segunda-feira, setembro 17, 2012

EDNA O’BRIEN, ALFONSINA STORNI, DOSTOIEVSKI, BETINHO, ELOY URROZ & CRÔNICAS PALMARENSES



GINÁSIO DE PALMARES




Mesmo não tendo nada na minha inútil existência para me vangloriar, uma das pouquíssimas coisas que me envaidecem é ter sido aluno do Ginásio Municipal dos Palmares. Esse não era o nome dele de mesmo no meu tempo, era outro. É que o educandário ao longo dos tempos teve diversas denominações: pelos anos 40 foi Escola Prática de Comércio, depois passou a ser Escola Técnica de Comercio e, em 1948, Ginásio Municipal dos Palmares. Em 1952 passou a se chamar Escola de 1º Grau Agamenon Magalhães até 1987, quando passou a se chamar Colégio Municipal Fernando Augusto Pinto Ribeiro. Mas pode botar nome que seja, pois, pra gente e pro povo de lá é Ginásio Municipal dos Palmares mesmo.

Antes de estudar no Ginásio eu tivera passagens por outras escolas. É que desde Badalejo que eu enrolava todo mundo dizendo que sabia ler e escrever, coisa feita como pantim para conquistar Tia Conça, para mim, à época, minha primeira namorada. Pode? É que eu inventava histórias de amor como se estivesse lendo um livro que nem disso tratava. Ela ria com meu poder de criar essas coisas. Eu fingia escrever uns versos de amor tirados da cachola imitando os cantadores de cordel que eu vira na feira. E inventava poesias e cantigas pra ela. Menino perdido, eu era.

Como eu já me fazia dissimuladamente de leitor e escritor, fui pro Grupo José Bezerra que parece nem existe mais. Lá só estudei poucos meses quando eu tinha uns 4 anos e fui acometido de hepatite porque eu já cambaleava com problemas de saúde, oriundos de um acidente antes de completar 1 ano de idade. É que a empregada me levou ainda de braço pruma roda gigante que pegou fogo, a gente lá em cima, ela gritando e eu sem saber de nada, tive um derrame que estourou na minha visão. Resultado: olhos vermelhos o tempo todo. O tratamento com oculista no Recife acabou com meu fígado. Será? E quando fui pro Grupo, minha mãe havia recomendado que me dessem no recreio somente sopa, o que eu não gostava. Eu queria mesmo era estar na fila que servia chocolate. Não podia, toda vez eu era tirado da fila do chocolate. Eis que um dia lá, a professora cochilou e fiquei na fila do chocolate. Oxe, lavei a égua. Mas na volta pra aula depois do recreio, vomitei do piso ao teto. Findei acometido de hepatite das brabas. É nessa hora que entra minha tia-prima Sônia Cabral ministrando aulas para eu não perder o ano. Daí fui pra Escola da Fraternidade Palmarense, estudar com a professora Hilda Galindo Correia, por quem, numa paixonite infantil aguda, escrevi meus primeiros garranchos em quadras que foram publicadas nosuplemento Júnior, do Diário de Pernambuco. Veja que desde menino que eu me meti a ser poeta, mesmo nunca tendo passado, na verdade, de um poetastro desavergonhado.

Aí sim, terminado o primário, fui prestar os exames de admissão no Ginásio. E passei com festivos parabéns do direitor à época, Laércio Duá de Castro Pacheco, que era Promotor de Justiça. Parecia que ia tomar jeito de gente.

Entrei no primeiro ano ginasial pela mão de novo diretor, Múcio Rodrigues Barbosa de Aguiar que era o Juiz de Direito da Comarca. Foi quando tive acesso a laureados professores como Brivaldo Leão de geografia, Edson Matos de francês, Elias Sabino de português (substituído depois pela esposa dele, a bibliotecária e madrinha dos artistas da minha geração, Jessiba Sabino de Oliveira -, essa um amor de gente, uma das responsáveis pelo que de melhor eu tenha na minha formação) e muitos outros.

