sábado, março 12, 2016

JESSIVA, BAJADO, TRAJETO FATAL & OUTRAS LOAS!

 Imagem: O boi da vila – óleo sobre madeira, do artista plástico pernambucano Bajado - Euclides Francisco Amâncio (1912- 1996).

TRAJETO FATAL

Luiz Alberto Machado

Dudanildo Pontes era um sujeito bem quisto por ali; gentil, sensato, prestativo e de uma afetividade prestimosa para com todos que requeressem sua atenção. Houvesse o que fosse, quantos aniversários, batizados, casamentos, noivados, despedidas de solteiro, quebra panelas, assustados, quermesses, micaretas, festanças, comemorações, formaturas, reuniões, sessões, audiências, júris, escrutínios, compadrios, testemunhos, féretros, coretos e efemérides afins, destinavam-lhe convites para tudo que acontecesse e lá estava ele presente, prestigiando sempre aquele povinho que efusivamente acolhia sua participação. Para um funcionário de banco oficial, ocupante do cargo de gerente, sendo, pois, aquele corpo funcional o mais abominado pela unânime ojeriza dos dali, verdadeiros portadores de um deus na barriga, caras fechadas, beiçudos intragáveis, chatos de galocha, com um péssimo atendimento dispensado aos que buscassem seus serviços, odiados desde a mais remota descendência até os futuros tataranetos, ganhar a simpatia popular, era, verdadeiramente, um feito inusitado, sem precedentes nos anais históricos da instituição, tida como antipática e distante dos propósitos desenvolvimentistas apregoados pelos maiorais da nação. Nunca aquela entidade financeira angariara tanto prestígio junto aos correntistas e simpatizantes quanto na gestão dele à frente da gerência local, prospectando clientes até doutras localidades circunvizinhas, devido seu cordial tratamento que distoava, segundo bocas gerais, dos demais funcionariozinhos metidos à merda, cheios de pregas, beiços virados, que se encontravam lotados naquela agência bancária. Agora não, acorriam todos para as filas, colaborando, reciprocamente, com a mais cândida figura que aparecera por aquelas plagas. Até candidaturas para vereador, prefeito, deputado ou senador, até para presidente da república, os integrantes de um verdadeiro cordão de puxa-saquismo, lançara seu nome, apoiado por todas as camadas sociais, dos industriais ricaços ao maior maloqueiro pé-rapado, devida a sua popularidade e acolhida por tão hospitaleira populaça, todos uns folgados que já na intimidade o tratavam por Dudinha, espelho inconteste do carinho deles com o seu simpático prestador de serviços.

Prudentemente e com altaneira atitude humílima, Dudanildo se eximia daquelas responsabilidades oferecidas com um não tão bem argumentado, que todos se arrependiam no mesmo instante de tê-lo importunado com tal despropósito. E não parava por aí, convidado para clubes de serviços, associações várias, maçonaria, entidades filantrópicas, cooperativas disso, agremiações daquilo e ele, prontamente, aceitando e sufragando um cheque gordo como doação voluntária, lançando a pedra fundamental para uma estreita amizade entre ele e todos os munícipes. Era paraninfo disso, patrono daquilo, teve até um tempo que fora patrono e paraninfo de todas as escolas de Alagoinhanduba, presenteando todos os formandos e agraciando os corpos docentes e discentes de qualquer educandário da cidade, com uma dádiva qualquer, marcando presença em todos os festejos. Não faltaram convites de outras localidades da região, dada a popularidade adquirida, ultrapassando fronteiras. Fosse piso de paróquia ou teto da associação dos Biriteiros, ou banca escolar, ou apadrinhamento de um órfão que acabara de rebentar, ou, outrossim, era uma fila de pedintes atendidos em suas requerências. De fato, ele era um verdadeiro sangue bom, altruístico até dizer basta, e tudo isso aliado a uma simpatia exuberante, um porte atlético que lhe conferia uma beleza rara, uma elegância impecável e muito gentil no modo de falar, de vestir, de caminhar; um protótipo exato de Deus para aquele povinho crédulo, a ponto de compará-lo às virtudes de Jesus, só faltando os milagres para completar a deificação. E não bastando teve gente até que numa das homenagens prestadas ao bom samaritano, chegou ao cúmulo de erguer uma estátua de bronze em agradecimento aos seus serviços prestados, com inscrições elogiosas por sua conduta ilibada e admirada por quem quer que fosse. Fato, deveras, bastante constrangedor para ele que, abstendo ao estardalhaço da desproposital homenagem, preferiu fosse removida para o jardim de seu palacete, para que não se afigurasse qualquer adoração à sua pessoa, ficando reclusa apenas ao seu reduto residencial, como sinal de gratidão aos amigos afetuosos. E isso fora pouco, de título de cidadão honorífico a comendas inventadas pelos baba-ovos de todo tipo de associação e ajuntamento de gente fora atribuído a ele em festanças ruidosas.

