quinta-feira, setembro 12, 2019

FRANZ SCHUBERT, STEVE BIKO, JOANNA BAILLIE, MARIAN KEYES, NATALÍ PAIVA, GHUGHA TÁVORA & AS CANÇÕES PARA THERESE


AS CANÇÕES PARA THERESE – Não pertenço mesmo a este mundo, sempre fui o atarantado menino voz de soprano que nunca cresceu, ouvidos de algodão e caído no meio dos corredores de pedra, quase consumido pelo horror das granadas do bombardeio terrificante, espatifando janelas. A paz se foi e o coração doeu desde então até o sangradouro de agora. A vida suspensa pelos óculos com aros de aço, tímido incorrigível e atrapalhado com as palavras, desajeitado lacônico, um obscuro míope recluso no ócio das horas do quarto silencioso. Esse, o meu mundo. Guardo o momento em que cantei pela última vez num domingo de julho. O violino me iluminava com as chamas das velas de sebo e guardava a severa e atemorizante reprovação de Beethoven. Vivi sobre a corda da escolha: entre o salário regular na vida pesada como aristocrata da fraternidade dos esfomeados, ou a morte em vida pela música. Não olvidei das tolas composições, fracassei na matemática: um poema sobre a sabedoria de Deus e a necedade do homem – optei pelas privações. Ah, minha mãe coberta de razão: sempre fui um inútil estúpido e ocioso. Ah, meu pai sempre me teve por um anêmico recusado da prisão de uma escola normal e do serviço militar compulsório: sou um material deficiente para a morte, um simples gorducho apalermado. Os poucos ganhos, sabe-se lá como, eram logo gastos, fugiam-me às mãos pelos ventos irreparáveis: vivia à beira da indigência. Meus olhos só viam a voz encantadora de Therese, só a ela e eu podia ser feliz. Eu a amei, muito, demais. Para ela cento e cinquenta canções inspiradas, todas as canções de quem fora recusado: faleceu a minha fala, nem mesmo adeus. Tudo se foi, o fervor da minha paixão trocado pelos biscoitos do padeiro. Fui enxotado, cão sarnento, coisa asquerosa. Ela indiferente: não valho mesmo nada, sei. Restou-me a solidão do meu cachimbo nas notas do Eri-King de Goethe, ele também ignorou. As sinfonias, a ópera e as numerosas canções nunca ouvidas: dormiam nas gavetas abandonadas, jaziam meus sentimentos profundos e a minha dor por Therese: o amor me pagou com aflições, levou-me à dieta com cerveja, canções e tristezas. Não me envergonho dos fracassos e a pobreza me amargura - um copo de vinho, por favor. Não consigo me livrar daquela que tanto amei, não sei mais nada. Vendi todos os direitos e prêmios por merrecas, sonho recorrente com meu pai me esbofeteando a me jogar fora de casa. Nada mais restava. Os antros dos prazeres de meretrício fizeram a minha vida a Sinfonia inacabada. Sou nada, apenas a teimosia: quando o reconhecimento está distante, a honra medra nada. Impaciente com os padrões do mundo: vermes rastejantes e roedores que apodrecem no pó e matavam em mim todos os céus. Sucumbi minado pela enfermidade e decepções contínuas. Salvou-me, por um instante, A serenata: não sabia que era tão bonita. O alento para A última sinfonia e as jornadas de inverno. Era a minha triste música: ela confortará a todos, porque ouvirão o anjo que chama por mim. Por fim, enterrei o mestre, brindemos: serei o próximo a ser sepultado no esquecimento. Nunca pertenci a este mundo, todos meus tesouros esfacelados e esperança dissolvida: a morte arrebatou-me o corpo. Ninguém me venceu, sou pássaro a voar e a imortalidade guardou-me a alma: caminho entre as estrelas. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] Procura provar que é mentira considerar o negro uma aberração do “normal”, que é ser branco. É a manifestação de uma nova percepção de que, ao procurar fugir de si mesmos e imitar o branco, os negros estão insultando a inteligência de quem os criou negros. [...]. Trecho extraído dos panfletos Escrevo o que eu quero, do médico e ativista sul-africano Steve Biko (1946-1977), idealizador do Movimento de Consciência Negra, assassinado brutalmente pela polícia racista do apartheid. Sua vida foi registrada no filme Um Grito de Liberdade (Cry Freedom - 1987), dirigido por Richard Attenborough e baseado nos livros de Donald Woods. Trata-se de um relato da amizade entre dois homens, o editor liberal de um jornal e o ativista negro sul-africano. Veja mais aqui.

