O MUNDO PARA QUEM VÊ & O NÃO VISTO! – Ao ler
os originais desta obra, findei surpreendido. Da primeira à última página, uma
interessantíssima viagem. Logo, influenciado, passei dias a meditar: ganhar o
mundo! Quem não? Sujeito andejo como sou, sempre me questionei: a vida é outra
coisa, muito diferente dessa que me coube e não me basta. Uma vontade medonha a
remoer no âmago: abdicar de tudo e me livrar dos grilhões da rotina, do peso
das responsabilidades assumidas. Ninguém merece. Cadê coragem? A libertária
atitude de jogar tudo para o alto e seguir errático o rumo das ventas na
direção do horizonte - como os antigos eremitas, só na cabeça de visionários,
avalie. Cada qual, o mundo ao seu modo e jeito. Einstein mesmo preferiu a viagem
vital do universo para dentro de si. Outros, com os olhos de Verne, ou do Barão
de Münchausen; tantos, feito o
quixotesco de Cervantes, do Gulliver de Swift, Walden de Thoureau; muitos
outros, como Marco Polo, Andersen, Twain, Stenvenson, ou mesmo On the road de Kerouak. Afinal, a vida é
uma viagem. Por isso Quintana dizia que viajar é mudar a roupa da alma. Eu
mesmo vou cantarolando aquela da banda Alcano, humildemente. Enfim, a valia do
axioma de Pompeu, que foi reiterado por Plutarco, Petrarca e Fernando Pessoa
para os Argonautas de Caetano, o poético: “Navegar é preciso, viver não é
preciso”. Contudo, nem só de aventura se vive – e quem está falando de
aventura? Digo de vida: livrar-se das convenções, não é tão fácil quanto
parece. Deixar casa, emprego, família e se atirar aos devires: se pensar duas
vezes, ninguém sai do lugar – vai e volta: arrependimentos e culpas. A coragem
de pegar a estrada, enfrentar surpresas e fantasmagorias, chuva e insolação,
deitar-se pelas calçadas, esquinas ou embaixo de marquises; sujeitar-se ao
inopinado: pessoas de bem ou sinistras, locais acolhedores ou hostis, tudo pode
acontecer, imprevisível. O surpreendente é quando uma figura hirsuta, ocupando
seu espaço na praça, as mãos ao artesanato, vestes comuns dos desapegados.
Passantes de soslaios: não sabem que ali está aquele que escolheu o próprio
modo de viver, um ser que é, ao seu modo, sua expressão verdadeira: um nômade,
seus apetrechos de vagante, sua bicicleta e o cão amigo, nos olhos ruas e
caminhos. Aproximar-se, hesitante, puxar uma conversa, coisa e tal, isso e
aquilo, curiosidades. É aí que nasce a surpresa: o diálogo surpreende e inesperado.
Converge o encontro: quem sabe o que quer e é. Ao final, uma lição: a coragem
da liberdade, o aprendizado da vida. É isso. Não ouso dizer mais nada, leiam e
verão. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo
& aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] uma mulher que é rebelde só porque afirma a
sua vontade [...] As mulheres dos Coríntios parecem-me animaizinhos domésticos cuidadosamente amansados, olham para mim como se eu fosse
uma coisa do outro mundo, nós os três, os
divertidos da ponta da mesa,
atraíamos todos os olhares, todos os olhares invejosos e escandalizados dos convivas e os de Jasão,
implorando [...] E ela não facilita
nada as coisas a ninguém.
