segunda-feira, janeiro 20, 2025

ELVIRA LINDO, MARY DI MICHELE, HEATHER MILLS & BAJADO

 

Imagem: Acervo ArtLAM. Veja mais aqui.

Nasci com esse espírito. Desde muito pequeno, gostava de desenhar, de construir. Sempre percebi em mim um interesse pela cor, pela criação... Sou apaixonado por impressão, design gráfico. Não me interesso só pela cerâmica, mas por suportes diversos...

Ao som da performance concerto-instalação Mineral (2019 - Inhotim, 2024) do artista plástico, músico e ceramista Máximo Soalheiro, com direção do músico e sound designer Pedro Durães e um grupo de instrumentistas virtuoses abertos à experimentação de linguagens - tocada com as mãos, baquetas e arco, contando com baixo acústico, percussão, sopro, piano e voz.

 

A pedra cantou & tudo o mais é possível... - Ouvia itamaracá porque sobrevivia, quando nada mais improvável pra quem coadjuvante nordestino pegando bigu pelas beiradas do mundo que mais se esfacelava a cada dia. E ia e pulava itaimbés para escapar dos agrados de mão de figa roçando minha pele, aqui ó! Quando dava nas itapecericas, logo me deparava com as itaquis dum juiz de plantão num tribunal de inexoráveis erínias ocasionais: julgado réu confesso às cegas no meio de algaravias. Quantas crises! E perdia a fé no corte da cana porque os heróis eram cruéis, mais algozes de perto porque todo dia era 8 de janeiro pelos itararés e foi lá onde meu pai perdeu o cetro e a coroa, faz tempo e fui diluído no seu mando derretido pelas itapiras, com os doentes das engrenagens falidas. O leão rugia desdentado aindagora e decidia na careca juba que eu fosse patrão subalterno e foi isso afinal que aprendia porque ali não era nada e o sou até hoje, quase pusilânime porque a santa sangrou e me isolei no quarto das eumênides. Nunca fui alvo pra tiro, ora! Escapei a moer a dor ancestral, a diaspórica afroindiada e os antepassados crivados de balas - era o ovo da serpente no meu calendário enlouquecido. Quase afogado me salvei na itaipava: perdia os dedos e meus pés foram por aí, porque nada era raso e só sobravam as almas sobreviventes escondidas num passado tão presente na redoma do paradoxo epicurista. Quantantanos e ainda itacolomi pelas ondas reverberantes das frequências de maravilha sônica, catando itacorumbis, itacoatiaras, itamotingas, esfregando itamembecas, itapicurus e itaúnas. Não passava dum itaoca pelas itapericas: sobrava meu ageótipo definido em Stonehenge que era aqui na memória sonora revelando os segredos dos druidas. Ninguém (ou)via Pinuccio Sciola e era solstício quando fui engolido pelo redemoinho das itapebas: era o maior nada e a cidade a reboque, só tenho cartas e nada valem – no que escrevo não há solução, sempre processo e reescrita, saiba. E ainda assim eu voo, até outro dia.

 

Mairead Corrigan: Nossa humanidade comum é mais importante do que tudo o que nos divide... Temos que começar pelo fato de que sempre há alternativas à violência... Veja mais aqui & aqui.

Issa Rae: Ninguém sabe o que você sabe como você sabe o que você sabe. A maneira como você vê e sabe das coisas é bastante única, só você sabe... Veja mais aqui.

Angela Davis: Temos que falar sobre a libertação das mentes e também sobre a libertação da sociedade... Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

A GUERRA CHEIRA A MERDA

Imagem: Acervo ArtLAM. Veja mais aqui.

Pretas as horas em que as estrelas brilham no \ céu de obsidiana acima enquanto no horizonte, a lua crescente derrama \ luz leitosa. Não sei se nos veremos \ novamente. Um dia se passou; minha juventude passou. \ O dia todo fiquei sentado entre os vinhedos secos, em meu corpo \ o deserto do tédio. Tudo aqui cheira \ a finais, a merda e pelotões de fuzilamento. \ Eu assombrava os campos não arados, colhia uma prímula \ aqui e ali, respirava o verde. \ As neves do monte Cavallo pareciam flutuar no azul. \ Sozinho eu vaguei pelos campos, caminhando, caminhando, caminhando pelos \ campos infinitamente vazios \ Tudo cheira a pólvora e merda mas a terra é \ uma merda florescendo de qualquer maneira de toda essa merda– \ em flores azuis e amarelas, em brotos tenros nos amieiros. \ Eu quero cuspir até as montanhas mais distantes nas fronteiras \ do meu país, no mar escondido atrás delas, eu quero cuspir \ na cara desses aldeões, desses italianos, desses cristãos. \ Tudo cheira a pelotões de fuzilamento e pés sujos– \ (O que me mantém preso a esta terra? \ Eu devo estar fedendo.) \ Eu não sei se algum dia nos veremos novamente.

