sábado, outubro 15, 2016

PIGLIA, HALBWACHS, BOB DYLAN, PICASSO, BORELLI, BOSI, MICCOLIS, IGLESIA & ROSIE PEREZ, DANNECKER, CARRASQUER, DABDAB, REUNIER, LUME, CHICHORRO & DINHEIRO


INEDITORIAL: ESCAPANDO & VINGANDO SONHOS (Imagens do artista plástico moçambicano Roberto Chichorro) Salve, salve, gentamiga! Escapando das adversidades e vingando sonhos, eu persisto, insisto, resisto e persevero! Saravá! Mesmo que tudo seja do contra, eu vou cantando minhas loas. Mesmo que o amanhã sonhado seja inatingível utopia, eu me mantenho na crença de que a gente pode construir um mundo melhor paratodos. Mesmo que me digam e repitam e reiterem que nada vale a pena, eu persigo acreditando que viver vale muito mais que simplesmente comprar e vender, comer e cagar, peidar e feder, sorrir e chorar. Infelizmente vivemos num mundo em que se comemora hoje o lava mãos – eu não lavei, nem lavo as mãos: a minha luta é de todos. Saúdo os professores, esses abnegados profissionais que cultuam o saber e dividem seus conhecimentos, mesmo sabendo que vivemos uma educação que nos conduz para a tragédia humana. Saúdo a todos os que sofrem e choram, afinal hoje é Dia da Prevenção das Doenças do Coração – ao contrário dos maiorais da Nação que fazem questão de golpear todo dia nossa vida com as manchetes do noticiário. E, sem mais delongas, vamos pras novidades do dia: o destaque da edição de hoje fica por conta da reflexão sobre a imprensa de Nilson Araújo de Souza, a música do Prêmio Nobel Bob Dylan, a fenomenologia do olhar de Alfredo Bosi, a memória coletiva de Maurice Halbwachs, a literatura de Ricardo Piglia, a entrevista de Leila Miccolis, a pintura de Picasso, Carrasquer & Reunier, a fotografia de Roberta Dabdab, as Gárgulas da Borelli Cia de Dança, a Luma Teatro, o cinema de Álex de La Iglesia & Rosie Perez, a escultura de Johann Heinrich von Dannecker, a Cidadania na Escola, o Sarau Poético de Curitiba & a croniqueta O poeta chora. Vamos aprumar a conversa & veja mais aqui.

Veja mais sobre:
O Doro no dia do professor, Fernando Pessoa, Nietzsche, The Three Graces, Michel Foucault, Fela Kuti, Denise Fraga, Richard Linklater. John Vanderlyn & Julie Delpy aqui.

E mais:
As trelas do Doro: o desmanttelo da paixonite arrebentadora aqui.
A poesia de Maria Esther Maciel aqui.
Proezas do Biritoaldo: Quando a língua dá no dente do alcagüete, sai de riba que lá vem o enterro voltando aqui.
Fecamepa: enquanto os caras bufam por aumento no governo, aqui embaixo a gente só paga mico, né? Aqui.
Lavando pano & aprumando a conversa aqui.

DESTAQUE: A IMPRENSA
[...] Na prática, o que há é uma poderosa estrutura, representada pelos monopólios de comunicação, que penetra diariamente em nossos lares, procurando fazer nossa cabeça em todos os sentidos. Dizem do que devemos gostar, o que devemos comprar, como devemos ser, como devemos nos comportar. E usam das armas mais sórdidas, como a mentira, a deturpação dos fatos, a calúnia. [...] E como podemos ter liberdade de pensamento e de opinião, se a verdade é diariamente sonegada e, em seu lugar, se planta a mentira? Que democracia liberal que nada! Liberdade para quem? [...] Para atingir seus objetivos – manter sua dominação para ganhar cada vez mais -, esses biliardários recorrem a todos os meios possíveis e imagináveis, numa exacerbação da máxima maquiavélica de que os fins justificam os meios. Constroem arsenais nucleares para manter-nos em clima de terror; promovem a guerra (depois de fabricarem a guerra; usam os meios de comunicação numa política sistemática e sórdida de difamação e desmoralização de novas idéias; promovem ações clandestinas, incluindo o terrorismo; corrompem até a medula os homens públicos; invadem a privacidade dos cidadãos, usando as aparelhagens mais sofisticadas; derrubam governos, destroem, matam. Enfim, procuram controlar toda a vida social e todas as consciências e aqueles que não se submetem são vítimas da chantagem, do terror ou do assassinato. [...] E no cerne da ideologia burguesa está o individualismo, produto da propriedade privada e da produção de mercadorIas, que geram a constante competição entre os seres humanos. Cada um por si, Deus por todos. O ego é o Deus das relações humanas do capitalismo. E o egoísmo é eleito valor supremo (diz-se até que o equilíbrio do sistema é obtido quando cada um busca o proveito próprio). Na caça ao dinheiro – expressão suprema da riqueza capitalista -, vale tudo. [...]. Trechos extraídos da obra O colapso do neoliberalismo (Global, 1995), do economista e professor Nilson Araújo de Souza. Veja mais aqui e aqui.

