ERA UMA VEZ OS LIVROS DE UMA ESCOLA... - Bastou o Coisonário dizer
que o livro é um montão de amontoado, muita coisa escrita para se ler, e foi o
suficiente para a farra dos camirangas carniceiros. Entre eles, a urubutinga Maria
das Calamidades Calamares atacar com suas garras, mandando jogar os livros
comunistas de ciência no lixo mesmo, agora só publicações evangélicas passariam
a existir. Para os catartídeos do ódio, um prato cheio. E o negócio pegou feio
a ponto da diretora de uma escola e candidata a prefeita simpatizante da
legenda do Coiso, a doutora Katavanir de tal-sei-lá-das-quantas-mais, mandar
ver no agouro, demitir o bibliotecário da sua escola e sacudir fora todo acervo
da biblioteca. Desfolharam-se as árvores da sabedoria, da coisa toda ficar
séria e feder além da conta. Ela, nem aí, ainda berrou: Ou vira lixo ou papel
higiênico, pronto, resolvido. E, assim, de chapa, espalhou-se a má notícia e os
necrófagos bibliófobos mandaram ver: derrama de volumes em Belém do Pará, em Santo
Antônio de Jesus, na Praia do Dendê de Teolândia, em Ouro Branco, na Estação do
Forró de Salgueiro, na BR 156 do Amapá, na Perimetral Oeste de Caxias do Sul,
em lixeiras de Bragança Paulista e Ribeirão Preto, na rodovia de acesso de
Rincão, no Uberaba de Curitiba, no lixão de Iporá e por aí vai mundão afora. Vixe!
Livro virou urubu quando morre: nem as formigas comem. Até o Ministério do FNDE
providenciou descarte num monturo de terreno baldio, nada mais nada menos que quase
três milhões daquelas brochuras didáticas, desfazendo-se de opúsculos
inservíveis e depositados num armazém alugado dos Correios de Cajamar, sob a
condição de que esses alfarrábios perderam a validade. Hem? Afora outros tantos
milhões nunca usados, trancados em salas, sob a pecha de desatualizados, ociosos,
defasados, irrecuperáveis, antieconômicos ou em desuso, servindo só para urubus
leitores. Valei-me! Que coisa! Foram disparadas denúncias que nenhuma
autoridade nem polícia apuraram no devido, valendo-se a dita cuja diretora de
uma satisfação pública, só no deboche: A coisa toda tava empestada de mijo de
rato! Óóóóóóóóó! Quer dizer: quem pegasse naquilo ou limpasse o rabo, morria na
hora? Óóóóóóóóó! A coisa tomou termômetro! Nada, era só desculpa de amarelo
para comer barro. E a peitica ficou no puxa-encolhe. O que ninguém sabe é que o
Coisonário é apenas um ventríloquo do Urubu de Malasarte. É? Eita! E urubu sabe
como é, né? Serve-se só de carniça e, como disse Darwin, se diverte na podridão.
É isso aí. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo
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DITOS & DESDITOS: [...] O sonho é
essencial porque nos permite mergulhar profundamente nos subterrâneos da
consciência. Experimentamos no transcorrer desse estado uma colcha de retalhos
emocionais. Pequenos desafios, modestas derrotas e vitórias cotidianas geram um
panorama onírico que reverbera as coisas mais importantes da vida, mas tende a
não fazer sentido globalmente. Quando a existência flui mansa é difícil
interpretar a algaravia simbólica da noite. Por outro lado, não se pode negar
nem às pessoas ricas o direito ou a sina de serem atormentadas por pesadelos
recorrentes, de íntimo significado. Mas para quem sobrevive à margem do bem‑estar, para quem
verdadeiramente teme dia e noite pela própria vida, para bilhões que não sabem
se amanhã terão o que comer, vestir ou onde dormir, sonhar é quase sempre
lancinante. Na vida do sobrevivente de guerra, do presidiário ou do mendigo, o
sonho é um tobogã de afetos em tons gritantes de vida e morte, prazer e dor nos
extremos desejantes. [...]