ALGUÉM FALOU: As pessoas estão sempre encorajando-se mutuamente a fazer coisas que a outra pessoa não fará. E depois, levam o maior susto quando a pessoa realmente faz. Ninguém sabe quanto é forte até precisar ser. Na verdade, a vingança não é nenhum prato - É uma emoção. Ou qualquer outra coisa. Com a qual não vale a pena a gente perder tempo. Eu me sentia como se estivesse no inferno. E compará-lo com o inferno de outra pessoa não diminui em nada a dor do meu. Não é obrigatório que um ser humano esteja acompanhado para ser feliz. Liberdade é apenas mais uma palavra para definir a situação de quem não tem mais nada a perder. Na vida real, muitas vezes é quase impossível dizer qual a decisão que se deve tomar, porque o que se ganha e o que se perde muitas vezes são equivalentes. A sorte anda com os corajosos. A vida é tão, tão preciosa. Pensamento da escritora e advogada irlandesa Marian Keyes. Antes de se tornar escritora, ela trabalhou como garçonete e em escritórios em Londres, lutando contra o alcoolismo e a tentativa de suicídio.

O TEATRO DE JOANA BAILLIE
[...] Uma peça é certamente mais perfeita para ser montada no palco, assim como o armário, e por que não deveria apontar com toda a minha força para fazer as coisas o mais perfeito possível, por mais curto que eu possa cair no mercado? [...] não portanto, você encontra falhas em mim ou aumenta o número daqueles que são para discretamente me deixar de lado como escritora de guarda-roupas. Eu ainda vou continuar tendo minha bateria e minhas trombetas, e minhas situações marcantes e minhas cenas laterais e minhas cenas de fundo, e todo o resto em minha mente, sussurrar Eu escrevo, apesar de tudo o que você pode dizer em contrário. [...] Mas a dor da mulher é como uma tempestade de verão. Por mais curto que seja violento. Um coração disposto acrescenta penas ao calcanhar.
JOANA BAILLIE - A dramaturga e poeta britânica Joanna Baillie (1762-1851) escreveu seu primeiro texto teatral Arnold, não obtendo êxito. Em seguida ela publicou uma série de volumes com o título Plays on the Passions, o primeiro deles A Series of Plays, desenvolvendo ora tragédias e comédias, algumas intituladas como Basílio, Julgamento, De Monfort, Ódio, entre outras. As tragédias Kayner e Constantino Paleólogo, foram reunidas no volume Miscellaneous Plays. Referências recolhidas do estudo A facilidade do apagamento da história: ‘Orra’, a rasura da voz feminina e a tragédia na loucura (Matraga.2019), da professora e pesquisadora Vanessa Cianconi. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE FOTOGRÁFICA DE NATALI PAIVA
[...] Entendi desde muito novinha que conhecimento é a ferramenta do poder, e só a sabedoria guia esse fluxo. Até porque, o controle é tão ilusório como querer impedir o nascer dos sonhos. Todo mundo sonha, dormindo... Acordado. Quando duvido muito e sinto a onda do conflito se aproximar, silencio... O silêncio não erra, porque até errado ele está certo. É o estado mais econômico de pausar. Há quase 2 anos morando em Natal, em um estudo integral autônomo sobre o corpo e a mente... Quando venho na casa de mainha consigo entender com tanta facilidade essa minha sede insaciável pelo conhecimento, essa minha não necessidade de planos a longo prazo e fixação por destinos. Vou... vou... Vôo! Penso que a falta de vontade pelo técnico intelecto transforma o ser sábio em um especialista no diálogo sensorial. Ai quando o acesso ao parágrafo de obras e versos chega, é só direcionamento... Não tem espaço pra lamento. É, tudo que tem que ser está sendo. Agora... Idas e vindas, partidas e chegadas. [...].
A arte da fotógrafa Natalí Paiva, que também desenvolve atividades de facilitadora e instrutora em Tantra Yoga. Veja mais aqui.

A OBRA DE SCHUBERT
Dou ao mundo o que trago no coração.
A obra do compositor austríaco Franz Peter Schubert (1797-1828) aqui e aqui.
PS: A grande paixão do compositor foi a jovem cantora soprano austríaca Therese Grob (1798- 1875), a música os uniu: ela cantou a Missa em F, D.105, que ele compôs para o centenário da igreja paroquial de Lichtental. A partir disso ele montou um álbum de canções, muitas composições levadas pela paixão por ela, conhecidas posteriormente como álbum de Therese Grob. Tentou casar-se, mas uma lei proibia o consentimento: um músico era incapaz de sustentar uma família. Ele foi rejeitado e ela casou-se com o padeiro. O compositor jamais se casou. Essas composições estão registradas em álbuns tais como The Schubert Therese Grob Songbook - New Perspectives – Songbook (Somm Recordings, 2001), com performances de Dorothee Jansen e Francis Grier, e em volumes como A coleção de músicas de Therese Grob de Schubert (Music and Letters, 1968), de Maurice J. E. Brown & Franz Schubert: o homem e seu círculo (Tudor, 1928), de Newman Flower.
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UNA-SE
A arte do multiartista imaginauta Ghugha Távora. Veja mais aqui, aqui & aqui.