DITOS & DESDITOS - O
amor, às vezes, toma formas que transcendem o ato de vivenciá-lo. O amor, ele
mesmo, pode, de repente, se transformar, mudar de cara, nome e endereço. Pode
até mesmo virar arte. O
amor não tem espaço. O amor não tem tempo. O tempo é uma ilusão. O tempo só existe quando pensamos no passado e no
futuro. O tempo não existe no presente, aqui e agora. A vida é feita de fases,
e mudanças fazem parte disso. Nem sempre são fáceis, mas já que são
inevitáveis, por que não levar com a gente o melhor de cada um desses ciclos?
No final, a conta é simples: organizar os pontos positivos para que eles se
sobressaiam aos negativos. Associar pessoas e lugares também é uma forma de
simbolizar a importância que essas experiências tiveram para nós. O mais
difícil é fazer algo que é quase nada, porque exige tudo de você. Se você pode
mudar a mente das pessoas, você pode mudar o mundo. Quanto mais você pensa em
morte e mortalidade, mais gosta da vida. Porque então você não perde tempo.
Você apenas se concentra. Porque no final você está realmente sozinho,
independentemente do que fizer. A mulher sempre tem que desempenhar esse papel
de ser frágil e dependente. E se você não é assim, eles ficam fascinados por
você, mas só por um tempo. E depois eles querem mudar você e te destruir. E
depois partem. Então, serão muitos os quartos de hotel solitários, minha
querida. Desde muito cedo, entendi que só aprendo com coisas que não gosto. Se
você faz coisas que gosta, você faz sempre o mesmo. Você sempre se apaixona
pelo cara errado. Porque não há mudança. É tão fácil fazer as coisas que gosta.
Então, quando você tem medo de alguma coisa, enfrente, avance. Você vai se
tornar um ser humano melhor. Pensamento da artista performativa sérvia Marina
Abramović. Veja mais aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU: Eu me
pergunto como eles encontrarão tempo para desfrutar dos maiores prazeres da
vida: silêncio, calma, solidão. Sem nunca os ter conhecido eles não poderão
sentir falta deles. Como eu os conheço, Sinto pena deles. Pensamento do
ilustrador, litógrafo, caricaturista e escritor francês Albert Robida
(1848-1926).
LUGAR DA MEMÓRIA - [...] Lugares de memória são
antes de tudo sobras. A forma extrema em que subsiste uma consciência
comemorativa numa história que a pede, porque a ignora. […] Museus,
arquivos, cemitérios e colecções, festas, aniversários, tratados, atas, monumentos,
santuários, associações, são montículos que testemunham outra época, ilusões de
eternidade. [...]. Trechos extraídos da obra Les lieux de Mémoire (7 vols. Gallimard, 1984), do
historiador francês Pierre Nora, estabelecendo o conceito histórico
que se tornou referência para o estudo da história cultural sobre memória
coletiva e patrimônio cultural. Trata-se de determinados lugares
ligados a certos acontecimentos excepcionais do passado, muitas vezes ocorrendo
em um contexto traumático (como uma guerra), do qual a comunidade optou por
manter a memória, significando os marcos culturais, lugares, práticas e expressões de um
passado comum. Esses marcos podem ser concretos e
tangíveis, como objetos ou monumentos, mas também podem ser intangíveis, como
história, linguagem ou tradições. O autor integra a Escola dos Annales, a Nova
História e é editor em Ciências Sociais. Veja mais aqui.
A EXPERIÊNCIA – [...] É interessante que, no nosso mundo miserável, existem os crimes contra a
propriedade e contra o corpo, mas não existem os crimes contra a alma e contra
a beleza. [...] O saber da experiência é um saber que não pode separar‑se do indivíduo concreto em quem encarna. Não está,
como o conhecimento científico, fora de nós, mas somente tem sentido no modo
como configura uma personalidade, um caráter, uma sensibilidade ou, em
definitivo, uma forma humana singular de estar no mundo, que é por sua vez uma
ética (um modo de conduzir-se) e uma estética (um estilo). [...].
Trechos extraídos da obra Notas sobre a
experiência e o saber da experiência (Revista Brasileira de Educação, 2002),
do professor e educador Jorge Larrosa. Veja mais aqui.
A INFÂMIA – [...] Infame é aquele que é marcado por infâmia: desonrado,
desacreditado, desprezado, tocado pela vileza, pela baixeza, pela vergonha e
pelo opróbrio. Para o infame não há crédito, honra ou aceitação; somente
ignomínia, repulsa e censura. A infâmia é sempre pública e depende da opinião
de muitas pessoas, que se encontram em um mesmo julgamento de ordem moral: o
infame os escandaliza, fere as bases da conduta corrente e, por isso, deve ser
sinalizado, separado e punido. O infame está sempre alhures. [...]. Trecho extraído
da obra Histórias da Infâmia: de Borges a Foucault (Anuário de Literatura, 2010), do professor Kevin Falcão Klein.
CIDADES INVISÍVEIS – [...] Pode ser que eu tenha medo de repentinamente perder Veneza, se falar a
respeito dela. Ou pode ser que falando de outras cidades, já a tenha perdido
pouco a pouco. Trecho extraído da obra As cidades invisíveis (Companhia
das Letras, 1991), do escritor italiano Ítalo Calvino
(1923-1985). Veja mais aqui e aqui.
