AS ESPUMAS FLUTUANTES DE EUGÊNIA - Ainda uma vez, depois de
tantos versos olvidados, valho-me de mais esta carta. Endereçada está à mulher
do meu amor, sim, era ela, uma estrela transformada em mulher, aquela que dizia
aos quatro cantos que encontrara o amor em mim e comigo, se dizendo endoidecida
por isso, e era a mais linda e sensual história de amor. Era ela a estrela
d’alva que rasgou o céu com o sorriso mais encantador, rompeu a estátua do
glamour e tornou-se vedado paraíso no palco do Santa Isabel, o país do meu sonho.
Era ela a fascinante Baronesa do Almourol no drama de Abel, a beleza de uma
Vênus grega, a ardente mística Safo, o talento fulgurante da Dama
Negra e o voo do gênio: o leito delirante
no templo da paixão. Era ela a atriz de má vida com as suas indecisões e
recuos, a quem dediquei o Meu Segredo.
Isso tudo era ela e muito mais, aquela que Infante fidalga da genealogia de
séculos, gostava dos elogios, fugia do silêncio e da solidão com sua aura
magnética de grande vitalidade, imaginação criadora exaltada e capacidade
realizadora inestimável. Era ela tudo, os seus esboços poéticos e dotes
artísticos, espirituosa, irrequieta, intensa, impetuosa na nossa lua-de-mel,
quando pertencíamos um ao outro, eu era seu, ela era minha, a viva paixão, o
desvario no encanto dos momentos desse arrebatado amor, o maior amor da minha
vida, o nosso louco e atribulado amor com constantes desavenças, brigas,
mágoas, precárias reconciliações. Era ela, o mesmo riso que amei, a mesma por
quem morria, uma perda irreparável junto a tantas outras, porque ela chorou
magoada e mentirosa, mergulhei na melancolia com uma punhalada de traidora. As
mentiras de todos os dias, o embuste e as brigas por falsos ciúmes, ela se
fazia, eu dei a minha vida e me abandonou quando eu mais precisava. A minha
vida se foi com ela. O meu coração e toda minha poesia. Agora nas minhas noites
de insônia, tamanho sofrimento, pesadelos, morro de frio com o peito em brasa,
versos com o fogo da paixão. Apesar de tudo ela sempre foi a minha felicidade,
mas não a dela; se assim era, prefiro o abismo, porque não tenho nem nunca tive
nada, só o amor para dar. O sonho se quebrou, se partiu, rompeu. Perdida para
sempre, não há mais razão para viver. Para quem foi extremo abrigo, agora
fadário estranho, a desgraça de vê-la partir, sangro tanto, um chão deserto. Há
muito perdoei porque nunca deixei de amar. Eu me consumi de amor, sem esperança
declaro a morte no meu coração, a vida secou, não mais me possuo. Só eu sei o sofrimento
das minhas muitas dores na vida abreviada: meus versos de sangue e fogo, silenciados
e distantes, a chaga no peito, sepultado na dor dos meus olhos, o mais
desgraçado dos dias, o amor me custou a vida. Eu me enganei, ela não era digna
do meu amor. Se ela era a fatal serpente, sou acauã. Sim, mas ela me matou e a
culpa é minha. Não consegui odiá-la, mesmo com toda humilhação, me basto a mim
mesmo, é preciso morrer porque a minha vida está completa. O doido amor da
carne, o drama apagou. Ainda uma vez, sim, a última, talvez, nesta derradeira ela
brilha sobre o meu palco e saúdo, aplaudida, triunfante cerviz ovacionada com
todos os troféus de todos os altares do universo. Apesar de tudo, estou feliz
por ela. Por isso, esta carta está endereçada, sim, jamais será entregue, nem
precisa. Não quero mais o amor, mas minha alma será sempre dela. Essa a eterna
despedida na minha noite sombria. Vou para não mais voltar, até nunca mais. Assinado,
o seu Cecéu. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo
& aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] A modernidade nos deixou como herança um enorme desenvolvimento tecnológico, mas nos deixou também uma absurda crise social,
ambiental, econômica, por isso desmorona em consequência de sua própria
exaustão. [...] acreditar
em um mundo possível e criá-lo é a tarefa, não de um homem, mais de uma cultura
afirmativa, como penso ser a nossa. Nós, os sem lastro, muitas vezes sem condições mínimas de sobrevivência, estivemos, desde o princípio, condenados a criar.
