TRÍPTICO DQP – É
aqui. É agora. O primeiro degrau... Ao som de Violina, do compositor húngaro Frigyes
Hidas (1928-2007), na interpretação da premiada violinista argentina Betina Stegmann, integrante do Quinteto D’Elas, com a Banda Sinfônica do Estado de
São Paulo, Marcos Sadao Shirakawa, conductor. - Uma escada e não
sei onde vai dar. Não é a que dá acesso à minha casa, íngreme e, ao que parece,
vai dar por várias camadas e dobras, desconfiado olho entre o falsificador e o
autêntico, uma coexistência com as tramas hipercomplexas e híbridas, quando não
cíbridas e glocais, prenhe de plurivalência, o que me fazia não poder descurar de
sobreposições e complementaridade. Dali me afastei e, de repente, algo parece
que havia desprendido do cinturão de asteroides e eu tentei a todo custo voltar
para casa, pois sabia que ia piorar aquela situação de fedentina e ar fúnebre
que se abateu no meu país inteiro há tanto tempo por conta do golpe que deu no Fecamepa do Coisonário. As ruas desertas
de um outro lugar que sequer sabia e, na primeira esquina, esbarrei na criança
de Taung que me disse ter vindo para
uma conferência dos gorilas de Dian Fossey, a festa dos patos de Lorenz e dos camundongos de Tsien. É? Sim, um evento e tanto, pois
haverá um show dos macacos de Jane Goodall, o malabarismo dos ratos de Skinner, a festa do céu do sapo Aderbal com todas as feras e mansas e que o Camonge aprontou e deu a maior treta!
Bem movimentado, hem? Ah, sim, bastante. E logo me disse que havia chegado de
uma longa viagem feita entre o Taj-Mahal e Machu Pichu, contando-me da
experiência de reviver a Utopia de More,
a Atlântida de Bacon, da Aurora de Boehme,
da Loucura de Erasmo, e com ar de
extrema comiseração e mãos de Budha,
comentou-me sobre a indecisão do
jovem Hamlet. Ela não era mais que
uma antropoide do sul, australopithecus,
nem parecia e disse-me: Vamos logo que ainda quero ver o acasalamento dos
pombos de Dan Lehrman. Quem? Não conhece
o psicólogo naturalista estadunidense? Não. Af! E foi me levando até divisarmos
com o risonho matemático húngaro John
von Neumann (1903-1957) com sua teoria dos jogos: A vida real não é como no xadrez. A vida real consiste em blefes, em
pequenas táticas de despistamento, em pergunta a si próprio o que o parceiro
está pensando sobre qual será nosso próximo movimento. É esse o tipo de jogo
sobre o qual minha teoria se interessa. Ele era engraçadíssimo e logo
travou uma conversa animada com ela sobre hestórias. Como? Logo ouvi sobre A escalada do homem (M.Fontes/UnB, 1979),
do historiador polonês Jacob Bronowski
(1908-1974), no qual estava inscrito que: História
não são eventos, mas, sim, pessoas. Além disso, não são pessoas apenas
recordando; é o homem vivendo seu passado no presente. História é o ato
instantâneo de decisão do piloto, que cristaliza em si todo o conhecimento,
toda a ciência, tudo aquilo que foi aprendido desde o surgimento do homem. Conversaram
efusivamente e logo saíram os três de braços dados, me deixando sozinho no ermo
da rua. Outra escada e resolvi subir: era a vez do próximo degrau.
A balança & a
gangorra... Imagem: a arte da artista
israelense Ilana Yahav. – Umoutro: estava
eu perdido, deveras; o que foi e virá, a centopeia das horas e o cheiro da
noite na notícia encenada do assassinato da dentistescritora e militante Anita Carrijo (1900-1957) e eu chocado
com as condições em que ela foi encontrada em seu apartamento. Tudo registrado
como latrocínio na crônica policial, e apenas foram levadas das suas posses uma
máquina de escrever, os originais de um livro que estava escrevendo sobre
tóxicos em São Paulo envolvendo personalidades da alta sociedade e um pequeno
aparelho de diatermia. O principal suspeito, um seu ex-assistente italiano,
aspirante a ator e insatisfeito com a sua demissão, justo porque ela defendia
os direitos das mulheres, ressaltando a emancipação feminina, o direito ao
divórcio, a creche para as crianças de mulheres trabalhadoras. Depois de sua
morte, uma forte campanha de difamação logo ocorreu, acusando-a de traficante
de drogas e prostituição. E era ela, na verdade, Mira Sorvino ao meu lado a me dizer Virginia Woolf: A liberdade
intelectual depende de coisas materiais. A poesia depende da liberdade
intelectual. E as mulheres sempre foram pobres, não apenas nos últimos duzentos
anos, mas desde o começo dos tempos. As mulheres têm sido menos liberdade
intelectual do que os filhos dos escravos atenienses. As mulheres, portanto,
não têm tido a menor oportunidade de escrever poesia. E logo me envolveu na
trama onírica de Lulu on
the Bridge (1998), de Paul Auster, com sua voz suave a me mostrar fotos de beldades sensuais e a me
perguntar pelo saxofone. Qual? Ela insistia na indagação e a lhe dizer que
jamais tive tal instrumento, quando testemunhamos a cena no bar de frente: um
louco que atira no músico e depois se mata. Que coisa! Ela me disse: Era você,
felizmente sobreviveu ao atentado. Cadê a pasta? Que pasta? A do número de
telefone, a boceta de Pandora e a pedra brilhante que levita? Não sei do que
está falando! Você ligou pra mim e me trouxe a pedra! Como assim? Vou embora,
preciso ir para as filmagens na Irlanda e quanto a você, se cuide, vai terminar
preso. Por que? Deu-me um beijo e saiu. Logo desconhecidos apareceram e me
sequestraram: A pedra ou a sentença de traição! Jogaram-me um exemplar do livro
De
Traidor a Herói: O falsificador de Vermeer de Göring que enganou a Holanda e os nazis (Babelcube, 2019),
do dramaturgo e escritor espanhol Lázaro Droznes. Escolha! Como assim? E insistiam no interrogatório. Além
da pedra que jamais vira, fora imputado contra mim o crime de Han van Meegeren por falsificar quadros
do pintor Vermeers (1632-1675). A
pedra ou a condenação por alta traição! Você falsificou para mais de 50
pinturas. E logo me vi nas cenas do The Last Vermeer (2019), dirigido por Dan Friedkin, e tudo parecia um pesadelo interminável. Ao despertar
era a atriz inglesa Olivia Grant
dizendo-me de Fritz Perls: Se você odeia algo que existe, isso é você,
embora seja triste... Ao lado dela, ele emergiu do nada como se me lesse um
trecho do seu Escarafunchando. Ouvi
atento e ao procurá-la era Jenny Holzer: A propriedade privada criou o crime...
