sábado, outubro 01, 2016

ÉRICO VERÍSSIMO, PETER HALL, NIETZSCHE, GOTTSCHALK, IVAN LINS, WERNECK SODRÉ, ÁLVARO MACHADO & ALBERTO SANTOS


INEDITORIAL: PARA FAZER DO BRASIL UM PÁIS MELHOR TEM QUE COMEÇAR TUDO EM CASA!!! - Salve, salve, gentamiga do meu Brasilsilsilsilsilsilsil!!! A gente arreia a lenha, esculhamba no mais baixo calão & condena desde a mãe do guarda até a quinta geração dos políticos corruptos que lesam a patriamada! Sim, claro, não é pra menos! Tem gente até que quer pena de morte presses fidapeste, ou mesmo ao extremo de pedir a volta da ditadura! Cruzcredo! Como tem gosto pra tudo, também tem insensatez além da conta! Mas vamos deixar uma coisa às claras: a corrupção e a dilapidação do erário público não são de hoje, vem desde antes de 1500. A diferença é que dessa data até 1988, a gente não sabia de nada: o conluio era tão grande que ficava tudo abafado. Até 1988 havia apenas dois lados: de um, os donos com o poder e seus apaniguados; do outro, a gente – que eles chamavam de mundiça. Agora, ou seja, da Constituição Federal de 1988 pra cá, continua do mesmo jeito: os donos & os seus de um lado; e a gente, do outro, agora chamado de cidadão. Nada mudou. A diferença é que agora não há mais limite pros litígios: o privado publicizou-se e o público privatizou-se, maior melecada. Ninguém segura a onda quando a bronca estoura, todo mundo bota a boca no trombone e o meladeiro ganha proporções imprevisíveis de cair o queixo do mais seguro incrédulo. Nada de simancol, vale o espetáculo: a guerra midiática - coisa de ficar de boca aberta sem bater as pestanas de tão hipnotizado por dias, meses, semanas, meses, anos, décadas até. Ora, ora. Prest’enção! Vamos aprumar a conversa! De que adianta a gente ficar o tempo todo xingando tudo na maior desconfiança geral, se a gente, cada um de nós, não muda um centímetro de atitude? A gente não largou mão do jeitinho brasileiro: a gente não deixou de dar ou pegar toco pra facilitar a emperrada burocracia pública ou burlar autoridade ou conseguir o que quiser de caprichoso; não deixamos de querer privilégio ao invés de direito, sempre o melhor e o primeiro fora da fila e a usar de todo tipo de expediente escuso pra conseguir vantagens não menos escusas e meio mundo de coisa que a gente fala e reclama e pei&buft talquazinho Belchior cantando Como nossos pais. Uma coisa aprendi: se a gente quer um Brasil melhor, o primeiro passo é a gente fazer uma faxina em casa, sacar sério diante do espelho pra flagrar a nossa cara de pau e dizer: vou começar por mim a fazer do Brasil um país melhor. Tem coragem? Vamos juntos! Enquanto isso, as novidades do dia: Incidente em Antares de Érico Veríssimo, a cidade no simbolismo de Álvaro Manuel Machado, o desenvolvimento das cidades de Nelson Werneck Sodré, as cidades do amanhã de Peter Hall, o Curta 8 e o Monumento à Justiça de Curitiba, a Gaia ciência de Nietzsche, a Grande Fantasia do Hino Nacional de Louis Moreau Gottschalk, Depende de nós da dupla Ivan Lins-Vítor Martins & a croniqueta da cara de pau do candidato Zé Peiúdo. No mais, vamos aprumar a conversa & tataritaritatá. Veja mais aqui.

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Curtindo álbum da Grande Fantasia Triunfal com Variações sobre o Hino Nacional Brasileiro (CID-VOX, 1985), do pianista e compositor estadunidense Louis Moreau Gottschalk (1829-1869) – baseada no original de Francisco Manoel da Silva foi dedicada à Condessa d’Eu, a Princesa Isabel, filha de D. Pedro II que, que assinou a Lei Áurea, acabando com a escravidão no Brasil -, com o pianista Eugene Liszt & Orquestra Sinfônica de Berlim, sob a regência Samuel Adler.