Passei de ano e já novo diretor na escola, o Coronel do Exército, Flavio Mendonça. É que estava eu lá com meus 11 anos, perdido do juízo, doido de pedra e já todo metido irreverente cheio das pregas e desobediente sem causa. Era período das calças boca de sino. A escola permitia 15 centímetros e eu usava 35. A secretária Lalinha se assustava e não me deixava impune rasgando para eu consertar no dia seguinte, coisa que me fazia aumentá-la mais ainda: 75. Parecia uma saia longa de quando virar o abanhado saber lá todo tipo de lixo arrastado embaixo. Findei suspenso pela primeia vez. Depois outra suspensão: descobriram que eu havia feito cirurgia de fimose e mangavam chamando de capado, principalmente duas crentes que sentavam na primeira fila da sala. Aí, um dia, fechei a porta e botei o pingulim pra fora: - Olhe aqui o capado, seus porras! -, foi um desastre. As duas intrometidas desmaiaram na hora e a classe entrou num verdadeiro escarcéu. Zé Dácio, o sensor, entrou abruptamente e me flagrou com a bilonga nas mãos. Pra secretaria. Lá vou ter com o coronel que logo apareceu, falou comigo em tom de brincadeira e saiu. Foi a Lalinha que me deu a notícia: mais 15 dias de suspensão. No final, seria um ano ótimo pelas travessuras dos colegas Marcos Loureiro e do baterista Help, o vice campeonato de futebol de salão, o professor João José que foi quem me redimiu numa noite de festa, quando a luz apagou e acendeu de repente, aí houve o flagra das distintas crentes malquistas arengando com as mãos na botija dele. Tudo isso afora outras presepadas boas pra lorotas pela noite adentro. Esse ano só não foi melhor mesmo porque sempre apesar de desleixado, estava de férias em setembro passado por média. Mas esse não, esbarrei na ranzizice da professora de Matemática, Maria Francisca, uma das muitas filhas do poeta Raimundo Alves de Souza, que ingicada comigo me deixou pra final e segunda época, findando reprovado com a dita cuja. Lá vou eu repetir de ano já com novo diretor: o dentista Boaventura Rodrigues Silva. Foi ótimo, estava eu com quase 12 anos e com o olho virado pruma peça teatral que aconteceu numa sexta de tarde. Foi, apaixonei-me pelo teatro desde da primeira vez que eu vi um drama encenado no ginásio. E eu que vivia de blém-blém inventando músicas sem nem saber tocar, agora estava pronto para aprender a tocar violão também. Aprendi sozinho como diz Ascenso Ferreira: aprendi sem se ensinar. E logo me meti com música e teatro virando poetastro de plantão. Era o começo na vera do meu entortamento.

O bonito de mesmo era ver o desfile do ginário no dia 7 de setembro. Isso sim, chega dava orgulho vê-lo passar com Elita no bombão da frente acompanhada por uma turma que batia bem na banda, enchendo os olhos de todos os simpatizantes duma empáfia ímpar e só saboreada nessa festividade, ou no dia 08 de junho, anversário da cidade. Era um demorado desfile porque o ginásio sempre vinha com toda aparatosa tuia dos seus mil e tantos alunos enfileirados por série em cada bloco. Dava gosto de ver. Só era ruim eu ter que marchar, coisa que não gostava, mas adorava apreciar o ginásio no desfile, artimanha que só consegui de fato depois que me transferi ao concluir a repetência do segundo ano aprovado pro terceiro, para estudar de noite no Colégio José Ferreira Gomes que funcionava no mesmo prédio. Isso foi uma jogada minha que já trabalhava como carimbador oficial no cartório do meu pai, armado de uma declaração do Juiz de Direito dando-me condições de aos 12 anos estudar nesse horário. Pelo visto eu me virava bem na busca pela emancipação.

Ah, esse ginásio vive no meu coração.

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DITOS & DESDITOSEstá cada vez mais claro que o destino do universo dependerá cada vez mais dos indivíduos, à medida que a confusão da burocracia permeia todos os cantos de nossa existência. Pensamento da premiada dramaturga e escritora irlandesa Edna O’Brien. Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Essas crianças estão nas ruas porque, no Brasil, ser pobre é estar condenado à marginalidade. Estão nas ruas porque suas famílias foram destruídas. Estão nas ruas porque nos omitimos. Estão nas ruas, e estão sendo assassinadas. No Brasil não existe filantropia, o que existe é pilantropia. Um país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência; muda sim pela sua cultura. O desenvolvimento humano só existirá se a sociedade civil afirmar cinco pontos fundamentais: igualdade, diversidade, participação, solidariedade e liberdade. Tudo pode parecer difícil, até que você pense o contrário. Existem varias formas de cometer um erro, mas só sabemos disso quando acontece. O que somos é um presente que a vida nos dá. O que nós seremos é um presente que daremos à vida... Pensamento do sociólogo e ativista dos direitos humanos, Herbert Sousa - Betinho, (1935—1997). Veja mais aqui e aqui.

