quarta-feira, outubro 26, 2016

BAGHAVAD GITA, BALDOMERO LILLO, RENATO ORTIZ, MARSON, PAULA MORELEMBAUM, BOURDELLE, SCIGLIANO, REWALD, WAYNE WANG & GONG LI, ULISSES TAVARES, KATIA ALMEIDA, LISA YUSKAVAGE, WANDA PEPI & GERALDO DE BARROS


INEDITORIAL: PRA TUDO TEM JEITO, MENOS PRO QUE NÃO PODE OU NÃO QUER (Imagem: Abstrato, da artista plástica Katia Almeida) - Tem gente que acha que sabe de tudo: bota moral, arrota verdades e arenga no arrazoado. Afinal, tem gente pra tudo: os que sabem de mesmo, os que não sabem nada e enrolam bem só com leitura das orelhas, ou do prefácio ou de meia página dum calhamaço de oitocentas, basta; os que sabem mais ou menos pelo que viram das manchetes ou beberam dos outros e não passam de intelectual de sovaco; os que fingem sabedoria e só sabem do raso e do ouvir dizer; e os que não sabem nada e ficam calado só na base da lagartixa. Pudera, desde 1500 que tudo no Brasil é anomalia e ela é reproduzida, desde sempre, na nossa educação: quando não ensinam o errado – ou melhor, o que atende aos interesses das inverdades inventadas pras conveniências e arranjados históricos -, incutem o ralo que não se sustenta à primeira testagem de comprovação. Tanto é que tenho um amigo advogado que vive de colecionar palavras difíceis no dicionário para sapecar no primeiro discurso da oportunidade. Diz ele que, mesmo nem sabendo o que significam – pra que mesmo saber, ninguém sabe mesmo -, o discurso sai bonito e dá pra deixar a boa impressão de sabichão respeitável pros ouvintes. Teve até uma hora que ele engasgou-se com uma proparoxítona de quase ficar mudo de repente e botar tudo a perder em pleno Tribunal do Júri. Isso não é nada, tem coisa até muito pior por aí. Por isso que aqui tudo é confusão: acredita-se tanto no que seja certo e, no fim, só dá errado. Desde que inventaram o politicamente correto que a coisa desandou a fole e tanto mais que a passada errada na hora da topada dada, que ninguém mais se importa com o desliza: gafe cometida só dá pro risível. Aí a razão do ditado: quem diz tudo que quer na lata, de antemão já se sabe de quem se trata. Como pra tudo se vale da astúcia pra dar jeito, não faltam cinismos e cretinices para levar a coisa na base do indubitável. No fim, fica o dito pelo não dito, ninguém está nem aí pra conferir. Quem é besta? Pois é, pra tudo dá um jeito. Só não tem jeito mesmo é pra morte: não há como negociar nem dá uma de sabido. Quando chega a hora é vupt! A redenção pra quem vai, lição pros que ficam. E vamos aprumar a conversa nas novidades do dia: na edição de hoje destaque para a consciência fragmentada de Renato Ortiz, a teoria e a prática de Adalberto Marson, o Baghavad Gita, a literatura de Baldomero Lillo, o Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas, a pintura de Frida Kahlo & Lisa Yuskavage, a música de Paula Morelembaum, as Fotoformas de Geraldo de Barros, a escultura de Émile-Antoine Bourdelle, a coreografia de Eugenio Scigliano & Balletto di Toscana, o teatro de Rubens Rewald, o cinema de Wayne Wang & Gong Li, a entrevista de Ulisses Tavares, a arte pop de Wanda Pepi, a palestra de Neuroeducação & a croniqueta Até tu, Zé Corninho. Veja mais aqui.

Veja mais sobre:
Cocão do padre, Darcy Ribeiro, Oswald de Andrade, Hilda Hilst, Éric Rohmer, Belchior, Rosamaria Murtinho, Zouzou, Isadora Duncan & Zsigmond Kolozsvary aqui.

E mais:
Cantiga do mamoeiro & outras loas aqui.
Fecamepa no aluado mundo mágico aqui.
A arte de Catarina Maul aqui.
Miolo de pote: na volta da Teibei, filosofia de boteco aqui.
Antecipação da tutela aqui.