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DESTAQUE:
Desde Babel, a cidade tem sido comparada ao sonho, com toda a carga psicanalítica que, desde Freud, a palavra sonho implica. Ou seja: ela é o lugar privilegiado da completa relação entre o espaço (o espaço como imagem de nós próprios e da sociedade em que vivemos) e o tempo, sendo este entendido nas suas paragens, nas suas acelerações, nos seus recuos, conforme os mecanismos da memória. Por outras palavras: a cidade, a grande cidade (num sentido que se enraíza na sua origem babilônica), concentra em si, como espaço duma totalidade cósmica imaginaria, todos os fascínios e todos os medos, todos os esplendores e todas as misérias. Consequentemente, como espaço privilegiado de múltiplos e sempre renovados paradoxos, ela vive essencial duma intemporalidade mítica que se alimenta da própria temporalidade histórico-social. Ela exerce, assim, uma poderosa função simbólica a nível cultural, função de que a literatura desde sempre se aproveitou, mas que, para falarmos da Europa, tomou proporções particularmente complexas ao longo do século XX. [...].
Eça e a mitologia da cidade, extraído da obra A Geração de 70― Uma Revolução Cultural e Literária (Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1986), do escritor e ensaísta português Álvaro Manuel Machado.

CANDIDATO FAZ TUDO CARA DE PAU NA MAIOR RESPONSA - Ninguém sabe como, mas a Justiça Eleitoral aprovou a candidatura do Zé Peiúdo às eleições majoritárias de Alagoinhanduba – diga-se de passagem, saber o que houve todo mundo sabe, mas ninguém é doido de ousar sequer pensar em delatar. Pois bem, devidamente legendado por partido numa frente suprapartidária que ele gastou mundos e fundos para sufocar o candidato oponente, Zé Peiúdo que andara desaparecido há bom tempo da cidade, depois das rasteiras eleitorais no Zé Corninho e de outras descobertas que só os cochichos ousam alertar – para queimar o filme do caga-raio, as más línguas arregaçam que ele já torou no gatilho uns dez desafetos, outros tantos às peixeiradas, afora uns putrefatos irreconhecíveis encontrados nas capoeiras e nos canaviais, de se perder a conta do tanto que ele já aprontou pras bandas de viventes que foram removidos da vida por causarem empecilhos aos seus propósitos. Como ele retornara cheio das gaitas e fazendo graça pro povaréu, logo ele achou por bem de passar uma borracha na imagem que faziam dele, oferecendo de tudo por presente, desde cachete de bulas várias, confeitos, placebos, dentaduras, pince-nez de todos os graus, maço de cigarros e tora-peito, santinhos, merenda, Bíblias e outras tranqueiras para distribuir gratuitamente ao eleitorado. Enfrentava todos com a maior cara-de-pau de gente boa, salvando-se por andar com uns cinco frascos de óleo de peroba nos bolsos, já consumindo pra mais de umas dez caixas, e prometendo mundos e fundos pra todos. Bastava um gritar inclemente: só dou meu voto se me dé uns tanto! Oxente, seu minino, na hora, diga lá o que quer, vá! Quero um chão! E com escritura no cartóro! Quero os óio! Um rim! Um pulmão! As placa do meu carro! Querosene pra lambreta! Era um peditório da praga e lá ia ele ter com despachante do Detran, com tabelião, com boticário, oculista, até emburacar no meio uns guardas da PM, de todo mundo ficar amedrontado, confidenciando pra ele: e aí, chefe, e o gás? Metendo a mão bolso, puxa umas cédulas graúdas que foram entregues com aperto de mãos e abraços: qualquer coisa, chefe, é só apitar que a gente remove os obstáculos. A bronca era que quanto mais ele distribuía coisas no comitê, mas davam conta de que sua candidatura não decolava. Estava ma hora de realizar uns comícios ineivados pra balançar as estruturas da cidade: Meu bom povo de Alagoinhanduba, irmãos e irmãs do meu bem-querer, foi Deus que me mandou, Jesus está comigo pra governar Alagoinhanduba! Conto com o voto de todos e vamos fazer dessa cidade a melhor do mundo! Aplausos e muito fuzuê começado pela claque, logo o povo todo estava envolvido nos goles da teibei distribuída de graça para todo mundo se esquecer dos problemas e votar nele no dia da eleição. A coisa ia nos conformes, até o dia que estoura a bomba e Zé Peiúdo vê-se em maus lençóis: a polícia federal coloca as botica sobre ele com suspeitas de uns assaltos aos caminhões de cargas que andavam sucedendo na BR, devido prisão duns que foram pegos e deram com a língua nos dentes acusando-o. Zé Peiúdo deu pinote, fez zoada, apelou pros sentimentos se dizendo injustiçado tanto pelo adversário político, como pelos que estão levantando falso sobre sua ilibada conduta. As investigações demoraram e o cerco foi se fechando pra banda dele que desapareceu às vésperas das eleições, poupando a sua decepção de amargar uma derrota das brabas. Mesmo assim, o cabra ainda teve mais de trinta por cento dos votos e, de quebra, conta com uma galera a favor que santifica o melepeiro todo dia e o dia todo. Pois é, a gente se depara com cada uma. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