Doutra feita, o prefeito Zé Pabo, recém-empossado no cargo, mal sentara na cadeira da prefeitura e dera de fazer anunciar a maior valsa de debutante para a filhinha querida, partido mais cobiçado da paróquia e sensação geral dos marmanjos, da turma do gargarejo e de todos os eleitores. Estava armando um circo enorme para agitar a mundiça, encobrindo outros propósitos escusos dali para frente na sua administração. Dizem, claro, as más línguas, que o prefeito só angariara mesmo êxito no pleito eleitoral por explorar as formas generosas da filha adolescente, num pirotécnico show de exposição pública, regado a reboladas e umbigadas dela com a plebe ignara. O anúncio da festa de aniversário dela causou o maior rebuliço. E já tinha nego até de um olho só esperando os quatro meses que se separavam daquele retumbante evento. Não havia macorongo que não quisesse testemunhar a graciosidade da moça. Era a sensação que encobriria os desmandos de Zé Pabo. E ele sabia disso e, como marketing, botou a franguinha jeitosa logo no front. O primeiro convite fora para o Dudanildo, com uma observação em letras garrafais e mal escritas pela caligrafia analfabeta do edil, que, ainda por cima, escrevia por sílabas repetidas como se fosse gago até na escrita, alegando que não se aceitaria, sob hipótese alguma, a ausência dele naquele acontecimento ímpar. Dava trabalho traduzir aquela garrancheira, mas ele se valia da intenção. Claro, não se comemora quinze anos mais de uma vez, principalmente do xodó da cidade. Ao lado da assinatura estava um recadinho exclusivo com letras miudinhas e inseguras da jovem tratando-o por tesão lindo e que ele não poderia faltar, estava intimado, assinado, sua Lurdinalva.

O recato do Dudanildo não permitiria tal provocação visto não ser ele nenhum papa-anjo, nem levando em conta a ousada forma como a menina se expressara no perfumado convite. O certo é que a presença dele viraria noticiário nas emissoras de rádio e proporcionaria ao prefeito um maior índice de popularidade. Pois tá.

Foram pra mais de meses organizando o baile, tudo nos mínimos detalhes do maior aparato ruidoso que se pudesse imaginar por ali, enquanto Zé Pabo engalobava algumas somas subtraídas do erário público em defesa de seu interesse próprio. E afanava despudoradamente cônscio de que não haveria Câmara de Vereadores nem Tribunal de Contas que resistisse a uma rabissaca da filha. A Lourdinalva, entretida com seus devaneios juvenis, ficava o tempo todo ligando para Dudanildo, sussurrando arroubos sentimentais e cobrando a sua presença na festa, insinuando que estaria mais linda que nunca, somente para ele. Dudanildo não dava corda e alegava que talvez algum compromisso inadiável impossibilitasse de presenciar a valsa. mas que faria o impossível para estar presente, em carne e osso.

Na hora e dia previstos lá estava, acompanhado de sua elegante esposa, Gina Célia, e da filha púbere, Lucrécia Diva. Um trio perfeito e invejado, elegantemente extraordinários, maravilhosamente trajados e fatalmente admirados, centro absoluto de toda atenção. O óbvio é que a presença deles, isto é, do casal, enciumou a aniversariante que entabulou alguns ardis para ofuscar a presença dos tais. E tome requebros de arrepiar até padre enclausurado no meio da mais fervorosa emoção no púlpito.Os grã-finos da cidade estavam imitando a indumentária, os cacoetes e gesticulações deles, visto, serem eles, Dudanildo e família, o referencial maior para os modismos que entrassem em vigor em qualquer ocasião. E o paparicado corria solto, com tudo do bom e do melhor para os Pontes, inclusive, um garçom exclusivo à sua disposição. Se se fosse espirrar, centenas de lenços afloravam; se ia dar esmolas, chacoalhada de moedas sacadas por dezenas de bolsos outros para poupar-lhe o incômodo; se tencionava descer do automóvel, já tantas mãos puxando a maçaneta para facilitar o desembarque onde quer que fosse. Era um rebuliço quando eles chegavam a qualquer local.