Quase diria que brinca com fogo. Só a maneira
como anda! Desafiadora, é o termo. A maior parte das mulheres da Cólquida anda assim. Eu até gosto. Mas, por
outro lado, também se percebe que as mulheres
dos Coríntios se queixam: porque é
que as estrangeiras, refugiadas, haviam
de poder andar na sua cidade com um porte mais seguro do que elas próprias? Houve sarilhos, esperava-se que eu acalmasse as coisas, Medeia mandou-me
passear. [...] Muitas vezes tive de contar como subi à árvore, como
agarrei o velo e com ele desci, e
de cada vez que a contava mudava um pouco, para corresponder às expectativas
dos ouvintes, para ficarem bem
assustados e no fim poderem ter uma forte sensação de alívio. A coisa chegou ao ponto de eu próprio já não saber o
que se passou realmente naquele
bosque, junto do carvalho com a serpente, mas assim como assim já ninguém quer ouvir a história. A noite, à volta da
fogueira, cantam os feitos de Jasão matador de
dragões. [...] Uma vez Medeia ouviu comigo essas canções, e
no fim disse: eles fizeram de
cada um de nós aquele que mais lhe convém. De ti fizeram o herói, e de mim a mulher má. E assim conseguiram separar-nos. [...] Eu conheço os homens,
acho que posso dizê-lo, conheço
as suas estranhas e irreprimíveis necessidades, conheço a sua
fantasia desmedida e a sua tendência para tomar
por pura realidade as excrescências dessa fantasia, mas aquela mulher devia ter
alguma coisa que incendiava as
suas cabeças e não lhes saía delas.
[...]. Trechos extraídos da obra Medeia vozes
(Cotovia, 1996), da escritora, ensaísta e crítica literária
alemã Christa
Wolf (1929-2011). Veja mais aqui.
SUMÉ
Sumé. Personagem misteriosa, homem branco, de barba e cabelos longos,
que, antes do descobrimento, apareceu entre os indígenas, ensinando-lhes o
cultivo da terra e regras morais. Com sua ajuda os indígenas plantaram sementes
variadas e viraram nascer a mandioca, o milho, o feijão. Dotado de poderes
extraordinários, era capaz de abrandar chuvas e secas, dominar as ondas do mar
e os animais ferozes. Mas os pajés, invejosos do seu poder, só queriam
afastá-lo. Repelido, abandonou a região, caminhando sobre as águas do mar.
Transpondo distâncias com uma única passada, Sumé livrava-se das flechas que
lhe atiravam, fazendo-as voltar e atingir o inimigo. Sua passagem pelo litoral
fluminense deixou relatos de feitos extraordinários. [...]
SUMÉ – Trecho extraído da obra Dicionário do folclore brasileiro (Global, 2001), do historiador,
antropólogo, advogado e jornalista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986),
no qual trata sobre o verbete Sumé, referenciando a Zomé que é tido por São
Tomé, dando conta de relatos ocorridos em 1549, uma personagem misteriosa para
os indígenas, homem branco, surgido antes do descobrimento, que procurava
inculcar os índios ensinamentos morais e a arte de cultivar a terra. Repelido
por eles escapou de suas flechadas caminhando sobre as águas do mar. Antiga
tradição reza que vindo São Tomé à Bahia, onde cultivou a mandioca e as bananas
que tomaram seu santo nome e que, ao fugir da perseguição dos silvícolas, foi
para as Índias, com enormes passadas, sobre as ondas do mar. Contudo segundo
outras fontes Sumé era apenas o grande pajé, sem o menor vestígio alienígena,
ou seja, nome de uma entidade da mitologia dos tupis da costa, que teria
ensinado aos índios a agricultura: Pa’i, Sumé pypûera’angaba a’e. Veja mais
aqui, aqui & aqui.
A DANÇA DE MARTHA LORBER
A arte
da dançarina, atriz, cantora e modelo estadunidense Martha Lorber (1900-1983), que começou ainda adolescente sua
carreira na Broadway, participando do Ziegfeld
Follies a partir de 1922, além de ser prestigiada personagem que foi
fotografada por Edward Steichen, Nickolas Muray, Arnold Genthe, Alberto
Vargas e do escultor Harriet Whitney Frishmuth, entre outros. Veja mais aqui e
aqui.
A OBRA DE RAINER MARIA RILKE
Temos que aceitar a nossa existência em toda a
sua plenitude possível. Tudo, inclusive o inaudito,
deve ficar possível dentro
dela. No fundo, só essa
coragem nos é exigida: a de sermos
corajosos em face do estranho, do maravilhoso
e do inexplicável que se nos pode defrontar.
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ASSIM VEJO O MUNDO, DE REGINALDO OLIVEIRA
Conforme mencionado lá em cima, a obra Assim vejo
mundo, do filósofo e historiador Reginaldo
Oliveira, será lançada em breve. O autor já lançou a obra Sabedoria ou mediocridade?
Diálogos no reino encantado das águias (Bagaço, 2013). Veja mais aqui.