INEDITORIAL: DE
GOLPE EM GOLPE A GENTE VAI APRENDENDO – Imagens:
arte da pintora e escultora brasileira Lygia
Clark (1920-1988) - O Brasil é uma anomalia pra lá de carnavalesca! Isso a
gente já está careca de saber! Parece mais que a gente está acometido duma
doença braba dessa incurável e sacudido de carona numa eterna ambulância feita
dum mandú que só pega no empurrão, sem freios nem direção, dando-nos a
impressão de que vai tudo se acabar com a sirene ligada no maior SOS de bateria
arriada. Um desmantelo dos grandes e na maior correria como se fosse entre o
acidente e o atendimento médico que nunca acontecerá, porque o motorista é um
barbeiro muito do feladaputa que sai fazendo corrupios no volante, visitando
parentes, aderentes, achegados, gregos & troianos fora do trajeto pra casa
da peste, não distinguindo buraco de rieira, catombos e atoleiros. Como esse
desgracento condutor é tão grosso de direção que sua inabilidade faz acelerar até
o canto do ronco do motor quase estuporar tudo, sapecando uns freios de
arrumação de nos jogar feito pacote solto no bate-volta, afora fazer uso da
máquina pública pra se arrumar como pode, dirigindo a dita como se fosse um
presente que lhe caiu no colo da estimação pra só mandar ver e deixar a
cangalha destroçada no final e mais nada. A coisa é tão truculenta que chega dá
pra ver a hora de estourar tudo motor, caixa de marcha & o escambau no
maior pipoco da danação, da gente findar desvalido sem saber pra onde ir nem
recorrer. Como parece mesmo que não tem jeito nem tão cedo, tenho a sensação de
que a gente vai desgovernado, descendo a ribanceira pra se estrepar lá embaixo
no abismo, tudo fodido e mal pago. Do jeito que vai, não vai dá outra: ou fecha
os olhos para ver como é que fica, ou encara em riba da fivela pra mode ver o
que a gente pode fazer pra mudar essa desgraceira toda. Senão, senão! Só uns
vinte anos de atraso a mais na nossa tragédia, avalie. Diante disso, melhor
mesmo a gente se aprumar nas novidades do dia: na edição de hoje destaque para
a arte de Lygia Clark, as iniciações tibetanas de Alexandra David-Néel, a
música de Schubert com Mitsuko Uchida, o trabalhod e André Gorz, a prática e a
teoria de José Paulo Netto, a literatura de Goethe, a dança de Anna Halprin, o
cinema de Mohsen Makhmalbaf, a escultura de Horatio Greenough, a arte de Marina
Abramovic, a fotografia de Carl Warner, a arte de Simone Spoladore, o Encontro
Clio-Psyché, a entrevista de Tchello d’Barros, a palestra e oficina de
Literatura de Cordel, a pintura de John Currin & Laura Barbosa, a a
croniqueta O vexame da maior presepada. Se quiser veja mais aqui.
Veja mais sobre:
Voar é preciso, viver não é preciso!, Doris Lessing,
Luis Buñuel, Leonardo Boff, Hans Magnus Enzensberger, Guilherme Faria, Joseph Kosma, Sérgio
Telles, Alfredo Martirena, O riso doído, Psicanálise & Sociedade dos poetas
mortos aqui.
E mais:
Vivendo e aprendendo a jogar, Lygia Fagundes Telles, Ziraldo, Luciano Berio, Christine
Lau, Nilza Menezes, Antonio Januzelli – Janô, Todd Solondz & O Retorno da deusa aqui.
A arte de Tammy Luciano aqui.
A educação na Sociologia de Max Weber aqui.
A educação nos anos 70 e as
desigualdades sociais aqui.
As trelas do Doro: a capotada do guarda aqui.
Proezas do Biritoaldo: Quando o muxôxo dá num engasgo, o peso enverga o espinhaço de chega ficar
de venta esfolando no chão aqui.