 

ALEGORIA DO NAVIO – [...] Sócrates – Percebo que te divertes à grande por me ver às voltas com uma questão tão árdua; mas ouve a parábola e te divertirás ainda mais com a pobreza de minha imaginação. É tão ruim o trato que os homens mais judiciosos recebem de suas cidades que nenhuma outra criatura sofre coisa semelhante; por isso, a fim de fazer-lhes a defesa necessito recorrer à ficção, compondo uma figura com muitos elementos diversos, como os pintores ao pintar os fabulosos cervos-bodes e outros seres da mesma espécie. Imagina, pois, que num navio ou numa frota existe um capitão mais corpulento e robusto que os seus comandados, mas um tanto surdo e curto de vista, também não muito forte no que tange aos conhecimentos náuticos. Os marinheiros estão em disputa sobre o governo do navio, convencido cada qual de que tem direito a assumir o leme, sem jamais ter aprendido a arte de timoneiro nem poder indicar quem foi seu mestre ou a ocasião em que estudou; muito ao contrário, asseveram que isso não é matéria de estudo e, o que mais é, estão dispostos a fazer em pedaços quem quer que os contradiga. Esses sujeitos rodeiam o comandante, instando com ele e empenhando-se para por todos os meios para que lhes entregue o timão; e sucede que, não logrando persuadi-lo e vendo que outros lhes são preferidos, dão morte a estes e os lançam pela borda, embotam os sentidos do honrado capitão com mandrágora, vinho ou qualquer coisa e se põem a mandar no navio apoderando-se de tudo que nele existe. E assim, bebendo e banqueteando-se, prosseguem a viagem da maneira que seria de esperar num caso desses. Àquele que toma o seu partido e os ajuda a apoderar-se do comando pela persuasão ou pela força chamam-no homem do mar, bom piloto e entendido em náutica, ao mesmo tempo que tacham de inútil ao que não procede assim; e tampouco entendem que o bom piloto deve preocupar-se com o ano, a estação, o céu, os astros, os ventos e tudo mais que se relaciona com a arte se pretende realmente qualificar-se para a direção de um navio – e, estando verdadeiramente qualificado, ele é quem tem dirigi-lo, queiram os outros ou não. Nunca encaram a sério, como parte de sua profissão, essa possibilidade de unir na mesma pessoa a autoridade com a arte de marear. Ao suceder tais coisas num navio, não crês que o verdadeiro piloto será chamado um visionário, um charlatão e um inútil pelos marinheiros assim amotinados? Adimanto – Ah! Sem dúvida. Sócrates – E por certo não precisas ouvir a interpretação da alegoria, que descreve o verdadeiro filósofo em sua relação com a cidade; pois já a entendeste muito bem. Adimanto – Sim, claro. Sócrates – E se apresentasses agora esta parábola àquele cavalheiro que se admirava de ver que os filósofos não recebiam nenhuma honra em suas cidades? Explica-lha e trata de convencê-lo de que seria muito mais extraordinário se a recebessem. Adimanto – Assim farei. Sócrates – Dize-lhe que tem toda a razão ao considerar inúteis para o resto da humanidade os melhores cultores da filosofia; mas não te esqueças de acrescentar que a culpa dessa inutilidade cabe aos que não querem servir-se deles, e não a eles próprios. Os pilotos não devem suplicar aos marinheiros que se deixem comandar por eles, pois essa não é a ordem natural da coisas; nem tampouco devem “os sábios pedir à porta dos ricos”… o engenhoso autor deste conceito não fez mais do que mentir… mas a verdade é que quando um homem está doente, seja rico ou pobre, à porta do médico tem de ir bater, e quem necessita ser governado à de quem possa governa-lo; nem o governante que para alguma coisa sirva pedirá aos governados que se deixem governar. Não errarás, por outro lado, se comparares os que atualmente governam com os marinheiros de que falávamos há pouco, e aos que estes chamavam inúteis e papalvos, com os verdadeiros pilotos. [...]. Trecho extraído da obra A República (Nova Fronteira, 2011), filósofo grego Platão (428/427–348/347 aC.). Veja mais aqui e aqui.