Justo naquela ocasião, aparecera Giba Jibóia, empreendedor forasteiro que chegara à cidade por vitória duvidosa numa licitação pública local, visando a construção de obras propostas pelo prefeito. Bom papo, todo cheio de agá, muito lero-lero, closes na gesticulação exagerada dele, imponência forçada, pavoneado exibicionista, enfeitiçara o maioral com uma comissão vantajosa e propunha aplicação de valor estimado em alguns milhões de reais ao gerente, no meio da festa regada a uísque escocês falsificado no enchimento do próprio gestor público, iguarias variadas e muito arrastado de pé na dança, no maior despropósito sem conta. Conseguira mesmo assim impressionar Dudanildo que nunca saíra do sério com volumes que fossem de dinheiro, visto que tivera em sua carteira, noutras agências, clientes em potencial, proprietários de investimentos que ultrapassavam milhões e milhões repousando em suas respectivas contas correntes. Giba, um pouco contrariado com a constatação altiva do Dudanildo, naquela ocasião embaraçosa, dera por atenção a Lourdinalva que cativara com sua beleza estonteante, o seu coração, flertando e dirigindo cordialidades excêntricas à debutante. Ela também se empolgou com as investidas do forasteiro e, conta-se à língua solta, que, devido tal circunstância, a mimosa, dias após, envolvera-se com o sujeito, perdendo os selos protetores em visitas escusas ao apartamento do hotel onde se instalara o Giba. A coisa ainda figurava nos abafos da coisa proibida, sob o manto das aventuras escondidas, mas que Giba gostaria logo que se tornasse pública pela sua mania de exibição. Ele minuciosamente delatava a ouvidos outros e aos cochichos, os detalhes de tal conquista bem como todas as peripécias sexuais praticadas com a inocente. Depois da festa este era o assunto de todo disse-me-disse entre fuxiqueiros e delatores de bares, barbeiros, sapateiros, manicures, pescadores, caçadores, consultórios, filas e recepções.

E se passara o tempo e houve um estreitamento nos laços de amizade entre o bancário e o empreendedor astuto, a ponto do esnobe presentear um carro zero quilômetro na festa de aniversário de Gina Célia, mais uma de suas astúcias forjadas na maior camuflagem com décimas intenções. Alguns outros menos desavisados ligaram o disconfiômetro e assinalaram logo para o galanteio do metido pras bandas da mulher do Duda, ferindo o brio de seus amigos e simpatizantes, fato que fora esclarecido como mera cortesia para a presenteada e seus familiares, não havendo outro que não este, apenas, por motivo. Sim, escusas, mas que deu no que falar, deu. O certo é que Duda, Gina Célia e Lucrécia Diva, pela imponência natural, jamais se misturariam com tão escuso elemento. Se fora audácia sequiosa e ousasse algum retorno lucrativo disso, obtivera, apenas, indiferença. Pela insistência dos presentes, adornos caros, joias raras, brilhantes, produtos de um requinte bem aquinhoado, conseguira Giba, finalmente, chamar a atenção deles. Não mais que isso.

O tempo se passara e a obra corria solta esbugalhando os olhos surpresos dos comparecentes que ali acorriam com o fito de fiscalizar tão gigantesca empreitada numa administração tão desprezível quanto a de Zé Pabo. Ninguém ainda sabia no que ia dar aquilo, um monte de catrevagem desarrumando a cidade com um maquinário pesado e diverso, como se fosse construir uma pirâmide pelo aparato da obra. Havia um montão de realizações faraônicas, todas frutos de um entusiasta extravagante e deploravelmente despreparado. Mas mesmo assim, fora a admiração por Duda, depois do estardalhaço da sedução do Giba por Lourdinalva, que a obra chamara a atenção. Visto que ardilosamente o prefeito anunciou ser em sua homenagem que aquele patrimônio seria construído. E colocou logo uma placa: do povo de Alagoinhanduba em homenagem ao seu maior servidor: Dudanildo Pontes. A negada até se esquecia de descobrir o que era, mas já que era para o Duda, estava bem feito. Todo mundo mordeu a corda e estava o dito pelo não dito. Enquanto isso, a roubalheira corria solta no Palácio do Capim, onde uma corriola fazia festa com as verbas oficiais. Era nego enricando do dia para a noite.