DESTAQUE: LIÇÕES DAS INICIAÇÕES TIBETANAS
É necessária uma vigilância
contínua para se preservar das faltas que podem ser cometidas pelo corpo, pela
palavra e pelo espírito [...] Estudai
com imparcialidade todas as doutrinas que vos são acessíveis, sejam quais forem
suas tendências. [...] Para manter-se
independente é necessário estar livre de desejos. Quem não quiser dar a ninguém
a oportunidade de passar-lhe uma corda no nariz para conduzi-lo como se
conduzem bois, deve estar livre de toda espécie de apegos. [...].
Trechos extraídos da obra Iniciações
tibetanas (Civilização Brasileira, 1976), da escritora e exploradora
francesa Alexandra
David-Néel (1868-1969).
O VEXAME DA
MAIOR PRESEPADA – Vitalina andava com a
orelha na frente da pulga, devido certos procedimentos escusos do Tomé, duns
segredinhos mal explicados por ele, que deixaram ela pra lá de vigilante na
cola. Conferindo tintim por tintim dos ocorridos, ele sempre dava uma tapiada
boa que não convencia. Foi aí que ela resolveu ter com a Vera, a principal
suspeita de que ele andava enrabichado pras bandas dela. Quando ela viu Vera
passando na calçada, não teve dúvidas e confidenciou, entre cochichos e falsas
intimidades: acho que o Tomé está me traindo! Oxe, aquele broco? Tá não mulher,
ele é doido por tu. Tenho certeza. Tire isso da cabeça, quem quer aquele
abestalhado fora tu, mulher? Sei não, tô de mutuca pra cima dele, tem saia no
meio prele andar todo com desculpas esfarrapadas. Indagora dei uma brigada com
ele, dele sair doidinho do juízo. Num esquenta, mulher, ele só vê tu no zoom.
Deixa disso. E mal Vera chegou em casa, abrindo a porta com as chaves na
fechadura, o Tomé chegou aperreado: tô num mato sem cachorro. Ah, a Vitalina tá
toda desconfiada docê mermo. Onde essa mulé vai pensá uma coisa dessa de mim?
Ocê tá dando trela pra alguém? Tô não. Olhe, ela acha que você está mijando
fora do caco. Nada, eu tô tão aperreado que o juízo num funciona direito, até o
carro empancou. Vixe! É bronca. Preciso dum copo d’água. Fique aí que não quero
intriga com ela, vou buscar. Ele então sentou na cadeira da varanda, bebeu o
copo d’água e começou sua lamurienta falta de sorte. Horas e horas de deprecações
e azares. Lá pras tantas, Vera quase estourando de raiva de ter que aguentar
aquilo, mandou ele embora, não antes olhar se a Vitalina estava por ali pra não
virar a coisa pra banda dela. Ah, Vitalina estava lavando a calçada, olhando
pros lados o tempo todo. Então Vera resolveu dar carona pro rapaz, desde que
ele fosse na mala do carro. Assim acertaram e ao sair de casa, Vitalina veio às
carreiras: mulher, me leva no emprego do sujeito que eu quero dar um flagra
nele. Pronto! O circo estava armado, pois foi ela dizendo isso, abrindo a porta
e se aboletando logo na cadeira do passageiro. Vera quase teve um troço e teve
de levá-la nos cafundós de Judas. Quando Vitalina desceu, ela correu e liberou
o cabra que estava na mala, todo vomitado e sem saber nem quem era. Vera, às
pressas, foi explicando e empurrando ele pra dentro do trabalho. Aí ela correu
pro volante e quando engatou a primeira marcha, lá vem Vitalina com Tomé
pedindo carona pra voltar pra casa: ô mulé, me leva de volta que ele não está
passando bem. Pronto, era a hora do enterro voltando! Apesar dele estar malemolente,
ela não arredou o pé das desconfianças e baixou o calão numa briga de quase
arrebentar tudo. Bate boca pesado, Vera teve que ter paciência para se safar
dessa por todo o trajeto com aquela baixaria, quando, enfim, chegou na casa
deles, despachou os dois e saiu dizendo: acabem com essa fuleragem, vocês se
merecem, dois cachorros! E olhe que nem se casaram ainda, imagine. Ah, zarpou
injuriada pelo vexame. © Luiz Alberto Machado. Veja mais aqui.