UMA MÚSICA: DEPENDE DE NÓS (Ivan Lins-Vítor Martins)
 Depende de nós
Quem já foi ou ainda é criança
Que acredita ou tem esperança
Quem faz tudo pra um mundo melhor
Depende de nós
Que o circo esteja armado
Que o palhaço esteja engraçado
Que o riso esteja no ar
Sem que a gente precise sonhar
Que os ventos cantem nos galhos
Que as folhas bebam orvalhos
Que o sol descortine mais as manhãs
Depende de nós
Se esse mundo ainda tem jeito
Apesar do que o homem tem feito
Se a vida sobreviverá.

PESQUISA: O DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES - A formação da cidade obedeceu, no Brasil, a injuções peculiares à estrutura colonial dominante em três séculos. Ela não surgiu, aqui, naquele quadro, que foi normal na Europa, em que se concentraram populações e técnicas ao impulso de transformações profundas da estrutura da produção, primeiro sob o influxo comercial, depois sob o influxo industrial. No Brasil colonial, sob regime de monopólio das trocas, a cidade foi apenas, ou principalmente, um centro administrativo e uma área de reunião periódica, na oportunidade das grandes festas coletivas, que eram as festas religiosas. Foi também, desde os primeiros tempos, ponto de transbordo de mercadorias, que vinham do interior e se destinavam aos mercados europeus. Não perdeu, assim, na fase colonial, o aspecto provinciano, morno, plácido, que as deixou em segundo plano, submissas ao domínio rural, dele dependentes. [...] Na segunda metade do século XIX, elas recebem novo impulso,a gora proveniente do aparecimento de algumas técnicas, como as de iluminação, de transportes e poucas mais, que alteram a fisionomia urbana, técnicas estreitamente ligadas ao esboço industrial que aparece. [...] Na fase republicana, com o desenvolvimento das indústrias e, consequentemente, da classe operaria, a evolução urbana se completa, no Brasil.  Algumas, entretanto, que tinham tido momentos de fastígio, descaem de sua grandeza – ficam como testemunhas de fases históricas superadas. Outras, alteram de tal forma a fisionomia que parecem recentes – depois de um longo período vegetativo, tomam considerável impulso. [...] a cidade é a moldura necessária e imprescindível, aquela que condiciona um sem-numero de manifestações, particularmente de ordem cultural, que deixam vestígios e que asseguram a perenidade desses vestígios. A cidade permite, por outro lado, os contatos, a audiência, a comunicação agremiando e aproximando os que se interessam por determinada atividade ou arte. Ela gera as instituições que recolhem, mantêm e difundem a cultura. [...]. Trechos extraídos da obra O que se deve ler para conhecer o Brasil (CBPE-INEP, 1960), do historiador Nelson Werneck Sodré (1911-1999). Veja mais aqui, aqui e aqui.

UMA LEITURA:
[...] Durante dias Antares esteve em pé de guerra. Mulheres e crianças foram proibidas de sair à rua. Na praça trocaram-se insultos e tiros. As vidraças do prédio do Grêmio Republicano foram partidas a pedradas e balaços por monarquistas enraivecidos. Um petardo explodiu contra a porta da residência dos Vacarianos. Houve cabeças quebradas e outros ferimentos corporais, leves uns, graves outros; morte, porém, nenhuma. [...] a Matriz de Antares, cuja construção sido iniciada havia vinte anos, foi inaugurada por ocasião da Festa do Divino Espírito Santo. Benjamim Campolargo, Imperador Festeiro, mandou carnear seis de suas reses para dar churrasco ao povo, organizou uma quermesse e fez queimar fogos de artifício vindos da capital do Estado. Os Vacarianos, que tinham prometido dar um sino de bronze para o novo templo, recusaram cumprir a promessa. Quando o vigário os interpelou, alegando que a Igreja nada tinha a ver com a política, Antão retrucou truculento: “Padre, nesse assunto nem Deus pode se dar o luxo de ser neutro!”. [...].
Trecho extraído da obra Incidente em Antares (Globo, 1971), do escritor Érico Veríssimo (1905-1975). Veja mais aqui.

