INEDITORIAL:
ESPERA (Imagem: Waiting
on the platform, by Anthea Rocker)
- A vida levando, sombria esperança. Os dias tato tontos servindo estranheza. A
utopia de ser existente. O fácil vazio que só arrefece em praça tolhida, e ser
condução: esperando Pinheiros no Largo da Paz. Eu não sei agonia se espero
amanhã. O fato existe em não ser amanhã. Sem tempo presente, imediato, um átimo
sensível de não se expressar. Eu não sei ironia se já anoitece. Se bem que meu
peito nem amanhecia. A pedra está por todos os lugares. E a solidão de um banco
de praça é fruto do ermo em sensação e reveste meu corpo em chuva fininha que
aglutina e já é temporal, sequer o ônibus Pinheiros, sequer, apontou no
Eldorado. Minha praça vazia, meu coração. Todos os outros pegaram seu rumo e
esqueceram a poeira no cansaço marcado. Já não posso molhar meu corpo na chuva,
nele só cabe o mormaço da vida, esperando Pinheiros no Largo da Paz. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. (In: Primeira Reunião. Recife: Bagaço, 1992.). Vamos agora
aprumar a conversa nas novidades: na edição de hoje destaque para a condição
humana de Karl Jaspers, o pensamento epistemológico de Hilton Japiassu, a
literatura de João do Rio, os contos proibidos de Marquês de Sade, o teatro de
Dario Fo, a música de Regina Schlochauer, a escultura de Diogo de Macedo, o
Colóquio de Estudos Feminista e de Gênero, a entrevista de Bráulio Tavares, a
fotografia de Herbert Matter, a pintura de Aaron Czerny, Anthea Rocker &
Ghada Amer, a dança do Jazz & Cia Grupo de Dança, o Dicionário
Tataritaritatá & a croniqueta O que sou de praça na graça que é dela. Para
ver mais clique aqui.
Veja mais sobre:
Da História do Brasil pro Fecapema, William Shakespeare, Timotthy Leary, Franz Liszt, Leconte
de Lisle, Nelson Pereira dos Santos, Leila Diniz, Robert Capa, Vincent
Stiepevich, Coronelismo e cangaço aqui.
E mais:
A música de Dhara – Maria Alzira Barros aqui.
Sobre o Suicídio, Padre Bidião, A primavera de Ginsberg
& muito mais aqui.
A educação no pensamento Marxista aqui.
As trelas do Doro: olha a cheufra! Aqui.
Fecamepa: quando embola bosta, o empenado não tem como
ter jeito!!!! Aqui.
DESTAQUE: A CONDIÇÃO HUMANA
Imagem: Perception
and the human condition, art by Aaron
Czerny.
-nos da nossa situação humana. Estamos sempre em
determinadas situações. Estas modificam-se, surgem novas oportunidades; se as
desperdiçarmos, não tornam a oferecer-se. Por mim, posso agir para alterar a situação.
Há, porém, situações que se mantêm essencialmente idênticas, mesmo quando a sua
aparência momentânea se modifica e se oculta a sua força avassaladora: tenho de
morrer, tenho de sofrer, tenho de lutar, estou sujeito ao acaso e incorro
inelutavelmente em culpa. A estas situações fundamentais da nossa existência
damos o nome de «situações-limite». Quer isto dizer que são situações que não
podemos transpor nem alterar. A tomada de consciência destas situações-limite
é, após o espanto e a dúvida, a origem mais profunda da filosofia. Na
existência comum esquivamo-nos a elas muitas vezes, fechando os olhos e vivendo
como se não existissem. Esquecemos que temos de morrer, esquecemos a nossa culpabilidade e a nossa
sujeição ao acaso. Defrontamo-nos, assim, apenas com situações concretas, que
resolvemos em nosso benefício e às quais reagimos por planos e atos instigados
pelos interesses da nossa existência no mundo. Às situações-limite, porém, a
nossa reação é diferente: ou as ignoramos ou, se realmente as apreendemos,
desesperamos e readquirimo-nos a nós próprios por uma metamorfose da nossa
consciência do ser. [...] O Homem
apodera-se da natureza para se assegurar do seu serviço; a natureza deverá ser
domesticada pelo conhecimento e pela técnica. Todavia, o próprio domínio da
natureza é aleatório. Constantemente ameaçado, por vezes malogra-se totalmente.
