CANTO DE CIRCO – O livro Os gestos (José Olympio, 1957), do escritor pernambucano Osman Lins (1924-1978), reúne treze
contos que foram escritos nos anos 1950, abordando sobre a impotência e
angustia do ser humano. Do livro destaco esse trecho do Canto de Circo: Ergue a cabeça e contemplou o lugar onde
tantas vezes se apresentara para os seus breves triungos no trapézio. No dia
seguinte, desarmariam o Circo – pensava; e na próxima cidade, quando o
reerguessem, ele estaria longe. Nunca, porém, haveria de esquecer aquela frahil
armação de lona e tabique, as cadeiras desconjuntadas, o quebra-luz sobre
oespelho partido e o modo como os aplausos e a música chegavam ali. Baixou os
olhos, voltou a folhear a revista. Em algum ponto do corpo ou da alma, doía-lhe
ver o lugar do qual despedia e que lembrava, de certo modo, o aposento de um
morto, semelhança esta que seria maior, não fosse a indiferença quase rancorosa
que o rodeava; pois, a despedida iminente, só ele sentia. Os colegas – o
equilibrista, aqueles dois que conversavam em voz baixa, todos enfim – sabiam
de sua história e não haviam preparado a mínima homenagem. Pelo contrário:
fingiam desconhecer tudo, procuravam irritá-lo. Ainda há pouco, quando entrara
no camarim dos homens, os que lá se encontravam tinham respondido friamente à
saudação dele, como se fizessem um favor. Sentara-se então num banco, apanhara
aquela velha revista e começara a folheá-la, sem interesse, para fugir ao
contato dessas pessoas que já o haviam excluído de seu mundo e que, desde
alguns dias, raramente lhe dirigiam a palavra – com uma simplicidade afetada,
esforçando-se para dar a entender que sua ausência não seria sentida. Teriam
inveja, talvez. Ou desprezo. Que lhe importava, porém: não precisava delas
[...]. Veja mais aqui.
Imagem do pintor, desenhista e professor português José Malhoa (1855-1033)
Ouvindo Capoeira de besouro (Quitanda, 2010), do poeta, letrista e compositor Paulo César Pinheiro.
PROGRAMA TATARITARITATÁ – O programa Tataritaritatá que vai ao ar todas terças, a partir das
21 (horário de Brasilia), é comandado pela poeta e radialista Meimei Corrêa na Rádio Cidade, em Minas Gerais.
Confira a programação desta terça aqui. Na programação do Tataritaritatá: George Gershwin, Egberto Gismonti, Lenine, Edson Natale, Nana Caymmi, Chico Buarque, Milton Nascimento & Elis Regina, Elba Ramalho & Geraldo Azevedo, Flor de Aruanda, Kleiton e Kledir, Zélia Duncan, Djavan, Selma Reis,, Vander Lee, Sonia Mello, Clara Redig, Elisete Reter, Katya Chamma, Jorge Medeiros, Paulinho Natureza & Sandra Regina Alves Moura, Julia Crystal & Mônica Brandão, Mazinho, Cantor Pitanga, Chiko Queiroga & Ana Vitória, Eros Fidelis, Assis Cavalcanti, Daniel Pissetti Machado, Ozi dos Palmares, Reggaebelde, Apokalypsis, & muito mais. Confira mais aqui.