A rotina do trabalho diário e a falta de
tempo para dormir e sonhar, que acometem a maioria dos trabalhadores, são
cruciais para o mal‑estar
da civilização contemporânea. É gritante o contraste entre a relevância
motivacional do sonho e sua banalização no mundo industrial globalizado. No
século xxi, a busca pelo
sono perdido envolve rastreadores de sono, colchões high‑tech, máquinas de
estimulação sonora, pijamas com biossensores, robôs para ajudar a dormir e uma
cornucópia de remédios. A indústria da saúde do sono, um setor que cresce
aceleradamente, tem valor estimado entre 30 bilhões e 40 bilhões de dólares.3
Mesmo assim a insônia impera. Se o tempo é sempre escasso, se despertamos diariamente
com o toque insistente do despertador, ainda sonolentos e já atrasados para
cumprir compromissos que se renovam ao infinito, se tão poucos se lembram que
sonham pela simples falta de oportunidade de contemplar a vida interior, quando
a insônia grassa e o bocejo se impõe, chega‑se a
duvidar da sobrevivência do sonho. E, no entanto, sonha‑se. Sonha‑se muito e a
granel, sonha‑se
sofregamente apesar das luzes e dos ruídos da cidade, da incessante faina da
vida e da tristeza das perspectivas. [...].
Trechos extraídos da obra O oráculo da noite: A
historia e a ciência do sonho (Companhia
das Letras, 2019), do
neurocientista, biólogo, neurobiólogo e professor Sidarta Ribeiro, tratando sobre o sonho e ancestral,
psicanálise e deuses vivos, sonhos únicos e típicos, primeiras imagens,
evolução do sonhar, a bioquímica onírica, a loucura, dormir e lembrar, a
reverberação de memórias, genes e memes, dormir para criar, sono rem, desejos,
emoções e pesadelos, o oráculo probabilístico, a saudade e a cultura, sonho e
destino, entre outros assuntos.
DESTAQUE: A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER - [...] a leitura critica da realidade, dando-se num processo de alfabetização
ou não e associada sobretudo a certas práticas claramente políticas de
mobilização e de organização, pode constituir-se num instrumento para o que
Gramsci chamaria de ação contra-hegemônica [...] da importância do ato de ler, que implica sempre percepção critica,
interpretação e "re-escrita” do lido [...] A forma como atua uma biblioteca popular, a constituição do seu acervo,
as atividades que podem ser desenvolvidas no seu interior, e a partir dela,
tudo isso, indiscutivelmente, tem que ver com técnicas, métodos, processos,
previsões orçamentárias, pessoal auxiliar, mas, sobretudo, tudo isso tem que
ver com uma certa política cultural. [...] A mesma compreensão mágica da palavra escrita, o mesmo elitismo
reacionário minimizador do Povo, mas o mesmo espírito crítico-democrático de
que tanto precisamos neste país de tão fortes tradições de arbítrio. O Brasil
foi "inventado” de cima para baixo, autoritariamente. Precisamos
reinventá-lo em outros termos. [...]. Trechos extraídos da obra A
importância do ato de ler: em três artigos que se completam (Cortez, 1989), do educador e filósofo Paulo Freire (1921-1997). Veja mais aqui.
A MÚSICA
DE KHATIA BUNIATISHVILI
Você não
tem garantia de que tudo ficará bem, mas sente uma enorme liberdade para criar.
Quando criança descobri que muitos dos artistas de quem eu gostava dividiram
opiniões em sua época. Hoje ninguém duvida mais deles e de como transformaram a
história da música. Eu me acostumei com a controvérsia. As pessoas que prestam
atenção a meu físico e minhas roupas tentam me colocar numa caixa. Se eu mudar,
significa que os machistas ganharam.
KHATIA BUNIATISHVILI – A arte virtuosista e voluptuosa da consagrada
pianista franco-georgiana Khatia Buniatishvili, com suas interpretações dramáticas e decotes profundos. Veja
mais aqui e aqui.
A ARTE DE CHRISTINE WALTERS
Meu trabalho é melhor descrito como uma experiência. A
arte é uma expressão pessoal. Não sou uma artista treinada, por isso corro
riscos que a maioria dos artistas pode não se sentir à vontade. O medo não
controla o resultado do que está sendo criado. Divertir-se e deixar que os que
estão ao meu redor vivenciem o processo criativo cria uma obra de arte final
memorável, capturada em uma pintura, vídeo, música e fotografia. Minha visão da
performance art combina todos os meios artísticos em um cenário majestoso é uma
questão de tempo e continua a construir uma equipe sólida para realizá-la.
CHRISTINE WALTERS - A arte da artista e performer estadunidense Christine Walters que
combina música e pintura em shows apoteóticos por todo planeta. Veja mais aqui.
A ARTE PERNAMBUCANA
Imagem:
arte do artista plástico Rafael Rocha.
Roda de
Teatro de Rua do Recife aqui.
A poesia
viva do Recife aqui.
A
Revolução Pernambucana de 1817 & Ana Lins aqui.