Proteja-me do que eu quero. Um homem jamais saberá o que é ser mãe. Justiça
eu sei não há nem aqui nem sei onde mais – mera extensão de poder dos sabidos e
salafrários, vendida e vendável. De mesmo só gangorra. O tempo apaga os ardis e
só resta a ameaça da variante Omicrom. Agarrei-me a ela para me proteger.
A aventura humana...- A arte da multiartista Aoru Aura. - Átimímpeto, ela múltipla; se uma ou outra sinuosa
jamais a mesma e me pedia perdão porque perdoava tudo ensandecida de paixão e
tão vulcânica com suas mãos de artesã na minha pele e um difuso arrepio tocava
a alma com a emanação do seu sexo vivo energizando o meu ser desarvorado latejante
coma revelação que fez da professora Nadia
Battella Gotlib: Estórias há de
conquistas e perdas. Estórias que seguem para frente. Ou para frente
retornando. Variam de assuntos e nos modos de contar. Até quando? Às vezes invisível
na minha obstinação, a incoerência extravasava e evaporava o mistério das asas
nas unhas dela a me reter no seu casulo onde escavacou meu ser e me disse do
suor na clareira ao contar aos matos verdes e pedras de ponta nossas
confidências e queria fazer tudo feito louca fugidia, nômade na verdade,
reinventando as ausências nas corredeiras do tempo. Virou-se e foi até à porta,
trouxe-me não sei como o escritor e jornalista cubano Pedro Juan Gutiérrez: Gosto de
ser belicoso, como bom filho de Ogum. Quando me virem tranquilo, é que já estou
apodrecendo. Não entendi direito e logo me presenteou os volumes da
sua Dirty Havana Trilogy (FSG, 2001)
e arrematou: Não tenho motivos para ser
amável, nem para fazer concessões. O escritor no fundo é um sujeito amargurado,
confuso, sem explicações para nada, e pouco lhe importa se o compreendem ou
não. Se é bem ou mal recebido. Se é simpático ou antipático. Se tem dinheiro ou
é um morto de fome. Se você é escritor, tem que saber que essas são as regras
do jogo. Do contrário, você é um palhaço. E vai ter sempre alguém por perto
tentando transformar você em palhaço. Disse-me e saiu tal como aparecera. Ela
foi, trancou a porta e voltou com um trecho do transconto Verba (Reformatório, 2021) da escritora Vera Albers: Existem quatro
comportamentos básicos no homem: consumação, gratificação, punição (fuga e
luta) e inibição (quando o siri chia)... Existem quatro cérebros no homem:
sobrevivência; alimentação e cópula; memória; associação criativa... Sorriu
solto e da poeta recitou o poema Vida: Virás ensolarada / pela estrada das pedras.
/ Postes hão de pontear / os teus passos poeirentos. / E caracóis eternos
colarão / sua baba a teu intento. / Arrasto-me no lodo seco / e fujo. / Tu, cão
sabujo, / segues-me. Sim, nem sabia que perseguia seus passos e,
abraçando-me, recitou-me Fátima Ferreira:
Eu vim do mar... “Qual as águas do mais
turvo oceano, nada apagará de minha mente a certeza de que te amo”. Lembra?
Perguntou-me e prosseguiu terna: Nada
como um náufrago tentando salvar-se. Chego sã à margem contrária. Mas já sem
fôlego... Disfarço e engulo seco, molhada e turva. Estranhas as cartas de amor
que continuam a existência independente do alvo. Amarro-as com uma fita de cetim
cor-de-rosa pela delicadeza... Não
brinco mais de duvidar. Só brinco agora de ostra guardando pérolas. Esse náufrago
não sabia mas era eu mesmo; essas cartas talvez, não sei, minhas... Prestei
atenção, encarei toda panorâmica, ela era mais que real e linda, a minha cidade
era o embuste e tanto barulho, onde o silêncio? Até mais ver.
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