terça-feira, outubro 25, 2016

ORWELL, ALFREDO FLORES, LYOTARD, PJ HARVEY, BALTHUS, NIETZSCHE, GEORGES DUBY, JOÃO FALCÃO, MARTA BRAVO, VIRNA TEIXEIRA, MARCO COCHRANE & MURRIAN

INEDITORIAL: TANTAS FAZEM & A GENTE É QUEM PAGA O PATO – Depois de um golpe legalizado com o jeitinho brasileiro de burlar tudo e todos e de, achando pouco em prevenir com manobra pra lá de descarada na distribuição dos maiores pés de perus pro Legislativo, Judiciário e o próprio Executivo – esses se garantem com os aumentos generosos -, a nossa mais esculhambada bancarrota, agora chegou a hora da gente pagar o pato: 20 anos de congelamento dos gastos públicos – outro embuste para cortar investimentos em educação, saúde e serviços sociais prementes para a Patriamada -, com apoio de tudo quanto é autoridade econômica e da imprensa festeira e vendida que nunca deixou de se empanturrar com o bolo gordo dos recursos públicos. Eles se banqueteiam faustosamente, distribuem as benesses entre si e depois passam o purgante da falência com os cortes pra sangrar na carne da gente. E na maior cara de pau: a PEC 241. Ô coisinha indigesta essa! Acoloiados com os que se dizem representantes do povo no Congresso Nacional, estão priorizando a vitória para não terem de passar nenhum vexame e a gente que saia engalobado. Danou-se! Ué, a gente só vai assistir é? Eles mandam ver no óleo de peroba e a gente que fique deslizando a bunda no chão, é? Ora, ora, está na hora da gente fazer alguma coisa ou cada um dos quase 200 milhões de brasileiros vai ter que aguentar essa PEC (letra por letra quer dizer: Porrada Enfiada nos Colhões – ou onde achar melhor e quiser enfiar!?!) que vai deixar a gente arriado por 20 anos gemendo de dor? Nos meus não, sabidão! Arre! Vamos aprumar a conversa, gente! Enquanto isso, vamos pras novidades do dia: na edição de hoje destaque para a condição pós-moderna de Jean-François Lyotard, a História de Georges Duby, a pintura de Balthus, a literatura de George Orwell & Alfredo Flores, o teatro de João Falcão, o Encontro de Inclusão Social e Acessibilidade, a escultura de Marco Cochrane, a música de PJ Harvey, a fotografia de Marta Maria Pérez Bravo, a entrevista de Virna Teixeira, a palestra Nietzsche & a Psicologia, a fotografia de Richard Murrian e a croniqueta O infortúnio da prima da Vera. Veja mais aqui.

Veja mais sobre:
Guiando pelos catombos, Elias Canetti, Adélia Prado, Pablo Picasso, Georges Bizet, Maria João Ganga, Lygia Clark, O princípio da Totalidade, Téspis & o nascimento do Teatro aqui.

E mais:
A poesia de Greta Benitez aqui.
Fecamepa & a corrupção ineivada aqui.
A administração & as organizações aqui.
Ascenso Ferreira: Oropa, França e Bahia & outros poemas aqui.
A poesia de Mariza Lourenço aqui.
As trelas do Doro: testamento de bocó aqui.
Proezas do Biritoaldo: Quando o cara num rega direito, o amanhã parece mais o aperto do dia de ontem aqui.

DESTAQUE: A CONDIÇÃO PÓS-MODERNA
[...] já pagamos suficientemente a nostalgia do tempo e do uno, da reconciliação do conceito e do sensível, da experiência transparente e comunicável. Sob a generalizada exigência do relaxamento e do apaziguamento, nos propomos mascular o desejo de recomeçar o terror, cumprir a fantasia de apressar a realidade. A resposta é guerra ao todo, demos testemunha do inapresentável, ativemos os diferentes, salvemos a honra do homem.
Trecho extraído da obra A condição pós-moderna (José Olympio, 1998), do filósofo francês Jean-François Lyotard (1924-1998), expondo os pressupostos objetivos que permitiam falar de uma transformação radical na maneira como o saber é produzido, distribuído e legitimado, nas áreas mais avançadas do capitalismo. Veja mais aqui, aqui e aqui.

