quinta-feira, janeiro 16, 2020

SUSAN SONTAG, LUIZA PRADO, CARLOS LIRA, ARTE DE PERNAMBUCO, ENTRE UNGIDOS & EXCOMUNGADOS


ENTRE UNGIDOS & EXCOMUNGADOS - Quando dom Idiolinácio chegou, veio preparado. Não fez corpo mole e de chapa, todo atilado, desenrolou as desavenças com os espíritas, catimbozeiros e pastores das trocentas evangélicas de todos os reinos. Com um drible só, arranjou tudo de jeito. O bispo sabia que havia outras tantas broncas e encontraria ali, em Alagoinhanduba, ao vivo e em cores os famigerados Teje-Preso, Coisonário e Zé Peiúdo. Sabido que só, não dava para aportar sem a devida precaução. Tanto é que ele já portava uma pistola 6,35 no colete embaixo da batina, sabe-se lá, ora; valia-se do que podia, destá. Quebrou o galho do padre Quiba aflito que já havia aprontado das suas com as freiras carmelitas e com os seminaristas, afora o arrepiado encosto de um seu afilhado, tal de Romãozinho, que era os pés da doida e se valia do da batina para se salvar da fuxicada e das pisadas dos chefões. O pároco já salvara o Romãozinho de duas pesadas, mas o menino não se emendava: além de ter provocado a morte da mãe pela passionalidade paterna, havia levado ao assassinato do pai pelas mãos do seu próprio inimigo - isso depois eu conto amiudado. Condenado pelo opróbrio popular, o rapazola escapava das garras da polícia e vivia agarrado no abanhado da batina do padre, prometendo mudar todo dia. Insinuavam coisas de calão próximo da pirobagem, avalie. Que coisa! Tinha essa empreitada e a primeira providência foi enquadrar o padre que, àquela altura do campeonato, estava tremendo de medo, pois o barco naufragava para sua banda. Resolvido em dois tempos. Depois, foi encarar os algozes. Firme, esteve com os mandões, sabedor que se saía fumaça da venta de um, peidava raio do outro; afora cuidar de não se deixar levar pelas tramoias do enrolão. Assim, de igual para igual, um a um, oferecendo apoio divino, estreitando amizade e firmando compadrio, não se esquivou de na hora das necessidades, socorrer quaisquer deles, com polpudos montantes pecuniários, devidamente resgatáveis com a respectiva correção monetária definida em alguns percentuais a mais por usura. Na baixa, agiotava; também passava a mão na cabeça de um, fazia vista grossa para os desaforos de outro, intervinha nas escaramuças, fazia arrumadinhos quando a coisa saía do controle, enfim, dava nó em pingo d’água. O pior foi quando Teje-Preso e Coisonário entraram em rota de colisão, isso devido aos ardis estratagemas do Zé Peiúdo que, para engrossar o caldo, colocou o bispo na roda, só para ver o circo pegar fogo. Cabra safado! Ao prever que o sopapo seria estrondoso, convocou os dois na diocese, ao mesmo tempo e sem que ambos soubessem. Nessa hora ele teve que usar de seus poderes divinos e encapetados, entrando em campo pro que desse e viesse. E foi. Quando os dois se depararam, eita, era a hora da merda virar boné. Aqui não, aqui é a casa de Deus. Bufaram a maior rejeição, porém, ao se verem, assim, de surpresa, pegos desprevenidos, afrouxaram. Pois é, valeu aquela de quem tem cu tem medo: a covardia veste a camisa e cada um sai pela tangente com leros e loas do não é bem assim, o assado está invertido e conversa vai, macheza vem, o sangue amolece e a coisa fica o dito pelo não dito. Ufa! Limpa o suor da testa, toma uma garapa e tudo volta à santa paz de Deus com apertos de mãos e tapinhas nas coisas, para amanhã empenar tudo de novo com novas querelas, cuspidas na cara, ciscados, injúrias, infâmias, bravatas e sortilégios. É a vida. Zé Peiúdo que havia tramado tudo e não era besta, deu logo com os pés na bunda e envultou-se de ninguém saber seu paradeiro. Ah, quando ele der o ar da graça, chegará com a cara mais lisa de o que é que houve. Quem sabe, outras virão. E vieram, destá. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] o fato de que a guerra é um jogo de homens — que a máquina de matar tem um gênero, e ele é masculino [...] Nosso fracasso é de imaginação, de empatia: não conseguimos reter na mente essa realidade. [...] se o horror pudesse ser apresentado de forma bastante nítida, a maioria das pessoas finalmente apreenderia toda a indignidade e a insanidade da guerra. [...] De fato, há muitos usos para as inúmeras oportunidades oferecidas pela vida moderna de ver — à distância, por meio da fotografia — a dor de outras pessoas. Fotos de uma atrocidade podem suscitar reações opostas. Um apelo em favor da paz. Um clamor de vingança [...] toda memória é individual, irreproduzível […] lembranças de morte, de derrota, de vitimização. Elas evocam o milagre da sobrevivência. [...] atração por esse tipo de imagem não é rara e constitui uma fonte permanente de tormento interior. [...] na maioria das culturas modernas, a brutalidade física é antes um entretenimento do que um choque [...] Se sentirmos que não há nada que ‘nós’ possamos fazer – mas é esse ‘nós’? – e também nada que ‘eles’ possam fazer – e quem são ‘eles’? -, passamos a nos sentir entediados, cínicos, apáticos. [...] as pessoas poupadas pela guerra e mostram insensivelmente alheias aos sofrimentos padecidos fora do seu raio e visão [...] Há a sensação de que existe algo moralmente errado na ementa da realidade oferecida pela fotografia: de que não se tem o direito de experimentar à distancia o sofrimento dos outros, despido da sua força crua; de que pagamos um preço humano (ou moral) demasiado alto por esses atributos da visão até agora admirados – o afastamento da agressividade do mundo, posição que nos deixa livres para a observação e a atenção eletiva. Mas isso é apenas descrever a própria função da mente. [...]. Trechos extraídos da obra Diante da dor dos outros (Companhia das Letras, 2003), da escritora, ensaísta, crítica social e ativista estadunidense Susan Sontag (1993-2004). Veja mais aqui e aqui.

