sábado, dezembro 21, 2019

FRITJOF CAPRA, CHLOÉ TREVOR, MAURÍCIO MELO JÚNIOR, PAMELA FACCO, RUTE COSTA & CARTA DE DEZEMBRO



CARTA DE DEZEMBRO - O que fiz da vida resta o que sou: um menino da beira do rio aos mil e tantos quantos olhos dos dias e noites, nada mais. Sou inconcluso e não me atormentam os devires. Ademais, não tenho mais que desejos, tudo o mais se desfez, sobraram rugas e males que são agudos na madrugada. Daqui a cidade é repleta de monstros esqueléticos inertes com suas vísceras desbotadas à mostra e morro abaixo, terror à vista: as garras parabólicas segurando o entardecer sem demoras, já outra escuridão de inferno em pleno verão. Das matas só lembranças: seus resquícios no matagal carregado de murmúrios, a gritaria de todos na minha boca feita de apócrifo e proscrito, nunca me vi apto para julgar, tudo me ocorre de duas maneiras: verdadeira, se oriundas do coração; falsas, se do cérebro, afinal, não são minhas, mas dos outros que li e estudei. Não lembro mais o primeiro verso escrito na página extraviada, muito menos a estreante canção juvenil esquecida com ar de quem seria feliz como recompensa pela fogueira dos meus tormentos. Muitos morreram há tempos entre o concreto armado e um nó na garganta, como se padecesse de janeiro a dezembro, vou só até chegar a minha hora. Dizem que quem não fez jamais fará, e eu que nunca prevariquei digo que nunca é tarde e ainda nem acabou de chover os anos acinzentados, o tempo indestrutível na nódoa dos telhados: um inferno em festa com plangentes acordes, dolências, langores que garantem erosões, corrosões, esvanecimentos. Eu voo entre os que não dizem mais que amam e se perderam do amor nas bocas secas homiziadas cobertas do ridículo e a se afrontarem hostis e inclementes, a se exibirem às minhas custas. Só me resta ganir e ronronar sílabas indizíveis como um deserdado na brisa amena de um céu carregado de nuvens. A vida é tão breve e não descobri por inteiro nem sei meus pecados. Peco porque foi dia e mais ainda porque a noite chega e não sei onde estou, estrangeiro de tudo. Não tenho mais nenhum verso, perdi todos os acordes e tons, desafino e corrijo, ainda não sei ao certo, peço perdão a quem me feriu por alguma razão, fiz o que pude e nunca é demais. Nenhum milagre, um sequer pude ver, sou quem vai só e órfão, a mim me basta o inútil, qualquer coisa como um sorriso ou uma lágrima nos desvãos da alma. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo & aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] a forma atual do capitalismo global é insustentável dos pontos de vista social e ecológico. O chamado “mercado global” nada mais é do que uma rede de máquinas programadas para atender a um único princípio fundamental: o de que ganhar dinheiro deve ter precedência sobre os direitos humanos, a democracia, a proteção ambiental e qualquer outro valor. [...] O grande desafio do século XXI é da mudança do sistema de valores que está por trás da economia global, de modo a torná-lo compatível com as exigências da dignidade humana e da sustentabilidade ecológica. [...] É verdade que a transição para um mundo sustentável não será fácil. Mudanças graduais não serão suficientes para virar o jogo; vamos precisar também de algumas grandes revoluções. A tarefa parece sobre-humana, mas, na verdade, não é impossível. Nossa nova concepção dos sistemas biológicos e sociais complexos nos mostrou que perturbações significativas podem desencadear múltiplos processos de realimentação que podem produzir rapidamente o surgimento de uma nova ordem. [...]. Trechos extraídos da obra As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável (Cultrix/Amana-Key, 2005), do físico e escritor austríaco Fritjof Capra. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

