INEDITORIAL: TANTAS
FAZEM & A GENTE É QUEM PAGA O PATO – Depois
de um golpe legalizado com o jeitinho brasileiro de burlar tudo e todos e de,
achando pouco em prevenir com manobra pra lá de descarada na distribuição dos
maiores pés de perus pro Legislativo, Judiciário e o próprio Executivo – esses
se garantem com os aumentos generosos -, a nossa mais esculhambada bancarrota, agora
chegou a hora da gente pagar o pato: 20 anos de congelamento dos gastos
públicos – outro embuste para cortar investimentos em educação, saúde e
serviços sociais prementes para a Patriamada -, com apoio de tudo quanto é
autoridade econômica e da imprensa festeira e vendida que nunca deixou de se
empanturrar com o bolo gordo dos recursos públicos. Eles se banqueteiam
faustosamente, distribuem as benesses entre si e depois passam o purgante da
falência com os cortes pra sangrar na carne da gente. E na maior cara de pau: a
PEC 241. Ô coisinha indigesta essa! Acoloiados com os que se dizem
representantes do povo no Congresso Nacional, estão priorizando a vitória para
não terem de passar nenhum vexame e a gente que saia engalobado. Danou-se! Ué,
a gente só vai assistir é? Eles mandam ver no óleo de peroba e a gente que
fique deslizando a bunda no chão, é? Ora, ora, está na hora da gente fazer
alguma coisa ou cada um dos quase 200 milhões de brasileiros vai ter que aguentar
essa PEC (letra por letra quer dizer: Porrada Enfiada nos Colhões – ou onde
achar melhor e quiser enfiar!?!) que vai deixar a gente arriado por 20 anos
gemendo de dor? Nos meus não, sabidão! Arre! Vamos aprumar a conversa, gente!
Enquanto isso, vamos pras novidades do dia: na edição de hoje destaque para a
condição pós-moderna de Jean-François Lyotard, a História de Georges Duby, a pintura
de Balthus, a literatura de George Orwell & Alfredo Flores, o teatro de
João Falcão, o Encontro de Inclusão Social e Acessibilidade, a escultura de
Marco Cochrane, a música de PJ Harvey, a fotografia de Marta Maria Pérez Bravo,
a entrevista de Virna Teixeira, a palestra Nietzsche & a Psicologia, a
fotografia de Richard Murrian e a croniqueta O infortúnio da prima da Vera. Veja mais aqui.
Veja mais sobre:
Guiando pelos catombos, Elias Canetti, Adélia Prado, Pablo Picasso, Georges Bizet, Maria João Ganga, Lygia
Clark, O princípio da Totalidade, Téspis & o nascimento do Teatro aqui.
E mais:
A poesia de Greta Benitez aqui.
Fecamepa & a corrupção
ineivada aqui.
A administração & as organizações aqui.
Ascenso Ferreira: Oropa, França e Bahia & outros
poemas aqui.
A poesia de Mariza Lourenço aqui.
As trelas do Doro: testamento de bocó aqui.
Proezas do Biritoaldo: Quando o cara num rega direito, o amanhã parece mais o aperto do dia de
ontem aqui.
DESTAQUE: A CONDIÇÃO PÓS-MODERNA
[...] já pagamos suficientemente a
nostalgia do tempo e do uno, da reconciliação do conceito e do sensível, da
experiência transparente e comunicável. Sob a generalizada exigência do
relaxamento e do apaziguamento, nos propomos mascular o desejo de recomeçar o
terror, cumprir a fantasia de apressar a realidade. A resposta é guerra ao
todo, demos testemunha do inapresentável, ativemos os diferentes, salvemos a
honra do homem.
Trecho extraído da obra A condição pós-moderna (José Olympio, 1998), do filósofo francês Jean-François Lyotard (1924-1998), expondo os pressupostos objetivos que permitiam falar de uma
transformação radical na maneira como o saber é produzido, distribuído e
legitimado, nas áreas mais avançadas do capitalismo. Veja mais aqui, aqui e
aqui.
O INFORTÚNIO DA
PRIMA DA VERA – Dalzuíta estava sozinha em
casa, porque Vera saíra logo cedo pra resolver umas pendências. O dia todo
solitária e quando deu a boquinha da noite, ela resolveu sair pra passear um
pouco e divagar. Há dias enclausurada em casa sem ter contato com vivalma,
afora os papos diários e a trabalhada com a prima, o tédio a consumia,
precisava encher a rua de pernas pra sair do marasmo. Não conhecia nada da
cidade e resolveu conhecer melhor a localidade que escolhera para dividir a
vida com a prima. Depois de muito perambular, encostou-se no balcão de um bar e
pediu uma cerveja. Sentou-se na primeira mesa que encontrou e, não demorou
muito, apareceu o primeiro marmanjo a soltar conversa mole. Ela ria e
mantinha-se em silêncio, sem dar trela pros importunos que invariavelmente
rondavam sua boniteza. Até que apareceu o motorista do guincho que socorreu o
veículo de Vera e começaram a bater um papo. Conversa animada, cervejas
consumidas, logo apareceu um sujeito fortão que sussurrou algo ao seu ouvido.