 

A MENTE É UM PAÍS SELVAGEM E BELO[...] O homem precisa voltar às suas origens, pessoais e raciais, e aprender de novo as verdades da imaginação. E nessa tarefa seus estranhos instrutores são a criança, que mal entrou no mundo racional do tempo e do espaço, e o louco, que apenas escapou dele. Pois somente esses dois estão, até certo ponto, libertados da pressão desapiedada dos acontecimentos diários, o impacto incessante dos sentidos externos, que oprimem o resto da humanidade. Esse curioso par viaja ligeiro e empreende jornadas distantes e solitárias, às vezes trazendo, ao voltar, um ramo reluzente da Floresta de Ouro pela qual vagueou. [...]. Trecho extraído da obra Savage & Beautiful Country: The Secret Life of the Mind (Daimon, 1988) do médico e piloto britânico Alan McGlashan (1898-1997).

 

MANIFESTO CRACK - II. Genealogia de crack - Em seu conhecido ensaio México em seu romance, o crítico norte-americano John S. Brushwood insistia que Yáñez havia estabelecido a tradição do “romance profundo” em 1947 com a publicação de Al filo del agua. Mais tarde, em 1955 e dentro da mesma tradição, aparece Pedro Páramo, de quem o próprio Brushwood diz: o que é. que ela diz A relutância a uma participação tão ativa é compreensível, mas na minha opinião os resultados no final valem o esforço”. O que em ambos os casos não deixa de chamar a atenção é, em primeiro lugar, o adjetivo apropriado "profundo" para se referir a uma tradição ou cadeia piedosa de romances e romancistas que, na época. Quando Brushwood fala, por exemplo, da "dificuldade de acesso" a certos livros, os autores de Crack pensam imediatamente no romance "com exigências" e "sem concessões"; “exigências” cujos resultados, afinal, “valem o esforço” e “concessões” que servem, a longo prazo, apenas para enfraquecer ainda mais o panorama de nossa narrativa e desencorajar leitores honestos. O dilema, então, com esse grupo de romances do Crack é que eles tentam heroicamente a façanha de encontrar o que Julio Cortázar chamou de "participação ativa" em seus leitores justamente quando uma abominável "relutância" é o que vende e o que por sua vez consome seus leitores. Assim, a genealogia do Crack está se formando. O Crack desvenda e desvenda os livros aos quais se sente devedor e também os livros aos quais se sente anatematizante ou inquisitivo. Ao lado dessa tradição que tem seu esplendor com Yáñez e Rulfo, como já dissemos, os romancistas do Crack reverenciam aquelas poucas obras chamadas Farabeuf, Os Dias Terrestres, A Obediência Noturna, José Trigo, A Morte de Artemio Cruz e alguns mais. Mas, e desde então, o que acontece? Quais são essas outras obras exemplares da nossa literatura ou, pelo menos, quais são essas histórias em que nós, autores nascidos nos anos sessenta, podemos hoje regar ou mesmo encontrar um modelo digno para tentar tirar-lhe a vida e, depois, usurpar um trono? Não há nenhum; eles estão morrendo de anemia e complacência. Os riscos e o desejo de renovação definhou. Uma lacuna de várias décadas inunda o ambiente das letras com absenteísmo, seja com romancistas que não escrevem ou, pior ainda: com escritores que não podem ser chamados de romancistas. São poucos, para ser franco, as exceções e seus romances não passam de bons, repito: polidamente bons, sem nenhum terror que contrarie o brando contrato social, a branda norma literária. A piedosa cadeia de romances legitimamente "profundos", então, sofre um revés quando as grandes editoras começam a hesitar há alguns anos e preferem vender ao público títulos apócrifos "profundos", apócrifos literários, dando assim aos leitores uma quantidade indescritível de "gatos". por dinheiro." lebres” e desativando no processo a avidez de demanda que textos como Amarelinha, La vida breve ou Cem anos de solidão renderam. O fenômeno hoje se torna tão portentoso e evidente que não resta senão dizer que é um fato lamentável. Porém, Os romancistas de crack sonham que em algum lugar da nossa República analfabeta há um grupo de leitores fartos, cansados, fartos de tantas concessões e tantas indulgências. Eles, você, não podem mais ser enganados. As concessões, repito, os desconcertam e só os levam a pensar que sua própria capacidade está sendo minada. A esse grupo de indivíduos, vocês, infelizmente, alguns milhares, desejam chegar aos romances de Crack, seguindo, repito, aquela genealogia que desde os Contemporâneos (ou talvez pouco antes) forjou a cultura nacional quando quis tomar e riscos estéticos. Não há, portanto, ruptura, mas continuidade. E se houvesse alguma forma de ruptura, seria apenas com o lixo, a corrente nociva Gérber, a literatura de mush-dupe-ingênuo, o romance cinicamente superficial e desonesto. Em todo caso, a verdade é que não importa o que eu diga aqui ou o que qualquer um dos meus colegas diga: os romances de Crack vão falar por si mesmos. Ali estão. Chamam-se: O temperamento melancólico, Memória dos dias, Se suas majestades voltaram, A conspiração idiota e As Remoras. Se há um denominador comum neles, acho que é o risco estético, o risco formal, o risco que sempre implica o desejo de renovar um gênero (no caso o romance) e o risco que significa continuar com o mais profundo e árduo temos, sem preâmbulos eliminando o superficial, o desonesto. Pare de subestimar você. Mas como diz o poeta Gerardo Deniz e no meu caso virou slogan: “O tempo não cura. Verificações de tempo." Vamos esperar o tempo para dar sua última palavra ao Crack. Texto escrito pelo Eloy Urroz no Manifesto Crack (1996), dando conta do Movimento Crack, ou literatura da geração Crack, descrevendo o movimento mexicano que começou em meados da década de 1990, iniciado por vários autores mexicanos que romperam com as convenções literárias, tais como Ignacio Padilla, Jorge Volpi, Pedro Ángel Palou García e Ricardo Chávez-Castañeda. Veja mais aqui.