O POETA CHORA - Imagem: The Old Guitarist (1903), do pintor, escultor, ceramista, cenógrafo, poeta e dramaturgo espanhol Pablo Picasso (1881-1973) - O poeta chora a sua e a dor alheia, ele é um fingidor. E doendo ele é todo coração e recita O amor de Maiakovisky e pranteia pelos que não têm onde cair morto e vivem embaixo das pontes, dos viadutos, nos bancos das praças, no ermo das ruas, pelas calçadas ou prédios abandonados. Ele chora pelos injustiçados, pelos que foram trucidados, pelos que foram mutilados, pelos que sofrem de quase morrer. Chora pelos que acabaram de nascer de mães paridas sem futuro algum; pelos que zanzam pelas noites e dias sem ter o que comer; pelas meretrizes desvalidas que ele solidário as fode para ejacular sua dor no prazer das que gozam ou fingem ter orgasmos múltiplos nas tremuras das carnes mundanas de todos os sofreres e castigos; das crianças que chamam pelos pais que se evadiram e das que tiveram os seus abatidos pela polícia ou pelo tráfico ou por latrocidas de plantão; pelos que são vítimas dos conluios nos gabinetes dos políticos e autoridades escamoteando direitos e serviços públicos; pelos que estão nos corredores das urgências morrendo de dores e nenhuma atenção pública à saúde; pelos que sucumbem à fome, às drogas e às ilusões do consumo, sem que tenham o direito de viver dignamente e em paz; pelos que são levados pelas promessas dos que se acham salvadores da pátria e do reino de Deus e pelos que se iludem com a primeira mentira que escapole da insensatez; pelos que seguem no meio da boiada sem parentes nem aderentes pro colapso do abismo; pelos que são infelizes por não terem o que querem e sofrem da inveja pra desgraçar a vida dos outros; pelos que perderam a esperança na vida e fazem da maledicência o seu único caminho; pelas mulheres que foram abandonadas, estupradas e mal-amadas por seus príncipes encantados e ainda acreditam que podem ser felizes apesar dos pesares; pelos que devotam a vida ao bem com a alteridade de que a dor do outro é sua também. O poeta chora, caminha sem destino e encontra refúgio na brisa do mar. Acende o pascaio feito na hora, traga, carbura as idéias a se perguntar por que o mundo é tão lindo e com tanto sofrimento. Mergulha na sua dor e naquelas que atormentam todo mundo. Lamenta e se aniquila, traga mais uma vez. Procura abrigo em si mesmo e na sua dor. De repente é assaltado por um estúpido infeliz que o desgraça: - Você está preso, maconheiro feladaputa! E é arrastado pelos cabelos e jogado no camburão, levado pela alta velocidade da viatura, sacudido na prisão, humilhado, espezinhado, cuspido e mal pago. Vão-se as noites e os dias, o poeta perde a noção do tempo e do choro, já era presidiário da sua própria dor, agora com outras dores: a da incompreensão, a da injustiça, a da estupidez. O poeta chora, tal Pasolini: chora um mundo morto, mas não está morto ele que o chora. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui e aqui.
Curtindo o box set Bob Dylan - The Original Mono Recordings (Colúmbia, 2010), do músico, poeta, artista plástico, compositor de música Folk estadunidense & Prêmio Nobel de Literatura 2016, Bob Dylan. Veja mais aqui e aqui.

FENOMENOLOGIA DO OLHAR – [...] o olhar não está isolado, o olhar está enraizado na corporeidade, enquanto sensibilidade e enquanto motricidade. [...] o ato de olhar significa um dirigir a mente para um “ato de “in-tencionalidade [...] Olhar e ser olhado, atividade e passividade, exercem-se em um campo de forças onde o poder e o conhecer se fundam mutuamente. O outro é uma liberdade que pode invadir a minha; logo, o outro existe. O olhar é a expressão mesma desse poder. [...] A diferença profunda que ocorre entre uma e outra se evidencia quando vista através da epistemologia antiga: há uma vertente materialista, ou mais rigorosamente sensualista do ver como receber, ao lado de uma vertente idealista ou mentalista do ver como buscar, captar. [...]. Trechos extraídos de Fenomenologia do olhar, do professor, crítico e historiador da literatura brasileira, Alfredo Bosi, recolhido da obra O olhar (Companhia das Letras, 1988), organizada por Adauto Novaes e Flávio Aguiar.

Imagens: a arte da fotógrafa, fotojornalista e pesquisadora de imagem Roberta Dabdab, que realizou em 2006 a mostra individual A língua das coisas.

