BARULHO DA MISÉRIA – Imagem:
arte do grafiteiro Magrão Bz (Anderson
Chagas Bezerra). - Ainda é madrugada, o frio pro trampo doendo no toitiço. A
cidade dorme e eu acordado sem cochilo na curva ôôôôôô ou no freio de arrumação
êêêê; falta muito pro fim da linha, tudo é tão longe pra quem vive de
esperança. Voo pendurado, marmita entre os pés e a vida no fim do mês. Quase
não durmo, nem dá tempo, tudo é desgraça. E a cada parada o coração nas mãos.
Sirenes na barulheira, mãos pra cima na revista: só valho a carteira
profissional, mais nada. Os que dormem se assustam comigo quando acordam,
valem-se da polícia que nunca tive. O relógio é do contra e veloz quando a hora
ameaça atraso. O dia é comprido na labuta pesada, as horas emperram no tempo.
Tudo é difícil com revolta geral: xingamentos, assédio moral, constrangimentos
pra deixar pra lá. Ao meio dia, logo é de tarde, tão longa quanto uma tortura:
chega amanhã antes da hora de largar. O dia todo na cabeça quente e amarga
queimando tudo por dentro. À hora do ângelus, até que enfim, alívio de
instantes: é hora de voltar e tudo é muito mais longe quanto antes. Aguardente
na goela rasgando frustração, boquinha à mesa de arrodeio, o sono fugiu
anteontem e não voltou mais. Pra cabeça só a parede ou o chão duro. Quando prego
o olho o despertador dispara pra roda viva que só Deus sabe quando parar à hora
do óbito. Não há como dormir, o sono suspenso, o cansaço maior que a
vitalidade, tudo é triste pra quem sonha alegria: a prestação do mês, as contas
de água e de luz, o botijão de gás, a feira pendurada no mercadinho, o aluguel,
o fiado no bar, os carões da família: ser gente pra dar jeito. Não há como, o
jeito do avesso. Tudo é tão distante de se alcançar: lá vem o Sol e a vida
continua sem amanhãs. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
Curtindo o álbum Comen
on Over (Mercury Records, 1997), da cantora, compositora, escritora e
produtora canadense Shania Twain.
PESQUISA:
[...] quando
investigamos a natureza da significação, ela é capaz de nos fazer esquecer para
que existem sentenças. Nós vinculamos a significação com a verdade e a verdade
nós a vinculamos, de forma demasiado simples, com as sentenças; e as sentenças
pertencem à língua. Mas, enquanto teóricos, não saberemos nada da língua humana
se não compreendermos o discurso humano.
Trecho do ensaio Significação
e verdade, extraído da obra Escritos
lógico-linguísticos (Logic-linguistic papers, 1971 – Abril Cultural, 1979),
do filósofo britânico Peter Strawson (1919-2006).
LEITURA
[...] Mas
estes contemporâneos cujas mãos parecem feitas somente para remexer corrosivos
em cadinhos e os olhos para olharem através do microscópio, na verdade
realizaram milagres. Eles penetram no recôndito da natureza e revelam como ela
opera em suas funções mais secretas. Eles galgam o espaço. Descobriram o processo
de circulação do sangue e a natureza do ar que respiramos. Adquiriram novos e
quase ilimitados poderes. E podem comandar o trovão nos céus, reproduzir nos
laboratórios os terremotos e perscrutar o mundo invisível. [...].
Trecho do romance de terror gótico Frankenstein
ou o Moderno Prometeu (1818 - Martin Claret, 2009), da escritora
britânica Mary Shelley (1797-1851), relatando a história de um estudante de
ciências naturais que constrói um monstro no seu laboratório.
PENSAMENTO
DO DIA:
A liberdade é incompatível com o amor: um amante é sempre um escravo.
Pensamento
da escritora francesa Baronne de Staal
– pseudônimo de Marguerite de Launay (1684-1750).
IMAGEM
DO DIA;
A arte
do escultor e artista plástico polonês Ben
Weily.
Veja mais sobre A arte: instrumento de transformação social,
Gandhi, Aleijadinho, Adolphe William Bouguereau, Donald Zolan, Bia Bedran,
Bioética & Guy Durand, Elita Afonso Ferreira, Psicodrama, Richard
Attenborough & A mulher sem mãos aqui.
DESTAQUE
Com a doçura de sua voz, / Falou-me próximo
ao pescoço... / Eu queria concentrar-me, / Mas algo me impedia... / Acho que
era sua respiração, / Tão quente, próxima de meus ouvidos... / Me causava
arrepios, / Me causava constrangimento. / Tentei acabar com esse embaraço, / Virei-me
repentinamente. / Dei de cara com seus lábios, / Tão trêmulos... / Você mordia
de leve os lábios inferiores, / Talvez para disfarçar o desequilíbrio... / Eu
não podia mais ver tudo isso e calar-me. / Desviei dos seus lábios para os olhos,
/ A fim de dar-te uma bronca, / Mas estavam tão vibrantes e brilhavam... / Penetravam
dentro de mim; / Me deixavam sufocada, / Mal consegui respirar... / Minha
situação estava ainda pior... / Olhei novamente seus lábios, / E mais uma vez
seus olhos... / E de novo seus olhos, / De novo seus lábios, / Olhos, lábios...
/ Ai! Um sussurro seu, / Movendo tão lentamente os lábios, / E me forçando a
aproximar-me mais / Para ouvir melhor... / E quanto mais perto, mais quente... /
Quanto embaraço! Não pude mais. / Foi necessário me desarmar. / O tremor de
seus lábios / Me obrigavam a fazer algo... / O penetrar de seus olhos me
rendia. / Até que me tocou... / e outra vez, e outra... / E me empurrou contra
o seu corpo flamejando... / Com uma força que me impedia de mover-me (E também
eu não queria)... / Suas mãos passeavam em minhas costas, / Enquanto suavemente
beijava meu pescoço... / Estremeci... Ataquei seus lábios como uma fera
selvagem, / E me entreguei aos seus braços, corpo, tudo.../ Você fez-me sua,
você mereceu... / E neste momento, ninguém te deseja mais que eu.
Doce Sedução, poema
da poeta, cantora, compositora e blogueira Livia De La Rosa, editora do blog Blogando com a Livia.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
A arte da pintora polonesa Anna Miarczynska
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Arte/colagem
de Fabio de Brito.
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.