SETE SONETOS DE AMOR E MORTE - I – O
MUNDO QUE VENCI DEU-ME UM AMOR - O mundo que venci deu-me um amor, / Um
troféu perigoso, este cavalo / Carregado de infantes couraçados. / O mundo que
venci deu-me um amor / Alado galopando em céus irados, / Por cima de qualquer
muro de credo, / Por cima de qualquer fosso de sexo. / O mundo que venci deu-me
um amor / Amor feito de insulto e pranto e riso, / Amor que galga o cume ao
paraíso. / Amor que dorme e treme. Que desperta / E torna contra mim, e me
devora / E me rumina em cantos de vitória... II– NAM SIBYLLAM - Lá onde um velho corpo desfraldava / As trêmulas
imagens de seus anos; / Onde imaturo corpo condenava / Ao canibal solar seus
tenros anos; / Lá onde em cada corpo vi gravadas / Lápides eloquentes de um
passado / Ou de um futuro arguido pelos anos; / Lá cândidos leões alvijubados /
As brisas temporais se espedaçavam / Contra as salsas areias sibilantes; / Lá
vi o pó do espaço me enrolando / Em turbilhões de peixes e presságios / Pois na
orla do mundo as delatantes / Sombras marinhas, vagas, me apontavam. III – INFERNO, ETERNO INVERNO, QUERO DAR - Inferno,
eterno inverno, quero dar / Teu nome à dor sem nome deste dia / Sem sol, céu
sem furor, praia sem mar, / Escuma de alma à beira da agonia. / Inferno, eterno
inverno, quero olhar / De frente a gorja em fogo da elegia, / Outono e
purgatório, clima e lar / De silente quimera, quieta e fria. / Inverno, teu
inferno a mim não traz / Mais do que a dura imagem do juízo / Final com que me
aturde essa falaz / Beleza de teus verbos de granizo; / Carátula celeste, onde
o fugaz / Estio de teu riso - paraíso? IV – AGONISTES - Dormia um redentor no sol que ardia / O louro e a
cera, dons hipotecados / Da carne postulada pelo dia; / Dormia um redentor nos
incensados / Lençóis que a lua póstuma cobria / De mirra e de açafrões
embalsamados; / Dormia um redentor no navegante / Das mortalhas de escuma que
roía / O verme de seus sonhos abafados; / E até no atol do sexo triunfante / Do
mar e da salsugem da agonia / Dormia um redentor: e era bastante / Para
acordá-lo o verso que bramia / No cérebro do atleta e lá morria. V – ONDE PAIRA A CANÇÃO RECOMEÇADA - Onde
paira a canção recomeçada / No capitel de acanto de teu lar? / Onde prossegue a
dança terminada / Nas lajes de meu tempo de chorar? / Rapaz, em minhas mãos
cheias de areia / Conto os astros que faltam no horizonte / Da praia soluçante
onde passeia / A espuma de teu fim, pranto sem fonte. / Oh juventude, um pálio
de inocência / Jamais se estenderá sobre outra aurora / Mais clara que esta
clara adolescência / Onde o lupanar da noite hoje devora: / Que vale o lenço
impuro da elegia / Sobre teu rosto, lúcida alegria? VI – EGO DE MONA KATEUDO - Dor, dor de minha alma, é madrugada / E
aportam-me lembranças de quem amo. / E dobram sonhos na mal-estrelada / Memória
arfante donde alguém que chamo / Para outros braços cardiais me nega / Restos
de rosa entre lençóis de olvido. / Ao longe ladra um coração na cega / noite
ambulante. E escuto-te o mugido, / Oh vento que meu cérebro aleitaste, / Tempo
que meu destino ruminasse. / Amor, amor, enquanto luzes, puro, / Dormindo é
claro, eu velo em vasto escuro, / Ouvindo as asas roucas de outro dia / Cantar
sem despertar minha alegria VII –
ESTAVA LÁ AQUILES, QUE ABRAÇAVA - Estava lá Aquiles, que abraçava / Enfim
Heitor, secreto personagem / Do sonho que na tenda o torturava; / Estava lá
Saul, tendo por pajem / Davi, que ao som da cítara cantava; / E estavam lá
seteiros que pensavam / Sebastião e as chagas que o mataram. / Nesse jardim,
quantos as mãos deixavam / Levar aos lábios que o atraiçoaram! / Era a cidade
exata, aberta, clara: / Estava lá o arcanjo incendiado / Sentado aos pés de
quem desafiara; / E estava lá um deus crucificado. Poemas
extraídos da obra O homem e sua hora e outros poemas (Companhia das letras,
2009), do escritor, jornalista, crítico literário e tradutor Mário Faustino (1930-1962).
Veja mais aqui.
CODE INCONNU – O drama Code inconnu: Récit incomplet de divers voyages (2000),
dirigido por Michael Haneke, inspirado na vida do romancista Olivier Weber, apresenta
várias histórias diferentes, todas as quais se cruzam periodicamente, estrelado
pela atriz francesa Juliette Binoche.
Conhecido pelo nome de Código
Desconhecido a obra é composta de longas tomadas não editadas, filmadas
em tempo real, cortadas apenas quando a perspectiva dentro de uma cena muda de
um personagem para outro no meio da ação. Veja mais aqui e aqui.
PORTIER DES CHARTREUX – [...] Ó
orgasmo! Você é um raio de divindade! Ou você não é a própria divindade? [...]
Você não tem um bordel ou um fanático ao
seu alcance a cada momento, mas o pássaro está sempre lá para bater nele.
[...]. Trechos extraídos da obra Portier des Chartreux A História de Dom Bougre, porteiro do Chartreux (Estampe gravée, 1922),
atribuído ao advogado e escritor francês Gervaise de Latouche (1715-1782), que
descreve as incríveis aventuras libertinas e licenciosas do famoso monge
debochado Abbot Desfontaines, caracterizada pela vivacidade das cenas e pela
falsa ingenuidade de seu estilo. Este
romance foi reeditado em 17787 sob o título de Memórias de Saturnino (Paris, Cazin). Veja mais aqui.