Acostumados ao sofrimento, nos tornamos fortes, resistentes, dotados de uma inteligência que insiste, sempre. Mas nossa
criatividade, tipicamente
brasileira, continua existindo apesar da escola, que nos ensina história da literatura antes mesmo de nos inserir no
universo estético da escrita, do mesmo modo como iniciamos o estudo da gramática
antes mesmo de termos consolidado a leitura. Síndrome dos subordinados que nasceram para decorar, repetir os gestos dos grandes, dos que pensam, dos filósofos, nós os pobres, os broncos. [...] Teus verdadeiros educadores, aqueles que te
formarão, te
revelarão o que são verdadeiramente o sentido original e a substância fundamental da tua
essência, algo que resiste absolutamente a qualquer educação e a qualquer
formação, qualquer coisa em todo caso de difícil acesso, como um feixe compacto e rígido: teus educadores não podem ser outra coisas e não teus libertadores. [...] educação é somente libertação, extirpação de todas as ervas
daninhas, dos dejetos, dos vermes que querem atacar as tenras sementes das plantas, ela é efusão de luze calor, o murmúrio amistoso da chuva
noturna; ela é limitação e adoração da natureza no que esta tem de maternal e
misericordioso, ela consuma a natureza quando, conjurando os acessos impiedosos e cruéis, os faz levar a bom termo, quando lança o véu sobre suas intenções de madrasta e as manifestações de sua triste
cegueira. [...]. Trechos extraídos da obra O homem que sabe: do homo sapiens à crise da
razão (Civilização Brasileira, 2013), da
poeta, filósofa, psicóloga e psicanalista capixaba, Viviane Mosé. Veja mais aqui & aqui.
O AMOR DE CASTRO ALVES & EUGÊNIA CÂMARA –
Quis te odiar não pude. – Quis na terra / Encontrar
outro amor. – Foi-me impossível. / Então bendisse a Deus que no meu peito / pôs
o germe cruel de um mal terrível. / Sinto que vou morrer! Posso, portanto / A
verdade dizer-te santa e nua: / Não quero mais o teu amor! Porem minh’alma / Aqui,
além, mais longe, é sempre tua. O poeta Castro Alves (1847-1871) integrou a terceira geração romântica,
começou sua produção aos dezesseis anos de idade, influenciado por Victor Hugo,
Lord Byron, Musset, Heine e Lamartine. Ele apaixonou-se perdidamente pela atriz
portuguesa Eugénia Câmara
(1837-1874), que também era poeta, autora e tradutora de peças teatrais. Os
amantes passaram a morar em uma rua no Barro, em Jaboatão, e ele compõe a peça
Gonzaga para ela. A convivência de ambos marcada por brigas e ciúmes, até se
separarem do drama passional. Ele fica abatido em profunda solidão. Em um
acidente, tem a perna amputada e sofre com a tuberculose: "Corte-o, corte-o, doutor… Ficarei com menos
matéria que o resto da humanidade". Movido pelo amor, escreve os
versos do poema Adeus: "Adeus! P'ra
sempre adeus! A voz dos ventos / Chama por mim batendo contra as fragas, / Eu
vou partir... em breve o oceano / Vai lançar entre nós milhões de vagas...".