PENSAMENTO DO DIA; MEMÓRIA COLETIVA – [...] para que a nossa memória se aproveite da memória dos outros, não basta que estes nos apresentem seus testemunhos: também é preciso que ela não tenha deixado de concordar com as memórias deles e que existam muitos pontos de contato entre uma e outras para que a lembrança que nos fazem recordar venha a ser constituída sobre uma base comum. [...] Que importa que os outros estejam ainda dominados por um sentimento que outrora experimentei com eles e que já não tenho? Não posso mais despertá-lo em mim porque há muito tempo não há mais nada em comum entre mim e meus antigos companheiros. Não é culpa da minha memória nem da memória deles. Desapareceu uma memória coletiva mais ampla, que ao mesmo tempo compreendia a minha e a deles [...] diríamos que cada memória individual é um ponto de vista sobre a memória coletiva, que este ponto de vista muda segundo o lugar que ali ocupo e que esse mesmo lugar muda segundo as relações que mantenho com outros ambientes [...]. Trechos extraídos da obra A memória coletiva (Centauro, 2006), do sociólogo francês Maurice Halbwachs (1877-1945), que escreveu uma tese sobre o nível de vida dos operários e desenvolveu o conceito de memória coletiva.


Imagens: a arte do pintor francês Marcos Carrasquer.

DINHEIRO QUEIMADO – [...] Só loucos assassinos e animais sem moral podem ser tão cínicos e tão criminosos a ponto de queimar quinhentos mil dólares. [...] Indignados, os cidadãos que observavam a cena davam gritos de horror e de ódio [...]. A partir daí, os seres lúmpen que assaltam se transformam em "niilistas". [...]. Trechos extraídos do romance Dinheiro roubado (Companhia das Letras, 1998), do escritor, ensaísta e compositor argentino Ricardo Piglia, contando a história de um assalto a um banco com a conivência de políticos e policiais, quando os ladrões traem os cúmplices e fogem para o exterior, onde sofrem um estranho cerco das autoridades.


Imagens: espetáculo de dança Gárgulas, concepção, coreografia e direção de Sandro Borelli, com a Borelli Cia de Dança, baseado na vida e na obra do britânico Lucian Freud, expoente da pintura figurativa contemporânea.


LUME TEATRO – Há mais de 30 anos a premiada companhia Lume de Teatro é um coletivo de pesquisa formado por sete atores-criadores e possui repertório diversificado que inclui teatro físico/visual, montagens em grupo, solos, clown, espetáculos de grandes dimensões ao ar livre e com a participação da comunidade. Trata-se de um grupo que se tornou conhecido em mais de 26 países, tendo atravessado quatro continentes, desenvolvendo parcerias especiais com mestres da cena artística mundial. Está sediado em Barão Geraldo, Distrito de Campinas (SP), difundindo sua arte e metodologia por meio de oficinas, demonstrações técnicas, intercâmbios de trabalho, trocas culturais, assessorias, reflexões teóricas e projetos  Veja mais aqui.


PERDITA DURANGO – O filme de ação, crime e horror Perdita Durango (Dance with the Devil, 1997), dirigido por Álex de La Iglesia, é baseado em novela de Barry Gifford, contando a história de psicótico casal criminoso que se torna amantes – uma dura senhora vestida de preto que encontra um criminoso maníaco -, que seqüestra adolescentes com planos para estupro e sacrifícios. O destaque do filme fica por conta da atuação da atriz, dançarina, coreógrafa e ativista Rosie PerezVeja mais aqui.

 Imagens: a arte do escultor alemão Johann Heinrich von Dannecker (1758-1841).


AGENDA: SARAU POÉTICO – Acontecerá no próximo sábado, dia 22/10, a partir das 14hs, em Curitiba, o Sarau Poético, organizado pelas poetas Conceição Gomes, Marinez Novaes, Vanice Zimerman, Ione Perez e Luciah Lopes. Imperdível. Veja detalhes do evento aqui & mais aqui e aqui.


ENTREVISTA: LEILA MICCOLIS – A admirável e generosíssima escritora, editora, professora, promotora cultural e artista performática Leila Miccolis, com quem tive o meu primeiro contato lá pelos idos dos anos 1970, trocando aerogramas e zines, me concedeu algum tempo atrás uma entrevista que publiquei quando então editor do Guia de Poesia do Projeto SobreSites, que agora se encontra reproduzida no meu BlogAgenda. Veja a entrevista aqui e aqui.

REGISTRO: CIDADANIA NA ESCOLA 
Em 2008, atendendo convite da coordenadora escola Cêça Mota, fui convidado para realizar uma palestra sobre Cidadania & Literatura Infantil, nas turmas de Ensino Fundamental, Médio e EJA da Escola Estadual Josefa Conceição da Costa, no bairro Canaã, em Maceió. A partir do primeiro conta com a uma turma de estudantes, fui convidado a prosseguir durante o mês de julho realizando as palestras que culminaram com a exposição dos meus livros, lançamento dos livros infantis Turma do Brincarte e do folheto de cordel Tataritaritatá, escritos e lançados especialmente para o evento. Posteriormente esse evento transformou-se em atividade na disciplina Psicologia Social, ministrada pelo professor MS Cláudio Jorge Gomes. Confira detalhes aqui e aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte do pintor e fotógrafo alemão Eugene Reunier (1884-1960).
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra no Dia do Professor
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...