DESCOBRINDO HERMILOMuitas vezes contei essa crônica da descoberta. Para vencer o tédio anunciado de uma viagem, fui à única livraria da cidade. Um livro me chama a atenção pelo título, Os Ambulantes de Deus (1976), de um autor para mim desconhecido: Hermilo Borba Filho. A leitura me provocou um susto, eu tinha intimidade com as ruas descritas, desenhadas com tintas oníricas e reais. Senti-me irmão daqueles navegantes que atravessaram o rio Una. Descobri, encantado, que a literatura pode estar em meu quintal. Não sei a largura do rio Una, mas lembro bem da jangada num ancoradouro ao lado da prefeitura. Nos servia de transporte às terras do engenho Paul. Era uma travessia curta, não mais que cinco minutos. Li o livro surpreso e encantado com aqueles seis personagens – a prostituta Dulce Mil-Homens, o poeta cordelista Cachimbinho-de- Coco, o cego pedinte Nô-dos- Cegos, o bicheiro Amigo-Urso, o calunga de caminhão Recombelo e o barqueiro Cipoal – torrando cinco longos anos para fazer o mesmo caminho fluvial. Cada um dos cinco anos começa no carnaval e termina no Natal – o ciclo dos folguedos nordestino – e tem sua própria condicionante. [...]. Trecho da crônica Descobrindo Hermilo (Casa da Palavra de Hermilo, 2017), do escritor, jornalista e crítico literário Maurício Melo Júnior. Veja a entrevista que ele concedeu pra gente aqui & mais dele aqui, aqui & aqui.

A MÚSICA DE CHLOÉ TREVOR
A música é uma das melhores maneiras pelas quais você pode aprender e expandir sua mente; portanto, uma das melhores coisas que os humanos podem fazer é ouvir música ao vivo. Por isso, é muito importante que as novas gerações desenvolvam uma afinidade musical, pois através dela você pode comunicar sentimentos e expressões.
CHLOÉ TREVOR – A arte da violinista britânica Chloé Trevor, tendo se apresentado como solista para orquestra em todo mundo e vencedora do Grande Prêmio nos concursos Lynn Harrell de 2006 e Lennox de 2005. Dedicada à educação e divulgação musical, ela se conecta regularmente com alunos e professores através de apresentações interativas, masterclasses e palestras, pessoalmente e online. Em 2018 ela criou a Chloé Trevor Music Academy, um programa intensivo de duas semanas para músicos e pianistas que oferece instruções individuais, treinamento em música de câmara, masterclasses, treinamento de orquestra e orientação de carreira pelos principais solistas do mundo, professores e condutores. Veja mais aqui.

A ARTE DE PAMELA FACCO
Eu sou a fotógrafa do projeto Poesia com Elos [...] Meu projeto tem como objetivo inicial evitar a objetificação do nu e assim libertar o corpo da mulher do lugar de objeto. Carrega também uma discussão de fundo sobre padrões estéticos e a fragilidade masculina. Esse projeto teve início em novembro de 2016 e começou apenas fotografando mulheres. Minha ideia foi mostrar minha visão enquanto artista mulher, não erótica e empoderadora sobre o corpo feminino. [...] Até então eu usava meu Instagram pessoal para publicar todos meus trabalhos e os separava apenas pelas tags. Quando fui descolada da rede senti a necessidade de abrir um Instagram próprio para o projeto. [...] É uma vitória e tanto para toda a classe de artistas. Eu queria que essa história fosse apenas a primeira de muitas, eu queria servir de exemplo de teimosia e autovalorização: porque não tem nada mais importante do que a própria autora entender que lutar pelo seu trabalho e voz é se dar valor enquanto MULHER. Queria que todas as pessoas que sofrerem injustiça naquela plataforma e tiverem seus trabalhos prejudicados e interrompidos olhassem para essa história e acreditassem que faz sentido sim lutar. Porque a minha utopia pessoal não é apenas ter a minha conta livre, mas sim que a arte como um todo o seja, e para isso é preciso que essa política cruel e leviana mude, mas a gente sabe que as coisas nesse universo capitalista só mudam quando começam a dar prejuízo para as empresas. Gostaria muito que isso realmente se espalhasse para que uma mudança real acontecesse. Só eu ganhar não me basta. Minha luta sempre foi por algo maior.
PAMELA FACCO – A arte da fotógrafa, designer gráfica e ilustradora Pamela Facco, é criadora do projeto Poesia com Elos, o qual foi bloqueado e censurado pelo Instagram, fazendo com que a artista recorresse à Justiça, obtendo ganho de causa contra a rede social. A decisão judicial inédita abre precedente para ações similares com essa jurisprudência, obrigando a rede social não só devolver a sua conta, como também está proibida de bloquear ou deletar novas fotos da fotógrafa. Veja mais aqui.

RUTE COSTA: POEMAS, ENTREVISTA & LEITURA NA PRAÇA
Entrevista, Poemas & Leitura na Praça da escritora e professora Rute Costa aqui & aqui.
&
CRÔNICAS NATALINAS
&
Aprendendo com a lição do Natal aqui.
Renascendo das cinzas na véspera de natal aqui.
Então, é natal aqui.
Crônica natalina aqui.
PS: estou de férias até 13 de janeiro! Feliz Natal & Próspero Ano Novo.
 

PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...