O último encontro deles se deu em 31 de outubro de 1869, no Teatro Fênix
Dramática. O romance está retratado no filme Vendaval maravilhoso (1949), de Leitão de Barros, contando a
labareda das paixões no fragor de um vendaval, com a cantora Amália Rodrigues
interpretando Eugênia. Desse filme, surgiu o livro Como eu vi Castro Alves e Eugênia Câmara no vendaval maravilhoso de
suas vidas (Lisboa, 1949), de Leitão de Barros. Também o documentário Castro Alves – retrato falado do poeta
(1999), do cineasta Silvio Tendler. Sua obra está reunida nos volumes Poesia completas de Castro Alves (2
volumes – Spiker, s/d), tendo, também, a relação do casal retratada na peça
teatral O amor do soldado
(1944-Record, 1981), e no volume A.B.C de
Castro Alves: louvação (Record, 1980), ambos de Jorge Amado. Veja mais aqui
e aqui.
A LENDA
DE MANI
Em tempos idos, apareceu grávida a filha de um chefe selvagem, que
residia nas imediações do lugar em que está hoje a cidade de Santarém. O chefe quis punir no autor da desonra de sua
filha, a ofensa que sofrera seu orgulho e, para saber quem ele era, empregou
debalde rogos, ameaças e por fim castigos severos. Tanto diante dos rogos como
diante dos castigos a moça permaneceu inflexível, dizendo que nunca tinha tido
relação com homem algum. O chefe tinha deliberado matá-la, quando lhe apareceu
em sonho um homem branco, que lhe disse que não matasse a moça, por que ela
efetivamente era inocente, e não tinha tido relação com homem. Passados os nove
meses ela deu à luz uma menina lindíssima, e branca, causando este último fato
a surpresa, não só da tribo, como das nações vizinhas, que vieram visitar a
criança, para ver aquela nova e desconhecida raça. A criança, que teve o nome
de Mani, e que andava e falava precocemente, morreu ao cabo de um ano, sem ter
adoecido, e sem dar mostras de dor. Foi ela enterrada dentro da própria casa,
descobrindo-se-a, e regando-se diariamente a sepultura, segundo o costume do
povo. Ao cabo de algum tempo brotou da cova uma planta que, por ser
inteiramente desconhecida, deixaram de arrancar. Cresceu, floresceu, e deu
frutos. Os pássaros que comeram os frutos se embriagaram, e este fenômeno,
desconhecido dos índios, aumentou-lhes a superstição pela planta. A terra
afinal fendeu-se; cavaram-na e julgaram reconhecer no fruto que encontraram o
corpo de Mani. Comeram-no, e assim aprenderam a usar da mandioca.
MANI, A LENDA DA MANDIOCA - Extraída da obra O selvagem (Companhia Editora Nacional, 1935), do escritor,
etnólogo e folclorista José Vieira Couto
de Magalhães (1837-1898). Veja mais aqui.
A ARTE LIANA BLACKBURN
Eu achei que a vida mudava para repetir afirmações todos
os dias, especialmente toda vez que sou confrontado com o “perfeccionista”
dentro de mim, atrapalhando. Esta é a minha afirmação favorita de todos os
tempos: "Estou completamente comprometida, mas desapegada". As
pessoas precisam ter um espaço seguro para falar e serem ouvidas, precisam ser
apoiadas e sua vulnerabilidade precisa ser bem-vinda como força! A aula sempre
foi e ainda é sobre dançar com intenção, não para atenção!
LIANA BLACKBURN – A arte da coreógrafa, atriz, bailarina,
professora e dançarina estadunidense Liana
Blackburn, que atuou em diversos filmes, entre eles You (2009), Footloose: ritmo
contagiante (2011) & Viva
Laughlin (2007). Veja mais aqui.
A ARTE PERNAMBUCANA
Imagem:
arte de Thaís Gomez.
As transfigurações do artista plástico Francisco de
Almeida aqui.
Políticas de alimentação e nutrição de Bertoldo Kruse
aqui.
O Pastoril do Rabeca aqui.
Direitos da População Indígena & Diversidade
Religiosa – filme & curtas aqui.
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