (Prestel, 2005); Egon Schiele: Drawings & Watercolours:
Drawings and Watercolours Hardcover (Thames & Hudson,
2003), de Jane Kallir; Tod und Madchen: Egon
Schiele und die Frauen (Boehlau Verlag 2009) de Hilde Berger; Egon Schiele: vida e obra (Könemann, 1999), de K. Artinger; e a
dissertação de mestrado Identidade e
expressão na obra gráfica de Egon Sschiele (Universidade de Lisboa, 2016),
de Melania Alexandra Pereira Ribeiro. FILMES – Sobre sua vida e obra ainda
encontrei o drama biográfico Egon
Schiele - Exzesse/Egon Schiele: Excess and Punishment (1981), do diretor Herbert Vesely, e outro, o drama/ficção
histórica Egon Schiele - Morte e Donzela
(2016), dirigido Dieter Berner. Veja mais aqui e aqui
A OBRA DE MARGARET ATWOOD
Escrever é deixar uma marca. É impor ao papel em branco um sinal
permanente, é capturar um instante em forma de palavra. Escrever é uma maneira
de a voz sobreviver à pessoa. Uma palavra após uma palavra após uma palavra é
poder.
&
BRINCARTE DO NITOLINO
As novidades
do Brincarte do Nitolino com Algodão
Doce & Poesia Infantil de Luciah Lopez, Contadores de Histórias, As
aventuras de Lunna & muito mais aqui e aqui.