CARMA, PARA SEMPRE – Nasci no seu sorriso: um rio que se fizera mares,
oceanos e tudo de infinito. Ela que sempre foi em mim Araci e me ensinou o dia
de todas as horas e acontecências; que foi Coaraci e me deu o brilho do Sol de
todas as luzes e cores; que foi Tatá-manha para que eu soubesse do fogo, queimares
e brilhos; que foi Dandalunda, Iemanjá, a mãe Dandá e Cotaluna, para que eu
soubesse das águas nas cuias das mãos de todas as sedes e procederes; que foi
Caamanha para que eu soubesse do mato e todos os poderes; que foi Jaci e me
ensinou da Lua os frutos de todos sabores da boca e pomares - e o juazeiro que
não perde as folhas na seca nem no inverno; que foi Murucututu com todas as
cantigas de ninar no céu estrelado e escuridão; que foi Sacu-manha para me
aquecer de todos os frios nas geleiras do abandono; que foi Iá-Quererê e me
levou para ver o arco-íris beber das águas do rio: carangueijo ao atá quer
brincar! Eu era menino, sempre fui e até hoje. E ela ria para me ensinar Caapepena
e todas as lições do fio de Cloto, do fuso de Laquesis e do nó de Átropos: tudo
para que eu visse a princesa deitada no casco do guajá e me protegesse de
mandingas e de tantos quebrantos, do calor extremo – ela dava três assobios
longos e logo ventava forte: ora, é só deixar os patos passarem. E eu ria ou
chorava. E mais ríamos com as minhas atrapalhadas. Assim me dizia
e eu ria, crescendo, maturando. Foi ela ainda eu tabaréu que me fez curado de
cobra com ensalmos que curam de amor e com todas as manobras e trajetos; e me
disse para não mais olhar para trás e encarar as pelejas, a distinguir o que
era coisa feita e o canzuá de quimbe, dos que não se viram no espelho e logo
morreram de pecado mortal: do tanto que foi o pote à fonte e um dia se quebrou
- quem não pode com ele não pega na rodilha. Aconselhava e sorria, quase nem
levava a sério, mas levava e eu nem sabia. Foi dela que soube de Luzia que
arrancou os olhos e os deu ao amor, e Obá a orelha para agradar seu senhor. Ela
alisava meus cabelos e cafunés me dizia para que eu não vacilasse de olho
aberto para as hamadríadas nos carvalhos, o lúgubre agouro do Jucurutu, o
não-sei-que-diga escondido e os que mijavam nas covas, enquanto se viam nas quadras
de punição; de Priprioca e a casa de Piripiri, o tajá e o tamacoare, valia dela
a dendrofilia: o respeito eterno pela Natureza & todas as coisas. É dela o
que foi e está em mim, o melhor de tudo, o que era panaceia e o que era espinha
de bagre, das riquezas do lago encantado do Grongonzo, dos dias de Logunedé, das
jornadas por promessas com quadras decoradas a desatar o que deu nó com dois
dedinhos de prosa nas ligeiras: paca, mondé, sururu, porco-do-mato e tatu. Ou
dedo-mindinho, seu vizinho... cadê o bolinho daqui? Eu ria. O rato comeu: lá
vai o gato atrás do rato e a futucada no sovaco. Esse menino tem cotoco, não
para quieto! Eu contava, somava e dividia; e ela sorria com instruções para as
redondilhas e o Lunário Perpétuo, até a liberdade do verso livre: o melhor
poeta um coco, o melhor vate um papão, tudo para que me tornasse canoeiro
patenteado, livre de efifás das que não mostram os panos, enfim, para que eu
encontrasse a dama-de-branco e ficasse rico e amado. Não fui, acho que não. Não
sei, nem saberia. Ela sabia tudo. Sempre tive mais que o merecido. Dela, a
graça divina e o que aprendi. Fiz uma canção para ela e foi pouco. Um poema e
mais. Nada me satisfez nem poderia, porque ela era Carma, a Ci, a mãe de todas
as mães com as manhecências do seu sorriso que ficou em mim para sempre. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] a
nostalgia de um passado histórico se cultiva na infância, tal como os usos e os
costumes. O estrangeiro, quando muito, pode admirar, gostar, achar curioso, mas
não se enternece nem se orgulha. As lutas e glórias dum país que não é o seu
permanecem-lhe alheias porque a infância foi-lhe povoada de outras lutas e
glórias, e a sua nostalgia é, por consequência, outra também. [...] Um filho é continuação. Ou chegada? Procura
chegar, José! Procurei chegar, Nils, procurei deveras. Mas sabes tu o que quer
dizer chegar? O amor a outros seres, a continuação em outros seres, a ilusão de
segurança e de estabilidade ou somente uma estação intermédia na eterna fuga do
homem? Não sei, não sei. [...]. Trechos extraídos da obra O mundo em que
vivi (Afrontamento, 1987), da escritora e tradutora portuguesa Ilse Losa (1913-2006), que em outra de
suas obras, Sob céus estranhos (Portugália, 1962), assinalou: [...] não se volta tão
depressa para uma terra onde por toda a parte ainda há cheiro a crime, sobretudo
quando esse crime nos diz respeito. [...]
sou estrangeiro, o estrangeiro é tolerado, ai
daquele que se atreve a integrar-se!, se ao menos me naturalizassem, diabo!, […] o nosso menino não será estrangeiro, é o que
lhe vale, tenho de me deixar ficar por isso… ficar… linda palavra… […] ficar, quem me garante que possa ficar, quem
garante seja o que for, quem garante que a Teresa não morra de parto? [...].
