ENTRE UNGIDOS & EXCOMUNGADOS - Quando dom Idiolinácio
chegou, veio preparado. Não fez corpo mole e de chapa, todo atilado, desenrolou
as desavenças com os espíritas, catimbozeiros e pastores das trocentas
evangélicas de todos os reinos. Com um drible só, arranjou tudo de jeito. O
bispo sabia que havia outras tantas broncas e encontraria ali, em
Alagoinhanduba, ao vivo e em cores os famigerados Teje-Preso, Coisonário e Zé
Peiúdo. Sabido que só, não dava para aportar sem a devida precaução. Tanto é
que ele já portava uma pistola 6,35 no colete embaixo da batina, sabe-se lá,
ora; valia-se do que podia, destá. Quebrou o galho do padre Quiba aflito que já
havia aprontado das suas com as freiras carmelitas e com os seminaristas, afora
o arrepiado encosto de um seu afilhado, tal de Romãozinho, que era os pés da
doida e se valia do da batina para se salvar da fuxicada e das pisadas dos
chefões. O pároco já salvara o Romãozinho de duas pesadas, mas o menino não se
emendava: além de ter provocado a morte da mãe pela passionalidade paterna,
havia levado ao assassinato do pai pelas mãos do seu próprio inimigo - isso
depois eu conto amiudado. Condenado pelo opróbrio popular, o rapazola escapava
das garras da polícia e vivia agarrado no abanhado da batina do padre,
prometendo mudar todo dia. Insinuavam coisas de calão próximo da pirobagem,
avalie. Que coisa! Tinha essa empreitada e a primeira providência foi enquadrar
o padre que, àquela altura do campeonato, estava tremendo de medo, pois o barco
naufragava para sua banda. Resolvido em dois tempos. Depois, foi encarar os
algozes. Firme, esteve com os mandões, sabedor que se saía fumaça da venta de
um, peidava raio do outro; afora cuidar de não se deixar levar pelas tramoias
do enrolão. Assim, de igual para igual, um a um, oferecendo apoio divino, estreitando
amizade e firmando compadrio, não se esquivou de na hora das necessidades,
socorrer quaisquer deles, com polpudos montantes pecuniários, devidamente
resgatáveis com a respectiva correção monetária definida em alguns percentuais a
mais por usura. Na baixa, agiotava; também passava a mão na cabeça de um, fazia
vista grossa para os desaforos de outro, intervinha nas escaramuças, fazia
arrumadinhos quando a coisa saía do controle, enfim, dava nó em pingo d’água. O
pior foi quando Teje-Preso e Coisonário entraram em rota de colisão, isso devido
aos ardis estratagemas do Zé Peiúdo que, para engrossar o caldo, colocou o
bispo na roda, só para ver o circo pegar fogo. Cabra safado! Ao prever que o
sopapo seria estrondoso, convocou os dois na diocese, ao mesmo tempo e sem que
ambos soubessem. Nessa hora ele teve que usar de seus poderes divinos e encapetados,
entrando em campo pro que desse e viesse. E foi. Quando os dois se depararam, eita,
era a hora da merda virar boné. Aqui não, aqui é a casa de Deus. Bufaram a
maior rejeição, porém, ao se verem, assim, de surpresa, pegos desprevenidos, afrouxaram.
Pois é, valeu aquela de quem tem cu tem medo: a covardia veste a camisa e cada
um sai pela tangente com leros e loas do não é bem assim, o assado está
invertido e conversa vai, macheza vem, o sangue amolece e a coisa fica o dito
pelo não dito. Ufa! Limpa o suor da testa, toma uma garapa e tudo volta à santa
paz de Deus com apertos de mãos e tapinhas nas coisas, para amanhã empenar tudo
de novo com novas querelas, cuspidas na cara, ciscados, injúrias, infâmias,
bravatas e sortilégios. É a vida. Zé Peiúdo que havia tramado tudo e não era
besta, deu logo com os pés na bunda e envultou-se de ninguém saber seu
paradeiro. Ah, quando ele der o ar da graça, chegará com a cara mais lisa de o
que é que houve. Quem sabe, outras virão. E vieram, destá. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] o
fato de que a guerra é um jogo de homens — que a máquina de matar tem um
gênero, e ele é masculino [...] Nosso
fracasso é de imaginação, de empatia: não conseguimos reter na mente essa
realidade. [...] se o horror pudesse
ser apresentado de forma bastante nítida, a maioria das pessoas finalmente
apreenderia toda a indignidade e a insanidade da guerra. [...] De fato, há
muitos usos para as inúmeras oportunidades oferecidas pela vida moderna de ver
— à distância, por meio da fotografia — a dor de outras pessoas. Fotos de uma
atrocidade podem suscitar reações opostas. Um apelo em favor da paz. Um clamor
de vingança [...] toda memória é individual, irreproduzível […] lembranças de morte, de derrota, de vitimização.
