DITOS
& DESDITOS - A medicina se fundamenta na natureza,
a natureza é a medicina, e somente naquela devem os homens buscá-la. A natureza
é o mestre do médico, já que ela é mais antiga do que ele e ela existe dentro e
fora do homem. A natureza é a causa e a cura das doenças. Só a dose faz o
veneno. O que Deus quer são nossos corações e não as cerimônias,
já que com elas a fé nele perece. Se queremos buscar a Deus, devemos buscá-lo
dentro de nós mesmos, pois fora de nós jamais o encontraremos. Todos são
interligados. O céu e a terra, ar e água. Todos são, uma só coisa; não quatro,
e não duas, e não três, mas um. Se não estiverem juntos, há apenas uma peça
incompleta.
Pensamento do médico e
alquimista suíço Paracelso
(1493-1541). Veja mais aqui e aqui.
ALGUÉM
FALOU: A arte não existe para produzir o visível, e sim para
tornar visível o que está além. A arte não reproduz o que vemos. Ela nos faz
ver. Um olho vê, o outro sente. O objeto expande-se além dos limites da sua
aparência pelo conhecimento que temos de que ele significa mais do que o que
vemos exteriormente, com os nossos olhos. A gente encontra o próprio estilo,
quando não consegue fazer as coisas de outra maneira. O pior acontece quando a
ciência é considerada uma forma de arte. Pensamento do poeta e pintor suíço Paul Klee (1879—1940). Veja mais aqui e aqui.
MÚSICA – A música combina pensamento e sentimento de uma forma que é totalmente
impossível de separar no produto final. Pensamento da compositora de vanguarda sueca Ellen Arkbro, que trabalha em grande parte no temperamento
intencional e seu instrumento principal é o órgão de tubos, e ela também compõe
para metais e ventos.
ADEUS
AO PARAÍSO - [...] O século XX, com suas
inacabáveis paisagens de ruínas e genocídios, com suas diversas ameaças de
destruição global, pôs fim às representações clássicas do progresso moral da humanidade.
Seu lugar foi ocupado por grande variedade de metáforas degradadas e ícones
propagandísticos, assim como pelas incontáveis expressões de fundamentalismos
escatológicos que coroaram o fim do século. Ao mesmo tempo, a filosofia e a
literatura modernas substituíram o progresso civilizatório em direção ao reino
ideal de lugar nenhum, a utopia do retorno da Idade de Ouro, pelo seu
contrário: o futuro como catástrofe. Do futurismo às utopias revolucionárias modernas,
seus sinais do progresso se confundiram, ao mesmo tempo, com uma nova ordem
civilizatória global os sistemas totalitários modernos. [...] O diálogo de linguagens e funções diferentes
articula em torno da arte uma comunidade, social e culturalmente descontínua. E
o faz de maneira aberta, transparente. E isso quer dizer que a arquitetura é
concebida como meio de integração da diversidade lingüística de uma comunidade
e de suas expressões espontâneas e cotidianas. Cultura popular, arte popular,
museu aberto, seriam as categorias apropriadas para definir esse centro... Tudo
isso está presente nele. Mas não é o aspecto mais importante a definir seu
projeto artístico. Muito mais intenso é o novo vínculo que essa arquitetura estabelece
entre cultura e cidade, sob a interação de linguagens locais, regionais e
internacionais. O relevante nesse conjunto arquitetônico é que ele contempla as
novas condições de produção e comunicação da megalópole pós-industrial, sem com
isso abandonar aquele espírito da utopia, do jogo e da liberdade que um dia
também distinguiu as vanguardas da América Latina. [...]. Trechos extraídos
da obra A penúltima visão do paraíso - Ensaios
sobre memória e globalização (Studio Nobel, 2001), do filósofo espanhol Eduardo Subirats.
