INEDITORIAL: PRA
TUDO TEM JEITO, MENOS PRO QUE NÃO PODE OU NÃO QUER (Imagem: Abstrato,
da artista plástica Katia Almeida) -
Tem gente que acha que sabe de tudo: bota moral, arrota verdades e arenga no
arrazoado. Afinal, tem gente pra tudo: os que sabem de mesmo, os que não sabem
nada e enrolam bem só com leitura das orelhas, ou do prefácio ou de meia página
dum calhamaço de oitocentas, basta; os que sabem mais ou menos pelo que viram
das manchetes ou beberam dos outros e não passam de intelectual de sovaco; os
que fingem sabedoria e só sabem do raso e do ouvir dizer; e os que não sabem nada
e ficam calado só na base da lagartixa. Pudera, desde 1500 que tudo no Brasil é
anomalia e ela é reproduzida, desde sempre, na nossa educação: quando não
ensinam o errado – ou melhor, o que atende aos interesses das inverdades inventadas
pras conveniências e arranjados históricos -, incutem o ralo que não se
sustenta à primeira testagem de comprovação. Tanto é que tenho um amigo
advogado que vive de colecionar palavras difíceis no dicionário para sapecar no
primeiro discurso da oportunidade. Diz ele que, mesmo nem sabendo o que
significam – pra que mesmo saber, ninguém sabe mesmo -, o discurso sai bonito e
dá pra deixar a boa impressão de sabichão respeitável pros ouvintes. Teve até
uma hora que ele engasgou-se com uma proparoxítona de quase ficar mudo de
repente e botar tudo a perder em pleno Tribunal do Júri. Isso não é nada, tem
coisa até muito pior por aí. Por isso que aqui tudo é confusão: acredita-se
tanto no que seja certo e, no fim, só dá errado. Desde que inventaram o
politicamente correto que a coisa desandou a fole e tanto mais que a passada
errada na hora da topada dada, que ninguém mais se importa com o desliza: gafe
cometida só dá pro risível. Aí a razão do ditado: quem diz tudo que quer na lata,
de antemão já se sabe de quem se trata. Como pra tudo se vale da astúcia pra
dar jeito, não faltam cinismos e cretinices para levar a coisa na base do
indubitável. No fim, fica o dito pelo não dito, ninguém está nem aí pra
conferir. Quem é besta? Pois é, pra tudo dá um jeito. Só não tem jeito mesmo é
pra morte: não há como negociar nem dá uma de sabido. Quando chega a hora é
vupt! A redenção pra quem vai, lição pros que ficam. E vamos aprumar a conversa
nas novidades do dia: na edição de hoje destaque para a consciência fragmentada
de Renato Ortiz, a teoria e a prática de Adalberto Marson, o Baghavad Gita, a
literatura de Baldomero Lillo, o Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas, a
pintura de Frida Kahlo & Lisa Yuskavage, a
música de Paula Morelembaum, as Fotoformas de Geraldo de Barros, a escultura de
Émile-Antoine Bourdelle, a coreografia de Eugenio Scigliano & Balletto di
Toscana, o teatro de Rubens Rewald, o cinema de Wayne Wang & Gong Li, a
entrevista de Ulisses Tavares, a arte pop de Wanda Pepi, a palestra de
Neuroeducação & a croniqueta
Até tu, Zé Corninho. Veja mais aqui.
Veja mais sobre:
Cocão do padre, Darcy
Ribeiro, Oswald de Andrade, Hilda Hilst, Éric Rohmer, Belchior, Rosamaria Murtinho, Zouzou, Isadora Duncan & Zsigmond
Kolozsvary aqui.
E mais:
Cantiga do mamoeiro & outras loas aqui.
Fecamepa no aluado mundo mágico aqui.
A arte de Catarina Maul aqui.
Miolo de pote: na volta da Teibei, filosofia de boteco aqui.
Antecipação da tutela aqui.
DESTAQUE: DOS FRAGMENTOS DO SABER
[...] Tudo se passa como se os pólos de positividade e negatividade fossem
excludentes, heterogêneos, partes antagônicas de um fenômeno idêntico, mas
jamais analisado na sua ambigüidade própria. Fragmenta-se a totalidade da
ambivalência para apreendê-la enquanto dualidade. [...].