UM MINUTO PRA DIZER QUE TE AMO - A peça teatral Um minuto para dizer que te amo, texto de Luiz de Lima Navarro, conta a história de Lúcio, um pianista, que, ao voltar de uma longa viagem, passa a enxergar toda a felicidade e sofrimento que viveu no lar, relembrado momentos angustiantes de sua vida Alzheimer, vivenciados através de seus pais e dele próprio. Amor, amizade e dedicação permeiam o universo de duas mulheres: a mãe de Lúcio, Guida e sua cuidadora Amélia, que, através da música, traz de volta as lembranças da mãe do pianista. Ao mesmo tempo, acontece o encontro de pai e filho, que, no mesmo espírito de amor e tolerância, através dos conflitos, mapeiam-se as cenas que são marcadas pelo Alzheimer, num processo em que juntos consolidam uma trajetória de vida, memória, narrativa e morte. O destaque fica por conta do ator Carlos Lira que completou mais de 40 anos de carreira, tendo iniciado com o grupo TTTrês Produções Artísticas, ao lado de José Manoel Sobrinho e Mario Antonio Miranda, além de ter atuado em diversos espetáculos nos mais variados palcos. Veja mais aqui.

A ARTE DE LUIZA PRADO
Nós devemos muito aos povos originários do Brasil, além de uma preservação cultural, mas preservação à vida deles, ainda mais numa situação política onde o genocídio continua. E, na minha opinião, vendo do ponto de vista cultural, um país que desconhece sua cultura também desconhece seu futuro. Meu interesse por esse assunto vem da minha história, o meu sangue é indígena, tenho origem Puri por parte materna e minha cor vem do meu lado paternal, de portugueses colonizadores, eu sinto ter uma espécie de obrigação, principalmente ao que diz respeito ao meu privilégio como uma branca, mesmo possuindo dezenas de características e sangue indígena. Eu pretendo, no meu trabalho, falar das consequências colonizatórias principalmente ligadas à sexualidade feminina, mas também quero ajudar e dar espaço para meus parentes. No Brasil, infelizmente ainda se explora visualmente muito a questão da marginalização quando não se é marginalizado, de contraponto não dão espaço pro real protagonista dessas histórias.
LUIZA PRADO – A arte da artista transdisciplinar Luiza Prado que atua como fotógrafa ao gerar sensações complementares dentro de seu arsenal artístico. Veja mais aqui.

A ARTE PERNAMBUCANA
Metade da humanidade não come e a outra não dorme com medo da que não come. O que falta é vontade política para mobilizar recursos a favor dos que têm fome.
A geografia da fome e do Nordeste de Josué de Castro (1908-1973) aqui, aqui, aqui & aqui.
A poesia de Mauro Mota aqui, aqui & aqui.
A música de Quinteto Violado aqui & aqui.
A arte de Ricardo Brennand aqui.
Cartas ao planeta Brasil de Geneton Moraes Neto aqui
Os tempos da Praieira de Costa Porto aqui
Ana de Ferro & Vital Corrêa de Araújo aqui & aqui
A arte do pintor Militão dos Santos aqui.
A xilogravura de Perron Ramos aqui & aqui
Lagoa da Prata & Branca Dias aqui.
&
Iemanjá, Mãe d’Água, Rio São Francisco – Petrolina – PE aqui.