CARTA DE GRATIDÃO – O que eu fui se fez em mim para desvendar o
segredo da vida e não era qualquer a infância para uma adolescência de
descobertas. Meu pai morreu pobre. Nas noites de frio devorava livros da
biblioteca da minha mãe: a lâmpada acesa nos meus olhos grandes. Fui hospedado
na Casa da Dor pela tísica por anos. Aprendia e já me via irreverente com as
velhas tradições e profissões: cada ser humano é um deus em formação. Passei a
me sentir dono do mundo das sete estrelas e do ano solar. Não temia mais ser
atacado por todos, que eu tivesse o solilóquio da alma sincera sob o céu. Falava,
assim mesmo, praqueles que tinham ouvido e não me podiam ouvir. Até que o
primeiro amor me envolveu. Ah, Ellen, como eu me apaixonei por sua beleza
extrema, a presença viva nos meus diários. Fomos feitos um pro outro e a minha
vida voava com o seu espírito alado, serena, amável. Quando me disse que estava
pronta para morrer, não imaginava que fosse chamada pela morte tão cedo. Só eu
sei a minha aflição: um anjo ia pro céu naquela manhã de fevereiro, não esqueci
a paz e a alegria. Dezoito meses separaram em mim a felicidade da tristeza. Fui
para a montanha do norte, vasculhar minha alma e decidir meu futuro. Ali,
percebi que o homem e Deus poderiam se encontrar entre os outeiros de Roxbury,
porque harmonizei o ouvido e o coração com a música da Natureza: éramos Um na
Alma do Mundo. Ao retornar, não havia mais como conciliar meu saber e vivência
com as tradições religiosas. Aplicava, apenas, a prática do Sermão da Montanha,
nada mais. Renunciei a fé com meus ombros encolhidos. Mesmo ausente, foi Ellen
quem me proporcionou a vida em Concord: um refúgio para pensar e agir. Segui devotado:
a vida não se resumia apenas em mediocridade e insipidez, uma gente indefesa,
difusa e prostrada, dispersa e horrorizada. Reverberava em mim a energia da Lei
Suprema: o tudo e a Humanidade – a inteireza e a unidade indivisa. Deixei os
cemitérios do passado, olhei para os bosques do futuro. Passei a defender a nobreza
do comum, a crença dos pacíficos pioneiros: a liberdade individual e a
tolerância universal, a colaboração mútua entre humanos livres na tríade viver,
deixar viver e ajudar a viver. A dignidade da pessoa comum reconhecida, como se
cada qual na soma do Todo: a declaração universal da interdependência. E o amor
me envolveu pela segunda vez. Ah, Lydian, uma mente nobre e sincera, uma
alegria muito sóbria: educada, inteligente e ativa, uma afeição além das
paixões: a grandeza do amor e a sujeição de cada qual à dimensão do desamor. Amávamos
cada um, ao seu modo. E sorríamos, dialogávamos, a interlocução dos
dessemelhantes. Nisso, inventávamos a nossa felicidade. O seu amor aprumou meus
sentimentos e passei a ser o professor da ciência da alegria à beira de tudo
quanto é grande e real: que cada um se preocupasse com o seu trabalho e respeitasse
o do outro. Esse o meu aprendizado panhumanista. Elas me ensinaram a amar a vida
e o mundo, desinteressadamente, da forma mais natural possível. Nunca fui tão
feliz, não havia mais como distinguir o que era da vida e o que era da morte: a
vida, uma só. Por isso, minha eterna gratidão. © Luiz Alberto Machado.
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DITOS & DESDITOS: [...] Toda
alma é uma Vênus celestial para toda outra alma. O coração tem seus dias de
festa e seus jubileus, nos quais o mundo aparece como um himeneu, e todos os
sons naturais e o ciclo das estão são odes e danças eróticas. O amor é
onipresente na natureza como motivo e recompensa. O amor é a mais elevada
palavra que possuímos, e é sinônimo de Deus. [...]. Trecho extraído da obra
Ensaios: homens representativos (Martins, 1965), do escritor e filósofo
estadunidense Ralf Waldo Emerson (1803-1882), que primeiro amou Ellen
Louisa Tucker (1811-1831) e faleceu dezoito meses depois do seu casamento. Em seguida,
amou Lydia Jackson (1802-1892).
A relação deles com elas estão descritas em obras como One First Love - The Letters Of Ellen Louisa Tucker To Ralph Waldo
Emerson (Churchill Livingstone, 1962), de Ellen Louisa Tucker, organizada
por Edith W. Gregg; Mr. Emerson's Wife
(Griffin, 2006), de Amy Brown; The Essential Writings of Ralph Waldo Emerson (Modern Library, 2000); e O pensamento vivo
de Emerson (Martins, 1865), organizado por Edgar Lee Masters. Veja
mais aqui, aqui & aqui.
BOA
SORTE, MEU AMOR
O drama Boa Sorte, Meu Amor (2013),
dirigido e escrito por Daniel Aragão, conta a história de um homem de 30 anos
oriundo de uma família aristocrata do sertão nordestino. Ele trabalha em uma
empresa de demolição, ajudando nas diversas transformações que a cidade tem
passado nos últimos anos. Ao encontrar Maria, uma estudante de música com alma
de artista, ele passa a sentir a urgência por mudanças em
sua própria vida. O destaque fica por conta da atuação da atriz Christiana Ubach. Veja mais aqui.
A ARTE DE HARRIET WHITNEY
FRISHMUTH
É tão fácil fazer a beleza feia e distorcer.
Excentricidade e capricho não substituem estilo e domínio na modelagem. A
beleza está em toda parte neste mundo, sempre esteve. Talvez os olhos de hoje
não tenham sido treinados para ver, pois se o artista aprecia e entende a
natureza, ele não pode ir muito longe da verdade e da beleza, que são os
pilares da grande arte.
HARRIET WHITNEY FRISHMUTH - A arte da escultora estadunidense Harriet Whitney Frishmuth (1880-1980). Veja
mais aqui & aqui.
A ARTE PERNAMBUCANA
A poesia
de Mário Hélio aqui.
A
taboada de Azulão, do cordelista Sebastião Cândido dos Santos aqui.
A arte
de Cícero Santos aqui
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