TEATRO: ARTE VIVA – O texto Teatro: arte viva (Estétita Teatral, 1980), do arquiteto e
encenador suíço do Teatro Simbolista Adolphe
Appia (1862-1928), atacando a estética realista e utilizando elementos
expressivos e simbólicos do teatrão, da música e da luz, influenciando as
concepções modernas de iluminação teatral, expressa que: A arte drmática dirige-se, como as artes representativas, aos nossos
olhosm, aos nossos ouvidos, ao nosso entendimento – em suma, à nossa presença
integral. Porque reduzir a nada – e antecipadamente – qualquer esforço de
síntese? Saberão os nossos artistas informar-nos? O poeta, de caneta na mão,
fixa o seu sonho no papel. Fixa o ritmo, a sonoridade e as dimensões. Dá a ler,
a declamar, o que escreveu; e, de novo, fixa-se no aspecto do leitor, na boca
do declamador – o pintor, com os pincéis na mão, fixa a sua visão tal como a
quer interpretar; e a tela ou a parede determinam as dimensões; as cores
imobilizam as linhas, as vibrações, as luzes e as sombras. – O escultor para,
na sua visão interior, as formas e os seus movimentos, no momento exato em que
o deseja; depois, imobiliza-as no barro, na pedra ou no bronze. – O arquiteto
fixa, minuciosamente, pelos seus desenhos, as dimensões, a ordem e as formas
múltiplas da sua construção; depois, realiza-as no material conveniente. – O
músico fixa nas páginas da partitura os sons e os ritmos; possui mesmo, em grau
matemático, o poder de determinar a intensidade e, sobretudo, a duração;
enquanto o poeta não poderia fazê-lo senão aproximadamente, pois o leitor pode
ler, à sua vontade, depressa ou devagar. Eis, pois, os artistas cuja atividade
reunida deveria constituir o apogeu da arte dramática: um texto poético
definitivamente fixado; uma pintura, uma escultura, uma arquitetura, uma música
definitivamente fixadas. Coloquemos em cena tudo isso: teremos a poesia e a
música que se desenvolverão no tempo; a pintura, a escultura e a arquitetura
que se imobilizam no espaço, e não se vê que maneira conciliar a vida própria
de cada uma delas numa harmoniosa unidade! Ou haverá um meio de o fazer? O
tempo e o espaço possuirão um elemento conciliatório – um elemento que lhes
seja comum? A forma no espaço pode tornar a sua parte das durações sucessivas
do tempo? E essas durações teriam ocasião de se propagar no espaço? Ora é a
isto mesmo que o problema se reduz, se queremos reunir as artes do tempo e as
artes do espaço num objeto. No espaço, a duração exprimir-se-á por uma sucessão
de formas, portanto, pelo movimento. No tempo, o espaço exprimir-se-á por uma
sucessão de palavras e de sons, isto é, por durações diversas que ditam a
extensão do movimento. O movimento, a mobilidade, eis o princípio diretor e
conciliatório que regulará a união das nossas diversas formas de arte, para
fazê-las convergir, simultaneamente, sobre um ponto dado, sobre a arte
dramática; e, como é único e indispensável, ordenará hierarquicamente essas
formas de arte, subordinando-as umas às outras, tendendo para uma harmonia que,
isoladamente, teriam procurado em vão. [...] A cena é um espaço vazio, mais ou menos iluminado e de dimensões
arbitrárias. Umas das paredes que limitam esse espaço é parcialmente aberta
sobre a sala destinada aos espectadores e forma, assim, um quadro rígido, para
além do qual a ordenação dos lugares é rigidamente fixada. Só o espaço de cena
espera sempre uma nova ordenação e, por consequência, deve ser apetrechado para
mudanças continuas. É mais ou menos iluminado; os objetos que lá se colocam
esperam uma luz que os torne visíveis. Esse espaço não será, portanto, de
qualquer maneira, senão em potência (latente) tanto para o espaço como para a
luz. – Eis dois elementos essenciais da nossa síntese, o espaço e a luz, que a
cena contém em potência e por definição. [...] O corpo, vivo e móvel, do ator é o representante do movimento no
espaço. O seu papel é, portanto, capital. Sem texto (com ou sem música) a arte
dramática deixa de existir; o ator é o portador do texto; sem movimento, as
outras artes não podem tomar parte na ação. Numa das mãos, o ator apodera-se do
texto; na outra, detem, como num feixe, as artes do espaço; depois, reúne
irresistivelmente as duas mãos e cria, pelo movimento, a obra de arte integral.
O corpo vivo é, assim, o criador dessa arte e detem o segredo das relações
hierárquicas que unem os diversos fatores, pois ele está à cabeça. É do corpo,
plástico e vivo, que devemos partir para voltar a cada uma dessas nossas artes
e determinar o seu lugar na arte dramática. O corpo não é apenas móvel: é
plástico também. Essa plasticidade coloca-o em relação direta com a arquitetura
e aproxima-o da forma escultural, sem poder, no entantro, identificar-se com
ela, porque é imóvel. Por outro lado, o modo de existência da pintura não pode
convir-lhe. A um objeto plástico devem corresponder sombras e luzes positivas,
efetivas. Diante de um raio de luz, de uma sombra, pintados, o corpo plástico
conserva-se na sua própria atmosfera, nas suas próprias luz e sombra. É o mesmo
que se passa com as formas indicadas pela pintura; essas formas não são
plásticas, não possuem três dimensões; o corpo tem três; a sua aproximação não
é possível. As formas e a luz pintadas não têm, pois, lugar na cena; o corpo
humano recusa-as. [...]. Veja mais aqui.