 

O IDIOTA - [...] Todavia a pergunta fica de pé:que fará um autor com gente comum, absolutamente 'comum', e como há de colocá-la diante do leitor tornando-a interessante? É de todo impossível deixá-la fora da ficção, pois essa gente do lugar-comum é, a todo momento, o principal e indispensável anel da cadeia dos negócios humanos. Se os deixarmos de fora perdemos toda a verossimilhança com a realidade. Encher uma novela completamente só com tipos, ou melhor, querer torná-la interessante mediante apenas caracteres estranhos e incríveis será querer torná-la irreal e até mesmo desinteressante. A nosso ver, um escritor deve procurar a torto e a direito enredos interessantes e instrutivos mesmo entre gente vulgar. Quando, por exemplo, a natureza mesma de certas pessoas vulgares reside justamente em sua perpétua e invariável vulgaridade, ou melhor ainda, quando, apesar de todos os mais estrênuos esforços para fugir à órbita da mesmice e da rotina, essa gente acaba por se sentir invariavelmente ligada para sempre a essa mesma rotina, então a gente adquire um caráter sui-generis, todo seu, o caráter da vulgaridade, desejosa acima de tudo de ser independente e original sem a menor possibilidade de o conseguir. [...] Não há, com efeito, nada mais aborrecido do que ser, por exemplo, rico, de boa família, ter boa aparência, ser bastante esperto e mesmo sagaz e todavia não ter talento, nenhuma faculdade especial, nenhuma personalidade mesmo, nenhuma ideia pessoal, não sendo propriamente mais do que 'como todo mundo. [...]. Trecho extraído da obra O idiota (José Oympio, 1967), do escritor russo Fiódor Mikhailovich Dostoiévski (1821 - 1881). Veja mais aqui e aqui.

 

UMA POESIA - Andei na vida pergunta fazendo morrendo de tédio, de tédio morrendo. Riram os homens de meu desvario... É grande a terra! Se riem... eu rio... Escutei palavras; demasiadas palavras! Umas são alegres, outras são macabras. Não pude entende-las; pedi as estrelas linguagem mais clara, palavras mais belas. As doces estrelas me deram tua vida e encontrei em teus olhos a verdade perdida. Oh! teus olhos cheios de verdades tantas, teus olhos escuros onde o universo meço! Segura de tudo me jogo a teus pés: descanso e esqueço”. Luz, poema da poeta argentina Alfonsina Storni (1892-1938). Veja mais aqui e aqui.

 


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