INEDITORIAL:
APRENDI A VOAR NAS PÁGINAS DE UM LIVRO - Desde
menino que entre as coisas que me chamava pela curiosidade, uma delas: os
livros nas estantes. Presepeiro inheto, não me furtava, às escondidas, de
deslizar os dedos nas páginas das enciclopédias, à procura de imagens de
mulheres nuas – outra das minhas predileções, quando não eram meus olhos pregados
nas fechaduras dos quartos delas, pelos combongós atrepado no que tivesse ao
alcance, ou por cima do muro brechando pelas frestas do banheiro. Nem eu sei
como fazia para tanto, muitas das vezes me estuporava estatelado no chão. Queda
braba que me denunciava a arteirice, sempre. Quando não era isso, eram os
livros. Vez em quando era surpreendido por minha mãe, tia ou parentes próximas,
folheando páginas dos livros que, para o meu tamanho de criança pequena, eram
bem massudos. Como eu não parava quieto, era difícil de acompanhar meus passos
e, sempre que podia, furtivamente, escapulia para a biblioteca do meu pai,
catando aqueles volumes bem grossos e repletos de ilustrações para lá de
aprazíveis. Com dificuldade os retirava da prateleira, deitava-os no chão e me
danava a conferir as figuras. Passava horas nisso. Às vezes encontrava algumas
revistas e publicações para maiores de dezoito anos – inclusive descobrindo os
catecismos do Zéfiro -, entre as quais havia muito por me deliciar com imagens
e poses. Cresci no meio disso: livros. E quando aprendi a ler, isso por volta
dos quatro ou cinco anos, não deixava de soletrar os textos, o que me levava a
encher a casa toda com interrogações pros familiares, sempre com uma indagação
para todos na ponta da língua. Dei trabalho ao povo lá de casa, já viu, né? Foi
com isso que aprendi a voar nas páginas dos livros: tantas e quantas viagens
com Homero, Dante, Cervantes, Swift, Monteiro Lobato, Melville, La Fontaine,
Fedro, Esopo, muitos, menino metido a letrado. E quando apareceram os gibis, aí
que viajei mesmo. Mas, o que mais adorava era o cheiro que emanava nas folhas
de livros bem usados, como de uma coleção completa que meu pai me deu de
Machado de Assis quando completei dez anos de idade – edição da W. M. Jackson
Inc, de 1938, 41 volumes, que ainda hoje leio e guardo como relíquia. Quantas e
tantas viagens maravilhosas: voos transcendentes que me fizeram de habitual ou
viciado leitor. Pra mim, poucas são as coisas no mundo melhores que isso: voar
nas páginas dos livros. E vamos aprumar a conversar pras novidades do dia: na
edição de hoje destaque para o pensamento Carl Gustav Jung, o homem e a
sociedade de Wilfred Bion, a atualidade de Georg Simmel, a escultura de Wilhelm
Lehmbruck, a arte de Luiz Paulo Baravelli, a literatura de Eduardo Caballero
Calderón, o teatro de Oduvaldo Vianna Filho & Helena Varvaki, o Congresso
Brasileiro de História da Educação, a entrevista de Katia Velo, a arte de Tracey
Emin & Karen Robinson & Samuel Szpigel, a fotografia de Rebeka Barbosa,
a música de Tarita de Souza, a palestra Cidadania na Escola & a croniqueta
Do que fui e o que não sou mais. Veja mais aqui.
Veja mais sobre:
Renovação, Adalgisa Nery, Josefina Álvares de Azevedo, Patrizia Laquidara, Marina
Colasanti, Liliana Cavani, Claudia Cardinale, Maria
Martins, Niki de Saint Phalle & Visão holística em psicologia e educação aqui.
E mais:
Médicos deprimidos, Chico Folote & Besta Fubana, Charlie
Chaplin, Estupro, Glândulas endócrinas & o poder humano aqui.
A poesia & arte de Alê Cavagna aqui.
Proezas do Biritoaldo aqui.
Fecamepa aqui.