SOB UM SALGUEIRO – O livro Poesias (Civilização Brasileira, 1912), do poeta, professor e
farmacêutico brasileiro, Alberto de
Oliveira (1857-1937), reúne seus livros Canções Românticas (1878),
Meridionais (1884), Sonetos e Poemas (1885), e Versos e Rimas (1895), que
marcam a sua transição do Romantismo para o Parnasianismo, com temas sobre a
natureza com linguagem apurada e metrificação rigorosa. Da obra destaco o poema
Sob um salgueiro: Dorme uma flor aqui, -
flor que se abria, / que mal se abria, cândida e medrosa, / rosa a desabrochar,
botão de rosa, / cuja existência não passou de um dia. / Deixai-a em paz! A
vida fugidia / como uma sombra, a vida procelosa / como uma vaha, a vida
tormentosa, / a nossa vida não a merecia. / Em paz! Em paz! A essência delicada
/ do ajo gentil que este sepulcro encerra, / é hoje orvalh... cântico...
alvorada / sopro, aragem do céu, talvez, que o pranto / anda a enxugar a uns
olhos cá da terra, / doces olhos de mãe, que o amavam tanto. Veja mais
aqui.
TRAVESSIA POÉTICA – Conheci o trabalho da escritora,
compositora, professora de Literatura e História da Arte e Cinema Valéria Pisauro, no Clube Caiubi de Compositores. Ela se
apresenta assim: Eu sou o ontem e o
amanhã, / Tenho a idade do momento, / Sou pensamento e corpo presente, / Sem
constrangimento... deliberadamente! / Sou estrela de mil faces, / Beta de
Centauro ardente, / Sou a que ri e que chora, / De desejo complacente...
insistentemente! / Eu sou Campinas, Minas Gerais e Manaus, / Cosmopolita, vales
e mata, / Apaixonada pelas palavras, / Escrava da poesia e da música exata...
intensamente! / Sou aquela que passa, / Navegando com o pensamento, / Paulicéia
enlouquecida em festa de Icamiabas, / Sou o consentimento... liricamente! / Sou
Palmeiras, Lula e Guarani, / Maré mansa traiçoeiramente, / Sou Jeca, rancheira
e manauara, / Eu sou Valéria, hoje e... eternamente! Conheci dela o excelente
blog Travessia Poética, no qual ela publica seu trabalho literário, de
pesquisa, leituras, enfim, um ótimo espaço para se conhecer interessantes
postagens. Da sua lavra destaco Cantilena: Num
jardim bem distante / Vivia uma flor. / Semente menina, / Livre cantoria,/
Prosa, poesia, / Maçã de amor. / Regia passaradas, / Brisas, alvoradas / Aroma,
fruto, sabor! / Semeava sonhos, / Céu de outono, / Estrelas do mar. / Bailava
nua, / Anéis de Saturno, / Ciranda da lua, / A girar, a girar... / E ao som da
flauta / Entoava o refrão: / Giramundo, / Giraflor, / Gira a saia da menina, / Nas asas de um
beija-flor. / A vida é sarabanda, / Contra voz, Catavento, / Segue seu caminho,
/ E não para de girar. / Gira as pás do moinho / E o rosto no vento. / Gira a
vida em corrupio, / Nas margens do tempo. Veja mais aqui.
VOLVER – O drama espanhol Volver (2006), com
roteiro e direção do cineasta Pedro
Almodóvar e música de Alberto Iglesias, conta a história três gerações de
mulheres no universo de duas irmãs que retornam à casa da família após a morte
dos pais num incêndio. Segundo palavras do cineasta, trata-se de um relato de
sua própria vida e da região onde nasceu, da infância e do universo feminino,
tornando-se um filme de atrizes. Destaque para premiada atriz espanhola Penélope Cruz. Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
L´amour (Love,
1936-37), fotomontagem do poeta francês Paul
Éluard (1895-1952).
Veja mais sobre:
O direito à informação e qual informação, A formação social da mente de Lev
Vygotsky, O retrato do Dorian Gray de Oscar Wilde, a poesia de Manuel Bandeira,
a pintura de Vincent van Gogh & a música de Gonzaguinha aqui.