DESTAQUE: NA CURVA DOS QUE NÃO CHEGARAM A IR.... DÁ
NISSO.... - Bem que
se diz, que os velhos são teimosos e turrões... passei toda a vida só
constatando esse fato sem contudo , dá muita atenção ao fato, afinal eu era
jovem! Mas as coisas mudam, a vida nos transfigura os traços a cada dia, sem
contar com o que sentimos profundamente dentro da gente. Passei esse Dezembro
todo me perguntando o que estaria havendo comigo?! Uma tristeza tão grande, uma
apatia, um alheamento temporal como se eu estivesse vivendo uma realidade
paralela, como alguém, que é forçado vez ou outra,
a vigiar fatos como quem assiste a um filme sem envolvimento, sem "raport
" com seus atores ou mesmo a história contada ! Quem de tanto assistir a
um determinado gênero de ficção, não fica craque em adivinhar como terminam as
tramas? O filme assistido por nós esse ano que passou, foi revoltante, foi
aviltante, xexelento... aí deu nisso... dizem que hoje a gente entra em 2020,
tanta loucura, tantos gastos por uma passagem tão fugaz? Aliás, fugacidade está
sendo a palavra de ordem... e não consigo deixar de pensar que nós estamos em
uma queda livre, vertiginosa com um conceito de tempo totalmente desvirtuado ou
acertado? Sei lá! Esse pra mim é um dia como qualquer outro, vou vivê-lo com a
disposição que vivi todos os outros dias de exílio como alguém que chegou nesse
local, cheia de entusiasmo pra cumprir uma missão, mas a lembrar por todos os
momentos que o Lar está á anos Luz de distância, onde com certeza o meu Amor está,
sinto tanta saudade dele e ele com certeza sente muita falta de mim... por isso
esse ano ficarei no compasso da minha verdade, quietinha no meu canto, sem nada
de especial, pois há muito me falaram abruptamente que Papai Noel não existia e
esse ano eu soube de algo bem pior: Essa história de ano tal e qual é só
convenção e que aqui a gente está imersa numa grande ficção, com protagonistas
do Bem e Vilões do outro lado a sustentarem a trama até o final.... e se há
alguma coisa a desejar hoje é um feliz passar de página desse livro pra um novo
capítulo desse pastelão, tchin....tchin....Texto da
escritora, arteterapeuta e contadora de histórias Izabel Marques. Veja mais aqui.
A MÚSICA
DE ANNA FEDOROVA
Adoro viajar e adoro minha vida como uma pianista de concerto. A vida é
sempre cheia de aventuras, novos conhecimentos, novas impressões e emoções. A
única coisa com a qual sofro é o constante transporte de malas pesadas… Sim, eu
adoro Villa-Lobos! Eu acho que primeiro tive conhecimento dele através de suas
obras para violão, há sete ou oito anos.
ANNA FEDOROVA - A arte da pianista
ucraniana Anna Fedorova que atua
como solista, musicista de câmara e com orquestras sinfônicas por todo planeta. Veja mais aqui.
A ARTE DE TANYA SHATSEVA
Eu gosto muito de ciência e tecnologia, bem como de
mitologia e idéias metafísicas. Na verdade, algumas
teorias científicas modernas são quase surreais, especialmente na física
quântica, parecem ainda mais impressionantes do que qualquer fantasia esotérica
inventada. Eu amo misturar a atenção plena do racional e
a beleza dos mundos irracionais. Há também um tema de
morte digital nas peças, flutua através de códigos, um verdadeiro mundo da vida
após a morte.
TANYA SHATSEVA - A arte da artista visual
russa Tanya Shatseva que cria pinturas
acrílicas e ilustrações no gênero do surrealismo pop. Veja mais aqui.
A ARTE PERNAMBUCANA
A
bibliotecária Jessiva Sabino de Oliveira,
organizadora da antologia Eu voltarei ao
sol da primavera: Ascenso Ferreira (FCCHBF/SEC/DSE/DC, 1985), na imagem do
artista plástico José Rodrigues aqui,
aqui e aqui.
A música
do cantor & compositor Paulo Diniz
aqui.
A arte
da atriz Geninha da Rosa Borges – a Grande Dama do Teatro Pernambucano
aqui.