Ela nem ouviu já quase embriagada e manteve a conversa com o parceiro de mesa.
Daqui a pouco, o sujeito retorna, agora acompanhado de uma trupe de
mal-encarados, mais de trinta brutamontes capatazes, puxando-a pelo braço e
ameaçando quem ousasse atrapalhar sua investida. Saíram levando-a e, ao
dobrarem a primeira esquina, ameaçaram se ela não entrasse na caminhonete deles,
de espancá-la e a coisa ficar pior pro lado dela. A pulso ela foi empurrada na
cabine sobressalente do veículo, acompanhada de alguns que se imprensaram na
boleia, outros tantos atrepados na caçamba. Rodaram que só e num ermo escuro
estacionaram, puxando-a a força pro meio do terreiro, a passar aquelas
manzorras libidinosas por toda sua carne com pilhérias licenciosas e
esfregamentos em suas partes pudendas. Ela não sabia o que fazer, o mundo
rodava e sentiu que puxavam suas vestes para desnudá-la. Ficou nuínha e
espremida por uma tuia de machos que nunca vira nem sabia quem eram, todos com
mãos e pênis na sua pele, sufocada e espremida por corpos rudes, mal cheirosos.
Obrigaram-na a ajoelhar-se e ficaram lambuzando suas faces, costas, braços,
seios, pescoço, com pênis eretos por todos os lados, emborcada nua nos braços
deles, sentiu aqueles membros rijos na boca, no ânus, na vagina, uns aos outros
entrando e saindo nos seus orifícios todos, enfiados na marra dela sentir dores
e mais sofrimentos, eram muitos, estuprada por muitos, desonrada por todos. Ao
cabo de horas nesse suplício, ela desmaia e só acorda com o Sol forte no seu
corpo completamente nu. Procura suas roupas, abrigo, socorro: está no meio do
nada. Grita, chora, ninguém socorre. Lá pras tantas vem passando uma viatura da
polícia que a socorre e ela tenta explicar o que aconteceu. Abrigam-na com um
cobertor e levam-na para a delegacia. No caminho ela vê alguns dos seus
algozes, reconhece-os, são uns seis e os policiais logo os capturam, jogando-os
na viatura ao lado dela. Eles olham-na de forma ameaçadora e ficam jurando
desforra e violência acaso ela dê com a língua nos dentes. Desprotegida, vê-se
tocada e abusada por eles dentro da própria viatura, sem que os policiais dêem
conta. Ao chegar à delegacia, após o reconhecimento e lavratura de um termo que
ela não sabia nem o que era, sabia apenas que era assediada e amolada o tempo
inteiro ali mesmo, incluindo um policial que passou uma cantada, levando-a aos
empurrões para uma cela no final do corredor e expôs-lhe o membro rijo: se
quiser sair bem dessa, chupe aqui. Diante da sua recusa, teve a boca amordaçada
e com o próprio cobertor foi imobilizada e completamente domada pela força do
policial. Desprotegida e completamente humilhada restou-lhe apenas ser mais uma
vez seviciada, agora por um da lei, findando jogada no canto infecto da cela. Quando
tomou a si, estava enrolada ainda no cobertor e encaminhada por uma senhora
rude que esbravejava as putas todas que davam mole, vagabundas piranhas que não
seguravam a honra, provocando os machos, por isso findavam desse jeito,
molestada por animais que são provocados por elas mesmas: a culpa é delas, essas
putas! Ela não conseguia identificar a mulher, estava zonza, ouviu quando ela
disse: onde você mora, puta? Hem? Onde mora, porra? Ela que fora vítima de
tudo, se sentia agora acuada e acusada de crimes que nunca cometera: leva essa
puta daqui que além de tudo é surda e muda! Não sabe por quanto tempo ficou ali,
apenas que acordou deitada no banco de um veículo que estacionou na casa da
prima e levaram-na pra dentro para nunca mais esboçar uma reação sequer, depois
de tudo que sofreu, pra casa da prima, completamente fora de si pra nunca mais
mencionar palavra alguma. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
Curtindo o álbum Uh Huh Her (Island Records, 2004), da
cantora, poeta, compositora e produtora musical britânica PJ Harvey (Polly Jean Havey).