As trelas do Doro & o escambau aqui.
DESTAQUE:
[...] Todo homem carrega dentro de si a eterna
imagem da mulher, não a imagem desta ou daquela mulher em particular, mas uma
imagem feminina definitiva. Esta imagem é... uma marca ou arquétipo de todas as
experiências ancestrais do feminino, um depósito, por assim dizer, de todas as
impressões já dadas pela mulher. [....] Uma
vez que esta imagem é inconsciente, ela é sempre inconscientemente projetada na
pessoa amada e é uma das principais razões para atrações ou aversões
apaixonadas [...].
Trechos
extraídos da obra O homem e seus símbolos
(Nova Fronteira, 2011), o
psicólogo e psicanalista suíço Carl Gustav Jung (1875-1961). (Imagem: Man-Woman, by Kaie 13). Veja mais
aqui, aqui e aqui.
DO QUE FUI E O
QUE NÃO SOU MAIS (Imagem: My Journey, by Karen Robinson) – A vida me deu de tudo, fez-me plural: quantos eus
dialogam em mim, difícil conciliação. Adapto-me ao que posso e vou. Sei da semente,
veio-me carregada, não apenas eu, muitos: o que olha pro passado e lá nostalgicamente
fica; o que vive amanhã levando tudo no peito; o que se arrepende e não quer ir
a lugar algum, nem ficar quieto, nem se agitar, não sonhar e nem divagar pelos
pensamentos, contradições que se conflitam, tempestades, bonanças efêmeras, errâncias,
vórtices, paradoxos que se incorporam em ser-me o que nem sou. Não olho pra
trás, nada fiz. Vou em frente, tudo por fazer. A minha vida é estaca zero,
todos os dias o começo que sequer recomeço, invento. Já perdi a noção de tudo,
não sei nada. Olho pra mim e não me vejo. Apenas vivo. Se sou o que não sei,
pouco importa, apenas vou. Até onde, não sei. Sigo o que prevejo da intuição, olho
bem aberto para tudo, vejo luzes dentro de mim. Não sei do ar que respiro, nem
da terra que piso ou das águas que me afogam, sei do fogo aceso vivo queimando
minhas entranhas para que eu esteja pronto pro que der e vier. E vou com o que
fui e não sou mais. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
Curtindo o álbum A árvore e o vento (Independente, 2014),
da cantora, compositora, regente, arranjadora e preparadora vocal, Tarita de Souza.
O HOMEM E A
SOCIEDADE - [...] A
sociedade ainda não foi impulsionada a buscar tratamento para suas perturbações
psicológicas através de meios psicológicos porque ainda não atingiu um
discernimento (insight) suficiente para apreciar a natureza de sua aflição.
[...] Todos os grupos estimulam e ao
mesmo tempo frustram os indivíduos que os compõem, porque o indivíduo é
impelido a buscar a satisfação de suas necessidades em seu grupo e, ao mesmo
tempo, é obstado neste objetivo pelos medos primitivos que o grupo desperta
[...] qualquer grupo de indivíduos que se
reúne para trabalhar mostra a atividade do grupo de trabalho, isto é, um
funcionamento mental projetado para promover a tarefa em execução. [...] é necessário elaborar as tensões que
pertencem a configurações familiais quanto as ansiedades ainda mais primitivas
das relações de objeto-parcial. Na verdade, acho que essas ansiedades
primitivas encerram as últimas fontes de todo o comportamento de grupo. [...].
Trechos extraídos da obra Experiências
com grupos: os fundamentos da psicoterapia de grupo (Imago/EdUsp, 1975), do
psicanalista britânico e pioneiro em dinâmica de grupo, Wilfred Ruprecht Bion (1897-1979).
Imagens: arte do pintor, escritor, gravador,
professor e artista visual Luiz Paulo Baravelli.
PENSAMENTO DO
DIA: A ATUALIDADE - [...] a situação problemática, tão característica do
homem moderno [...] vivemos uma
espécie de auto-gozo da técnica, tendo perdido o caminho que leva aos sujeitos.