PENSAMENTO DO DIA: CIDADES DO AMANHÃ - [...] Para o futuro, a questão fundamental estava em saber o que um dia iria reerguer as economias urbanas. A maioria dos especialistas pareceram concordar em que os anos 80 não se repetiriam: desta próxima vez, os serviços financeiros não constituiriam a força fundamental; em lugar disso, esse papel poderia ser desempenhado por novos setores, tais como as artes, o entretenimento cultural, os serviços de educação e saúde, e o turismo. Particularmente, a perspectiva era de que a alta tecnologia fundir-se-ia com os setores criativos para gerar novas industrias: multimedia, novas combinações de educação e entretenimento, realidade virtual, todas elas viabilizadas pela digitalização total da informação e a consequente fusão de tecnologias outrora isoladas – radiodifusão, computação, telecomunicações – em uma só. [...] A questão crucial, segundo os planejadores, dizia respeito ao impacto sobre as cidades. Uma ideia, muito em moda, era de que o fluxo de informações finalmente acabaria com a necessidade de cidades: qualquer um poderia desempenhar qualquer atividade em qualquer lugar, desde que as conexões digitais corretas fossem acessíveis. O ensino a distância substituiria as universidades tradicionais, o comercio na telinha poderia substituir o chão da Bolsa de Valores, e cirurgiões poderiam até mesmo, de suas casas, operar pacientes a milhares de milhas de distância. [...] Observadores otimistas encontraram uma prova anedótica confortadora, sugerindo que algumas atividades artísticas – música, projeto visual – poderiam empregar talentos informais, intuitivos, artísticos, que outros setores não poderiam, provando, assim, serem uma força integradora mais do que divisora; os pessimistas observaram que as nova atividades artísticas como a multimídia estavam realmente na fronteira mesmo da sofisticação tecnológica. O veredicto ainda não foi pronunciado; e dele pode depender todo um futuro urbano. [...]. Trechos extraídos da obra Cidades do amanhã (Perspectiva, 2005), do professor, urbanista e geógrafo inglês Peter Hall. (1932-2014). Veja mais aqui.

UMA IMAGEM: MANIFESTAÇÃO POPULAR

AGENDA: CURTA 8 – Acontecerá entre os dias 06 e 09 de outubro, no Teatro da Caixa Cultural de Curitiba, o Curta 8 – Festival Internacional de Cinema Super-8 de Curitiba, que chega à sua 12ª edição em 2016. Veja mais aqui e aqui.

A GAIA CIÊNCIA
[...] Todos os pregadores morais, assim como também todos os teólogos, têm um mau hábito em comum: todos procuram persuadir os homens de que estariam passando muito mal e de que uma dura, última, radical cura seria necessária. E porque os homens em conjunto deram ouvido a esses professores com demasiado zelo e ao longo de milênios inteiros, algo daquela superstição, de que vão muito mal, acabou passando efetivamente para eles: de tal modo que agora estão prontos e dispostos demais a suspira e não encontrar mais nada na vida e fazer uns para os outros caras consternadas, como se, de fato, fosse bem difícil tolerar. Na verdade, estão irrefreadamente seguros de sua vida e enamorados dela – e cheios de indivizíveis astucias e refinamentos para vencer o desagradável e extrair da dor e da infelicidade seu espírito. [...] O que fantasiaram os pregadores morais sobre a “miséria” interior dos homens maus! O que mentiram diante de nós sobre a infelicidade dos homens apaixonados! – sim, mentir é aqui a palavra certa [...].
Os médicos de almas e a dor, trecho extraído do Livro IV, da obra A gaia ciência (Companhia das Letras, 2012), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900). Veja mais aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Monumento à Justiça, Centro de Curitiba, Alberto Santos.
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

  Imagem: Foto AcervoLAM . Ao som do show Transmutando pássaros (2020), da flautista Tayhná Oliveira .   Lua de Maceió ... - Não era ...