A HISTÓRIA – [...] a história
(o ensino da história, a sua prática, a leitura de obras históricas), é, como
se diria ainda há pouco, a escola dos cidadãos; que ela contribui para formar
pessoas cujas opiniões sejam mais livres, que sejam capazes de submeter as
informações com que são bombardeadas a uma análise lúcida, mais capazes de agir
com conhecimento de causa, menos enredadas nas malhas de uma ideologia. Ela
também ensina a complexidade do real. Ensina a ler o presente de modo menos
ingênuo a perceber, pela experiência de sociedades antigas, como é que os
diversos elementos de uma cultura, e de uma formação social atuam uns em
relação aos outros. [...] Trecho extraído da obra Diálogo de uma nova história (Dom Quixote, 1989), do historiador
francês Georges Duby (1919-1996), autor da obra Amor e Sexualidade no Ocidente:
e história contínua (L&PM, 1991).
Imagens: a arte do artista
plástico francês de origem polaca Balthus (Balthasar Klossowski /
1908 – 2001)
PENSAMENTO DO
DIA: PRESENTE, PASSADO & FUTURO - Quem controla o passado contra o futuro. Quem
controla o presente, controla o passado. Pensamento
do escritor e jornalista britânico George Orwell (Eric Arthur Blair –
1903-1950). Veja mais aqui e aqui.
Imagem: a arte
da fotógrafa e artista visual cubana Marta
Maria Pérez Bravo.
HURTADO, O
BANDOLEIRO - [...] Carmelo
Hurtado era um bandoleiro que tinha chegado a impor-se, naquelas paragens, pela
sua coragem temerária e sua pontaria infalível. Mais de trinta mortes eram-lhe
atribuídas, e mantinha emchoque a policia daquelas comarcas desertas, cujos
destacamentos nunca tinham conseguido agarrá-lo. Hurtado era o tema de todas as
conversas nos ranchos e povoados. Dias antes, em Santo Inácio, havia posto em
debandada um piquete de quarenta milicianos que fora capturar: e essa nova
façanha do bandido, cuja fama naqueles pagos atingia o limite do fantástico,
era também comentada nas estâncias das redondezas. [...]. Trecho extraído
do conto Hurtado, o bandoleiro
(Cultrix, 1968), do escritor, jornalista e dramaturgo boliviano Alfredo Flores (1897-1987), autor de
obras como Deserto Verde e La Virgen de las Siete Calles.
A DONA DA
HISTÓRIA - A peça teatral A dona da história, do escritor, diretor, roteirista e compositor João Falcão, conta a história de uma
mulher solitária às voltas com o seu próprio destino, apresentando-a aos 20
anos de idade e, depois, aos 50. A peça foi encenada na Sala Fernanda
Montenegro, do Teatro Leblon, no Rio de Janeiro, em 1998, com a maravilhosa
performance das atrizes Andréa Beltrão e Marieta Severo. Em 2004, foi adaptada
para o cinema com direção de Daniel Filho e estrelado por Marieta Severino e um
elenco primoroso. Veja mais aqui.
Imagens: a arte da série Bliss, do escultor estadunidense nascido na Itália, Marco Cochrane.
AGENDA: ENCONTRO
DE INCLUSÃO SOCIAL E ACESSIBILIDADE – Acontecerá entre os dias 9 e 11 de novembro, acontecerá o
VI Encontro de Inclusão Social e Acessibilidade (VI EISA), com o tema Trilhas
da educação contextualizada, promovido pelo Programa de Apoio Psicopedagógico
(PAP) da Universidade de Fortaleza. O objetivo do evento é fomentar a pesquisa e o desenvolvimento de projetos, promover
espaço de discussão sobre a inclusão social e acessibilidade em ambientes
educacionais, e compartilhar experiências nos diferentes campos do saber. O encontro
terá palestras, cursos, apresentações de trabalhos, rodas de conversa,
apresentações artísticas e mais. Informações pelo mail: inscricaoeisa2016@gmail.com Telefone
(85) 3477-3399 Endereço: Av. Washington Soares, 1321, 60811-905 Fortaleza. Veja
mais aqui e aqui.
ENTREVISTA: VIRNA TEIXEIRA – Em 2009, ao lançar o seu livro
de poemas Distância, tive a oportunidade de realizar uma entrevista exclusiva
com a poeta, tradutora e neurologista Virna
Teixeira. Confira a entrevista aqui.
REGISTRO: NIETZSCHE
E A PSICOLOGIA
Com a realização da pesquisa sobre Nietzsche
e a psicologia, desenvolvido para cumprimento da disciplina Bases Filosóficas e Epistemologias da
Psicologia, ministrada pelo Professor Álvaro Queiroz, realizei algumas palestras a respeito. Veja
detalhes aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: a arte
do fotógrafo estadunidense Richard
Murrian.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.