Certa hora da tarde de dias depois invadira Giba o gabinete do Dudanildo, objetivando contrair um empréstimo emergencial. Duda nem pestanejou e dispôs imediatamente da quantia solicitada na conta corrente do requisitante. Mais dias depois o contraente liquidava a duplicata na presteza do vencimento. A partir daí as visitas do Giba ao gabinete do Duda resultaram em papagaios creditícios outros que foram acontecendo durante o enlace, concomitantemente, já se acostumando pelas solicitações e óbvias liquidações, às vezes, antes do período aprazado por eles.

Meses mais depois e bote meses nisso, quase ano, uma nova transação os estreitava, desta vez com o desconto de um volume de duplicatas bastante avultado, visando complemento de capital para tocar a obra que andava meio lenta àquela altura do campeonato. Era um montante duma exorbitância tal que Dudanildo deu uma freada de hidrovaco na situação. A negativa pegou Giba de surpresa, mas não se fez de rogado, passou na cara os presentes dados por ele aos seus familiares e que não era oportuna aquela negativa seca, tratando-se de pessoa tão caridosa e de boa índole como ele, numa transação temporária que traria lucros, tanto para o solicitante, quanto para a instituição financeira em questão, que avaliaria o resgate das duplicatas como sendo um dos maiores negócios transados naquela agência. Mais amiúde citou Giba que tendo em vista atraso no repasse da conta única do governo, descapitalizara na manutenção das obras empreendidas. Era verdade. Tal situação levara Dudanildo a pensar um pouco, deixando para aprovar o cadastro no dia seguinte. Naquela noite ele pensara muito, era muito dinheiro em jogo e tal contrato poderia comprometer mais de vinte e seis anos de funcionário exemplar no banco. Não, resolvera que na manhã seguinte negaria o desconto. E mal começara o expediente, o opulento replicante se encontrava como sempre arrotando riqueza e com um bafo de superioridade capaz de domar qualquer inexorável opositor. Duda não deu fôlego ao folgado e negou taxativamente. O insistente aí deitou argumento pesado, justificando em quase duas horas de discurseira, a razão porque ele deveria acatar seu pedido. Irredutível estava e assim ficou. O pretendente recorreu às razões mais recônditas que se podiam existir, usando de um arrazoado absurdo com inconvenientes abusados de que não poderia quebrar no meio do caminho de uma obra caríssima e que honraria até sua inauguração. Não! Empertigado, não conseguindo esconder um certo nervosismo, Giba recorreu a um golpe baixo, oferecendo propina, trinta por cento do valor desejado a título de comissão. Não! Tentando controlar a situação, Giba deixou a proposta de condição para que ele pensasse um pouco, não assim de supetão, que por ser sexta-feira, aguardaria a resposta para a segunda, claro com a devida aprovação e liberação da verba pretendida na sua conta corrente. Dudanildo estava irredutível. Para não enfrentar o duro gerente e ganhar tempo para retomar a situação, Giba deixou por pendente tal disputa até a segunda-feira. Duda repisou, repensou, renegou, se sacrificou horas e horas com o pensamento de jamais macular sua imagem, maquinando uma maneira de efetivar o caso sem que ninguém tomasse conhecimento até o resgate das duplicatas em questão, concatenou tudo, virou a sexta em claro, o sábado absorto, o domingo fatigado até que chegou segunda e Giba, insolentemente, se assentara confortavelmente na poltrona da gerência, aguardando o sim requerido. Demorou horas numa lengalenga, uma verdadeira encheção de saco, muita lamúria, várias clemências, um labirinto de recomendações, juras, súplicas, comprometimentos, promessas, quando por fim, não aguentando mais, Duda tomou a decisão. Autorizou a transação e embolsou polpuda comissão, transferida imediatamente para a conta da esposa noutra instituição bancária, evitando o flagrante de tal fraude. Giba ensolarou, beijou-lhe as faces e as mãos, agradeceu insistentemente, com jura de mãos e pés postos perante a cruz que resgataria tudo em trinta dias. Fora o mês mais rápido na vida do Duda que não descansava o sono repisado pelo pesadelo de um calote possível.