Curtindo os álbuns
(8 cds) Plays Schubert (Decca, 2004), com músicas do compositor austríaco Franz Schubert (1797-1828), na interpretação da pianista Mitsuko Uchida. Veja mais aqui.
O TRABALHO - [...] Para todas as classes industriais anteriores,
conservar intacto o antigo modo de produção era condição prévia de sua
existência [...] a burguesia não pode existir sem
revolucionar constantemente os meios de produção, isto é, o conjunto das
relações sociais [...] A organização
científica do trabalho industrial constituiu o esforço constante para
distinguir o trabalho, categoria econômica quantificável, da pessoa viva do
trabalhador. [...] A verdadeira
racionalidade consiste em transformar o trabalho em “atividade pessoal”, mas em
um nível superior, em que “a união voluntária” dos indivíduos substituirá a
divisão capitalista do trabalho pela “colaboração voluntária” e submeterá o
processo social de produção ao controle dos produtores associados. Cada
indivíduo será “na qualidade de indivíduo”, por meio da colaboração voluntária,
mestre e senhor da to talidade das forças produtivas; seu “trabalho” será
“atividade autônoma” (Selbsttatigkeit) do “indivíduo total”. [...] Ela impedirá que vivam a execução de sua
tarefa como cooperação e pertencimento a um grupo. Sua “solidariedade orgânica”
(o próprio Durkheim reconheceu-o) não existe como uma relação vivida para eles,
mas apenas para o observador externo que crê perceber uma colaboração
auto-regougada ali onde, na realidade, há uma organização do tipo militar, por
pré-recortes de tarefas complementares. [...] O indivíduo socializado pelo consumo não é mais um indivíduo socialmente
integrado, mas um indivíduo levado a desejar “ser ele mesmo” distinguindo-se
dos outros que, canalizado socialmente ao consumo, aos outros só se assemelha
pela recusa em assumir, por meio de uma ação comum, a condição comum. [...] O trabalho só aparece agora como “fragmentado, subsumido no processo de
conjunto da maquinaria” de tal modo que, diante de seu “potente organismo”, o
trabalhador individual experimenta “a insignificância de seu agir”: não é mais
“que um acessório vivo dessa maquinaria”, sua capacidade de trabalho,
infinitamente diminuída, desaparece no produto qualquer relação com a
necessidade imediata do produtor e, portanto, qualquer relação com seu valor de
uso imediato”. O processo de trabalho foi “transformado em um processo
científico, subjugando as forças da natureza a seu serviço” e “o trabalho do
indivíduo agora só é produtivo à medida que se insere no conjunto dos trabalhos
que submetem a natureza”. [...]. Trechos extraídos da obra Adeus
ao proletariado - para além do socialismo (Forense/Universitária, 1987), do
filósofo austro-francês André Gorz (1923-2007),
também conhecido pelo pseudônimo Michel Bosquet. Veja mais aqui, aqui, aqui e
aqui.
Imagem: a arte
do escultor e arquiteto estadunidense Horatio
Greenough (1805-1852).
PENSAMENTO DO
DIA: SISTEMATIZAÇÃO DA PRÁTICA E TEORIA – [...] nenhuma das vertentes racionalistas do
pensamento moderno considera que o conhecimento do social é a apropriação, pelo
sujeito, das aparências dos fenômenos – parece consensual que a fenomenalidade
é tão-somente o ponto de partida, embora obrigatório do conhecimento. O que as
discrimina e especifica, pois, está para além deste consenso, que aponta como
alvo do conhecer a processualidade em que emergem os fenômenos sociais.
[...]. Trecho extraído das Notas para a
discussão da sistematização da prática e teoria em Serviço Social (Cadernos
ABESS – Cortez, 1989), do professor doutor em Serviço Social pela PUC-SP, José Paulo Netto.
Imagens: a arte da artista performativa sérvia Marina Abramović, em diversas
exposições explorando as relações entre o artista e a platéia, os limites do
corpo e as possibilidades da mente. Veja mais aqui.