Trecho extraído da obra A consciência fragmentada – ensaios de
cultura popular e religião (Paz e Terra, 1980), do sociólogo e antropólogo
Renato Ortiz.
ATÉ TU,
ZÉ-CORNINHO!?! – Zé Corninho passou o maior
vexame. De novo? Ah, sempre! Não bastando as gaias dele que execram tanto na
mangação, como pelos problemas que causam no fornecimento de energia elétrica –
ih, faltou energia? Foi aquele fidapeste gaiúdo do Zé Corninho que arrancou os
fios de alta tensão! Pode ver! E era mesmo. Ele até já estava acostumado com as
chacotas e se defendia: - Todo mundo, quer queira, quer não, é corno! Todavia,
dessa vez, foi mais que desmoralizante. Todos tinham o sujeito como destemido e
desassombrado. O cabra não arredava o pé de enfrentar envultamentos ou
exorcismo de qualquer coisa ruim que lhe aparecesse, nem arregava de enfrentar
escuridão de breu na mata ou no cemitério, nem se acovardava de situação que
fosse. Botasse o desafio, ele só dava uns tapas para assentar o topete mode não
dá curto-circuito na raiz das galhetas do quengo, abria a caixa dos peitos e
enfrentava o revestrés que topasse. Era famoso por isso: - Tirante as gaias, o
cabra é macho mesmo! -, anuíam todos. Porém, naquele dia, a coisa foi além de
todos os limites. Quem se lembra, cai na gaitada. Tem nego que nem aguenta
vê-lo a qualquer hora do dia, que corre segurando a pança pra não estourar de
tanto rir. De tudo que já mangaram dele, nada tirava ele do sério. Entretanto,
essa a única mácula, a única coisa que o deixa até hoje puto de raiva. Ninguém
sabia, quando souberam, vixe, coitado. Basta acontecer e toda homência do cabra
se destrona: abre a caixa da ferramenta da viadagem, dele se atrepar aos gritos
no que tiver por perto, transido e transtornado. Se não demoverem aquela insignificância
de perto dele, não tem jeito: ele berra de chorar noite e dia. Ainda hoje se
interrogam todos: - Como é que um cabra véio, de fio barbado e tudo, tem medo
histérico de lagartixa, hem? Cada qual, cada qual. © Luiz Alberto Machado. Veja
mais aqui.
Curtindo o álbum Telecoteco: um sambinha cheio de bossa
(Universal, 2008), da cantora Paula
Morelembaum.
DA TEORIA E DA
PRÁTICA - [...] Partimos
do princípio de que, na formação de um conhecimento (como um modo de saber e
não mera apropriação) de um determinado objeto, a teoria acompanhada de certos
métodos e técnicas seja uma relação constitutiva da prática. O esforço é
dirigido não para comprovar a validade de uma teoria, ou de uma hipótese
prévia, mas para entender a razão daquele objeto se constituir de uma tal
maneira. A mediação fundamental da teoria e da prática, uma se constituindo
dentro da outra, vem a ser a reflexão constante, inclusive com a alteração de
eventuais interpretações no curso da investigação [...] ato de reflexão, fundamento da teoria
[...]. Trecho extraído de Reflexões sobre
o procedimento histórico (Marco Zero, 1984), do historiador Adalberto Marson.
Imagens: as Fotoformas do pintor, gravurista,
artista gráfico, desenhista industrial e fotógrafo Geraldo de Barros.
PENSAMENTO DO
DIA: BAGHAVAD GITA - [...] Como o fumo cobre o fogo, a poeira cobre o
espelho e o útero cobre o feto, de maneira similar o ser vivo está coberto por
camadas de luxúria [...]. Trecho extraído do Baghavad Gita – Canção do Divino Mestre (Companhia das Letras,
1998), o milenar épico indiano traduzido pelo poeta Rogério Duarte. Trata-se de
um capítulo do Mahabharata, o poema em sânscrito de 100 mil estrofes, escrito
por volta do ano 3 mil aC.