[...] Contudo, na insegurança geral do
mundo, serve-nos de indicação, impede a completa satisfação mundana, aponta-nos
algo diferente. As situações-limite – morte, acaso, culpa e insegurança –
mostram o fracasso. [...] Por outras
palavras: o Homem busca a redenção. A redenção é-lhe oferecida pelas grandes
religiões universais. O seu sinal é uma garantia objetiva da verdade e
realidade da redenção. Seguir esta via conduz ao ato da conversão do indivíduo.
Isto não pode a filosofia oferecer-lhe. Todavia, o filosofar é um triunfo sobre
o mundo, o análogo da redenção.
Trecho extraído da obra Iniciação filosófica
(Guimarães, 1960), do filósofo e psiquiatra alemão Karl Jaspers
(1883-1969). Veja mais aqui.
O QUE SOU DE
PRAÇA NA GRAÇA QUE É DELA – O que resta
de mim é sempre muito pouco. Sou sempre grato, mesmo assim. Posso ter rastejado
terrenos estéreis, me espremido por corredores e fatalidades, ou desesperado nos
cantos escuros das ruas, vez em quando. Do pouco que tive, sempre valeu muito
mais que tudo que perdi, quedei ou me flagelei. Esse pouco, apesar de tudo, é
sempre muito e demais: apaga todos os naufrágios, sara cicatrizes, amaina as dores.
Sempre remedia todas as minhas enfermidades das luas desfeitas e águas
estagnadas. Sempre revigora meus momentos depressivos de catarses e estertores.
Sempre ilumina a minha escuridão no breu de tudo. Ah, é a maior graça quando
Freyaravi surge do nada para fazer meu coração festa de domingo, aos pulos e
risos escancarados. Meu coração torna-se praça pro seu desfile sensual e ela a
brincar comigo de todo tipo de faz de conta, até ser-me real, carne viva, transformando-se
na mãe dos deuses egípcios: ela Neith para que toda graça possa plenamente me
contemplar entre fogos de artifícios e celebrações estelares. É ela Tehenut nua
com todos os festejos do ano e todas as comemorações da vida. É dela que tudo
em mim se refaz, desde as memoráveis lembranças da infância, ao mínimo triz do
que possa ser felicidade imensa no mais infinito dos prazeres. Por isso do que
sou é dela, nada mais, sou praça em festa na graça do universo que é todo só
dela. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
Curtindo os álbuns
(vols. 1 e 2) Um Cravo Bem
Variado (The Well Varied
Harpsichord, 1996) da pianista, professora e
cravista Regina Schlochauer.
PENSAMENTO DO
DIA - [...] Cada um de nós pode se tornar um pensador,
alguém que se baseia na lógica da argumentação e da refutação, jamais
confundindo as coisas da lógica com a lógica das coisas, e dizer “Não” a tudo o
que degrada o homem. [...] Porque
toda sociedade que nega a importância fundamental da racionalidade crítica para
resolver seus problemas está mais facilmente exposta a ser vítima de tiranos e
charlatães. [...]. Trechos recolhidos da obra A crise das ciências humanas
(Cortez, 2011), do epistemólogo e professor doutor em Filosofia pela Université
des Sciences Sociales de Grenoble (França) e pós-doutorado pela Universitsé des
Sciences Humaines de Strasbourg (França), Hilton
Japiassu.
Imagens: a arte da
pintora e artista contemporânea egípcia Ghada
Amer.
MEMÓRIAS DE UM RATO DE HOTEL - [...] Não sei dizer. Posso afirmar que uma vontade superior me impelia como
em estado de hipnose. É um outro ser que toma conta de mim. [...] Não sei. ia começar a minha epopéia. Tomei
um carro de cocheira, enveredei por um alfaiate de primeira ordem e entrei na
grande vida. [...] Estas memórias são
uma confissão e não um romance. [...] Que
diferença entre um grande artista, um grande político e um grande gatuno? Mas,
no ponto de vista da finura para a realização de uma obra precisa, nenhuma.
[...]. Trechos extraídos do texto O
representativo do roubo inteligente (A Notícia, 1911), do contista, cronista e romancista João do Rio (Paulo Barreto, 1882-1921),
no romance Memórias de um rato de hotel,
a vida do Dr. Antônio contada por ele mesmo (Dantes, 2000), contando as
memórias de um criminoso real que no momento encerrava sua vida de crimes preso
na Casa de Detenção, uma máscara que o autor utilizou para cronicizar sobre o
submundo do Rio de Janeiro e carnavalizar a sociedade.