DESTAQUE: DOS FRAGMENTOS DO SABER
[...] Tudo se passa como se os pólos de positividade e negatividade fossem excludentes, heterogêneos, partes antagônicas de um fenômeno idêntico, mas jamais analisado na sua ambigüidade própria. Fragmenta-se a totalidade da ambivalência para apreendê-la enquanto dualidade. [...].
Trecho extraído da obra A consciência fragmentada – ensaios de cultura popular e religião (Paz e Terra, 1980), do sociólogo e antropólogo Renato Ortiz.

ATÉ TU, ZÉ-CORNINHO!?! – Zé Corninho passou o maior vexame. De novo? Ah, sempre! Não bastando as gaias dele que execram tanto na mangação, como pelos problemas que causam no fornecimento de energia elétrica – ih, faltou energia? Foi aquele fidapeste gaiúdo do Zé Corninho que arrancou os fios de alta tensão! Pode ver! E era mesmo. Ele até já estava acostumado com as chacotas e se defendia: - Todo mundo, quer queira, quer não, é corno! Todavia, dessa vez, foi mais que desmoralizante. Todos tinham o sujeito como destemido e desassombrado. O cabra não arredava o pé de enfrentar envultamentos ou exorcismo de qualquer coisa ruim que lhe aparecesse, nem arregava de enfrentar escuridão de breu na mata ou no cemitério, nem se acovardava de situação que fosse. Botasse o desafio, ele só dava uns tapas para assentar o topete mode não dá curto-circuito na raiz das galhetas do quengo, abria a caixa dos peitos e enfrentava o revestrés que topasse. Era famoso por isso: - Tirante as gaias, o cabra é macho mesmo! -, anuíam todos. Porém, naquele dia, a coisa foi além de todos os limites. Quem se lembra, cai na gaitada. Tem nego que nem aguenta vê-lo a qualquer hora do dia, que corre segurando a pança pra não estourar de tanto rir. De tudo que já mangaram dele, nada tirava ele do sério. Entretanto, essa a única mácula, a única coisa que o deixa até hoje puto de raiva. Ninguém sabia, quando souberam, vixe, coitado. Basta acontecer e toda homência do cabra se destrona: abre a caixa da ferramenta da viadagem, dele se atrepar aos gritos no que tiver por perto, transido e transtornado. Se não demoverem aquela insignificância de perto dele, não tem jeito: ele berra de chorar noite e dia. Ainda hoje se interrogam todos: - Como é que um cabra véio, de fio barbado e tudo, tem medo histérico de lagartixa, hem? Cada qual, cada qual. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui

 Curtindo o álbum Telecoteco: um sambinha cheio de bossa (Universal, 2008), da cantora Paula Morelembaum.

DA TEORIA E DA PRÁTICA - [...] Partimos do princípio de que, na formação de um conhecimento (como um modo de saber e não mera apropriação) de um determinado objeto, a teoria acompanhada de certos métodos e técnicas seja uma relação constitutiva da prática. O esforço é dirigido não para comprovar a validade de uma teoria, ou de uma hipótese prévia, mas para entender a razão daquele objeto se constituir de uma tal maneira. A mediação fundamental da teoria e da prática, uma se constituindo dentro da outra, vem a ser a reflexão constante, inclusive com a alteração de eventuais interpretações no curso da investigação [...] ato de reflexão, fundamento da teoria [...]. Trecho extraído de Reflexões sobre o procedimento histórico (Marco Zero, 1984), do historiador Adalberto Marson.


Imagens: as Fotoformas do pintor, gravurista, artista gráfico, desenhista industrial e fotógrafo Geraldo de Barros.

PENSAMENTO DO DIA: BAGHAVAD GITA - [...] Como o fumo cobre o fogo, a poeira cobre o espelho e o útero cobre o feto, de maneira similar o ser vivo está coberto por camadas de luxúria [...]. Trecho extraído do Baghavad Gita – Canção do Divino Mestre (Companhia das Letras, 1998), o milenar épico indiano traduzido pelo poeta Rogério Duarte. Trata-se de um capítulo do Mahabharata, o poema em sânscrito de 100 mil estrofes, escrito por volta do ano 3 mil aC.