Imagens: a arte do escultor francês Émile
Antoine Bourdelle (1861-1929)
O CALDEIRÃO DO
DIABO – [...] Jamais
se soube como saltou a barreira, entravada por cabos e níveis;; mas foi vista
por um instante, agitando suas pernas descarnadas no vazio e depois, sem um
grito, desaparecer no abismo. Alguns segundos depois, um ruído surdo,
longínquo, quase imperceptível, brotou da faminta boca do poço, da qual
escapavam baforadas de tênues vapores: era o hálito do monstro, sequioso de
sangue, no fundo do seu covil. Trecho extraído do conto O caldeirão do
diabo (Cultrix, 1968), do escritor e contador de história chileno Baldomero Lillo (1867-1923).
Imagens: do premiado espetáculo Giselle, do coreógrafo Eugenio Scigliano com o Junior Baletto
di Toscana, dirigido por Cristina Bozzolini.
O NARRADOR – Peça teatral experimental O narrador (1996), do
diretor, roteirista e dramaturgo Rubens
Rewald, conta a história sobre as interferências da cidade nas relações
humanas. Na peça a personagem principal é uma cega que percorre a metrópole à
noite e em seu rastro se desenvolve a trama, da qual faz parte o público, que
segue o elenco e escolhe a cena que mais lhe interessa. Assim, o público participa
da trama e é usado como metáfora do cidadão moderno, ao mesmo tempo em que, a
cidade, em vez de mero cenário, influi como personagem decisivo. Tive
oportunidade de ver o espetáculo dirigido pelo professor, pesquisador, diretor
e ator Adriano Cypriano, em uma ótima apresentação, em 1998, no Porão
796, do Centro Cultural São Paulo. Veja mais aqui.
CHINESE BOX – O filme Chinese
Box (O último entardecer, 1997), dirigido por Wayne Wang, conta a história que se passa às vésperas de entregar
Hong Kong ao governo chinês, quando um veterano correspondente entre em crise
existencial causada, em parte, por sua frustrada paixão por uma dona de bar. Na
trama são nove histórias diferentes que se desenrolam em níveis diversos, todas
que se passam quando da ocorrência do fato nuclear que percorre todo enredo. O
destaque fica por conta da atuação da bela atriz chinesa Gong Li. Veja mais aqui.
Homenagem ao Dia dos Músicos.
AGENDA:
CONGRESSO BRASILEIRO DE TERAPIAS COGNITIVAS - Acontecerá entre os dias 18 e 22 de abril de
2017, no Rafain Palace Hotel e Convention Center, em São Paulo, o XI Congresso
Brasileiro de Terapias Cognitivas, com apresentação de temáticas como
tecnologia e psicoterapia, neurociência, disseminação dos conhecimentos da TCC,
principio de transdiagnóstico para transtornos mentais e integração das
abordagens da Terceira Onda com as tradicionais Informações pelo mail:
organizacaocbtc@hotmail.com ou pelo fone (19) 3241-0032. Veja mais aqui e aqui.
ENTREVISTA: ULISSES TAVARES – O escritor, jornalista, professor,
compositor letrista, dramaturgo e publicitário Ulisses Tavares, já publicou mais de 74 livros e me concedeu uma entrevista
reveladora sobre sua trajetória e sua arte. Confira a entrevista aqui.
REGISTRO: PALESTRA NEUROEDUCAÇÃO
Resultado de estudos durante vários anos e
das atividades desenvolvidas como membro do Grupo de Pesquisa de Neurofilosofia e Neurociência Cognitiva,
coordenado pelos professores Álvaro Queiroz e Janne Eyre Sarmento Araújo,
orientador pela professora doutora Daniela Botti, tenho realizado palestras
sobre o tema Contribuições da
Neuroeducação na prática de ensino-aprendizagem da escola pública de Ensino
Médio de Maceió. Veja detalhes aqui e aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagens: a arte da pintora estadunidense Lisa
Yuskavage.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: Floral
Peace Pop Art by Wanda
Pepi
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.