AS CANÇÕES PARA THERESE – Não pertenço mesmo a este mundo, sempre fui o atarantado menino voz de
soprano que nunca cresceu, ouvidos de algodão e caído no meio dos corredores de
pedra, quase consumido pelo horror das granadas do bombardeio terrificante,
espatifando janelas. A paz se foi e o coração doeu desde então até
o sangradouro de agora. A vida suspensa pelos óculos
com aros de aço, tímido incorrigível e atrapalhado com as palavras, desajeitado
lacônico, um obscuro míope recluso no ócio das horas do quarto silencioso.
Esse, o meu mundo. Guardo o momento em que cantei pela última vez num domingo
de julho. O violino me iluminava com as chamas das velas de sebo e guardava a severa
e atemorizante reprovação de Beethoven. Vivi sobre a corda da escolha: entre o
salário regular na vida pesada como aristocrata da fraternidade dos esfomeados,
ou a morte em vida pela música. Não olvidei das tolas composições, fracassei na
matemática: um poema sobre a sabedoria de Deus e a necedade do homem – optei pelas
privações. Ah, minha mãe coberta de razão: sempre fui um inútil estúpido e
ocioso. Ah, meu pai sempre me teve por um anêmico recusado da prisão de uma escola
normal e do serviço militar compulsório: sou um material deficiente para a
morte, um simples gorducho apalermado. Os poucos ganhos, sabe-se lá como, eram
logo gastos, fugiam-me às mãos pelos ventos irreparáveis: vivia à beira da
indigência. Meus olhos só viam a voz encantadora de Therese, só a ela e eu
podia ser feliz. Eu a amei, muito, demais. Para ela cento e cinquenta canções
inspiradas, todas as canções de quem fora recusado: faleceu a minha fala, nem
mesmo adeus. Tudo se foi, o fervor da minha paixão trocado pelos biscoitos do
padeiro. Fui enxotado, cão sarnento, coisa asquerosa. Ela indiferente: não
valho mesmo nada, sei. Restou-me a solidão do meu cachimbo nas notas do Eri-King de Goethe, ele também ignorou. As
sinfonias, a ópera e as numerosas canções nunca ouvidas: dormiam nas gavetas
abandonadas, jaziam meus sentimentos profundos e a minha dor por Therese: o
amor me pagou com aflições, levou-me à dieta com cerveja, canções e tristezas. Não
me envergonho dos fracassos e a pobreza me amargura - um copo de vinho, por
favor. Não consigo me livrar daquela que tanto amei, não sei mais nada. Vendi
todos os direitos e prêmios por merrecas, sonho recorrente com meu pai me
esbofeteando a me jogar fora de casa. Nada mais restava. Os antros dos prazeres
de meretrício fizeram a minha vida a Sinfonia
inacabada. Sou nada, apenas a teimosia: quando o
reconhecimento está distante, a honra medra nada. Impaciente com os padrões do mundo: vermes rastejantes e roedores que
apodrecem no pó e matavam em mim todos os céus. Sucumbi minado pela enfermidade
e decepções contínuas. Salvou-me, por um instante, A serenata: não sabia que era tão bonita. O alento para A última sinfonia e as jornadas de
inverno. Era a minha triste música: ela confortará a todos, porque ouvirão o
anjo que chama por mim. Por fim, enterrei o mestre, brindemos: serei o próximo
a ser sepultado no esquecimento. Nunca pertenci a este mundo, todos meus
tesouros esfacelados e esperança dissolvida: a morte arrebatou-me o corpo. Ninguém
me venceu, sou pássaro a voar e a imortalidade guardou-me a alma: caminho entre
as estrelas. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Procura provar que é mentira considerar o
negro uma aberração do “normal”, que é ser branco. É a manifestação de uma nova
percepção de que, ao procurar fugir de si mesmos e imitar o branco, os negros
estão insultando a inteligência de quem os criou negros. [...]. Trecho extraído dos panfletos Escrevo o que eu quero,
do médico e ativista sul-africano Steve
Biko (1946-1977), idealizador do Movimento de Consciência Negra, assassinado
brutalmente pela polícia racista do apartheid.
Sua vida foi registrada no filme Um Grito de Liberdade (Cry
Freedom - 1987), dirigido por Richard Attenborough e baseado nos livros de
Donald Woods. Trata-se de um relato da amizade entre dois homens, o editor
liberal de um jornal e o ativista negro sul-africano. Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: As pessoas estão sempre encorajando-se mutuamente a fazer coisas que a
outra pessoa não fará. E depois, levam o maior susto quando a pessoa realmente
faz. Ninguém sabe quanto é forte até precisar ser. Na verdade, a vingança não é
nenhum prato - É uma emoção. Ou qualquer outra coisa. Com a qual não vale a
pena a gente perder tempo. Eu me sentia como se estivesse no inferno. E
compará-lo com o inferno de outra pessoa não diminui em nada a dor do meu. Não
é obrigatório que um ser humano esteja acompanhado para ser feliz. Liberdade é
apenas mais uma palavra para definir a situação de quem não tem mais nada a
perder. Na vida real, muitas vezes é quase impossível dizer qual a decisão que se
deve tomar, porque o que se ganha e o que se perde muitas vezes são
equivalentes. A sorte anda com os corajosos. A vida é tão, tão preciosa.