Imagens: a arte do escultor francês Émile Antoine Bourdelle (1861-1929)

O CALDEIRÃO DO DIABO – [...] Jamais se soube como saltou a barreira, entravada por cabos e níveis;; mas foi vista por um instante, agitando suas pernas descarnadas no vazio e depois, sem um grito, desaparecer no abismo. Alguns segundos depois, um ruído surdo, longínquo, quase imperceptível, brotou da faminta boca do poço, da qual escapavam baforadas de tênues vapores: era o hálito do monstro, sequioso de sangue, no fundo do seu covil. Trecho extraído do conto O caldeirão do diabo (Cultrix, 1968), do escritor e contador de história chileno Baldomero Lillo (1867-1923).


Imagens: do premiado espetáculo Giselle, do coreógrafo Eugenio Scigliano com o Junior Baletto di Toscana, dirigido por Cristina Bozzolini.

O NARRADOR – Peça teatral experimental O narrador (1996), do diretor, roteirista e dramaturgo Rubens Rewald, conta a história sobre as interferências da cidade nas relações humanas. Na peça a personagem principal é uma cega que percorre a metrópole à noite e em seu rastro se desenvolve a trama, da qual faz parte o público, que segue o elenco e escolhe a cena que mais lhe interessa. Assim, o público participa da trama e é usado como metáfora do cidadão moderno, ao mesmo tempo em que, a cidade, em vez de mero cenário, influi como personagem decisivo. Tive oportunidade de ver o espetáculo dirigido pelo professor, pesquisador, diretor e ator Adriano Cypriano, em uma ótima apresentação, em 1998, no Porão 796, do Centro Cultural São Paulo. Veja mais aqui.


CHINESE BOX – O filme Chinese Box (O último entardecer, 1997), dirigido por Wayne Wang, conta a história que se passa às vésperas de entregar Hong Kong ao governo chinês, quando um veterano correspondente entre em crise existencial causada, em parte, por sua frustrada paixão por uma dona de bar. Na trama são nove histórias diferentes que se desenrolam em níveis diversos, todas que se passam quando da ocorrência do fato nuclear que percorre todo enredo. O destaque fica por conta da atuação da bela atriz chinesa Gong Li. Veja mais aqui.

 Homenagem ao Dia dos Músicos.

AGENDA: CONGRESSO BRASILEIRO DE TERAPIAS COGNITIVAS - Acontecerá entre os dias 18 e 22 de abril de 2017, no Rafain Palace Hotel e Convention Center, em São Paulo, o XI Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas, com apresentação de temáticas como tecnologia e psicoterapia, neurociência, disseminação dos conhecimentos da TCC, principio de transdiagnóstico para transtornos mentais e integração das abordagens da Terceira Onda com as tradicionais Informações pelo mail: organizacaocbtc@hotmail.com ou pelo fone (19) 3241-0032. Veja mais aqui e aqui.


ENTREVISTA: ULISSES TAVARES – O escritor, jornalista, professor, compositor letrista, dramaturgo e publicitário Ulisses Tavares, já publicou mais de 74 livros e me concedeu uma entrevista reveladora sobre sua trajetória e sua arte. Confira a entrevista aqui.

REGISTRO: PALESTRA NEUROEDUCAÇÃO
Resultado de estudos durante vários anos e das atividades desenvolvidas como membro do Grupo de Pesquisa de Neurofilosofia e Neurociência Cognitiva, coordenado pelos professores Álvaro Queiroz e Janne Eyre Sarmento Araújo, orientador pela professora doutora Daniela Botti, tenho realizado palestras sobre o tema Contribuições da Neuroeducação na prática de ensino-aprendizagem da escola pública de Ensino Médio de Maceió. Veja detalhes aqui e aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagens: a arte da pintora estadunidense Lisa Yuskavage.
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra: Floral Peace Pop Art by Wanda Pepi
 Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.