GOYA & OS MUITOS NOMES DELA – Os muitos nomes dela, todos são uma só: uma obra-prima do universo. Nua
e linda, ela é a bela Maria del Pilar que é Teresa e Cayetana
e duquesa imortal; a linda e minha
Pepita Tudó, minha Olympia de Manet, La Maja Desnuda: a expressividade dos seus
olhos, seu brilho e delicadeza de nenhum recato, os braços sobre a cabeça, o
dorso desnudo, o púbis oferecido entre as coxas do paraíso - o corpo
resplandecido vive para a glória dos mortais! Que seja sempre assim, uma cigana
audaz e atrevida na moldura dupla ao alcance da mão. Eu removo a tampa e ela
atrevida, de corpo inteiro, na otomana de veludo verde, deitada placidamente no
leito, em diagonal, sobre as almofadas de seda e lençol bordado, olhando para
mim. Só para mim e minha. Que seja sempre assim, nobre nua e linda fujona
lendária e tempestuosa inspiradora em mim o sonho possível. Que seja sempre
dia, ou mesmo a noite escura para eu me perder em suas sombras sobre os lençóis.
Não há como aplacar a fuga para os meus braços, sou peito aberto para sua
âncora, todo seu. Que seja sempre um dia a mais, outra se quiser: em mim
inteira como a lua na hora estrelada. Que esteja sempre de volta: as escapadas
levam-me para sua alcova em Sanlúcar de Barrameda - o refúgio das loucuras mais incendiadas. Que seja sempre
imprevisível nas poses eróticas da nossa fantasia, María
Teresa: sou sua emanação disfarçada de pilão nos festivais populares das
celebrações escandalosas pelo mergulho dos prazeres, para
sedução dos que se arrastam atrás dos seus cabelos negros e cacheados a
esconder sua face, para que eu possa descobri-la mais linda que nunca! Que seja
sempre sorriso, satisfeita de si, contente com suas graças ao
meu dispor: formosa mulher real e nua entre os meus braços. Que seja sempre a
entrega e em mim a protagonista suspirante e eu a amo para esquecer o terror do
Santo Ofício e todas as coisas mundanas da servidão. Que seja como o vento: a palpitar
sem pretextos, viúva iluminada com a franqueza da nudez de sua natureza
impulsiva, imantando a minha cobiça com sua penugem púbica farta, aguçando a
minha obsessão por tê-la agora e já, tão obscena quanto para furor da
Inquisição e o escândalo da filatelia espanhola. Que seja sempre lei, serei absolvido
na sua carne e gozo. Para mim, é ela o amor mais
que libertário; para ela, sou uma lenda real: a beleza nua feminina jamais poderia ser crime porque sou réu, apenas a
celebração da vida triunfal! Enfim, dos muitos nomes dela, as muitas que são
nela e são tantas e dela, todas são só para mim. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: Santa cana que está na roça, aguardente sem
mistura, venha a nós o vosso liquido, pra ser bebida à nossa vontade, assim no
boteco como em qualquer lugar. O garrão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai
as vezes em que bebemos menos, assim como perdoamos o mal que ela nos faz, não
nos deixeis cair atordoados, livrai-nos da radiopatrulha, amém. Oração da cachaça, extraída da obra Dicionário do folclore brasileiro
(Global, 2001), do historiador, antropólogo, advogado e jornalista Luís da
Câmara Cascudo (1898-1986). Segundo o autor, a cachaça tem muitos nomes e
está em toda parte e o bêbado inveterado, ao encostar no balcão, oferece o
primeiro gole ao santo protetor, Santo Onofre, depois conta a sua mentira ou
verdade: Bebe o chefe de polícia /
particular ou escondido, / o padre por mais sabido / toma seu trago na missa. /
Eu também tive notiça / ou por outra ouvi dizer, / e tanto que posso crer / no
dizer de certa gente / que bebendo o presidente / não é defeito beber. Veja
mais aqui, aqui, aqui & aqui.
ALGUÉM FALOU: [...] àquelas bandas tinha razões que só o seu
coração podia explicar. Ele estava perdido de amor por uma moça bonita chamada
Susana, que vivia na mais pobre choupana à beira do Boqueirão, com um coqueiro
solitário à porta. Escondendo-se por trás de uma moita, o vice-rei a
contemplava à distância, adorando-a platonicamente. Esse amor secreto o teria
levado à decisão de aterrar a lagoa. [...] arborizou toda área. Também fez um jardim, no qual colocou pavilhões
fechados, com murais e muitas obras de arte, entre elas a Fonte dos Amores.