Pensamento da escritora e advogada irlandesa Marian Keyes. Antes de se tornar escritora, ela trabalhou como
garçonete e em escritórios em Londres, lutando contra o alcoolismo e a
tentativa de suicídio.
O TEATRO DE JOANA
BAILLIE
[...] Uma peça é certamente mais perfeita para ser montada no
palco, assim como o armário, e por que não deveria apontar com toda a minha
força para fazer as coisas o mais perfeito possível, por mais curto que eu
possa cair no mercado? [...] não portanto, você encontra falhas em mim
ou aumenta o número daqueles que são para discretamente me deixar de lado como
escritora de guarda-roupas. Eu ainda vou continuar tendo minha bateria e minhas
trombetas, e minhas situações marcantes e minhas cenas laterais e minhas cenas
de fundo, e todo o resto em minha mente, sussurrar Eu escrevo, apesar de tudo o
que você pode dizer em contrário. [...] Mas a dor da mulher é como uma tempestade de verão. Por mais curto que
seja violento. Um coração disposto acrescenta penas ao calcanhar.
JOANA BAILLIE - A dramaturga e poeta britânica Joanna Baillie (1762-1851) escreveu seu primeiro texto teatral
Arnold, não obtendo êxito. Em seguida ela publicou uma série de volumes com o
título Plays on the Passions, o primeiro deles A
Series of Plays, desenvolvendo ora
tragédias e comédias, algumas intituladas como Basílio, Julgamento,
De Monfort, Ódio, entre outras. As tragédias Kayner
e Constantino Paleólogo, foram
reunidas no volume Miscellaneous Plays. Referências recolhidas do
estudo A facilidade do apagamento da
história: ‘Orra’, a rasura da voz feminina e a tragédia na loucura (Matraga.2019), da
professora e pesquisadora Vanessa
Cianconi. Veja mais aqui e aqui.
A ARTE FOTOGRÁFICA DE NATALI PAIVA
[...] Entendi desde muito novinha que conhecimento é a ferramenta do poder, e
só a sabedoria guia esse fluxo. Até porque, o controle é tão ilusório como
querer impedir o nascer dos sonhos. Todo mundo sonha, dormindo... Acordado.
Quando duvido muito e sinto a onda do conflito se aproximar, silencio... O
silêncio não erra, porque até errado ele está certo. É o estado mais econômico
de pausar. Há quase 2 anos morando em Natal, em um estudo integral
autônomo sobre o corpo e a mente... Quando venho na casa de mainha consigo
entender com tanta facilidade essa minha sede insaciável pelo conhecimento,
essa minha não necessidade de planos a longo prazo e fixação por destinos.
Vou... vou... Vôo! Penso que a falta de vontade pelo técnico intelecto
transforma o ser sábio em um especialista no diálogo sensorial. Ai
quando o acesso ao parágrafo de obras e versos chega, é só direcionamento...
Não tem espaço pra lamento. É, tudo que tem que ser está sendo. Agora...
Idas e vindas, partidas e chegadas. [...].
A arte
da fotógrafa Natalí Paiva, que
também desenvolve atividades de facilitadora e instrutora em Tantra Yoga. Veja
mais aqui.
A OBRA DE SCHUBERT
Dou ao mundo o que trago no coração.
PS: A
grande paixão do compositor foi a jovem cantora soprano austríaca Therese Grob (1798-
1875), a música os uniu: ela cantou a Missa em F, D.105, que ele compôs para o
centenário da igreja
paroquial de Lichtental. A
partir disso ele montou um álbum de canções, muitas composições levadas pela
paixão por ela, conhecidas posteriormente como álbum de Therese Grob. Tentou
casar-se, mas uma lei proibia o consentimento: um músico era incapaz de
sustentar uma família. Ele foi rejeitado e ela casou-se com o padeiro. O
compositor jamais se casou. Essas composições estão registradas em álbuns tais
como The Schubert Therese Grob Songbook - New
Perspectives – Songbook (Somm
Recordings, 2001), com performances de Dorothee Jansen e
Francis Grier, e em volumes como A
coleção de músicas de Therese Grob de Schubert (Music and Letters, 1968), de Maurice J. E. Brown & Franz Schubert: o homem e seu círculo (Tudor, 1928), de Newman Flower.
&
UNA-SE