Poema da premiada poeta e professora italiana radicada no Canadá, Mary di Michele.

 

UM CORAÇÃO ABERTO – [...] da mesma forma que às vezes somos lançados no território do infortúnio; Outros, graças à coragem, ao desespero e à sorte, encontram a terra prometida. [...] Ele ainda mantinha um pouco daquela antiga lealdade à autoridade que muitas vezes transforma irmãos mais novos em traidores e informantes. [...]. Trechos extraídos da obra A corazón abierto (Booket, 2023), da jornalista e escritora espanhola Elvira Lindo Garrido, que na sua obra Noches sin dormir: último invierno en Nueva York (Seix Barral, 2015), expressou que: […] A vida é costurada por um fio invisível que entrelaça relações caprichosas, mas possíveis, não forçadas por fantasias, das quais os escritores tanto gostam, mas baseadas em coincidências reais. [...], No seu livro Lo que me queda por vivir (Círculo De Lectores, 2010), ela assinala que: [...] Ela não é educada para compartilhar infelicidade. Sua mãe e muitas outras mulheres lhe disseram que, quando a insatisfação é expressada, a pessoa começa a pisar em terreno pantanoso que não leva a lugar nenhum. A infelicidade é algo que deve ser tratado com discrição, diz uma máxima não escrita compartilhada pelas mulheres deste universo rural onde passei grande parte da minha infância. Mas agora que tenho um olhar mais distante sobre todos eles, sei que o que dizem, o que calam, acaba se manifestando na apatia vital, nos tiques, no mau humor, na perda precoce da beleza. [...]. E no seu Manolito Gafotas (‎ Seix Barral, 2014), ela deixa expresso que: [...] Quando algo ruim acontece com você, você tem que pensar que isso vai passar, mesmo que você não acredite, isso vai passar, e às vezes você vai se lembrar das coisas como se tivessem acontecido com outra pessoa. -E como você sabe disso? -porque meu pai uma vez me disse isso [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

SOCIEDADE, CULTURA & CELEBRIDADES - Por que somos tão obcecados com a cultura das celebridades? Temos notícias de primeira página sobre divórcios em vez de notícias de primeira página sobre aquecimento global, sobre mulheres sendo abusadas, sobre crianças sendo abusadas. Estamos entrando em uma espiral descendente... Oitenta por cento do aquecimento global vem da pecuária e do desmatamento... A superação da adversidade e, em última análise, negando-lhe o rito de passagem, tem sido um motivo constante e perpétuo ao longo da minha vida... Foi preciso um erro humano para arrancar minha perna e um erro humano para arrancar a da minha mãe... Pensamento da ativista e modelo britânica Heather Mills. Veja mais aqui.

 

A ARTE DE BAJADO

[...] Teve uma época, que o cabo eleitoral de Ademar de Barros era Augusto Lucena. Eu fui pintar pra ele e outro camarada, que me disseram: «inventa aí qualquer coisa, você não sabe inventar qualquer coisa não. Mas rapaz, eu fiz um quadro do tamanho duma parede dessa, um cartaz: o General Lott com a espada e Jânio Quadros com a vassoura: Entre a espada e a vassoura, o vencedor sou eu... [...].

Pensamento do pintor, desenhista e cartazista Bajado (Euclides Francisco Amâncio (1912–1996), extraído de uma entrevista concedida à Revista Vidas Secas (Editora Universitária, 1980), recolhida do artigo acadêmico sob a temática Redescobrindo Bajado: artista reconhecido, designer esquecido (Anais do 9º CIDI e 9º CONGIC, 2019), de Rafael Santana & Eva Rolim Miranda. A imagem foi recolhida da dissertação de mestrado sob a temática Bajado a poética visual no discurso gráfico: diálogo entre a Semiótica Estruturalista e o Design da Informação (UFPE, 2020), do pesquisador Rafa Santana de Souza. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

ITINERARTE – COLETIVO ARTEVISTA MULTIDESBRAVADOR

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ELVIRA LINDO, MARY DI MICHELE, HEATHER MILLS & BAJADO

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