E mais:
As funduras profundas do coração de uma
mulher, A arte de
amar de Erich Fromm, a música de Claude Debussy &
Isao Tomita, a poesia de Paul Verlaine & Ledo Ivo, a pintura de Fabius Lorenzi, a arte de Cornelia Schleime & Lula Queiroga aqui.
Fonte, Mal-estar na civilização de Sigmund
Freud, O jardineiro do amor de Rabindranath Tagore, O homem que calculava de
Malba Tahan, Escritos loucos de Antonin Artaud, Amem de Costa-Gavras, a música
de Fátima Guedes, a pintura de Vincent van Gogh, Cia de Dança Lia Rodrigues
& Brincarte do Nitolino aqui.
Mulheres de Charles Bukowski, a poesia de
Konstantínos Kaváfis, O entendimento humano de David Hume, O sentido e a
máscara de Gerd Bornheim, a literatura de Gonzalo Torrente Ballester, a música
de Brahms & Viktoria Mullova, o cinema de Imanol Uribe, a pintura de Monica
Fernandez, Academia Palmarense de Letras (APLE), Velta & Emir Ribeiro aqui.
A paixão avassaladora quando ela é a
terrina do amor &
a pintura de Julio Pomar aqui.
Função das agências reguladoras aqui.
Fecamepa: quando a coisa se desarruma,
até na descida é um deus nos acuda aqui.
A educação no positivismo de Auguste
Comte aqui.
Aurora Nascente de Jacob Boehme, A teoria
quântica de Max Planck, A megera domada de William Shakespeare, a música de
Pixinguinha, a pintura de Marcel René Herrfeldt, Bowling for Columbine de
Michael Moore, a arte de Brigitte Bardot, a Biopoesia de Silvia Mota &
PEAPAZ aqui.
Infância, Imagem e Literatura: uma
experiência psicossocial na comunidade do Jacaré – AL, A trilha dos ninhos de aranha de Ítalo
Calvino, Mademoiselle Fifi de Guy de Maupassant, A mandrágora de Nicolau
Maquiavel, A paixão selvagem de Serge Gainsbourg & Jane Birkin, a arte de
Maria de Medeiros, a música de Cole Porter, a pintura de Odilon Redon, Quasar Cia
de Dança & Sopa no Mel de Ivo Korytowski aqui.
A lenda do açúcar e do álcool, História da Filosofia de Wil Durant, Educação
não é privilégio de Anísio Teixeira, Não há estrelas no céu de r João Clímaco
Bezerra, a música de Yasushi Akutagawa, a pintura de Madison
Moore, o teatro da lenda da Cumade Fulôsinha & o espetáculo de dança
Bem vinda Maria Flor aqui.
Cruzetas, os mandacarus de fogo, Concepção dialética da História de Antonio Gramsci, O escritor e seu fantasma de Ernesto Sábato,
Sob o céu dos trópicos de Olavo Dantas, a pintura de Eliseo
Visconti, a fotografia de Rita-Barreto, a ilustração de Benício & a música de Rosana Sabença aqui.
O passado escreveu o presente; o futuro,
agora, Estudos sobre
Teatro de Bertolt Brecht, A sociolingüística de Dino Preti, Nunca houve
guerrilha em Palmares de Luiz Berto, a música de Adriana Hölszky, a escultura
de Antonio Frilli, a arte de Thomas Rowlandson, a
pintura de Dimitra Milan & Vera Donskaya-Khilko aqui.
O feitiço da naja, Sistema de comunicação popular de Joseph Luyten, Palmares e o coração de Hermilo Borba Filho, a poesia de Mário Quintana, o teatro de
Liz Duffy Adams, a música de Vanessa Lann, a
fotografia de Joerg
Warda & Luciah Lopez aqui.
A rodagem de Badalejo, a bodega de Água
Preta, O analista de
Bagé de Luis Fernando Veríssimo, O enredo de Samira Nahid Mesquita, O teatro de
Sábato Magaldi, a música de Meredith
Monk, Pixote de Hector Babenco, a arte de Vanice Zimerman, a pintura de Robert Luciano & Vlaho Bukovac aqui.
&
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte
do pintor italiano Francesco Hayez
(1791-1882)
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra:
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.
PARTICIPE DA PROMOÇÃO
BRINCARTE DO NITOLINO
Veja detalhes aqui.