OBVIEDADES - [...] Então a faca afunda. O manobrista lhe dá dois empurrões para fazê-lo cruzar a casca, após o que,
é como se a lâmina longa derretesse em afundando para o cabo através da gordura
do pescoço. A princípio o javali não não
percebe nada, fica alguns segundos deitado para pensar um pouco. Se! Ele então entende que está sendo morto e uiva em gritos abafados até não
poder mais. [...] Eu sei até que ponto esta
história será capaz de semear problemas e angústias, até que ponto não vai
perturbar as pessoas. Confio que o editor que
concordar em levar em carregar este manuscrito se exporá a problemas infinitos. A prisão provavelmente não será para ele não poupado, e
quero pedir desculpas a ele imediatamente pelo inconveniente. [...] peço
ao leitor, ao leitor desempregado em particular, que me perdoe por estes
palavras indecentes. Mas, infelizmente, não serei
indecente neste livro; e Peço a quem possa se
ofender com isso que gentilmente com licença. [...] Eu
não podia mais comer um sanduíche de presunto, me dava náuseas, uma vez até
vomitei na praça [...] Você tinha que
ver como eu comia, essas maçãs. Eu nunca tive tempo suficiente na praça para comê-los bem, para mastigá-los
bem, fez muito suco na minha boca, esmagou sob meus dentes, ficou com gosto! Meus poucos minutos de descanso na praça com meu maçãs,
entre os pássaros, era, por assim dizer, a felicidade da minha vida. Eu queria
verde, natureza. [...] Eu entendo o quão chocante e
desagradável deve ser ler uma jovem que se expressa assim, mas devo dizer
também que agora não sou mais exatamente o mesmo que antes, e que esses tipos
de considerações começam a escapar. [...] Na praça sempre encontrava
botões de ouro, era primavera de novo, e mastiguei-os lentamente em segredo,
achei que tinham gosto de manteiga e prado [...] Quando
chegou o verão não encontrei tantas flores e caí na grama de maneira bem
idiota, e no outono descobri as castanhas [...] descasquei-as facilmente, dourei-as, as minhas unhas ficaram muito
duras e mais corte do que antes. Meus dentes eram muito fortes também [...] eu
constantemente tinha com fome, eu teria comido qualquer coisa. Eu teria comido cascas, frutas blets, bolotas, minhocas. [...] Eu
estava descansando. Fiquei na minha cama e não
tive mais dores nas costas. eu tinha menos de inchaço no rosto. Obriguei-me a encontrar uma figura humana, dormi muito, penteava o cabelo. Meu cabelo estava quase todo no ralo mas eles estavam
recuando agora. Cortei minhas unhas, raspei
minhas pernas e Eu vi meus seios desinflarem, ficarem visíveis de mês para mês,
não havia mais do que as manchas escuras nos mamilos [...] eu
tinha engordado muito, ficando ali sem mover. [...] Foi assim que por trás das vidraças lascadas da pia encontrei livros, e
então eu encontrei em todos os lugares, uma infecção, foi até no meu colchão. Tentei comê-los, no começo, mas realmente estava muito
seco [...] comecei a ler todos os livros que encontrei, foi passando o tempo e
esqueça a fome porque rapidamente chegamos ao fim dos cadáveres [...] Ouvi um grito do lado do banco. Yvan estava de pé, ele estava levantando sua rosto para a
lua e ele balançou o punho para ela. Isso me chocou. E então Ivan caiu de quatro. Suas costas arquearam. Suas roupas rangiam o tempo todo longos e longos cabelos
grisalhos eriçados através da lágrima, seu corpo alargou e também rachou nos
ombros e nas mangas. O rosto de Yvan era tudo
distorcido, comprido e anguloso, brilhava com baba e dentes e seu cabelo tinha
empurrou até cobrir completamente seus ombros, grossos [...] Suas
mãos estavam enrolada no chão, como se cortada, enterrada, agarrada ao chão,
cheia de nós e garras [...] Algo
gritou em seu corpo, subiu para ele barriga como quando sinto o cheiro da morte.
[...]. Trechos extraídos da obra Truismes (P.O.L, 1996), da escritora e psicanalista francesa Marie
Darrieussecq. Veja mais aqui.
O
AMOR - O amor não busca agradar a si mesmo, nem destina qualquer
cuidado a si próprio, mas se dá facilmente ao outro e constrói um Paraíso no
desespero do Inferno. Não revele aos amigos os seus segredos, porque você não
sabe se algum se tornará seu inimigo. Não cause ao seu inimigo todo o mal que
lhe possa fazer, porque você não sabe se ele se tornará um dia seu amigo.
Aqueles que reprimem o desejo assim o fazem porque o seu desejo é fraco o
suficiente para ser reprimido. Quem nunca altera a sua opinião é como a água
parada e começa a criar répteis no espírito. Uma verdade que é dita com má
intenção derrota todas as mentiras que possamos inventar. A abelha atarefada
não tem tempo para a tristeza. A ave constrói o ninho; a aranha, a teia; o
homem, a amizade. O homem não tem um corpo separado da alma. Aquilo que
chamamos de corpo é a parte da alma que se distingue pelos seus cinco sentidos.
A energia é a eterna alegria. Exuberância é beleza. A simpatia é o coração a
sorrir no rosto. O caminho do desmedido conduz ao palácio da sabedoria. Se as
portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é:
infinito. Toda pergunta que pode ser concebida tem uma resposta. É justo que
assim deva ser: é do homem a dor e o prazer Aquele que quer fazer o bem ao
próximo, deve fazê-lo em termos particulares. O bem geral é a alegação do
patife hipócrita e adulador. A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o
tolo vê. Ouve a reprovação do tolo! É um elogio soberano! Texto do poeta, tipógrafo e pintor
inglês William Blake (1757-1827). Veja mais aqui e aqui.
POEMA - Falareis de nós como de um sonho. Crepúsculo dourado. Frases calmas.
Gestos vagarosos. Música suave. Pensamento arguto. Subtis sorrisos. Paisagens
deslizando na distância. Éramos livres. Falávamos, sabíamos, e amávamos serena
e docemente. Uma angústia delida, melancólica, sobre ela sonhareis. E as
tempestades, as desordens, gritos, violência, escárnio, confusão odienta,
primaveras morrendo ignoradas nas encostas vizinhas, as prisões, as mortes, o
amor vendido, as lágrimas e as lutas, o desespero da vida que nos roubam -
apenas uma angústia melancólica, sobre a qual sonhareis a idade de oiro. E, em
segredo, saudosos, enlevados, falareis de nós - de nós! - como de um sonho. Poema do poeta, dramaturgo e crítico
português Jorge de Sena (1919-1978). Veja mais aqui e aqui.