O CORAÇÃO
HUMANO - [...] que é então o coração humano? [...] Que é o homem, para ousar lamentar-se a
respeito de si mesmo? [...] Quero
fruir o presente e considerar o passado como passado. Você tem razão: os homens
sofreriam menos se não se aplicassem tanto (e Deus sabe por que eles são
assim!) a invocar os males idos e vividos, em vez de esforçar-se por tornar
suportável um presente medíocre. [...] os
mal-entendidos e a indolência talvez produzam mais discórdias no mundo do que a
duplicidade e a maldade; pelo menos, estas duas últimas são mais raras.
[...]. Trechos extraídos da obra Werther
(Abril, 1971), do escritor do Romantismo alemão Johann Wolfgang von
Goethe (1749-1832). Veja mais aqui e aqui.
A ARTE DE
SIMONE SPOLADORE – A trajetória da
atriz Simone Spoladore teve início
em 1995, quando participou de espetáculos curitibanos, a exemplo da peça teatral
Meno Male,com direção de Sale Wolokita, Juventude de Felipe Hirsch e Onde
estiveste à noite, de Edson Bueno. A partir de então passou a participar de
curtas-metragens e longas, até integrar o elenco de Lavoura Arcaica (2001) e
Desmundo (2003). Estreia na televisão com a minissérie Os Maias (2001),
participando depois de telenovelas da Globo e da Record. Assim, dividindo suas
atuações no teatro, cinema e televisão ela vai construindo uma carreira
meritória de aplausos e sucesso.
Imagem: a arte do fotógrafo inglês Carl Warner.
SAFAR E
GHANDEHAR – O premiado filme iraniano Safar e Ghandehar (A caminho de
Kandahar, 2001), dirigido por Mohsen Makhmalbaf, conta a história de uma jovem
jornalista afegã que reside no Canadá e decide retornar ao seu país, após receber uma
carta de sua irmã relatando que irá se suicidar antes que ocorra o próximo
eclipse solar. A partir do momento de sua entrada no país, ela se atualiza
sobre a situação do Afeganistão e vive momentos de suspense para ir ao encontro
da irmã. Veja mais aqui.
Imagens: a arte experimental da dançarina e
coreógrafa pós-moderna estadunidense Anna
Halprin.
AGENDA: ENCONTRO
CLIO-PSYCHÉ – Acontecerá
entre os dias 9 e 11 de novembro, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ), o XII Encontro Clio-Psyché – Saberes Psi: outros sujeitos, outras
histórias, com o objetivo de trazer reflexões historiográficas que envolvam os
eixos as ciências do Homem entre a criança e o menor; a insanidade, desvio e
loucura; gênero e sexualidade: construção e desconstrução; minorias étnicas e
outras reflexões. Informações por mail:
encontrocliopsyche@gmail.com; Sítio: http://encontrocliopsyche.wix.com/xiicliopsyche
- Endereço: UERJ - Rua São Francisco Xavier, 524. Veja mais aqui e aqui.
ENTREVISTA: TCHELLO D´BARROS – Depois de uma boa conversa
regada a umas cervejas, o poeta e artista visual Tchello d’Barros concedeu uma entrevista exclusiva para o Guia de
Poesia do Projeto SobreSites, falando de sua trajetória e projetos. Confira a
entrevista & muito mais aqui.
REGISTRO: OFICINA DE CORDEL
A
publicação do meu folheto de cordel Tataritaritatá (Nascente, 2008) que,
inicialmente, era uma martelada e, depois, virou mesmo um martelo agalopado, se
deu pelo resultado de palestras e oficinas de literatura de cordel que
ministrei em diversos colégios e eventos. Tenho ministrado essas palestras e
oficinas regularmente e, aproveito o ensejo, para trazer todo o projeto aqui,
aqui, aqui e aqui.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Imagens: a arte
do pintor estadunidense John Currin,
que desenvolve pinturas figurativas satíricas que lidam com temas sexuais e
sociais provocativas.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na
Terra: Peace and Love, Laura Barbosa
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.