Para esta, ele fundiu dois jacarés de bronze entrelaçados. Por ordens do
apaixonado vice-rei, Valentim pôs nessa fonte um coqueiro de ferro. Era uma
reprodução daquele que havia à porta da bela Susana, a musa inspiradora da
construção do Passeio Público, que em tempos menos perigosos deve ter sido um
lugar tranquilo para os namorados. Resta-nos imaginar se a história da beldade
plebeia teve ou não um final de um conto de fadas. Trechos de A bela Susana do vice-rei, extraída da
obra Sobre pessoas (Leitura, 2007), do premiadíssimo escritor, jornalista e
ocupante da cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras, Antônio Torres. Veja
mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
A POESIA DE
VIRGINIA LEAL
TALARIUS LUDUS - Ah, decifra-me e te devoro / porque dos verd(azuis) / nada deves s(ab)er / e no jogo
{inter_}valar / - pleno de frinchas / e mistérios - / há peças {i_}matéricas / vitais. / Esse
(vi)ver nas intensidades / é para as retinas dos homens / polissêmicos e
{sur_}reais.
ABIDĬTA (da Série
“Mulher revolt(S)ada") - Não foi o mar / a
lhe tirar a grav{idade} / e fazê-la da(nç)ar / em nu e cru silên{cio} / Não foi
o mar / a beber a {leve}za / (d)a ausência de rochedos / em uma tarde de
inverno. / Não, definitivamente não foi o mar / a te(ce)r distâncias / vindas
de um deus / estranhamente melancólico... / Ah, foi aquele olhar lunar / tão
indefinido e belo / trazendo em meio a tantos modelos / uns certos sapatos sem
asas... / E tudo se passou / no entre minutos / de conversas / casuais e / adjetivas...
/ Até que nomes próprios / familiares / puseram-lhe nos calcanhares / o peso
perdido... / E sem risos / cheios de banalidades / viu nas castanhas íris / que
ele sendo lunar / não se sabia (l)ivre / para flutuar / com a física e as leis
/ que os atraía por um certo peso / - um modo de estar no mundo / sem calçados
{voa}{dores}... / Foi nesse instante que / desejou ser um rio / com foz e
nascente / uma linha sem fluxos / vista em um monitor / - uma linha reta / final
- / um sol sem {amar}{elos}.
INSUSPICABILIS (da Série “Mulher revolt(S)ada") - De cá olhou ao longe / a outra margem / e
sem um traço sequer / de ruas, avenidas, / alamedas,
córregos e becos / ali estava um cinza rio / tão cinza que suas águas / tiveram
roubadas / dos céus, dos mares / e até da terra / – segundo Gagarin – / aquele
profundo e enigmático / azul. / Dele não vinha nada / nenhum peixe,
nenhuma palavra, / peça alguma que / à guisa de gancho / (fosse de pescaria,
poema / ou xadrez) / pudesse lhe tirar / das retinas líquidas / o sal com que /
os lunares olhares / temperaram / pontos e linhas. / Mas, de repente, tudo
girou / - o movimento é mesmo / a forma de conter a morte? / E de cá e de novo
olhou a margem / com novas águas a dar ao azul / os seus substantivos, ainda que / fosse
apenas em um pássaro.
SEMPER AMARE Série “ Mulher revolt(S)ada” - O que virá de teu acutilante olhar / para além de enigmáticos laivos
lunares? / Serão sístoles ou diástoles? / Espera amiosante - o amor / é um
calafrio entranhamente solar.
VIRGÍNIA LEAL – Poemas da poeta e professora Virginia Leal, doutora em Semiótica e Linguística Geral pela USP e
Université Paris X- Nanterre (1999). Ela é professora dos Programas de
Pós-graduação em Letras (PPGL) e em Direitos Humanos (PPGDH), da Universidade
Federal de Pernambuco, orientando diversas investigações, tanto de mestrado
quanto de doutorado, além de supervisões de pós-doutoramento, no cruzamento de
temas tais como mídia, discurso e direitos humanos. Foi coordenadora de
diversos acordos de cooperação nacional e internacional, dentre os quais
destacam-se o acordo com a Brazilian
Endowment for the Arts (BEA- NY/USA)) e a Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra/Portugal. Foi diretora do Centro de Artes e Comunicação
(CAC) no quadriênio 2008-2012 e coordenadora do Programa de Pós-graduação em
Direitos Humanos (PPGDH) no biênio 2014-2016. Possui diversas publicações em
periódicos especializados e em livros. Veja mais aqui.
A ARTE DE SUSANNA MOTA
Hoje se você me perguntar o que eu faço eu
vou frisar que sou uma pessoa que gosta de criar imagens, seja através da
ilustração, da tatuagem, do design ou de qualquer outra coisa, sem me impor
limites.
A arte
da artista visual, ilustradora e tatuadora Susanna Mota. Veja mais aqui.
A OBRA DE D.H. LAWRENCE
Temos de viver, não importa quantos céus
tenham caído.
&
A OBRA
GOYA
O sonho da razão produz monstros.
PS: O
grande amor do artista foi a nobre espanhola Duquesa de Alba (Maria del Pilar Teresa
Cayetana de Silva e Álvarez de Toledo - 1762-1802) que foi representada na obra
La Maja Desnuda, história essa levada
ao cinema em 1958, dirigido por Henry Koster, estrelado por Ava Gardner, e do
livro homônimo de Samuel Edwards (Cultrix, 1961).