A FÁBULA DO MAIOR NINGUÉM - Joãozídio,
uma tipóia, nenhum amanhã, nenhuma estrela no céu. Ao redor, um balaio vazio,
um fogo cruzado, nenhum terém e muito ronco. Dorminhocos: um ladrão, um padre e
um bêbado. Joãozídio berra faminto, criança desmamada. A mãe abestada, tida por
juízo mole das beldades dos príncipes, num hospício por paixão proibida. O pai,
um desafortunado aproveitando-se com mãos e membros na botija ocasional,
foragido de credores e pais encolerizados. E o menino berra madrugada adentro.
De mão em mão, berro em berro, ele foi crescendo no escanteio: imundícies,
superstições e malquerenças. Taludo, foi saindo de garoto pra rapaz feito.
Quase adulto, consciência pesa nos de longe, a sua incerteza no seio dos
parentes maternais. Chegou como visita de mais de três dias. Mesmo assim,
educação esmerada e imposições religiosas como se fosse um da casa. Sempre,
claro, como se fosse. Não era. Tomando pé da situação, tornou-se rebelde e de
maus bofes, truculento, repudiando tudo e todos. Disso, conseguiu promessas
alvissareiras: escapulidas e negócios escusos. Apoderou-se da astúcia e, do dia
pra noite, muita largura. Quem era ninguém, agora o rei da cocada preta. Passou
a mandar e pintar o sete em todas as tabuadas. Plateia, lei e polícia, seu
manto de impunidade: matava e sorria, urrava e mentia. Já maioral com assento
em cargos oficiais, maior parafernália da claque. Meio mundo de conivência nos
tentáculos. Nenhum empecilho. Persona grata para apadrinhamentos os mais
solícitos, exemplo de dignidade e retidão. Até na escola seu nome era
pronunciado como referencial para as futuras gerações - e isso a sua satisfação
e seu destemor. Como um dia a casa cai, morre em pleno vigor de seu poderio com
a glória dos vilões. E, ainda hoje, é enaltecido no principal refrão do coro
dos lambecus. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
Curtindo
os álbuns Soler: fandando, keyboards
sonatas, com composições do compositor espanhol Antonio Soler (1729-1783), na interpretação da pianista
estadunidense Maggie Cole.
PESQUISA:
[...] O sujeito transcendental tem seu fundamento
na história natural do gênero humano. [...] o conhecimento como instrumento da autoconservação, porém,
transcendendo a mera autoconservação [...] Os interesses orientadores do conhecimento formam-se por mediação do
trabalho, da linguagem e do dominio. [...] A unidade do conhecimento com o interesse verifica-se numa dialética
que reconstrua o elemento reprimido a partir dos traços históricos do diálogo
proibido. [...] Uma filosofia que
renega a história é a outra face do decisionismo esterilizador: a divisão
imposta burocraticamente caminha junto à neutralidade axiológica entendida
erroneamente como um processo contemplativo. [...].
Trecho
extraído da obra Conhecimento e interesse
(Unesp, 2014), do filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas, tratando
a partir do ponto de vista epistemológico a discussão acerca do entrelaçamento
entre razão prática e razão pura, mostrando a importância das definições do
conhecimento e levantando questões sobre os fatores que o definem. Veja mais
aqui.
LEITURA
Na corrida de mourão
Quem corre mais é quem ganha
São Tomé vendia banha
Na fogueira de São João
Foi na guerra do Japão
Que se deu essa ingrizia
Camonge quage morria
Da grenguena berra-berra
Quem se morre é quem se enterra
Adeus até outro dia.
Adeus até outro dia, poema de Zé Limeira (1886-1954), o Poeta do Absurdo. Veja mais aqui,
PENSAMENTO DO DIA:
Belo é manter, o quanto possível, a calma na
infelicidade e não se irritar, pois não vemos claramente o que é bom ou ruim
naquelas conjunturas; de nada adianta suportá-las com péssimo humor; nas
coisasa humanas não há nenhuma que mereça um sério interesse.
Trecho extraído da obra A República, do filósofo e matemático grego Platão (428/427 – 349/347 a.C.). Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte
do fotógrafo estadunidense Howard Schatz.
Veja mais sobre Fernando Brant, Jean-Philippe Rameau, Percy Bysshe Shelley, Plínio Marcos, Louis Malle, Pedro Alexandrino, Psicologia Escolar,
Pueblo Tiwa & Brigitte Bardot aqui.
DESTAQUE:
Companhia do Ballet Eliana
Cavalcanti.
CRÔNICA DE AMOR POR ELA
Blood room nude fatal stage, by Ryohei Hase.
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Imagem:
colagem do artista plástico, poeta, pintor e escultor alemão Kurt Schwitters (1887-1948).
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.