Quarenta dias após o trato, estava a dívida pendente, passando pelos mais diversos departamentos, se alimentando cada vez mais de uma avalanche de problemas, com cada responsável por setor livrando-se da batata quente como podia para escapar de futuras agonias que ameaçava o fato. Duda cambaleou pela primeira vez na vida. E se via desmoronando em queda livre.

Mais dois dias depois uma auditoria implacável remexia tudo fiscalizando todas as contas da agência. Ele nem dormia de noite, sob olheiras aparentes e uma tremedeira sem fim, não conseguia sequer balbuciar a mais tênue palavra. Saindo do marasmo ele foi procurar o Giba que se evadira três semanas antes do vencimento, não descobrindo seu paradeiro. Soubera, apenas, que o intrépido fugira com a filha do prefeito para lugar incerto e não sabido, tomando ciência que o político o responsabilizara pelo acontecimento. Fora iminentemente informado por parentes da fugitiva que o pai preparava um plano para separá-lo da mulher entregando a própria filha para um casamento pomposo, visto que sonhava tê-lo por genro. E agora? Recorrera à claque, aos simpatizantes de sempre para formação de uma corrente no sentido de salvar seu emprego e angariara, apenas, repulsa. Não esperava ele que encontrasse portas fechadas. Zé Pabo sequer quis recebê-lo, desautorizando até qualquer funcionário da prefeitura a fazê-lo sob a ameaça de demissão sumária. Estava sozinho, envergonhado. A bomba estourara e seus estilhaços chegaram às mais maldizentes línguas, propulsoras dos enredamentos maledicentes, tão peculiares em qualquer provinciazinha brasileira.

Oito dias após a conclusão da auditagem, uma demissão por justa causa abalara suas estruturas. Cadê Giba que não dava as caras? Confiscaram seus três automóveis, duas residências em Brasília, uma fazenda em Goiás, um barco de pesca e uma casa de praia em Tamandaré, saldos de duas contas correntes e três cadernetas de poupança doutros bancos, deixaram-no liso, sem crédito e sem ter onde cair morto. A mulher e a filha ele mandara embora para não sofrerem o achincalhe tão comum nestas ocasiões, ficando solitário em sua inominável situação. Estava sozinho e recolhera seus pertences, sobraram poucas migalhas: um anel de formatura do curso de administração de empresas; algumas fotos risonhas ostentando suas anteriores posses e familiares; alguns contracheques, os quais ficou horas olhando seus vencimentos; um álbum de fotografias da Lucrécia Diva desde o primeiro dia de nascimento até então; porte obrigatório de anos anteriores dos veículos de sua propriedade; um bilhete de Gina Célia e Lucrécia Diva com a inscrição de “Nós te amamos!”; sua carteira de identidade e outros documentos, cartões de crédito vencidos, nenhum centavo; uma medalha de honra ao mérito/1982, concedida pela Associação Beneficente das Senhoras de Caridade de Alagoinhanduba; um troféu gerente do ano/1985; e um revólver calibre 38. Lá pelas tantas um estampido quebrou o silêncio que tomava conta da sua vida. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui

Imagem: A mulher com cesto na cabeça, do artista plástico pernambucano Bajado - Euclides Francisco Amâncio (1912- 1996)

 A edição de hoje é dedicada especialmente à professora e bibliotecária Jessiva Sabino de Oliveira. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

E veja mais a canção Crença, Gabrielle D´Annunzio, Jack Kerouac, Al Jarreau, A princesa que amava insetos, José Antônio da Silva, Edgar Rice Burroughs, Benício & Kristen Stewart aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A bibliotecária Tataritaritatá!
Veja aqui e aqui.
 

KARIMA ZIALI, ANA JAKA, AMIN MAALOUF & JOÃO PERNAMBUCO

  Poemagem – Acervo ArtLAM . Veja mais abaixo & aqui . Ao som de Sonho de magia (1930), do compositor João Pernambuco (1883-1947), ...