O INFORTÚNIO DA PRIMA DA VERA – Dalzuíta estava sozinha em casa, porque Vera saíra logo cedo pra resolver umas pendências. O dia todo solitária e quando deu a boquinha da noite, ela resolveu sair pra passear um pouco e divagar. Há dias enclausurada em casa sem ter contato com vivalma, afora os papos diários e a trabalhada com a prima, o tédio a consumia, precisava encher a rua de pernas pra sair do marasmo. Não conhecia nada da cidade e resolveu conhecer melhor a localidade que escolhera para dividir a vida com a prima. Depois de muito perambular, encostou-se no balcão de um bar e pediu uma cerveja. Sentou-se na primeira mesa que encontrou e, não demorou muito, apareceu o primeiro marmanjo a soltar conversa mole. Ela ria e mantinha-se em silêncio, sem dar trela pros importunos que invariavelmente rondavam sua boniteza. Até que apareceu o motorista do guincho que socorreu o veículo de Vera e começaram a bater um papo. Conversa animada, cervejas consumidas, logo apareceu um sujeito fortão que sussurrou algo ao seu ouvido. Ela nem ouviu já quase embriagada e manteve a conversa com o parceiro de mesa. Daqui a pouco, o sujeito retorna, agora acompanhado de uma trupe de mal-encarados, mais de trinta brutamontes capatazes, puxando-a pelo braço e ameaçando quem ousasse atrapalhar sua investida. Saíram levando-a e, ao dobrarem a primeira esquina, ameaçaram se ela não entrasse na caminhonete deles, de espancá-la e a coisa ficar pior pro lado dela. A pulso ela foi empurrada na cabine sobressalente do veículo, acompanhada de alguns que se imprensaram na boleia, outros tantos atrepados na caçamba. Rodaram que só e num ermo escuro estacionaram, puxando-a a força pro meio do terreiro, a passar aquelas manzorras libidinosas por toda sua carne com pilhérias licenciosas e esfregamentos em suas partes pudendas. Ela não sabia o que fazer, o mundo rodava e sentiu que puxavam suas vestes para desnudá-la. Ficou nuínha e espremida por uma tuia de machos que nunca vira nem sabia quem eram, todos com mãos e pênis na sua pele, sufocada e espremida por corpos rudes, mal cheirosos. Obrigaram-na a ajoelhar-se e ficaram lambuzando suas faces, costas, braços, seios, pescoço, com pênis eretos por todos os lados, emborcada nua nos braços deles, sentiu aqueles membros rijos na boca, no ânus, na vagina, uns aos outros entrando e saindo nos seus orifícios todos, enfiados na marra dela sentir dores e mais sofrimentos, eram muitos, estuprada por muitos, desonrada por todos. Ao cabo de horas nesse suplício, ela desmaia e só acorda com o Sol forte no seu corpo completamente nu. Procura suas roupas, abrigo, socorro: está no meio do nada. Grita, chora, ninguém socorre. Lá pras tantas vem passando uma viatura da polícia que a socorre e ela tenta explicar o que aconteceu. Abrigam-na com um cobertor e levam-na para a delegacia. No caminho ela vê alguns dos seus algozes, reconhece-os, são uns seis e os policiais logo os capturam, jogando-os na viatura ao lado dela. Eles olham-na de forma ameaçadora e ficam jurando desforra e violência acaso ela dê com a língua nos dentes. Desprotegida, vê-se tocada e abusada por eles dentro da própria viatura, sem que os policiais dêem conta. Ao chegar à delegacia, após o reconhecimento e lavratura de um termo que ela não sabia nem o que era, sabia apenas que era assediada e amolada o tempo inteiro ali mesmo, incluindo um policial que passou uma cantada, levando-a aos empurrões para uma cela no final do corredor e expôs-lhe o membro rijo: se quiser sair bem dessa, chupe aqui. Diante da sua recusa, teve a boca amordaçada e com o próprio cobertor foi imobilizada e completamente domada pela força do policial. Desprotegida e completamente humilhada restou-lhe apenas ser mais uma vez seviciada, agora por um da lei, findando jogada no canto infecto da cela. Quando tomou a si, estava enrolada ainda no cobertor e encaminhada por uma senhora rude que esbravejava as putas todas que davam mole, vagabundas piranhas que não seguravam a honra, provocando os machos, por isso findavam desse jeito, molestada por animais que são provocados por elas mesmas: a culpa é delas, essas putas! Ela não conseguia identificar a mulher, estava zonza, ouviu quando ela disse: onde você mora, puta? Hem? Onde mora, porra? Ela que fora vítima de tudo, se sentia agora acuada e acusada de crimes que nunca cometera: leva essa puta daqui que além de tudo é surda e muda! Não sabe por quanto tempo ficou ali, apenas que acordou deitada no banco de um veículo que estacionou na casa da prima e levaram-na pra dentro para nunca mais esboçar uma reação sequer, depois de tudo que sofreu, pra casa da prima, completamente fora de si pra nunca mais mencionar palavra alguma. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.


Curtindo o álbum Uh Huh Her (Island Records, 2004), da cantora, poeta, compositora e produtora musical britânica PJ Harvey (Polly Jean Havey).