[...]. Trechos extraídos da obra Diagnóstico de la tragédia de la cultura
moderna (Espuela
Plata, 2012), do sociólogo e professor alemão Georg
Simmel (1858-1918). Veja mais aqui.
Imagem: a arte do escultor e grafista alemão Wilhelm Lehmbruck (1881-1919).
ASSOMBRAÇÕES --
[...] Quando o
tempo melhorou, algumas horas mais tarde, Santos tomou o caminho de seu rancho,
e eu fiquei só, na casa silenciosa. O mundo exterior afastava-se subitamente de
mim, e, então, o meu corpo caía em uma vertiginosa profundidade, em que era
muito doce tombar. Mas, de repente, sobressaltou-me o latido dos cães na horta.
E uma rajada fria de vento açoitou-se o rosto, como se a mulher de saia rodada
deslizasse junto de mim, tão perto que me pareceu ouvir o ruído furtivo de seus
passos no ladrilho. Tive medo – e pensei que, àquela hora, a procissão dos
frades devia desfilar pelo pátio da capela. Sim, posso jurar que, naquele
momento, encontrava-se ao meu lado a velha de anáguas engomadas. [...]. Trecho
extraído do conto Assombrações (Cultrix, 1968), do escritor e jornalista
colombiano Eduardo Caballero Calderón
(1910-1993).
MÃO NA LUVA – A peça teatral Mão
na luva (1966), do dramaturgo, ator e diretor Oduvaldo
Vianna Filho - o Vianinha (1936-1974), conta a
história de um casal que está em processo de rompimento de uma relação de nove
anos, entre uma mulher artista plástica frustrada e seu marido jornalista.
Dá-se uma conversa derradeira entre os dois, com ação em flashbacks, onde ambos
viajam no tempo entre o passado e o presente, com revelações, traições veladas,
mágoas expostas nas feridas abertas e busca de uma razão específica para o
término da união. Tive oportunidade de ver a montagem de 1998, dirigida por
Dudu Sandroni, no Teatro Ziembinski, no Rio de Janeiro, com destaque para atuação
da atriz, diretora e fisioterapeuta Helena
Varvaki. A peça foi adaptada para o cinema com direção de José
Joffily, em 2014. Veja mais aqui e aqui.
Imagens:
a arte da pintora, escultora, fotógrafa, professora e cineasta inglesa Tracey Emin.
AGENDA:
CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO - Acontecerá entre os dias 15 e 18 de agosto de
2017, em João Pessoa (PB), o IX Congresso Brasileiro de História da Educação
(IX CBHE), promovido pela Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE),
com eixos temáticos voltados para políticas e instituições educativas, formação
e profissão docente, teoria da história e historiografia da educação, educação
profissional, movimentos sociais,etnias e gênero, entre outros temas. Mais
informações: http://www.sbhe.org.br/eventos/1-chamada-ix-cbhe Veja mais aqui e aqui.
ENTREVISTA: KATIA VELO - A artista
plástica, fotógrafa, colunista cultural e professora Katia Velo, alguns anos atrás, gentilmente me concedeu uma
entrevista falando sobre sua trajetória artística e suas múltiplas atividades. Confira
a entrevista aqui e mais aqui.
REGISTRO: PALESTRA – O DIREITO DE VIVER E DEIXAR VIVER
Entre os
anos de 2009 e 2012, ministrei em diversas escolas, instituições e eventos, a
palestra-espetáculo O direito de viver e deixar viver: a arte pela cidadania, ética e meio
ambiente. Essa palestra tinha por base apresentar poemas, textos e
músicas autorais que dessem relevo às questões atinentes à promoção do
princípio da dignidade da pessoa humana, o exercício da cidadania, a ética, o
respeito às diferenças e as questões ambientais, possibilitando o desenvolvimento
do projeto Cidadania nas Escolas. Veja
detalhes aqui e aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagens: a arte da fotógrafa Rebeka Barbosa.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: Yes nós temos (1965) by Samuel Szpigel.
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.