Imagens: a arte
do escultor, museólogo e escritor português Diogo de Macedo.
A MANIPULAÇÃO
DA CRISE PARA A ARTE - Há uns anos atrás, o poder, no máximo da sua
intolerância, escorraçou os artistas dos seus países. Hoje em dia, os atores e
as companhias sofrem com a dificuldade de encontrar espaços, teatros e público;
tudo por conta da crise. Os governantes já não se preocupam em controlar quem
os cita com ironia e sarcasmo, uma vez que os atores não têm espaços nem
publico que os veja. Contrariamente ao que acontece hoje, no período da Renascença
em Itália, os governantes tiveram enormes dificuldades em controlar os atores e
comediantes que conseguiam mobilizar a sociedade para assistirem aos seus
espetáculos. [...] Logo, a única
solução para a crise reside na esperança de uma grande caça às bruxas que estão
contra nós, e sobretudo contra os jovens que querem aprender a arte do Teatro:
só assim nascerá uma nova geração de comediantes que aproveitará desta nossa experiência
e dela tirará benefícios inimagináveis na procura de novas formas de representação. Trechos extraídos das palavras do escritor, dramaturgo, comediante italiano e Nobel de
Literatura de 1997, Dario Fo
(1926-2016). Veja mais aqui e aqui.
OS
CONTOS PROIBIDOS DE MARQUÊS DE SADE – O drama Quills
(Contos proibidos de Marquês de Sade, 2000), dirigido por Philip Kaufman, conta
a história do escritor Marquês de Sade
que vive em um asilo por loucura ao término de sua vida, chegando ao ponto de
ser proibido de escrever, o que o leva a utilizar o próprio sangue e
excrementos para deixar seus manuscritos nas roupas e paredes. O destaque fica
por conta da belíssima atriz inglesa Kate Winslet. Veja mais aqui.
Imagem: pôster do
espetáculo C'Est La Vie – a constante busca pela realizaçãodos sonhos -, do Jazz & Cia Grupo de Dança, com direção
artística e coreografias do bailarino Robert Vaúna, participação do coreógrafo
Túlio Sanches e figurino de Isabel Campos.
AGENDA:
COLÓQUIO DE ESTUDOS FEMINISTA E DE GÊNERO – Acontecerá no dia 8 de novembro, a partir das
8hs, no campus universitário Darcy Ribeiro, na Universidade de Brasília, o III
Colóquio de Estudos Feministas e de Gênero - Mulheres e Violências: Interseccionalidade,
promovido pelo Fórum Notificação dos Casos de Violência contra a Mulher, como
parte do projeto Notique. Informações:
saudementalegenero@gmail.com Sítio: https://saudementalegenero.wordpress.com/eventos-2/
Endereço: Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília - DF, 70910-900- FINATEC.
Veja mais aqui e aqui.
ENTREVISTA: BRAULIO TAVARES – Entrevista realizada por
ocasião do lançamento do livro Os
martelos de Trupizupe, do escritor, poeta, compositor, teatrólogo,
roteirista, estudioso da cultura popular, o paraibano radicado no Rio de
Janeiro desde 1982, Bráulio Tavares.
Confira a entrevista aqui e aqui.
REGISTRO: DICIONÁRIO TATARITARITATÁ - O PAI DOS FABOS
BURROS
Gentamiga, como a moçada simpática que prestigia minhas
páginas tem perguntado em que raio de país ou planeta eu estou, respondo: vivo no
Brasil desde que nasci. Todavia, parece que a turma pensa que eu falo uma droga
de grego qualquer ou esperanto, volapuque, interlíngua ou que desgraça de
traste de fala é essa que eles não sacam patavina. Bem, explico: é um
pernambuquês condimentado com nordestês, brasileirês e outros processos
semânticos e linguísticos da boba da peste do regionalismo heterodoxo nacional,
mais juridiquês, analfabetês com acréscimos doutras expressões apropriadas de
tantas outras línguas! Tradução: ininteligível mesmo, só para iniciados safados
da mesma laia. Por isso, pra ficar por dentro da lorota toda confira o
dicionário aqui, aqui e aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagens: a arte do fotógrafo e designer
gráfico suíço Herbert Matter (1907-1984).
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.