A HISTÓRIA – [...] a história (o ensino da história, a sua prática, a leitura de obras históricas), é, como se diria ainda há pouco, a escola dos cidadãos; que ela contribui para formar pessoas cujas opiniões sejam mais livres, que sejam capazes de submeter as informações com que são bombardeadas a uma análise lúcida, mais capazes de agir com conhecimento de causa, menos enredadas nas malhas de uma ideologia. Ela também ensina a complexidade do real. Ensina a ler o presente de modo menos ingênuo a perceber, pela experiência de sociedades antigas, como é que os diversos elementos de uma cultura, e de uma formação social atuam uns em relação aos outros. [...] Trecho extraído da obra Diálogo de uma nova história (Dom Quixote, 1989), do historiador francês Georges Duby (1919-1996), autor da obra  Amor e Sexualidade no Ocidente: e história contínua (L&PM, 1991).

Imagens: a arte do artista plástico francês de origem polaca Balthus (Balthasar Klossowski / 1908 – 2001)

PENSAMENTO DO DIA: PRESENTE, PASSADO & FUTURO - Quem controla o passado contra o futuro. Quem controla o presente, controla o passado. Pensamento do escritor e jornalista britânico George Orwell (Eric Arthur Blair – 1903-1950). Veja mais aqui e aqui.


Imagem: a arte da fotógrafa e artista visual cubana Marta Maria Pérez Bravo.

HURTADO, O BANDOLEIRO - [...] Carmelo Hurtado era um bandoleiro que tinha chegado a impor-se, naquelas paragens, pela sua coragem temerária e sua pontaria infalível. Mais de trinta mortes eram-lhe atribuídas, e mantinha emchoque a policia daquelas comarcas desertas, cujos destacamentos nunca tinham conseguido agarrá-lo. Hurtado era o tema de todas as conversas nos ranchos e povoados. Dias antes, em Santo Inácio, havia posto em debandada um piquete de quarenta milicianos que fora capturar: e essa nova façanha do bandido, cuja fama naqueles pagos atingia o limite do fantástico, era também comentada nas estâncias das redondezas. [...]. Trecho extraído do conto Hurtado, o bandoleiro (Cultrix, 1968), do escritor, jornalista e dramaturgo boliviano Alfredo Flores (1897-1987), autor de obras como Deserto Verde e La Virgen de las Siete Calles.


A DONA DA HISTÓRIA - A peça teatral A dona da história, do escritor, diretor, roteirista e compositor João Falcão, conta a história de uma mulher solitária às voltas com o seu próprio destino, apresentando-a aos 20 anos de idade e, depois, aos 50. A peça foi encenada na Sala Fernanda Montenegro, do Teatro Leblon, no Rio de Janeiro, em 1998, com a maravilhosa performance das atrizes Andréa Beltrão e Marieta Severo. Em 2004, foi adaptada para o cinema com direção de Daniel Filho e estrelado por Marieta Severino e um elenco primoroso. Veja mais aqui.


Imagens: a arte da série Bliss, do escultor estadunidense nascido na Itália, Marco Cochrane.

AGENDA: ENCONTRO DE INCLUSÃO SOCIAL E ACESSIBILIDADE – Acontecerá entre os dias 9 e 11 de novembro, acontecerá o VI Encontro de Inclusão Social e Acessibilidade (VI EISA), com o tema Trilhas da educação contextualizada, promovido pelo Programa de Apoio Psicopedagógico (PAP) da Universidade de Fortaleza. O objetivo do evento é fomentar a pesquisa e o desenvolvimento de projetos, promover espaço de discussão sobre a inclusão social e acessibilidade em ambientes educacionais, e compartilhar experiências nos diferentes campos do saber. O encontro terá palestras, cursos, apresentações de trabalhos, rodas de conversa, apresentações artísticas e mais. Informações pelo mail: inscricaoeisa2016@gmail.com Telefone (85) 3477-3399 Endereço: Av. Washington Soares, 1321, 60811-905 Fortaleza. Veja mais aqui e aqui.


ENTREVISTA: VIRNA TEIXEIRA – Em 2009, ao lançar o seu livro de poemas Distância, tive a oportunidade de realizar uma entrevista exclusiva com a poeta, tradutora e neurologista Virna Teixeira. Confira a entrevista aqui.

REGISTRO: NIETZSCHE E A PSICOLOGIA
Com a realização da pesquisa sobre Nietzsche e a psicologia, desenvolvido para cumprimento da disciplina Bases Filosóficas e Epistemologias da Psicologia, ministrada pelo Professor Álvaro Queiroz, realizei algumas palestras a respeito. Veja detalhes aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagem: a arte do fotógrafo estadunidense Richard Murrian.
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.