Elas evocam o milagre da sobrevivência. [...] atração por esse tipo de imagem não é rara e constitui uma fonte
permanente de tormento interior. [...] na maioria das
culturas modernas, a brutalidade física é antes um entretenimento do que um choque [...] Se sentirmos que não há nada que ‘nós’
possamos fazer – mas é esse ‘nós’? – e também nada que ‘eles’ possam fazer – e
quem são ‘eles’? -, passamos a nos sentir entediados, cínicos, apáticos. [...] as pessoas poupadas pela guerra e mostram
insensivelmente alheias aos sofrimentos padecidos fora do seu raio e visão [...]
Há a sensação de que existe algo moralmente
errado na ementa da realidade oferecida pela fotografia: de que não se tem o
direito de experimentar à distancia o sofrimento dos outros, despido da sua
força crua; de que pagamos um preço humano (ou moral) demasiado alto por esses
atributos da visão até agora admirados – o afastamento da agressividade do
mundo, posição que nos deixa livres para a observação e a atenção eletiva. Mas
isso é apenas descrever a própria função da mente. [...]. Trechos
extraídos da obra Diante da dor dos outros (Companhia das Letras, 2003), da escritora, ensaísta,
crítica social e ativista estadunidense Susan
Sontag (1993-2004). Veja mais aqui e aqui.
UM MINUTO PRA DIZER QUE TE AMO - A peça
teatral Um minuto para dizer que te amo,
texto de Luiz de Lima Navarro, conta a história de Lúcio, um pianista, que, ao
voltar de uma longa viagem, passa a enxergar toda a felicidade e sofrimento que
viveu no lar, relembrado momentos angustiantes de sua vida Alzheimer,
vivenciados através de seus pais e dele próprio. Amor, amizade e dedicação
permeiam o universo de duas mulheres: a mãe de Lúcio, Guida e sua cuidadora
Amélia, que, através da música, traz de volta as lembranças da mãe do pianista.
Ao mesmo tempo, acontece o encontro de pai e filho, que, no mesmo espírito de
amor e tolerância, através dos conflitos, mapeiam-se as cenas que são marcadas
pelo Alzheimer, num processo em que juntos consolidam uma trajetória de vida,
memória, narrativa e morte. O destaque fica por conta do ator Carlos Lira que completou mais de 40
anos de carreira, tendo iniciado com o grupo TTTrês Produções Artísticas, ao
lado de José Manoel Sobrinho e Mario Antonio Miranda, além de ter atuado em
diversos espetáculos nos mais variados palcos. Veja mais aqui.
A ARTE DE LUIZA PRADO
Nós devemos muito aos povos originários do Brasil, além de uma
preservação cultural, mas preservação à vida deles, ainda mais numa situação
política onde o genocídio continua. E, na minha opinião, vendo do ponto de
vista cultural, um país que desconhece sua cultura também desconhece seu
futuro. Meu interesse por esse assunto vem da minha história, o meu sangue é
indígena, tenho origem Puri por parte materna e minha cor vem do meu lado
paternal, de portugueses colonizadores, eu sinto ter uma espécie de obrigação,
principalmente ao que diz respeito ao meu privilégio como uma branca, mesmo
possuindo dezenas de características e sangue indígena. Eu pretendo, no meu
trabalho, falar das consequências colonizatórias principalmente ligadas à
sexualidade feminina, mas também quero ajudar e dar espaço para meus parentes.
No Brasil, infelizmente ainda se explora visualmente muito a questão da
marginalização quando não se é marginalizado, de contraponto não dão espaço pro
real protagonista dessas histórias.
LUIZA PRADO – A arte da artista transdisciplinar Luiza Prado que atua como fotógrafa ao
gerar sensações complementares dentro de seu arsenal artístico. Veja mais aqui.
A ARTE PERNAMBUCANA
Metade da humanidade não come e a outra não
dorme com medo da que não come. O que falta é vontade política para mobilizar
recursos a favor dos que têm fome.
A arte de Ricardo Brennand aqui.
Cartas ao planeta Brasil de Geneton
Moraes Neto aqui
Os tempos da Praieira de Costa Porto
aqui
A arte do pintor Militão dos Santos
aqui.
Lagoa da Prata & Branca Dias aqui.
&
Iemanjá, Mãe d’Água, Rio São Francisco
– Petrolina – PE aqui.